Como
oferta especial de Natal, na presente fase da vida, publiquei um pequeno livro que escrevi e dei nesta quadra natalícia de 2016, como oferta pessoal à família (filhos e parentes mais próximos,
apenas), ou seja de edição restrita. Sendo autobiográfico, ao género de
memórias resumidas, como testemunho aos filhos e netos especialmente, qual mero
exercício de transmissão na primeira pessoa. Em cuja descrição refiro
o que mais representa para mim na existência entretanto vivida, de quanto me
lembro de sentir e quão me recordo em tal percurso partilhado ao correr dos
sentimentos, entre algumas curiosidades e factos relacionados.
Por
a respetiva edição privada de autor ser de publicação limitada, restrita a
pouco mais duma dúzia de exemplares (mais um outro dos que normalmente ficam no
acervo da Biblioteca Municipal de Felgueiras, de oferta pessoal também), sendo mais
precisamente de 15 exemplares, tão só, deixo aqui o mesmo texto para eventuais
interessados - sem fotos naturalmente, pelo cunho personalizado que contém…
Torrente
Escrita
–
Em Contagem Pessoal
2016
Edição
de autor, em tiragem restrita de 15 exemplares, numerados e autenticados com
rubrica autógrafa do autor.
Nº --
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Torrente
Escrita – Em Contagem Pessoal
A vida decorre por anos
adiante, em ampla vivência. Numa imensidão a combinar de par em par, como o céu
e o mar conciliam em tonalidade, a refletir azul brilhante, aprazivelmente. Na
corrente que em tantos anos passou rio abaixo pela Longra, e chegou até ao
oceano do que fui escrevendo, quanto aqui e agora coo e deixo fluir, qual
torrente descritiva.
Revendo mentalmente o
percurso coado, relembro como, na sequência de quando minha mãe me sussurrava
ao ouvido orações, por entre a missa na igreja de Rande, me ensinou a orar.
Daí, a partir da infância me habituei a pedir nas orações pela minha família, orando
pelos meus pais, irmãos e por minha avozinha, tal como homem feito comecei a
ter minhas intenções com desejos de que tudo fosse bom para a minha família
contando já com a esposa e filhos. Ao passo que agora, com a idade madura,
estão nos meus pensamentos mais ternos também as famílias dos meus filhos,
contando os meus netos e também genro e nora, como que desejando ver ainda tudo
quanto for possível.
Ao folhear as páginas
dos muitos álbuns fotográficos que fui fazendo e hoje são já preciosidades do
património familiar (numa herança sentimental que tenho gosto em deixar aos
meus descendentes), ao olhar para o que ficou para trás, claro que gosto de
rever fisionomias e situações, factos e paixões, sentindo alguma nostalgia
própria pelo tempo que passou. E até gostaria em parte que o tempo tivesse
parado em certas alturas, quando ainda usava bigode e os meus filhos eram
pequenos, eu e minha esposa eramos jovens com pensamento ainda distante da
idade atual… Porém, não gostaria de voltar atrás, na realidade, pois ainda não
tinha ideia do que seria ter netos, ainda não podia sentir o que é ter
apertados a mim os meus meninos. Nem sabia ainda que ia conseguir ter uma
família como a que tenho – uma família bonita, como dizia o meu pai também da
dele, e obviamente minha.
Ora, o que passou
deverá ficar no conhecimento familiar, porque a família é um bem. Passando a
contar daqui para a frente o que somos, com o que temos. Daí assim o que se vai
seguir.
Acostumado a escrever
sobre tudo e todos, normalmente sobre os outros, como se costuma dizer, desta
vez isto é respeitante ao próprio, referente a mim. Na primeira pessoa. Sem
qualquer ponta de expor história com conta e medida, mas tão só de deixar anotada
uma contagem pessoal, a quem interessar. E, deixando de lado qualquer esgar de
fazer boa figura, através duma narração segundo os cânones, no plural, desta
feita é em nome próprio, por ser para familiares e amigos, para quem ler e se
interesse, de maneira a tentar deixar algo escrito do percurso pessoal.
Discorrendo duma vida com os pés e o coração na terra.
Escrita esta
particular, deste modo, com mais sentido, porque diz respeito a tudo o que mais
quero. Tal como em casa, no ambiente familiar, gosto mais de ter nas paredes
quadros que me digam algo, em vez duma decoração sem nos dizer respeito, só
para dar colorido ou parecer bem.
E cá estou, assim.
Olha eu com meus netos,
um em cada braço, enlaçando nossos braços, e outro prestes a chegar (mais algum
ou alguma que também ainda venha), estando assim a presenciar o presente, com
olhos rentes a um passado que tornará possível o futuro. Parecendo ainda ver os
meus filhos anos atrás, crianças bonitas como agora os seus e meus rebentos,
que até apetece abraçar no tempo, juntando coração com corações, bem próximos e
apertados.
Os meus netos ao
nascerem, bem bonitos, como vi logo nas primeiras horas, parece que tinham
parecenças das variadas proveniências, segundo fui ouvindo. Um tinha isto,
outro aquilo, um e outro parecendo-se com este e aquele, isto e aquilo, ou esta
e aquela… enquanto eu, pensava para mim, deixando toda a gente falar à vontade,
que bem podiam estar assim convencidos, mas ali havia muito de meu. E há. Como
se nota em quanto nos sentimos apegados. Tal como gosto de os ter juntinhos
contra meu peito e eles gostam de estar ao meu colo, quão e como era quando
andei com meus filhos ao colo e levava pela mão o meu menino e a minha menina.
Quanto salta à memória e os vejo à luz do pensamento: Olha… como parece que
ainda os estou a ver, de sacola e lancheira, quando os levava à escola, às
“freiras do Unhão”, e os ia buscar ao fim da tarde logo que saía do emprego,
primeiro no nosso Fiat 124 azul e depois no Renault verde-acinzentado, dos
carros sempre em segunda mão (até talvez mais) que fui tendo.
O tempo passa, mas não
passa o que se viveu. Permanece em nós. Como lembro como gostei quando o Nuno
me ofereceu um Dragão, uma escultura do Dragão Portista, e, como a irmã era
pequena, ele comprou um quadro atrativo com o emblema do Porto para eu receber
das mãos dela, em dia de meu aniversário. Tal como gostara anos antes quando a
minha namorada me ofereceu um estojo como primeira prenda, também pelos anos…
não pela oferta física, mas por quanto já queria dizer. E veio a dizer pela
vida adiante. Como de ver a Clara organizar com gosto programas para fazermos
em família, em dia de nossos aniversários e mais… Por isso não se pode deixar
perder essas e outras ternas e eternas lembranças, quando se pode passar ao
papel quaisquer apontamentos capazes de fazer perdurar o tempo do que sentimos.
Que é o que aqui procuro deixar, legando algumas referências. Entrado que estou
no rol sexagenário, já no passar além da conta da idade dos 60. Mais
precisamente com 62 anos, ao publicar isto.
Assim sendo, eis aqui
uma oferta pessoal às pessoas de quem mais gosto. Enlaçando meu mundo nestas
linhas.
Isto será uma forma de
contar aos filhos, mais aos netos e gerações futuras, uma história de vida,
normal, mas particular. Para que não aconteça como a mim que, apesar de sempre
ter procurado saber tudo, guardando comigo o que ia apreendendo, há muita coisa
que já não conseguirei mais conhecer de meus antepassados mais marcantes, dos
que conheci, ou seja sobre a minha avó Júlia, e sobre o meu avô da Quinta,
falecidos ainda durante a minha adolescência. E muita coisa terá faltado falar,
para saber mais, sobre meu pai, bem como quanto a curiosidades da vida de minha
mãe, até sobre meus tios mais chegados. E por aí adiante.
Extensivamente isto
também servirá para pessoas amigas e conhecidas poderem para sempre recordar
afinidades, dos momentos da existência partilhada.
No contexto, aproveito
para intercalar algumas histórias contadas, ao género de narrativa, como
ilustração momentânea de intermeio. Cujos motes obrigarão, em vez de leitura
apressada de esguelha, na diagonal como é costume dizer, a ter mesmo de se
correr o texto duma ponta à outra.
Efetivamente, no
percurso de vida, a memória é como em certa medida uma máquina fotográfica
capaz de captar imagens dignas de permanecerem no cérebro. Tendo eu, por sinal,
um gosto especial por tirar retratos, desde pequeno. Apesar de ter hoje pena de
não haver fotografado minha avozinha em seu leito, por então ser pequeno. Mas
depois, com a evolução da idade, já pude ir fazendo retratos de família e mais,
com as muitas máquinas que fui conseguindo ter ao longo do tempo.
(foto) =
Máquinas de uma vida ou a vida em máquinas! =
A vida não é como devia
ser, mesmo. Porquê? Porque murcham e morrem as flores? Como gosto de flores
vivas, quase falando com o que plantei, em meu jardim, não gosto de ver as
flores, que embelezam o relvado de minha casa, a murchar… e logo anseio o seu
florir, na renovação da natureza. E então detesto ver árvores a secar, entre as
que plantei nomeadamente, restando algumas ainda das que eram dos tempos
iniciais de casa, companheiras dos dias passados em nossa casa.
Por conseguinte,
escrevo aqui de seguida o que me lembro, para o caso, abrindo a mala de minhas
recordações, numas regrazinhas escritas ao sabor da recordação. Mais para quem
faz parte do meu e nosso círculo particular e familiar, a quem naturalmente
percebe a importância destes afetos personalizados. Com quem em dias especiais
e pela vida continuamos a brindar e a sorrir à nossa… e ao que ela nos reserva.
Tudo com natural ponta sentimental, duma saudade não nostálgica mas de apreço e
valorização, de que vale a pena viver, afinal, e sentir desejo de continuar,
neste caso através das pessoas de que gosto. Não sentindo tristeza pelo que já
passou, mas felicidade pelo que se teve e tem.
Como disse alguém, em
tempos, “tristes dos infelizes que não têm raízes”… E como poetou António
Gedeão:
“Triste
de quem não tem, / na hora que se esfuma, / saudades de ninguém / nem de coisa
nenhuma. “
***
Passemos a vias de
factos: Pois o poder da vida tem muita força. A ponto de guardar bem no íntimo
aspetos algo simples, mas marcantes. Quanto, para vislumbre recôndito, recordo
o colo de minha mãe. Como me sinto (não sei bem como me lembro, se mesmo como
foi ou me ficou), aconchegado, agasalhado com qualquer coisa que me fazia
sentir quente, numa fria manhã, nos braços de minha mãe. Tenho essa imagem na
cabeça: a minha mãe indo manhã cedo ao pão, para dar de acompanhamento a meu
pai antes de ele sair para a fábrica (segundo entendo), e deparando-se comigo
acordado, a chorar para ir com ela, me pegou contra seu peito e protegendo-me
com o que tinha mais à mão, me levou… Ah, como me senti bem assim protegido e
unido, naquele tempo. Então, sabendo que meu irmão mais novo me seguiu no mundo
quase dois anos depois, eu não teria ainda muitos mais… mas tenho essa sensação
no meu íntimo, bem envolvido pelos braços de minha mãe, à vista do mundo que
começava a alvorecer também ainda, para mim.
Ah, e como em criança
houve momentos especiais, que por qualquer motivo ficaram gravados na retina da
memória… Quanto lembra (não sei se pela sensação da prenda tida na idade
infantil, ou pela curiosidade), de por exemplo um “burbarinho” que recebi,
assim conhecido como popularmente ouvia chamar a esses vira-ventos, ou
cata-ventos de papel, que andavam à roda por força do vento… E popularmente
assim conhecidos por estes lados, no meu tempo de petiz, não sei se pela
assimilação, por burburinho também significar redemoinho. E então aquelas
figuras de barro que recebia, por vezes, quando meus pais iam a passeios de
excursão ou festas, como a estatueta típica dum jogador equipado à Porto,
outras do Padre Cruz e do Padre Américo, que o povo chamava de santos, ou ainda
de figurantes do presépio, por sentimento que davam… e proporcionavam impressão
de posse de algo apreciável, sendo que só gostava de “macacada” dessa em barro
fino, de feições perfeitas, não gostando muito das de barro grosso, tipo
grosseiras…
Esta coisa que é a vida
tem que se lhe diga… mesmo. Quanto seja uma vida mais ou menos vivida. Rima e é
verdade, mas sem ter sido muito rimada, ou por outro lado mais, conforme foi
possível - é o que apraz focar, duma vida, afinal, sobretudo sentida.
Ora bem, para melhor
reviver um percurso assim, na visão de quem se predispõe aqui a passar umas
quantas loas recordatórias, melhor seria ter um dom de musicar as ideias,
passando tudo numa pauta para através de instrumentos musicais conseguir
expressar tudo, numa balada atraente, com letra incisiva e profunda. Contudo,
como de autoria musical só conheço noções e sinais, sem tom nem som, tenho de
ficar pela escrita, à falta de dotes vocais e instrumentais. Musicas há que, ao
ouvi-las, entoadas em antigas canções entradas no ouvido, de imediato nos
transportam a momentos que pareciam distantes. Sem interessar muito a mensagem
escrita, mas a melodia e sobremaneira o que aquilo traz à memória, ainda que
diluído no tempo.
Coisa mais bonita… A
luz no olhar dum jovem… oh, como só a música trauteada mentalmente faz mexer os
sentidos… Não que a letra legendasse qualquer sentimento particularmente
especial, então, mas uma cançoneta dos idos de finais de sessenta e inícios dos
anos setentas, traz à lembrança princípios das noites de sábado, no odor
corporal depois dum banho de água a fumegar e ao sair de casa sem poder
esconder ir bem disposto… enquanto me ficava o sorriso de minha mãe, ocupada a
“burnir”, atarefada diante de peças de roupa para brunir, do que era para pegar
no domingo, na ida à missa pela manhã, mas distraída no semblante como que a
perceber quanto me sentia bem, naqueles verdes anos (embora sempre com mais
gosto pela cor azul…), ainda que apenas fosse ver um filme de cinema à Casa do
Povo, a dois passos de casa, onde sabia ir ter olhares em que depositar outras
imagens.
Muitas manhãs seguintes
se passaram. Ao que até fechamos os olhos de saudade, quando já não se vai para
novo. Agora a tarde vai caindo e o andamento dos dias traz essas e outras
lembranças.
Num vislumbre de
resumo, posso dizer que na vida sobretudo gostei de dar valor ao que teve e tem
valor.
Isto duma e numa vida
particular, sem nada de mais, como se costuma dizer, mas com algo que pode
dizer qualquer coisa a alguém. Por isso, nesta linha de raciocínio, deixo aqui
umas quantas anotações. Porque a vida, com seus mistérios e peripécias, é como
um bichinho que vai roendo e deixa as pontas remoídas e tudo aos retalhos,
restando marcas da erosão do tempo.
~~~
- ~~~
Percurso
Pessoal
Porquanto a imagem
conta, para que se possa ter ideia do que possa aparecer ao abrir a embalagem,
façamos apropriado embrulho deste memorando.
Assim sendo, sem que o
autor se queira enfileirar por si próprio em nada, e muito menos para ver ao
espelho ou olhar o umbigo, mas tão só a guardar recordações personalizadas,
unicamente para esboçar um perfil a fugir à vulgar nota biográfica esquemática
ou apresentação usual (como a que foi transcrita no livro “Sorrisos de
Pensamento” ou outras, como também consta na Internet); houve ideia de fixar
alguns traços biográficos pela cabeça do próprio. Em memórias, repito, com
laivos autobiográficos, afinal, que terão nomeadamente atenção em quem tem
afinidades e interesse nos escritos deste cunho pessoal; tal como a quem teve
ou tenha conhecimento personificado e possa recordar ou reviver passagens
comuns e públicas; como ainda aproveitamento para desenrolar curiosidades
relacionadas.
Diz-se que há uma
trilogia de realização pessoal maior, em três premissas que se deve conseguir
fazer para obter o pleno da vida, e a ser assim a verdade é que pessoalmente,
sem falsas modéstias à espera que outros apontem, já fiz tudo isso mais que uma
vez, tendo eu orgulhosamente plantado, pelas próprias mãos, regado e educado
árvores, no jardim da casa que igualmente edificamos, tal como, na parte mais
importante, felizmente também temos filhos, e, acrescente-se, escrevi
entretanto mais que um livro.
Poderia haver certo
receio desta exposição, porém já algo disto se franqueou na diversa escrita
afetiva, afinal, em porção do que se escreveu ao longo do tempo, porque em tudo
fica sempre alguma coisa própria.
*
Mais conhecido por
Armando Pinto, como a própria assinatura de Bilhete de Identidade e literária,
sendo de nome completo José Armando da Costa Pinto:
- Nasci a 6 de Julho de
1954, por volta do meio dia (quando o sol está mais a prumo), sendo natural da
freguesia de Rande e concelho de Felgueiras, com berço natal na Longra, então
povoação e hoje centro da Vila da Longra, onde resido.
Nesse dia houve uma
heroína: Minha Mãe. Em sua memória, com a devida vénia, faço minhas as bonitas
palavras dum poema de Sebastião da Gama:
Quando
eu nasci,
Ficou
tudo como estava.
Nem
homens cortaram veias.
Nem
o sol escureceu.
Nem
houve estrelas a mais...
Somente,
Esquecida
das dores
A
minha mãe sorriu e agradeceu.
Quando
eu nasci,
Não
houve nada de novo
senão
eu.
As
nuvens não se espantaram,
Não
enlouqueceu ninguém...
Pra
que o dia fosse enorme,
bastava
toda
a ternura que olhava
nos
olhos de minha MÃE...
*
Em 1954, segundo relatos da imprensa da época, o mês
de Julho foi de «calor intenso». Não admirando que um nativo desse tempo seja
calorento e de coração ardente... E no dia seis, naturalmente entre muitos
outros acontecimentos nesse dia quente, houve por exemplo publicação do livro
“A Missão”, do consagrado escritor Ferreira de Castro.
Nesse mesmo dia seis de
Julho, em 1954, fazia 48 anos que nascera, também em Rande-Felgueiras, o Padre
Luís de Sousa Rodrigues, ao tempo professor no seminário diocesano, reitor da
igreja da Lapa do Porto e compositor musical – que pouco depois, a 24 do mesmo
mês, teve uma homenagem em Felgueiras, na casa do Cine-Teatro Fonseca Moreira.
Nome saliente esse, já então figura da música sacra (depois porém caído
parcialmente no esquecimento), o Padre Luís Rodrigues, por quem o visado, eu,
nascido décadas depois mas no mesmo dia aniversariante, mais tarde viria a
pugnar por justo reconhecimento local para com tão importante vulto e até a
participar em homenagens evocativas que foram prestadas a tal ilustre conterrâneo,
aquando da passagem de 25 anos de seu falecimento e na comemoração de seu
centenário natalício. Incluindo a escrita de sua biografia, em livro de autoria
própria e edição do autor.
No dia seguinte, a eu
ter nascido, e digo o dia depois porque é quando aparecem as notícias escritas
do dia anterior, não houve naturalmente qualquer registo impresso sobre a nova
vida vinda ao mundo na Longra. Apenas uns dias depois foi registado o nome na
conservatória do Registo Civil de Felgueiras. Contudo na Longra isso foi
sentido em casa de meu pai, Joaquim Pinto, então um respeitado operário da
fábrica de Móveis Metálicos da Longra, a MIT do Largo da Longra, cujo edifício,
à maneira de barracão industrial típico do desenvolvimento da época, se situava
quase de frente à casa de meus pais, até junto da árvore antiga e de grande
porte mais tarde conhecida por carvalha da padaria. Habitando ali um bando de
filhos, de que eu passava a ser o quinto, na ocasião, numa parte da casa que
também tinha outra família ali moradora, com a prole do senhor Zé Verde, pai da
que, por isso, veio a ser minha madrinha de batismo - naquela casa com uma
sacada tradicional a todo o correr da frente da casa, em varanda esguia a
abranger a divisória exterior do rés do chão ao primeiro andar…
E foi bem mais sentido
por meu pai, de modo particular por ele ter estado antes internado num
sanatório (devido a doença pulmonar que nesse tempo era muito frequente),
havendo estado ausente de casa algum tempo. E derivado a isso, estar com algum
receio de sequelas. Sendo assim uma boa hora em que vim ao mundo são e
perfeitinho…
=
FOTO da avó Júlia com
o barracão da fábrica como campo visual =.
Por coincidente
sobreposição, Julho era e é o mês de celebração do Padroeiro de Rande, São
Tiago Maior, cujo dia que lhe está dedicado pela Igreja ocorre a 25 do mesmo
mês. E, décadas volvidas, Julho seria depois, logo no dia 1, também, o mês da
elevação da Longra a vila (em 2003).
Julho é ainda,
especialmente um mês de outras datas históricas de saliência retumbante a nível
da vida humana, noutros casos, reportando-se a tempos recuados. Concretamente,
entre diversas possíveis efemérides de antes e depois, com um século de
antecedência ficou Julho assinalado por ter sido em sua passagem, no século
XIX, que foi abolida a pena de morte em Portugal – a 05 de Julho de 1852 para
crimes políticos e a 01 de Julho de 1867 para crimes civis, promulgação
extensiva ao Ultramar Português a 09 de Julho de 1870.
Séculos antes, foi
também em Julho, e mais precisamente num dia seis, que se deu um facto
relacionado com um santo de minha predileção, S. Francisco de Assis. Com
efeito, menos de dois anos depois de sua morte, o papa Gregório IX foi
pessoalmente a Assis para canonizá-lo, o que aconteceu em 6 de julho de 1228
com grande pompa. Após isso, em 1230 foi inaugurada uma nova basílica em Assis,
que recebeu seu nome e hoje guarda as suas relíquias e abriga o seu túmulo
definitivo – local onde estive no ano 2002, em excursão de algumas paróquias de
Felgueiras (no seguimento de périplo turístico pelos países mais bíblicos, a
partir do ano 2000, desde Israel, mais Turquia e até à Itália).
Voltando a eras
contemporâneas do tempo em apreço, o ano de 1954 foi considerado Ano Mariano,
em comemoração do primeiro centenário da promulgação do Dogma da Imaculada
Conceição (na sequência do Ano Santo do Jubileu de 1950, assinalado com
campanha de colocação de efígies de Nossa Senhora em azulejos fixados em
frontarias de casas e padrões – ocorrência verificada até pelo concelho de
Felgueiras, como registei em crónica sobre Alminhas, Cruzeiros e Nichos, no
livro sobre o Nicho de Rande).
No mesmo ano de 1954
foi também colocada na Praça da Liberdade, no Porto, a estátua de Almeida
Garrett, escritor portuense, lutador por um ideal de política social no país,
recuperador de memórias pátrias e impulsionador do teatro português, um
verdadeiro personagem de interesse histórico nacional.
Ainda quanto a esse
ano, 1954 ficou também nos anais por ter sido então que a igreja de Nossa
Senhora do Rosário, do santuário de Fátima, recebeu a categoria de Basílica,
título concedido por Pio XII pelo breve “Luce Superna”.
Em 1954 a equipa de
futebol principal do Futebol Clube do Porto integrava, com maior utilização, o
guarda-redes Frederico Barrigana, famoso “mãos de ferro”, o defesa Virgílio
Mendes, o Leão de Génova e durante muitos anos recordista português de
internacionalizações na Seleção A (em tempo de escassos jogos disputados, a
nível de Seleções), mais Miguel Arcanjo, Vale, Carvalho, Porcel, Albasini,
Eleutério, Henrique Monteiro da Costa, José Maria, António Teixeira, o famoso
Hernâni Silva, Carlos Duarte, Fernando Perdigão e José Pedroto; como também
Osvaldo Cambalacho, Dell Pinto, Sarmento, Vieira e Romeu.
Nessa época o F. C.
Porto não foi campeão nacional de futebol (o que veio a ser de seguida em
1955/56 e depois em 1958/59), mas sim, nesse ano de 54, em Andebol de Onze,
modalidade em voga ao tempo, na qual foi campeoníssimo com títulos a eito, anos
a fio. E em Andebol de Sete, variante que era recente no país, nesse tempo.
Mas, porém, no futebol sénior, naquele ano, o FCP foi a Lisboa vencer o
Benfica, em futebol de primeiras, como se denominava à época as formações de
honra, na inauguração do então ainda chamado Estádio de Carnide, o depois
(antigo e originalmente) denominado Estádio da Luz, trazendo para as Antas o
artístico trofeu em disputa (na permuta, relativamente à presença do Benfica na
inauguração do Estádio das Antas, em 1952).
Não se pode escamotear,
porém, que, conforme até “disse” a imprensa, o F. C. Porto só não venceu o
campeonato de 1954, como noutras ocasiões, aliás, por fatores por demais
estranhos ao próprio jogo. Repare-se, a título de exemplo, do que veio (em
edição impressa muitos anos volvidos) ainda, pasme-se, numa publicação do jornal
A Bola, de Lisboa, in “50 Anos do desporto português”: «1954-Janeiro-30 - Jogo
de importância transcendente na luta pelo título, em Alvalade:
Sporting-Porto... com vitória do Sporting por 2-1. Muito polémico o 2º golo do
Sporting, por Vasques.» Curiosamente, do mesmo “lapso”, o Jornal de Notícias,
do Porto, publicou na ocasião uma foto a mostrar o “crime”, de quando o mesmo
avançado leonino se antecipou e enfiou a bola nas redes com um soco...Tendo,
por isso, o JN sido impedido de entrar em Alvalade durante uns tempos...!
Ainda, segundo a anteriormente referida publicação d’ A Bola, por ironia
estranha também, «o árbitro era Inocêncio Calabote, que algum tempo depois mais
tragicamente famoso ficaria...» (com o célebre prolongamento escandaloso de
inesquecível jogo SLB-CUF, na tentativa de o Benfica marcar os golos que
precisaria para poder suplantar o F.C. Porto no desempate por golos, em 1959).
Por esses e outros tempos, tem de se ter em conta essas particularidades que
enfermaram o país em eras passadas, de que naturalmente ficaram resquícios
pelos tempos fora.
Por essas e por outras,
ficou então célebre aquela tirada do Hernâni, o malabarista da bola e senhor do
futebol (que era ao tempo o “Capitão”, como autêntico General do Porto), de que
ao F. C. Porto não bastava só ter uma equipa tão boa ou melhor que a dos
outros, mas sim teria de ser muitíssimo superior, para poder lutar contra as
arbitragens e os jogos de bastidores, pelo que um campeonato ganho pelo Porto
valia, na realidade, por dez dos adversários rivais... E, como dizia Alves
Teixeira amiudadas vezes no antigo jornal “O Norte Desportivo”, o grande
goleador Artur de Sousa “Pinga”, famoso ídolo dos anos trinta e quarenta, do
séc. XX, só não tem sido considerado o melhor futebolista português de todos os
tempos porque jogou com a camisola do Porto!
Isto tem aqui lugar,
também, porque como bairrista e com feitio de dar valor ao que tem valor,
sempre me revi no Porto como clube resistente ao poder centralizador e
resiliente em ser representante de valores de bem, sem favorecimentos. E como
sempre fui adverso a maiorias, que não defendem normalmente dignidades, não me
deixei entusiasmar pela comunicação social que faz algumas mentalidades.
Nessa era, a meio do
século XX, de tempos coincidentes ao quarto ano da década de cinquenta do
século XX, ainda, amealhava o Futebol Clube de Felgueiras sua primeira
experiência de provas oficiais, tendo disputado o campeonato distrital da
Associação de Futebol do Porto da época desportiva de 1953/54.
No ano de 1954 estava
como Presidente do F. C. Porto o Dr. José Carvalho Moreira de Sousa; o Pároco
de Rande era o Padre João Ferreira da Silva; era Papa Pio XII; a Patriarca da
Igreja portuguesa estava o Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira; o Bispo do
Porto era o mítico D. António Ferreira Gomes; o Presidente da República de
Portugal era o Gen. Francisco Craveiro Lopes; enquanto Presidente do Conselho
de Ministros obviamente o Dr. António Oliveira Salazar; a Presidente da Câmara
Municipal de Felgueiras estava o Dr. José de Castro Leal de Faria, como
Dirigente fundador e primeiro treinador oficial do F. C. Felgueiras estava
Verdial Horácio de Moura e como Presidente da Junta de Freguesia de Rande havia
Adriano Ribeiro da Cunha.
De particular apreço,
1954 foi ainda o ano em que começou a fazer-se ouvir a célebre sirene da
Metalúrgica da Longra, que se revelou autêntica referência local, feita pela
lavra do pai do autor destas lembranças e considerações.
*
Filho de Joaquim Pinto
e Matilde da Costa. Irmão de Joaquim António, Luís Manuel, António Manuel,
Maria Rosa e Fernando da Costa Pinto. Marido de Maria Deolinda Guimarães
Sampaio Pinto. Pai de Nuno Cristiano e Clara Isabel Sampaio da Costa Pinto -
ele Engenheiro Eletrónico e ela Enfermeira Licenciada, os quais, além do mais,
proporcionam assim maior orgulho paterno nas suas formaturas de engenharia
eletrónica e licenciatura em enfermagem, respetivamente. Tal qual, sogro de
Hugo Gonçalo Costa de Matos, Enfermeiro Licenciado, e de Lígia Pereira e Silva,
também enfermeira. E avô apegado do Gonçalo Pinto de Matos e do Tiago Sampaio
Silva Pinto, por ora (quando escrevo isto, pois em breve e futuramente conto
com mais alguém), os quais são meus companheirinhos, meus amores e eu deles.
Bem como sou tio de sobrinhos de que sempre gostei muito e sei gostarem de mim.
Além de ser amigo de quem é meu amigo, tal como sinto afeição por outras
pessoas que são familiares não por sangue mas pelo coração.
Enquanto, como neto,
tive minha avozinha, a avó paterna Júlia de Jesus Pinto (mais ainda, não
reconhecidamente, de Henrique Barbosa Mendonça, da solarenga Casa de Rande) e
como avós maternos António da Costa e Rosa Moreira de Magalhães. Sendo bisneto,
pelo lado materno, de Maria da Costa (ascendente do avô António, de Janarde; o
qual, também não oficialmente, teve filiação de um ancestral da família Babo,
da casa do Rosário, de Unhão), mais, Ana Moreira de Sampaio e José de Magalhães
da Mota (da Longra, pais da avó Rosa), como pelo ramo paterno de Emília de
Jesus Pinto (que, sendo natural de S. Cristóvão de Lordelo, veio depois para
Rande, onde morou nas Chãos e na Fonte, e era mãe da avozinha Júlia), assim
como de António Barbosa Mendonça Pinto de Magalhães Alpoim e Carolina Gonçalves
Mendonça (da Casa de Rande, avós de sangue de Joaquim Pinto...).
Nas relações antigas,
em que os filhos das assalariadas de fidalgos não eram reconhecidos, ficando
como ilegítimos aos olhos da lei desse tempo, o avô António ainda teve
reconhecimento moral com uma simbólica nota de herança, à morte do dono da casa
do Rosário do Unhão, quantia que, naquela época, deu para ele comprar a
propriedade que teve na Longra. Já da parte Mendonça sabe-se história que nem
vale a pena aflorar... a não ser de haver transmissões fidedignas. Dali apenas
tendo eu herdado o gosto pela escrita e valores históricos… Ao passo que de
outras origens também antepassadas, se desconhecem mais informações concretas,
que não é preciso aprofundar. Interessa que de todo esse percurso genético
resultou existência, tanto como, afinal, tornou possível os registos escritos
proporcionados...
=
X =
A propósito intercalo,
aqui e agora, uma cronicazita que escrevi e foi publicada no jornal Semanário
de Felgueiras, aquando da comemoração de meio milénio dos Forais de Felgueiras
e Unhão (no caso do Unhão também pertinente, por ter sido uma parcela
administrativa a que a zona de Rande pertenceu antigamente, há séculos):
Gado
de Vento e o meu Avô da Quinta…
(A propósito da então
comemoração da outorga do Foral Manuelino ao antigo concelho de Unhão, cuja
carta régia foi passada por D. Manuel I, o rei venturoso português, fazia em
2015 quinhentos anos) …afloramos acrescento de algo relacionado ao tema, por
quanto esse facto histórico nos toca, nos trilhos da história calcorreada por
nossos antepassados. Na sequência do que publicamos no livro “Memorial
Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, editado em 1997, no qual
desenrolamos um capítulo sobre a Honra, Julgado e posterior Concelho do Unhão,
entre os antigos Alfozes da organização regional. Tendo aí sido estudado, e
pela primeira vez publicado, um princípio de apreciação pública sobre o
referido documento. Estudo esse que, mais tarde, serviu de achega contributiva
à monografia de Cepães, por exemplo, conforme pudemos ajudar o seu autor, entre
diversos casos. Sabendo-se que o Foral do Unhão contemplava outros parâmetros,
como terras jurisdicionais de antigas circunscrições de Cepães, de Fafe,
Meinedo, de Lousada, etc.
Ora no Foral do Unhão,
entre a matéria medieval ali contida, há uma expressão deveras interessante. A
nomeação de um tal “gado de vento”, do que havia pela região. Tanto quanto
sabemos, dava-se este nome nalguns forais, e mais papéis antigos, ao gado de
toda a espécie que era encontrado sem dono. Tratando-se de uma expressão muito
antiga, quase sempre usada nos documentos do género, com o sentido coletivo,
para designar alguns animais extraviados, isto é, de que não se conhecia dono,
mais precisamente que andava a monte, bravio. Esta expressão já aparecia no
Código Visigótico. Chegando a ser referenciada nalgumas Ordenações do Reino.
Contudo, também por quanto pudemos saber, localmente esta denominação era
dirigida aos enxames de abelhas, sabendo-se que, em caso de abespinhamento, uma
comunidade dessas podia sair de uma colmeia e acabar por pousar em local
indeterminado. Havendo inclusive regras de honra quanto a essa realidade,
respeitando o poiso escolhido por um enxame que mudasse de sítio, passando a
ser de quem o conseguisse atrair a um cortiço seu… Sendo, como era, a região
deveras atrita à lavra das abelhas, como mais tarde ficou nas armas heráldicas
felgueirenses, na identificação concelhia que vingou.
De tenra idade ouvi
essas dicas de meu avô materno, um expert famoso na região, em seus tempos, de
tudo o que respeitava à criação de abelhas e derivado mel. O meu avô da Quinta,
como era mais conhecido o avozinho António, tal o seu nome de batismo, António
da Costa conforme o registo lavrado na repartição de Felgueiras. Um senhor de
respeito nos idílicos tempos da monarquia, oriundo de família respeitada, como
filho de fora de uma família fidalga da zona, precisamente do Unhão, com um
rosário de tradições, que se fez à vida e era uma espécie de feitor na Casa da
Quinta, de Rande. Proprietário, com uma moradia na Longra comprada através duma
tença recebida de seu pai, e sobretudo pessoa culta, que guardava muita
literatura de seus tempos, de cujo rol um neto ainda conseguiu salvar alguns
romances de cordel, desse tempo, como a história do Zé do Telhado em verso… e
outro neto herdou o gosto pela apicultura.
(Foto) = O meu "Avô da Quinta", em pose
numa idade mais jovem, junto com a minha avó materna Rosa; e junto às suas
colmeias, num dos quintais da Casa da Quinta =
Pois o Avô da Quinta
falava muito sobre esse tal gado de vento. Ele que nos quintais da Casa da
Quinta muito mel tirou de suas abelhas. Curiosamente nessa mesma Quinta onde
era o remanso dum grande benfeitor da Misericórdia do Unhão, o senhor Luís
Teixeira, recordado perenemente numa lápide da frontaria e num quadro do mesmo
solar condal e conventual do Unhão. Enquanto ele, o meu avô materno, estava
horas à beira das suas abelhas, sabendo de tudo o que elas precisavam e faziam,
como convivendo com sua existência ao vento, a dar às asas da vida a leveza de
seu voo existencial.
=
X =
Posto isto, voltemos
ao rumo desta conversa escrita, sobre mim:
Tendo passado uma
infância feliz, dentro das limitações de família que vivia do trabalho, não
tive contudo qualquer facto especial, de grande monta, a assinalar os verdes
anos (embora sempre gostasse sobretudo do azul... como se sabe!); bem como na
juventude e vida adulta não fui protagonista de aventuras nem peripécias de
muito relevo, fora vincadas recordações singelamente dispersas. Tão só me
habituei a obter as coisas e a conseguir tudo com empenho e querer, após
esperas, expectativas, esperanças, contratempos e insistências, trabalho e
interesse, depois de muito remoer interiormente, produto de personalidade
própria, sem que nada caísse do céu, de mão beijada ou fruto de acasos inesperados.
Passei o tempo
descontraído da infância na Longra, num mundo meu, por assim dizer. E então
comecei a afeiçoar-me à Longra. Longra que era uma terra com muita presença, desde
eras remotas. O que leva a dar um ar de divagação, a propósito…
=
X =
Neste ponto, isto pode
ir com um conto… para melhor ilustração.
Quimera
Reconstrutiva...
No torpor de
pensamentos, qual reconstituição histórica mental, permita-se desta feita uma
deambulação pelo mundo dos sonhos sonolentos, à guisa descritiva de conto:
... Huuum… Diante dos olhos, quão abstrato pensamento,
distante e diluído, depois com mais nitidez aos filtros do cérebro, apareciam
pessoas de semblante algo rude, homens, mulheres e magotes de filharadas, uns
cobertos parcialmente por arremedos de vestimentas em pele animal, ao género
das peles de lapónio, outros cobertos com lã de seus rebanhos, e alguns outros
já por uma aparente veste comprida quase até aos joelhos, presa por uma cinta…
Possivelmente povo de tempos pré-romanos, patrícios dos Lusitanos, parecendo
mesmo avoengos Calaicos, cirandando num escarpado povoado remoto. Traziam
cabelos compridos, seguros por uma atadura em volta da fronte, e, nos que
usavam peles, saía dos agasalhos um saio mais ou menos curto, cingido ao corpo.
Conviviam numa comunitária descontração, parecendo tribos de vida autónoma,
aliados em inocente felicidade, mais sentido de defesa e entreajuda. Enquanto
usavam danças muito próprias e se exercitavam em culto de jogos atléticos e
práticas de guerreiros.
Huuum? Mas aquilo…
Ora, vislumbravam-se
construções colmaças cilíndricas, de céltica fisionomia, casas arredondadas
feitas de pedras miúdas e graúdas, cobertas de colmo, mais cortelhos
irregulares e casotas de paredes lisas quadradas e retangulares, espécies de
humildes cabanas e grutas escavadas, com aspeto da Idade do Ferro, como nos
livros vem.
Mas… Era, aquilo, num
sítio com apreciável grau de urbanização, em forma antiga, através de núcleos
urbanos distintos, por meio de habitações agrupadas ao longo de caminhos com
traçados de regulares carreiros… E, além, divisavam-se ainda umas antas,
edificações de dólmenes genuínos, quais monumentos funerários de acrisolado
apego antepassado, na religiosidade simbólica. Tal como uma construção de
balneários, com ar de banhos públicos, em cuja cabeceira se salientava adornada
pedra formosa. Realçando-se, no coração da localidade, uma figuração em pedra
de um guerreiro, hirto como se de vigia se tratasse, tipo sentinela protetor.
E, nas periferias, após limites de pequenas muralhas de rústica alvenaria, em
fileiras de pedras, sucediam-se penedias, bem comparantes ao penedo rebolão,
das histórias de encantamento mourisco, mais um par de outros, ambos como o do
bem e do mal, quanto ficaram na memória do imaginário popular, bem como um
tatuado penedo das ninfas, assim chamado e com marcas epigráficas, em
referencial de divindade idolatrada, por entre fraguedos; revezando-se o
panorama até paisagens amenas, entrecortadas por campinas, qual lameira de
Redundo e sítios das lendárias ervas arbóreas ao pé da pedra furada…
Uma povoação castreja?!
...A vida regurgitava, ali, num quotidiano de labor montanhês, a par com labuta
de culturas de trigo e cevada nas chãs mais altas e vizinhas do povoado,
atarefando-se porém com mais parcimónia em cuidados de pastorícia, medrando
rebanhos de gado, donde retiravam peles com que se cobriam e carne e leite para
o sustento. Cotejando necessidades com costumes, por tradições e superstições
condimentadas em ciência adquirida pelos tempos fora.
Só que era esquisito, surgia
tudo tão diferente, do que as pálpebras tinham ideia, num ambiente a parecer
primitivo, como se o tempo tivesse andado muito, mas muito para trás…
Então, quem estava a presenciar tal
ocorrência, deu com toda a gente a olhar para si… Tantas caras meio
apalermadas, num misto de rostos esquálidos interrogativos, boquiabertos, de
dedo em riste e riso inquisidor… Olhando, de pé atrás, viu-se logo rodeado por
aqueles indígenas, a admirar suas roupas, de pleno século XXI, a indagar a
direção de seus sapatos, a apontar os óculos do incrédulo visitante, a
mexer-lhe na cara, barbeada, enquanto se olhavam entre si, comparsas barbudos e
de hirsutos cabelos… De imediato o circundaram com danças, ao género de ritual
como se via em filmes… Como poderia ser aquilo…?
Sem entender o que
estava a acontecer, entretanto, ouvia-se, num dialeto arcaico… umas falas
grunhidas por entre dentes, possivelmente a conversarem sobre tão estranha
ocorrência também para eles. Até que o agarraram e o estavam já a levar, no
meio de uma vozearia cantada, quando, deveras apreensivo, estremeceu, e… E
acordou.
Uff!!! Olhando em volta, ainda estremunhado, no
torpor de sono consolado, apercebeu-se que estivera a sonhar! Tudo isso,
aquilo, tinha sido apenas fruto de recente visita a um significativo local de
preservação castreja do Noroeste Peninsular. O que estivera a pressentir mais
não fora o que lhe ficara no subconsciente, reconstituindo historicamente o que
sentira. Tratava-se, afinal, do que apreendera diante duma emblemática citânia de
Entre Douro e Minho, sendo dos melhores exemplares do proto-urbanismo da II
Idade do Ferro, com uma organização funcional desse importante espaço que foi
urbanizado em tempos idos, a remeter à penumbra dos tempos. Estivera, por
instantes, no âmago duma Citânia de outrora, após visita pessoal em dias do
próximo presente, agora, a sonhar, como se séculos antes fora… À espécie duma
quimera, de reconstituição histórica, em mental devaneio estudioso.
Isto por estar presente
facto relacionado com o passado da terra natal, transpondo à realidade local.
Sabendo, como ficou descrito no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de
Felgueiras”, que Longra provém de Lôngara, que queria significar algo
arqueológico, sendo um sítio de vestígios soterrados, coisa alongada pelo
tempo.
*
Ora (já sem ser conto
ficcionado, de ilustração, mas descrição real, de afinidade), assim sendo, a
Longra é um dos lugares de Felgueiras com história, tal o caso do local
arqueológico apelidado de Cimalha. O chamado povoado da Cimalha, que em tempos
(pelos inícios do século XXI, já) foi descoberto e depois continuou soterrado
no alto de Cimalhas, na fronteira de Rande com Sernande, uma das áreas da nova
divisão administrativa que a partir de 2013 ficou englobando Pedreira, Rande e
Sernande, conforme o que foi decidido pelos poderes reinantes.
Pois então, quanto ao
tema arqueológico, por meio de trabalhos públicos de pesquisas, houve novidades
de povoamentos antigos da bacia inicial do rio Sousa, nas veredas de Sousa e
necrópole do Senhor dos Perdidos, da proto-história à romanização, incluindo
mesmo informações de um povoado da Idade do Bronze, como o chamado Povoado da
Cimalha (cujos vestígios não foram muito valorizados, oficialmente, atendendo a
que ficaram soterrados pouco depois de seu estudo e seguinte construção dos
acessos à auto-estrada A11), mais algo de arqueologia romana, com respeito às
descobertas da denominada villa romana de Sendim, como haverá diversas outras,
onde há informes de casas originais (villas) das fundações das paróquias /
freguesias, pelo concelho.
Dando razão ao que
escrevi no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras” (ed. 1997),
quanto a breves referências expostas sobre iniciais estudos que se tinham proporcionado,
o Alto de Cimalhas guardava resquícios de velha civilização. Aliás os lugares
antigos em torno desse planalto, pela toponímia histórica, referem assimilação
derivada, ao que se passa com Longra, de Lôngara, significando algo
arqueológico, bem como Castelo e Castela, lugares da encosta de Rande, como
também mais alguns outros pelas próprias freguesias ao redor têm nomes dessa
procedência. Ou seja, comprova tal passado, da penumbra dos tempos, também as
eminências do povoamento primitivo, quanto designam que o mesmo território
possui elementos de interligação, como sejam os limites transfronteiriços de
freguesias no antigo Monte de Cimalhas. Aí se percebe, no dito local
antigamente também chamado Picoto de Cimalhas, como a zona teve população
alguns séculos antes da nacionalidade, conforme se encontra documentado a
partir pelo menos do séc. X, visto ali se haver elevado um castro (fortificação
castreja), em tal sítio remotamente ainda referido como Pico da Cimalha, onde
Varziela herdou o nome do lugar do Monte, enquanto Sernande e Rande dividem terras
que ficaram conhecidas por lugares de Cimalhas de Cima e de Baixo, ao passo que
a Pedreira se chega por Carcavelos, local de designação de antiga fortificação,
até à Sobreira, para mais além possuir réstia toponímica de um próprio lugar de
Castro (Crasto, na evolução popular). Entre outros casos, nesta singularidade
familiar de exemplos múltiplos, na área da atual Vila da Longra. Sendo
atualmente o nome Cimalha constante das escrituras do terreno, e naturalmente
da sua localização, do chamado Edifício Vila da Longra, construído em 2007 ao
fundo da encosta de Cimalhas, na parte da freguesia de Rande, já em pleno
centro da vila a que pertence.
Efetivamente, desenvolvendo
mais o tema, no referido local, ao cimo, inicialmente chamado da Cimalha (aliás
nome de todo o antigo monte), apareceram recentemente, desde trabalhos de
pesquisa arqueológica efetuados a partir de 2004, uns escassos vestígios,
derivado aos desaterros ocorridos nos trabalhos de terraplanagem da ligação à
auto-estrada A11, sobremaneira de velho caminho divisório interfreguesias, mas
também, com novas sondagens em 2008, antecedendo o rasgamento da continuação da
estrada para ligação em viaduto, do alto da Longra/Cimalhas para os próximos
lugares de Varziela, apareceram alguns pequenos vasos de deposição de restos
funerários, comprovativos de ancestral povoado.
Conforme os dados
entretanto difundidos, ali foram detetados vestígios de um habitat da Idade do
Bronze, através da análise de cortes do terreno, existindo partículas de
cerâmica, o que possibilitou a compreensão do tipo de ocupação do sítio, com
realce a determinadas estruturas, de reduzido número de buracos de poste e
algumas fossas de silos de armazenamento, paralelamente com recolha de
fragmentos cerâmicos que possibilitaram reconstituição de vasos, de largo
bordo, tipo de guarida de cinzas funerárias, a par com alguns objetos de pedra,
caso de artefactos de moinhos manuais, molde de machado plano e inclusive peças
de ferro, como uma pequena estatueta e aldrabas de portadas, entre diversos
exemplos.
Atendendo ao que está
observado, por meio das intervenções realizadas, e dadas as características do
espaço inspecionado, tem sido concluído tratar-se o caso da Cimalha de parte de
um lugar habitado do período do Bronze Final, com vocação agro-pastoril, que se
julga com ocupação até cerca do período romano, antes de instalação de próximas
villas romanas que, depois do período dos godos, viriam a fundar as paróquias
circunvizinhas. Pressupondo uma primitiva ocupação do local, entretanto destruída,
da qual restam assim diminutos testemunhos. Devendo o aglomerado central do
lugar ter desempenhado, em seu tempo, relevo de vigia na defesa dos sítios
circundantes, ao género de uma atalaia (de acordo com o espólio dos achados das
escavações). Disso, após os devidos restauros, as peças encontradas no alto dos
Perdidos e na Cimalha, junto com as descobertas da villa romana, fazem parte,
para já (enquanto não há um museu geral concelhio) do acervo museológico
exposto no centro de interpretação de apoio às ruínas de Sendim.
=
X =
Posto isto, continua o percurso vital.
Fui batizado na igreja
paroquial de S. Tiago de Rande a 1 de Agosto de 1954, pelo pároco Padre João
Ferreira da Silva, tendo como padrinho o irmão mais velho, Joaquim; e por
madrinha (a então vizinha de casa) Maria Celeste Guimarães Pinto da Costa. E,
feita a Primeira Comunhão a 1 de Junho de 1960, fiz a Comunhão Solene também em
Rande, no domingo da Festa Paroquial do Padroeiro S. Tiago, a 26 de Julho de
1964.
Porque da infância
pouco fica, não são muitas as imagens dos primeiros tempos de assimilação à
vida. Porém no subconsciente, segundo instantâneos que por vezes transparecem à
retina da memória pessoal, ficaram algumas impressões adocicadas, das presenças
supremas de pai e mãe no amparo inicial, quais manhãs de Primavera ridente,
mais a companhia permanente da avozinha Júlia desde seu leito contínuo, como
anjo protetor dedicado. E entranhadas imagens de convivência familiar, daquelas
sortes que permanecem gravadas e de quando em vez assumem sua imponência
mental.
Entretanto, iniciara
primeiro a aprendizagem da doutrina cristã, assimilando as normas da religião
católica de ouvido, matriculado que fui na catequese antes de ter podido
aprender as primeiras letras.
Entrado para a Escola
(inicialmente sem estar inscrito, em 1960, por então não ter ainda atingido a
idade, assistindo apenas durante algum tempo às aulas de D. Maria Amélia
Noronha; e no ano seguinte, aí já matriculado), havendo iniciado as aulas a 1
de Outubro de 1961, tive como primeira professora a D. Candidinha Sousa, como
era conhecida D. Maria Cândida Gonçalves de Sousa; seguindo-se desde a 2ª à 4ª
classe a D. Maria Fernanda Figueiredo Silva (esposa do Presidente da Câmara de
Felgueiras nessa época, Dr. Dias Ribeiro).
Perfiz o ensino
primário na Escola (antiga) da Longra, cujas provas escrita e oral do exame
final da 4.ª Classe (do ensino público e obrigatório da época) ocorreram,
respetivamente, a 1 e 5 de Julho de 1965 na então vila de Felgueiras, sede do
concelho natal – por ocasião da primeira subida de divisão do Futebol Clube de
Felgueiras, que então ascendeu à Segunda Divisão Distrital, com dois golos de
Sabú na “finalíssima...!
Passei todo esse
saudoso período de brincadeiras infantis com os meus amigos, de início com o grupo
restrito de familiares, mais escasso número de crianças vizinhas; seguindo-se
depois, ao tempo da escola, alguns amigos mais assíduos de passatempos. E, além
das companhias da gente miúda, de minha igualha, gostava da sensibilidade feita
experiência de pessoas mais velhas, que me diziam respeito, como o tio Zé (José
da Costa Moreira) e a tia Emília, na Longra, em cuja presença, junto à lareira,
ia povoando a imaginação de histórias antigas, ouvidas em serões de roda
familiar; como também, por vezes, em casa do tio Quim e da tia Rosa, de
Janarde, sobretudo em almoços nalguns dias de festas; bem como na casa do Tio
Tónio e da tia Micas, também de Janarde, onde vivia ainda a “tia ceguinha” e
era a antiga casa do avô António da Quinta (que gostava de guardar livros e
panfletos antigos com histórias de seu tempo, a que infelizmente não
consegui pôr as mãos, salvo exceção de dois folhetos que minha mãe me
conseguiu, remidos da destruição acontecida, aquando de reunião dos meus tios à
procura de outros bens...). E, quanto ao acompanhamento com familiares, de modo
especial sentia-me bem com a prima Glória, do Paço da Torre, em andanças
eternizadas intimamente – como ficou aflorado, numa suave recordação, em
“Sorrisos de Pensamento” (livro de contos, de capa azul e branca por gosto
pessoal).
Por esses tempos, dos
inícios de frequência pública local, por volta de 1960 quando já ia à
“doutrina” (catequese) e principiei a interessar-me por ouvir falar do Porto,
quem venceu a Volta a Portugal em bicicleta foi o ídolo Sousa Cardoso, do
F.C.Porto, em tempo em que ainda corria com a camisola azul e branca o ciclista
Felgueirense Artur Coelho. Tal qual quando então passei a colecionar cromos, os
“macacos” de ases da bola, a equipa de futebol principal do F. C. Porto era
composta por uns Américo Lopes, Virgílio, Arcanjo, Mesquita, Barbosa, Paula,
Ivan, Luís Roberto, Monteiro da Costa, Carlos Duarte, Serafim, Jaime Silva,
Custódio Pinto, Azumir, Hernâni... E Azumir, artista no ataque, foi o melhor
goleador do campeonato em 1961/62, conquistando o galardão da Bola de Prata.
- Azumir… Américo…
… Inícios do Portismo
do autor destas linhas. E havia um jogador, que nunca vi em carne e osso, só
conhecia de nome e fisionomia pelas gravuras dos jornais e cromo que tinha na
minha caderneta. Mas muito admirava pelos meus seis, sete anos, no
acompanhamento do que já ia sentindo pelo Porto, sendo um goleador que vestia a
camisola azul e branca, chamado Azumir. Ouvia o seu nome no rádio que estava
junto à cabeceira da minha avozinha (que estava sempre na cama, paralítica) e
ficava a pensar como seria ele vestido com a camisola linda que eu tinha numa
fotografia, retirada dum papel que viera com qualquer coisa duma feira.
Azumir foi então um dos
meus primeiros ídolos, do que me lembra desses tempos de primeiros anos de
convivência infantil, de toda a ambiência que tive entre aulas, recreios e
brincadeiras dessas eras de escola primária, durante a semana, e ensino da
catequese, aos domingos. Em cujos dias santificados, mal acabavam as preleções
das catequistas, nos lançávamos em loucas correrias para ainda presenciarmos o
que restasse dos jogos de basquetebol da equipa da Metalúrgica da Longra, ao
tempo a competir nos campeonatos corporativos, da coeva FNAT (mais tarde
substituída, com a mudança de regime político, pelo Inatel). Como gostava de
ouvir o povo assistente a gritar “Longra ao lado” (!), sinal de que haveria
lançamento lateral a favor da equipa Longrina e a bola ficava na “nossa” posse.
Pois a maioria das vezes nem sabia a quantos estava, ou seja qual era o
resultado, mas pelas reações me apercebia se estávamos a ganhar ou não… E de
tarde, como tivesse de ir à igreja para a reza do terço, estava em silêncio com
a cabeça no jogo do Porto, da equipa principal de futebol do F. C. Porto, e mal
o saudoso Padre João tirasse a capa, com que dava a última bênção, eu e outros
nos lançávamos para onde soubéssemos que havia um rádio a dar relato do jogo…
Foi então, numa dessas tardes de domingo, que me ficou na cabeça um jogo em que
o Porto venceu o Benfica em pleno estádio da Luz, por 2-1, com dois golos de
Azumir. O jogador que nessa altura mais custava a sair nos rebuçados, sendo
cromo raro para a coleção da caderneta que colecionávamos…
Quão mexia cá dentro
sempre que ouvia o relatador, do som radiofónico, a berrar uma grande defesa do
Américo - outro meu ídolo, até o que mais admirei sempre – e nas andanças da
bola saber que lá estavam e andavam outros a mexer e remexer o esférico para a
nossa causa, gravando-se no íntimo certa afeição aos nossos, que então
compunham um naipe de grandes futebolistas, completada que era a equipa por
nomes como Virgílio, Arcanjo, Festa, Jaime, Pinto, Hernâni…
Outra vez, ainda ficou
mais nas recordações em ter ouvido entre Sportinguistas e Benfiquistas que nos
saíria o pio numa ida a Alvalade. Mas não é que, aí, o Porto foi lá vencer, com
mais um golo de Azumir..?!
Ora bem, Azumir, como
tal, é nome que prevalece Tal a fibra de “artilheiro” que nos entusiasmou e
perdurará como vencedor duma Bola de Prata, como melhor goleador do campeonato,
a primeira que me lembro de saber que um jogador do Porto ganhou.
Os referidos cromos, de
gravuras dos jogadores de futebol, vinham embrulhados em rebuçados baratos, a
tostão, ou seja um centavo (em tempo de moeda do Escudo) – coisa que agora, com
a moeda em Euros já não tem equivalência, pois a mais baixa unidade, de 1
cêntimo, corresponde a dois antigos escudos. Recordando-se que um escudo andava
à volta de cem centavos ou tostões, como se dizia popularmente, num enquadramento
aos tempos que correm, das primeiras décadas do século XXI, em que um Euro
equivale a duzentos escudos de antigamente (1 E = 200$00 arredondados, mais
precisamente 200,482 escudos, na ocasião da entrada da moeda Euro, em 2002). E,
naquele tempo, nos anos sessentas, com um tostão até se comprava bem mais
coisas, também, bastando saber que com uma coroa, de cinco tostões (centavos),
já se comprava um doce na Padaria (equivalente aos pastéis de hoje em dia, que
custam em média oitenta cêntimos, cerca de cento e sessenta escudos antigos),
para o que servia a coroa que se ganhava em ir na “Cruzada” aos enterros...
Depois, enquanto
memorização dos inícios da década de sessenta do século XX, entre jogatanas no
recreio da escola e andanças pelos caminhos da Longra, apareceram aos ouvidos,
nas conversas sobre futebol, os nomes de uns Festa, Nóbrega, Almeida, Alípio,
Joaquim Jorge, Valdir, Atraca, Vasconcelos, Rolando... dos que foram passando a
envergar a linda camisola azul e branca. Enquanto o grande ídolo desse tempo, o
guarda-redes Américo, ganhou em 1963/64 a primeira “Baliza de Prata”, trofeu
então instituído para premiar o guardião mais regular, sendo ele o menos batido
(havendo sofrido só 17 golos em 25 jogos, enquanto Carvalho do Sporting encaixou
19 em 23 jogos e Costa Pereira do Benfica 24). Ao passo que na Volta a
Portugal, na sequência desses anos, se sucederam vitórias por Mário Silva, José
Pacheco e Joaquim Leão, ciclistas de azul e branco vestidos.
Américo… Américo
sempre!
Então, quando eu era
pequeno (em idade, na infância, entenda-se), sendo Portista por intuição de bom
gosto, como sempre julgo que tive, e paixão por encantamento do que me
entusiasma, tinha na cabeça, quase por entre os livros e cadernos escolares, os
nomes dos jogadores do Porto, imaginando-os de cara pelo que via nos populares
cromos da bola, que circulavam entre nós, moços da escola. E o Américo era o
que mais admirava, o que me seduzia ao ouvir os relatos domingueiros dos jogos
pelas suas defesas: - Américo voa para a bola, blocando o esférico…! - Américo,
entre vários jogadores, afasta o perigo… - Américo segura a redondinha,
espetacularmente! (ouvia nos emissores do Norte Reunidos, porque as emissoras
de Lisboa pouco davam do Porto) – Nem só os pássaros voam, Américo quase dá com
as costas na trave, lançado em voo elegante…”
Até que… Depois, quando pela primeira vez entrei num
campo em que jogava o Porto, foi com os olhos no Américo que senti melhor como
gostava daquele Porto…
(Foto) =
Muitos anos depois, com Américo, o guarda-redes de futebol, mais o hoquista
Cristiano, grandes ídolos portistas! =
A propósito, nunca é para mim demasiado lembrar
Américo, por quanto ele foi referência e representa na história do F C Porto e
do desporto nacional. Américo que foi o grande injustiçado do futebol
português, quanto a internacionalizações pela seleção dita portuguesa, como
ficou para a história. Mas, apesar de tudo, foi o melhor guarda-redes português
da década dos anos sessentas. Em tempo do sistema BSB (do sistema das presidências
federativas circunscritas a serem comandadas por homens de Benfica, Sporting e
Belenenses). Américo era o melhor guarda-redes português, mas no Mundial de
1966 ficou a ver os jogos no banco de suplentes, porque tinham que jogar os dos
clubes dos dirigentes federativos. Motivo porque do lote dos 22 “Magriços”
(como foram chamados os futebolistas dessa campanha), do F C Porto só o defesa
Alberto Festa pôde jogar e apenas em metade dos jogos dessa fase final. Ficando
Américo e Custódio Pinto a suplentes, enquanto Nóbrega, que até chegou a ter
feito o fato oficial para o efeito, ficou fora a ver os jogos pela televisão,
preterido quase nos últimos dias, indo em sua vez um que jogava num clube
pequeno mas que estava já comprometido com um dos clubes grandes de Lisboa.
Atendendo a essa simpatia que Américo sempre me
merece, foi com grande prazer que mais tarde, já em Outubro de 2016, pude
visitar seu museu particular e ver bem diante dos olhos a camisola que ele
vestia e outras recordações dessas eras. Sendo com muita honra que fiquei ao seu
lado em fotos que guardo, das quais aqui reporto uma…
(Foto) = Com
Américo, em visita a seu museu particular…
Voltando a acertar o
passo, retomo as lembranças daqueles tempos antigos, nos começos da década de
sessenta:
Ainda tenho na cabeça o
dia da minha 1ª Comunhão, estava para fazer 6 anos… Num dia feriado (soube mais
tarde, pois na altura para mim todos os dias eram de livre trânsito, voando
sobre a vida sem pensar, praticamente, como passarinho que me sentia). Minha mãe
vestiu-me com todo o esmero um calçãozinho azulado-escuro e uma blusa
branquinha, tipo blusão de pano como se usava então em ocasiões especiais… e
umas meias brancas, que, estando ela ao meu lado na igreja, me lembro bem de
olhar e fixar, enquanto de cabeça baixa a ouvia sussurrar-me ao ouvido orações
de preparação para receber a hóstia…
Por esses tempos, por
ver o padre da freguesia a “dizer missa”, uma das brincadeiras em casa era
recriar o que via o Padre João fazer no altar da igreja, embora num cortelho
que havia em nossa casa; assim como juntava alguns dos amiguitos que brincavam
comigo para os pôr com uma gaiola de arame que tínhamos, existente em casa para
pássaros, e num arremedo de andor, eles transportarem em procissão, atrás de
mim. Tal como, por ver os jogos de basquetebol da equipa da “fábrica nova”
(Metalúrgica da Longra) me punha a tentar encestar uma bola num aro que os meus
irmãos colocaram num muro. E como sempre gostei de coisas de género
etnográfico, encantava-me ver os campinos do Ribatejo em filmes, como via nos
documentários do cinema que via no salão da Casa do Povo ou nos serões para
trabalhadores da Metalúrgica. Filmes esses que eram a preto e branco. Os meus
colegas sabiam disso pois falávamos muito de preferências, até que um dia
alguém me mostrou um recorte de revista com uma imagem dum campino e quando vi
que o seu traje tinha muito vermelho, deixei logo de apreciar aquilo, por não
gostar de tal colorido.
De permeio fui tendo
participações coletivas locais ao integrar a Cruzada Eucarística das Crianças
de Rande, de 1960 a 1964 (de que sempre guardei, junto com a patente, a minha
medalhinha de membro); tal como fiz parte do escalão infantil do Rancho
Folclórico (das Quatro-Barrocas) da Longra, de 1962 a 64; e como adolescente
integrei de seguida a Liga Eucarística dos Homens de Rande de 1965 a 1973
(tendo guardado, além da patente de inscrição, religiosamente também a
respetiva braçadeira identificativa, que era usada no braço em procissões e
outros atos solenes).
De vincada recordação,
perdurou na memória o Grupo Coral da Liga de Rande, que, tal qual a organização
em que se inseria, durou até ao falecimento do Padre João, a 1973. Grupo que
solenizava a missa paroquial, revendo tempos que afinal foram os últimos anos
do tempo da Liga.
Entretanto, na
transição juvenil, em Setembro de 1965 dera-se interrupção na frequência
efetiva à terra natal, indo para a área urbana do Grande Porto. Tendo então
ingressado no Seminário dos Capuchinhos em Gondomar. Roído de saudades logo ao
partir, contudo algo amenizado por alegria de na véspera o Porto ter vencido o
Benfica por 2-0, com golos de Nóbrega e Naftal, na estreia de Fernando Pavão.
Tal como no ano seguinte, depois das férias grandes e nas vésperas de me ter de
ausentar novamente para longe da terra do coração, o Porto bateu o Sporting por
1-0, com golo apontado por Carlos Baptista, em Setembro de 1966.
Contudo, sempre que
havia regresso em tempos de férias, pelo Natal, pela Páscoa e no Verão,
enquanto sobrevinha ânsia sequiosa em inteirar-me do que se passara na vida do
F. C. Porto nesses períodos (sobretudo através do jornal “O Porto”, cujos
números semanais sucessivos o meu padrinho me guardava), havia também como que
sofreguidão de recuperação de tempo em atualização da terra amada, percorrendo
todos os sítios para ver e rever locais e focos de atenção, inteirando-me de
possíveis novidades e outras situações. Embrenhava-me então de novo na
ambiência afetiva, convivendo com os amigos e conhecidos, dentro do possível.
Então, tal como já na
escola primária antes acontecera, todos reconheciam alguma influência pessoal
na cativação de simpatias clubistas, para o clube representativo do Norte, como
também em aderências a predileções de outras áreas de interesse.
Estive assim, também,
em 1967, integrado no núcleo fundador da ADEL – Associação Desportiva e
Estudantil da Longra (junto com meu clã mais assíduo de brincadeiras juvenis,
em tempos de férias grandes, cujo grupo desenvolveu no seu círculo restrito
algumas atividades de fins culturais e recreativos, incluindo alguns
improvisados bailes de quem não sabia dançar, isso tudo até inícios da década
seguinte, contando também jogos de futebol com equipas de estudantes de outras
freguesias.
No princípio dos anos
70, já a residir permanentemente de novo na Longra, como estudante externo,
integrei ainda pontualmente, como atleta praticante, algumas formações
episódicas do Futebol Clube da Longra (em jogos decorridos em campos de equipas
visitantes, sendo época em que o clube não teve atividade regular, por falta de
recinto próprio durante anos, depois que o antigo da Metalúrgica da Longra foi
ocupado com aumento das instalações fabris).
Qualquer pessoa, para
mais numa região do interior do país de brandos costumes, andava então
totalmente a leste de ideias e situações políticas. E, afinal, como no decurso
dos anos já vividos se tem constatado, embora sendo a política social coisa
para se andar minimamente a par, atendendo às intenções e interesses, como que
para não se andar no mundo só por ver os outros andarem, é, porém, como um
mundo à parte que cada vez se revela mais, origem de menor apologia de
convicções.
Antes, o tempo foi
passado como ouvinte e atento leitor por todo o período histórico que meteu a
guerra do ultramar, a morte de Salazar (que, na altura, teve repercussão
porque, durante os respetivos dias de luto nacional, impediu transmissões
diretas, na rádio, de notícias da Volta a Portugal em bicicleta...), passando
pela primavera do regime antigo e todo um manancial de ocorrências, do que se
ouvia nos noticiários e se podia ler, até aos alvores do 25 de Abril de 1974...
Ao passo que a guerra do Vietname era apenas um tema que se ouvia nas notícias
do Telejornal, mas já o golpe militar do Chile, pelas consequentes atrocidades
cometidas, foi coisa que mexeu com a sensibilidade, segundo o que foi possível
saber-se. Enquanto, também em Felgueiras se viveram tempos de mudança, na
transição das presidências do Dr. Dias Ribeiro para o Dr. José de Barros,
tendo, por esse tempo, negativamente haver acontecido a destruição da pérgula
que embelezava o jardim do centro da então vila de Felgueiras. Houve ainda
grande esperança de melhorias nas freguesias, a partir da presidência aberta do
Dr. José de Barros, o qual criou muitas expectativas com históricas visitas às
freguesias do concelho, contudo sem resultados práticos, culminando no seu
afastamento por muito falada saída da Câmara (quando esses cargos eram nomeados
pelo poder central, através dos governadores civis), sendo substituído no
exercício pelo Prof. Freitas, vivendo-se sem relevantes novidades. Até à
instalação de Comissão Administrativa presidida pelo Dr. José Machado de Matos,
na sequência da queda do regime, sobrevindo posteriormente eleição sufragada de
executivo liderado igualmente pelo Dr. Machado, começando então a espairecer o
ambiente na transformação obreira, num horizonte, porém, de curta duração (ao
que se verificou mais tarde, ou seja sem sequência em mandatos seguintes, tendo
continuado Felgueiras a passar ao lado do desenvolvimento planeado, pesando as
muitas possibilidades ante as realizações materializadas, até à atualidade).
Chegada a fase mediana
à adolescência, concluí o ensino secundário alcançando o oficial Curso Geral
dos Liceus. Ficando habilitado com o antigo 5º ano liceal, equiparado
profissionalmente ao Curso Complementar/11º ano do posterior regime oficial de
ensino (em tempo de escolaridade obrigatória de ciclo preparatório do antigo 2º
ano). Percorrido trajeto estudantil que fora iniciado no já referido Seminário
dos Capuchinhos, em Gondomar-Porto, depois continuado no ensino externo em que
frequentei o Externato Eça de Queirós em Lousada e encerrado por fim com última
fase letiva no Colégio de Vila Meã, de onde fui proposto aos exames finais no
Liceu Nacional de Guimarães.
=
Foto no Externato de Lousada – uma parte da turma da área de letras (4º ano do
então ensino liceal).
Trespassado o percurso
estudantil, com habilitações do Curso Geral dos Liceus, estive longo período,
de cerca de três anos, à espera pela resolução da situação militar, em tempo de
guerra colonial (apurado para o serviço militar, mas a aguardar incorporação
além do tempo normal, que depois se não verificou por entretanto ter acontecido
o “25 de Abril” em 1974, seguido do processo político de descolonização, até
finalmente ser abrangido por lei de passagem à “reserva territorial”, em
Fevereiro de 1976).
Havia começado a
namorar com a “minha rapariga” em Agosto de 1973 e perante a falta de definição
na vida, à falta de emprego e sem ir nem sair da tropa, entretanto, a coisa
estava para não poder tomar decisões sérias.
Logo que tive resolvido
o problema da “tropa”, enveredei (foi o melhor que se pôde arranjar…) pela
carreira administrativa pública, entrando a 1 de Março de 1976 ao serviço na
secretaria da Casa do Povo da Longra, que incluía ação social, cotização e
benefícios de sócios da instituição e o então Posto Clínico da Casa do Povo.
Meses depois de
iniciada a carreira profissional, em Maio de 1977, passei a estar integrado
noutro organismo, dentro do mesmo setor e do próprio edifício, tendo ficado no
derivado Posto Clínico da Longra (por opção da área de Saúde, na separação
institucional então verificada de autonomia do referido Posto Médico, em vez de
continuação nos serviços da Previdência Rural e Segurança Social), aquando de
diploma governamental que integrou as unidades médico-sociais das Casas do Povo
nos serviços médico-sociais de âmbito distrital. Passando então a ter vínculo
aos Serviços Médico-Sociais do Distrito do Porto, mais tarde com denominação de
Administração Regional de Saúde do Norte/Sub-Região de Saúde do Porto.
Inicialmente, como
funcionário eventual fora ganhar ordenado de 4.000$00 (quatro contos, conforme
se dizia, ou seja quatro mil escudos na moeda desse tempo, que em conversão
atual daria 20 Euros), tendo sido efetivado em Julho imediato com vencimento de
5.000$00. Na transferência para os SMS passei, desde Maio do ano seguinte, a
receber 6.800$00. Até nem ganhava mal, a correspondência aos tempos posteriores
é que não é muito fácil de cambiar, pela grande transformação por que tem
passado o país em desvalorizações monetárias e aumentos de custo de vida, com a
inflação que sucessivamente e cada vez mais se tem verificado (sobretudo a
partir da mudança para a moeda Euro)...
+++
Recordando: Uma
inspeção do famoso Fontinha ao Posto Médico da Longra
Dizem-me os meus quase
quarenta anos de serviço público que a distância delapida melhor um percurso de
vida. Embora, tal como quando se constrói uma casa, nossa, ao findá-la é que se
devia estar a começar, para melhor aproveitamento; também ao findar uma
carreira, no caso profissional, se ficou a entender determinadas situações e a
conhecer melhor as pessoas.
Ora, passando adiante
disso, por ora, fica porém o sabor dileto dos bons momentos. Como de tanta
peripécia vivida no decurso do emprego mantido no Centro de Saúde da Longra,
desde o inicial Posto Clínico da Casa do Povo, até ao Centro de Saúde, que
popularmente sempre foi e será o Posto Médico. Daí que durante muito tempo eu
fosse conhecido, primeiro por Pinto da Casa do Povo, e mais tarde por senhor
Pinto do Posto Médico…
Pois então, no meio de
infindáveis e engraçadas situações (a par com horas lixadas, que mexeram com um
tipo, por mais calmo que fosse!), houve uma situação que não mais esquece.
Passada com um antigo inspetor da entidade distrital de saúde, dos Serviços
Médico-Sociais do Porto, a que estavam ligadas as unidades, quer no tempo em
que se incluíam nas Casas do Povo, quer mais tarde na anexação ao serviço
nacional. Sim, num tempo que dava para haver funcionários a fiscalizar as
funções de outros, vindo então certos fiscais administrativos, por assim dizer,
desde o Porto, para ver e passar a pente fino as escritas, como se dizia, dos
chamados postos médicos. Sendo à época muito temido (na boca de colegas mais
antigos) um senhor conhecido por Fontinha, algo rígido, mais pela sua sisuda
postura, além de ser muito exigente e minucioso na examinação das papeladas.
José Fontinha, de nome mais completo, como assinava por fim os relatórios
(embora nos registos biográficos apareça publicado Fontinhas, porém sempre foi
mais conhecido por Fontinha, enquanto ele nunca ripostou a esse tratamento).
Mas que, como alguém dissera e passamos a saber, se tratava de um poeta
conhecido por um outro nome, Eugénio de Andrade, conforme o pseudónimo que
escolhera para a autoria de suas obras literárias.
Daí que se entenda uma
passagem dum seu livro:
«...Sou um homem que
nunca fez da poesia uma carreira. Passei trinta e cinco anos a fazer inquéritos
e processos disciplinares, sem o menor gosto mas com grande sentido de
responsabilidade, e escrevi a poesia de que fui capaz nas horas que me deixavam
livres a profissão de inspetor de uns serviços do Ministério da Saúde, que
ainda aí estão, cada vez piores, ao que consta...» - Eugénio de Andrade
(1923-2005), in “Poesia e Prosa”.
Pois sim, mas a quem o
aturava, nas vezes em que ele aparecia no local do nosso emprego, não havia
poesia nos contactos cara a cara. Não dando muito uma coisa com outra e, a quem
conhecesse suas composições poéticas tal não diria que eram dele, muito menos
quem estivesse a leste perceberia como podia ele ser um vate na matéria. Apesar
disso, pessoalmente eu até simpatizei com ele e nunca tive queixa. Aliás, por
das poucas vezes que trocamos algumas palavras, uma ocasião se ter
proporcionado para ele se aperceber que eu tinha certa simpatia pela
literatura, deu para, passados anos, ele me ter autografado um livro, que
mantenho com apreço – apesar de eu nem ser muito apreciador de poesia livre,
quase sem rima, mais voltado sempre a melodiosas rimas declamadas.
Enquanto isso, o que
via com o Fontinha, nas suas vindas ao Posto Médico da Longra, dava para
espairecer o pensamento, por estar sempre a estudar o ambiente derivado e fazer
analogia dum quadro situacionista ao outro facto. Mas pude presenciar
ocorrências divertidas, quase cómicas, para não dizer mais.
Aconteceu de uma das
vezes, quase no início da minha carreira profissional, uma dessas tais. Estando
ainda a trabalhar lá, na parte médica dos serviços da Casa do Povo local, o
senhor Gomes, da Pedreira, um simpático senhor já idoso, pois acumulava esse
emprego com uma reforma (aposentado que era dum emprego que antes tivera em
Lisboa e, ao regressar à região natal, conseguira esse extra para aumentar o
vencimento mensal). Chefiava o Posto o senhor Cunha (Agostinho Cunha),
trabalhando em secretária ao lado o sr. Luís (também Cunha), como se sentava
mais à frente a D. Emília Costa (esposa do antigo funcionário sr. Jaime). E,
entre nós, contando comigo que era o mais novo no serviço, trabalhava também
como novato o Miguel. Então ainda jovem despreocupado, nada parecido com o
mesmo Miguel Lemos que passou muitos anos no próprio Posto da Longra, que
chegou a chefiar mais tarde. Por isso, numa das fiscalizações que o Fontinha
estava a vasculhar, calhou do Miguel ter de dar conta duma das suas funções,
ele que nesse tempo tinha a seu cargo a correspondência postal e por
conseguinte os respetivos registos, de envios e gastos de selos. E o senhor Luís
Gomes, a fazer serviço de retaguarda, como hoje se diz, andava mais ao brejo,
em trabalho de terreno, de um lado para outro.
Então o Miguel, para o
Fontinha o não apanhar desprevenido, antes de ele ir ver os livros e as pastas,
fartou-se de tentar pôr tudo em ordem, tim tim por tim tim, e como pensou que
lá estavam selos a mais, não coincidindo nas suas apressadas contas os selos
registados com os que restavam, tratou de esconder os que pensou estarem a
mais. Só que o tal Fontinha, fuinha como era, escarafunchou por todos os lados
das parcelas e não é que descobriu que as contas estavam mal, faltando uns
tostões na soma das verbas…?! E, de imediato, diz-lhe de chofre:
- vá, jovem, isto está
errado. Ponha já aqui a diferença. Tire lá o dinheiro de sua algibeira, e
reponha o que falta, ora vá… (deixando o Miguel de boca aberta, muito admirado
e de testa franzida, por nem saber muito bem a que propósito vinha isso da
algibeira… enquanto nós, sufocando o riso entre dentes, nos divertíamos com a
reação do Miguel ser obrigado a pôr de seu bolso a “massa”, apesar de se tratar
duns trocos…)
Entretanto, estávamos
nesse pé, quando entra o senhor Gomes na secretaria, esbaforido, a arfar pela
caminhada de ter ido ao correio, onde levara cartas à estação do Correio da
Longra. Com sua barba por fazer, como era costume dele, vendo-se-lhe a cara com
brancos pelos da barba de pelo menos uns dois dias sem ter sido cortada.
Estava-se nos primeiros anos após o 25 de Abril, mas ainda havia resquícios de
outros tempos, quando os funcionários públicos eram obrigados a apresentar boa
aparência. Então, mirando-o de cima a baixo, o senhor Fontinha dispara:
- Ó homem, o ordenado
não dá sequer para lâminas? Como pode andar aqui com esse aspeto?
Todos ficamos à espera
do que ia sair. Ao passo que o sr. Gomes, desculpando-se, ripostou, a tossir no
seu catarro de fumador (como quem diz que nem tinha tempo, por morar longe, o
que nem era muito o caso, de permeio com sua linguagem de português arcaico):
- Ó, ohhh, ora, ora, se
eu saio de casa de noute e entro de noute…
Todos afilamos os
sentidos, à espera de mais uma reprimenda. Mas eis que o Fontinha, poeta como
era, e apreciador da linguagem clássica, teve então um remate épico, todo
apreciativo e muito sensível…
- Noute... muito bem
dito. Sim senhor. É assim mesmo. Esse português até me enche o peito. Noute...
muito bem dito! (Foi repetindo com trejeito de apreço. Quão até esqueceu a
esquálida aparência do senhor Gomes.)
Num baque, lá ficamos
todos a olhar uns para os outros. E mal ele se foi embora, logo que o Fontinha
nos deixou em paz, nos fartamos de rir com aquilo. Tanto que ficou para sempre
entre engraçados ditotes memoriais, nas nossas recordações do tempo passado na
secretaria da Casa do Povo da Longra.
***
Então, já eu escrevia
artigos também regularmente, com alguma colaboração publicista, inclusive no
jornal “O Porto” (do F. C. Porto), além de colaboração ao local “Mensageiro da
Longra”, no pouco tempo de respetiva existência; e, por esses tempos, andava já
a recolher dados sobre a história da freguesia natal e da região concelhia,
começando a alinhavar hipótese de escrita de uma monografia local, em vista do
que se notava faltar, atendendo às incorreções e esquecimentos que iam
aparecendo na imprensa periódica e oficial de Felgueiras, bem como para
procurar elevar a mística local, através da preservação da memória coletiva.
Entretanto casei a 24
de Setembro de 1977, na igreja paroquial de Rande, em cerimónia nupcial
iniciada pelas 15 horas da tarde desse sábado.
A missa, celebrada pelo
Padre Arnaldo Meireles, amigo do noivo e do qual fora (meu) professor de
História no Externato de Lousada, teve acompanhamento de cânticos por grupo
formado para a ocasião através de antigos componentes do Coral da Liga de
Rande. A reportagem fotográfica foi efetuada pelo amigo sr. Fernando Timóteo,
fotógrafo do jornal O Porto. E, entre testemunhas presenciais de familiares e
companheiros, tive como convidados também representantes dos hoquistas do
Porto, havendo estado presentes à cerimónia e no banquete os irmãos Barbots e o
Jorge – o que motivou, depois pose fotográfica impressa n’ O Porto de
19/10/1977, sob título «Um Colaborador “passou-se” para o grupo dos casados».
Na nova situação
familiar, ficamos a residir inicialmente na Longra em que eu sempre vivera,
mas, como ficara em casa cedida temporariamente (porque a casa entretanto
alugada teve obras prolongadas e depois houve quebra de compromisso pelo
arrendatário, no lugar do Monte da Costa), verificando-se falta de habitações
na área, depois tivemos de transitar para residência alugada na vizinha
freguesia da Pedreira durante alguns meses, no lugar do Crasto, perto da ponte
da Sorte. Para logo mais, mal apareceu oportunidade de casa vaga, termos
regressado à povoação da Longra, ficando a residir no lugar da Estação, bem na
freguesia de Rande.
De permeio, a 18 de
Julho de 1978 passei a ser Pai, com o nascimento do Nuno Cristiano, dado à luz
com 50 cm e 3, 400 Kg, pelas 03, 55 horas da noite dessa terça-feira. Tendo a 7
de Março de 1982, com o nascimento da Clara Isabel, vinda com 50 cm e 3, 450
Kg, pelas 10, 35 h da manhã desse domingo, então ficado concretizada realização
familiar – completando a soma de meu casal de filhos, ambos oficialmente
naturais de Rande, conforme foram registados (embora nascidos, respetivamente,
nas maternidades do Hospital da Misericórdia de Lousada e do Hospital de S.
João no Porto).
Enquanto de 1982 a 1985
construí e materializei edificação de casa própria no rincão natural, sita em
frente à casa dos meus pais, onde nasci e vivi, com mudança e primeiro dia de
habitação na nossa casa a ter ocorrido no sábado 1 de Junho de 1985.
Nesses ínterins,
durante alguns anos, em início da carreira profissional, quando funcionário da
Casa do Povo e depois do então Posto Clínico da Longra, acumulei funções a meio
tempo com responsabilidade do funcionamento da Sub-Delegação de Barrosas,
dependente da Casa do Povo da Longra, como do posterior Posto Clínico da mesma
localidade, ao tempo ainda dependente até 1979 do Posto da Longra. A partir daí
continuei em exclusividade no quadro do vulgarmente chamado Posto Médico/Centro
de Saúde da Longra (na evolução das suas denominações), onde, depois de algumas
promoções ao longo de diversos anos, atingi a categoria de funcionário
Assistente Administrativo Especialista de Saúde, da atual A. R. S.
Norte/Sub-Região de Saúde do Porto.
Enquanto isso, na
terra-natal a autoestima coletiva era coisa que ao povo pouco dizia, andando a
população quase a leste das ocorrências e sem grande noção das realidades,
tendo sido permitido pelos votos populares que a representatividade autárquica
local se arrastasse sem obra de vulto, deixando passar ótimas oportunidades de
progresso. Dessas ocorrências ficaram registadas algumas considerações no
Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras, no capítulo da Organização
Administrativa em Rande.
Mantendo-me sempre,
durante esses anos, no mesmo local de trabalho (e instituição local, de que
ficou registo histórico personalizado também no livro Memorial Histórico, não
necessitando assim de repetição quanto a apreciações e enumerações), enquanto
colegas mais antigos se foram transferindo, passei a ser desde 1992 o
Responsável Administrativo do mesmo Centro de Saúde da Longra–Extensão do
Centro de Saúde de Felgueiras. Para cuja instalação definitiva contribuí,
intervindo como interlocutor com necessidade de decisão, em 2001, aquando da
transferência de local (tendo estado em risco a continuidade da mesma Unidade
de Saúde na Longra), de que derivou posteriormente a implantação das
instalações de raiz noutro terreno pertencente da Casa do Povo da Longra e daí
resultou o novo e atual edifício do Centro de Saúde da Longra, cujo processo
foi concluído em 2004. Um bem público este onde, enquanto lá estive,
ultrapassei tempo de serviço de quaisquer outros funcionários, ou seja, durante
alguns bons anos cheguei a ser o mais antigo dentre os administrativos, médicos
e enfermeiras/os que desempenharam e exercem funções na Unidade de Saúde da
Longra (cuja relação também foi arrolada no referido livro), quer contando a
era da Delegação Clínica e Posto Médico da Casa do Povo, como depois na época
do Posto Clínico e Centro/Extensão de Saúde da Longra.
Ainda que integrado no
meio envolvente, onde por norma não ia havendo muita gente interessada em
valores culturais e focos de aculturação, também me fui mantendo, mesmo assim,
interessado por assuntos que sempre me despertaram apreço, como a literatura,
por exemplo. Admirador de autores clássicos, com relevância para Camilo Castelo
Branco e seus enredos vernáculos de realismos descritivos. Como também sobre o
introdutor do Romantismo em Portugal, Garrett, autor do Cancioneiro Português e
de Viagens na Minha Terra; mais Alexandre Herculano das Lendas e Narrativas e
da História de Portugal monumental (Portugaliae Monumenta Historica); e
diversos mais cultores de escrita estudiosa. E, especialmente, livros
historiadores temáticos. Sem grande valorização, na inversa, para modernices de
escrita, nem autores de novas vagas saídas de campanhas sócio promocionais.
Debruçado assim sobre
temas de leitura, quando à mão há o que mais vai despertando interesse, tais
momentos tornam-se ainda mais aprazíveis a ouvir, por fundo, melodias ou
músicas quase sussurrantes aos ouvidos.
Noutras atividades públicas,
de âmbito social, incluí a formação de mesas de voto de Rande em alguns atos
eleitorais, a primeira vez das quais em cinco de Outubro de 1980; depois fui
Secretário da Junta de Freguesia de Rande, de Janeiro a Março de 1983 (durante
cerca de 3 meses apenas, por me ter demitido em discordância com alteração
verificada no rumo de gerência e atendendo à falta de realizações,
comparativamente ao que me fora afiançado anteriormente e prometido ao povo
durante a campanha eleitoral...), transitando então para Presidente da
Assembleia de Freguesia de Rande desde aí até 1989. Tendo, mais tarde, voltado
a ser membro e presidente da mesma Assembleia de Freguesia entre 1998 a 2001.
Pelo meio, além de
associado, fui colaborador do Centro Cultural e Recreativo da Longra,
instituição existente de 1978 a 1980, onde escrevi no respetivo jornal saído a
público em 1978 (durante quatro números editados), como fiz o desenho original
de que resultou o distintivo/logotipo do mesmo agrupamento. Após o seu
desaparecimento, ainda tentei (com outros sócios) promover a realização duma
Assembleia para resolução existencial, mas tivemos de esperar sentados...
Mais tarde, em
exercícios associativos locais fui Vice-presidente da Associação Casa do Povo
da Longra de Março de 1994 a Dezembro de 1996; e Presidente da Direção da mesma
Associação desde a gerência iniciada em Dezembro de 1996, cargo que mantive
após sucessivas reeleições para novos mandatos, até Setembro de 2006. De
permeio fui, juntamente com minha esposa, co-fundador do Rancho Infantil e
Juvenil da Casa do Povo da Longra, criado em 5 de Maio de 1994, do qual fui
Presidente também até 2006. (Entretanto chegara antes a anunciar desejo de
substituição, em 2002, mas então não tive como não aceder ao que me foi pedido
em palco e até em célebre comemoração, conforme uns versos emoldurados e outras
recordações que guardo ainda.) Tendo, por fim, pedido a demissão desses cargos
no Verão de 2006, embora mantendo-se no lugar enquanto houve compromissos
assumidos, até Setembro do mesmo ano, dando vez a outros ao fim de doze anos de
existência do “meu” Rancho e das próprias lides diretivas na Associação.
Na sequência dessas
atividades, anteriormente, em colaboração com elementos de respetivas comissões
que formei para o efeito, consegui organizar algumas exposições temporárias,
através das quais estiveram patentes ao público objetos e ilustrações
evocativas, como as da ”Memória Etnográfica da Longra” e ”1ª Mostra Filatélica
e Exposição Museológico-Postal da Casa do Povo da Longra” em 1995, “Memória
Fotográfica de Rande” em 1996, “Espólio do Rancho Infantil e Juvenil da Casa do
Povo da Longra”, em 1998 e 1999, e “60 Anos da Casa do Povo da Longra” em 1999;
resultando disso que, a partir de 1999 criei uma mostra permanente do museu
etnográfico e historiador (de recolhas de objetos, alfaias e recordações) do
Rancho da Casa do Povo da Longra; e em 2004 uma galeria foto-documental da
memória histórica da própria Casa do Povo, nas instalações da mesma
instituição.
Nessa posição, à frente
da Casa do Povo (e já muito depois de ter dado vez em cargo que, de permeio,
ainda exercera na presidência da Assembleia do clube de futebol local, tendo
sido no mandato da Direção seguinte, em 1998, que o mesmo clube deixou de ter
atividade), foi também possível ter-se procedido à salvaguarda das taças do
Futebol Clube da Longra, tendo acudido a valer da destruição ao que foi
possível salvar, entre o que não desaparecera entretanto, do património
histórico-museológico do extinto F. C. Longra: Havendo-se guardado e exposto na
Casa do Povo da Longra esse material – do que estava no antigo balneário do
clube, de portas escancaradas, depois que o FCL desapareceu e a sua última
Direção não mais ligou a nada...!
Tempos de esforçado
labor, porém esforço entusiasta que era e foi sendo contrariado pelo ostracismo
do poder municipal, porque a Câmara, ao que se foi notando, nas gerências
desses anos, nunca teve grande simpatia por tudo o que fosse da Longra, como
aliás também da região sul do concelho de Felgueiras, comparativamente ao que
foi sendo atribuído a terras, instituições e agrupamentos de outros quadrantes.
Naturalmente que tudo,
do que se procurou fazer, teve a melhor das intenções, mediante possíveis ações
construtivas. Entre isso, a constituição do museu etnográfico, instalado na
Casa do Povo, teve um carinho especial, pela ideia de salvaguarda da memória
física de antigos artefactos da região.
(Esperava eu que as
sucessivas Direções seguintes e seus representantes, do respetivo organismo
associativo, no imediato presente e depois no futuro, ainda tivessem suficiente
cultura para saberem entender e sobretudo respeitar o trabalho legado...
naquilo que foi criado em 1999. O que pelo contrário teve outro rumo, com
invenções de desculpas de outros aproveitamentos, qual desvirtuamento do seu
carácter telúrico. Como, volvido pouco tempo começou a ser interpretado, logo
dois meses depois da entrada de novos diretores, com parcial desmembramento
acontecido em Dezembro de 2006, do mesmo museu etnográfico da Casa do Povo da Longra.
Tendo a nova Direção da mesma Associação, após ter tomado posse em Outubro
anterior, decidido dividir o anterior museu, que tinha acervo exposto em duas
amplas salas contínuas. Ficando então depois dividido esse espólio memorial e
tudo o mais em compartimentos, ao tipo de exposições separadas entre si, para
criação de salas de reuniões e convívios... restando algo que ainda deve
sobreviver, por enquanto, ao menos.)
Sensações
especiais
Além dum natural
sentido de ser e fazer algo útil, dentro do possível, de andar a par de tudo o
que respeite ao que se gosta, de se sentir bem com o próprio e com os outros,
felizmente que foi conseguido mais qualquer coisa, como uma ação das que mais
orgulho proporcionam. Efetivamente, numa feliz ocorrência, acontecida numa
tarde dum sábado, foi-me possível contribuir para salvamento de uma criança. O
caso interessa apenas pelo final feliz, em resultado de ter valido a uma mãe
que, com uma pequena filha inerte nos braços (retirada de uma poça de água,
onde caíra) clamava junto à estrada a quem passava, aflita. À beira, ao que
parece, não havia quem chamasse uma ambulância e o pânico não dera para outra
reação. Então, quando ela já desesperava, por nenhum carro parar, nem ninguém
aparecer a dar-lhe atenção, com o tempo a escoar-se, foi providencial uma ida
da Longra a Felgueiras, com passagem por ali. Pois que, nesse lugar duma
freguesia acima da então povoação da Longra, vendo aquilo, após parar
surpreendido, depressa acorri e levei à pressa a desfalecida criança ao hospital.
Podendo-se dizer que lhe salvei a vida – como a própria mãe me dizia anos
depois, num acaso de encontro, ao apresentar diante de mim a jovem já
crescida... Valendo a pena ter solicitamente parado o carro na ocasião, por ter
podido ser prestável em oportunidade das que aparecem no caminho do chamado
destino.
Sensação diferente
aconteceu doutra vez, de estranheza súbita e alívio, quando por um triz não
houve uma fatalidade, curiosamente quando estava prestes a viver uma realização
há muito ansiada. Depois de tantos anos de trabalho e espera para conseguir
publicar o livro da memória coletiva local, quando já estava a escassas horas
de poder vê-lo impresso, precisamente na véspera da respetiva apresentação
pública, só por mera felicidade não sucumbi eletrocutado (com um choque
elétrico) no banho. Até parecendo haver qualquer coisa fadada... Ocorreu o
facto ao entrar na banheira, só que houve feliz perceção, saltando fora antes
de possível choque, quase que só chegando um pé a sentir a inicial leve
contração (por descarga elétrica, como depois se descobriu, na verificação de
passagem de corrente no aparelho de aquecimento da água). Há coisas...?!
Mas, voltando a folha
para outra natureza, por entre algumas recordações do que pode ser, afinal, a
força da vida, acresce quão importante é fazer alguma coisa pela existência
própria ou de outrem, enquanto se cá anda; o que também terá significado, senão
mais, pelo menos por se não andar no mundo por ver os outros. Tal quando se
consegue ter alguma participação, de algum modo influente, na salvaguarda de
qualquer construção, de acordar memórias. Nesse prisma, apesar de na terra
natal nem ter conseguido muito isso, já aconteceu por outro lado ter podido ter
alguma participação noutra terra vizinha, por exemplo. Pois, no plano interno,
no que respeita à freguesia natal, apesar de ter algumas vezes procurado remar
contra a maré, em criticar construtivamente algumas transformações, com vista a
procurar chamar a atenção para a necessidade de certas realidades, o certo é
que na igreja paroquial ocorreram alguns casos a desvirtuar a autenticidade
histórica da casa comum. Enquanto, de outra forma, consegui inverter a situação
quanto ao caso da igreja antiga de S Cristóvão de Lordelo, sobretudo. A partir
de umas crónicas escritas no Semanário de Felgueiras em 2001, já que nos
próprios livros editados pela Câmara Municipal era dada essa igreja velha como
totalmente perdida, aparecendo escrito que já nada existia dela, quando ainda
tinha as paredes de pé e pedras antiquíssimas a testemunharem sua importância,
como igreja românica antiquíssima. Algo que despoletou uma série de
acontecimentos, embora com muitos anos de espera pelo meio, incluindo o facto
de ter havido entretanto publicação dessas crónicas na Internet. E, ao menos,
ficou qualquer coisa a patentear a existência dessa que era a mais antiga
igreja da região.
Acumulei sensivelmente
em parte da década de noventa outros desempenhos comunitários, no tempo em que
fui Presidente da Conferência Vicentina de S. Tiago de Rande e S. João de
Sernande, de 1995 a 1997; e Presidente da Assembleia do Futebol Clube da Longra
em coincidente período, durante as épocas de 1994/95 a 1995/96 (mas mantendo-me
em funções até oficial substituição da seguinte Direção respetiva e nomeação de
sucessora Comissão Administrativa, em Setembro de 1997). Em 1997 também
integrei a Comissão Instaladora do Conselho Particular das Conferências
Vicentinas de Felgueiras. E em 1997/98 fiz parte do Conselho Paroquial da
Pastoral de S. Tiago de Rande.
Igualmente de 1998 a
2002, como Presidente da Direção da Casa do Povo da Longra, fiz parte de
Comissão de Acompanhamento Social de Felgueiras, em representação da mesma
Associação na parceria de instituições concelhias com a Delegação Local da
Segurança Social.
Dessas e outras
participações, em prol do bem comum, ficaram diversas experiências e perceções.
Tive também intercalada
atividade autárquica na Assembleia de Freguesia, mas mesmo quando ausente de
cargos não me mantive alheado. Houve até ocasião em que foi dito que havia quem
não entendesse como é que, enquanto os elementos da Junta da época não
mostravam qualquer interesse, alguém sem ser da Junta se podia preocupar, como
andar sempre atento a tudo e levantar questões, quando na ocasião se tentava
repor a verdade no caso do Edifício Nova Longra, que foi indevidamente
registado fora do território donde pertencia o terreno em que foi construído...
Tal qual no caso de Santana, quando se descreveu a realidade, mas só depois de
polémica oficial (quando nova composição da Junta de Rande teve coragem, pela
defesa da integridade da freguesia) e posterior decisão judicial verificada, a
verdade pôde vir acima como o azeite... Como no que acontece, por outro lado,
em saber-se que uma parte do lugar da Telheira era de Rande, conforme ficou
registado, demonstrado e ilustrado no livro Memorial Histórico de Rande e
Alfozes de Felgueiras, e inclusive constava do mapa municipal, mas só na
ocasião dos Censos, de dez em dez anos, isso se tornava notório...
Por se estar com a mão
na massa, pode acrescentar-se que o livro “Memorial” foi um marco especial na
vida particular e vivência coletiva, também, pelo que entusiasmou, criou
expectativas, como custou até ser publicado e pelo que representou então
conseguir que a freguesia natal ficasse historiada. Algo que, passe falsas
modéstias, não será fácil de repetir, além de precisa e metódica
disponibilidade, também pelos custos necessários a uma reedição ou realização
doutra obra do género, embora fosse até mais que desejável futura complementação,
de atualização, para continuidade vindoura.
Passando por tudo o
mais inerente e subjacente (conforme ficou aflorado numa das crónicas do livro
de contos “Sorrisos de Pensamento”), quanto ao “Memorial Histórico de Rande e
Alfozes de Felgueiras”, melhor que outras considerações, falam algumas
apreciações e afirmações transmitidas, entre as referências recebidas:
(A cerimónia de
apresentação, a 21 de Novembro de 1997) «decorreu sempre num verdadeiro
ambiente de festa, chegando a ter momentos de elevada emoção. Sobre a
apresentação propriamente dita, caberá referir as inúmeras comunicações
elogiosas que pelos membros da mesa da assembleia foram feitas ao autor e ao
valor da sua obra publicada... é uma obra literário-monográfica que nos conduz
a épocas e vivências muito reais mas que, atualmente, nem sequer existem no
imaginário de muitos de nós, pela doce ilustração que nos faz sobre um
maravilhoso conceito de vida que existiu mas que em grande parte desapareceu...
é um livro cuja leitura se recomenda e uma obra que faltava no meio literário
Felgueirense e que corria o risco de ficar na gaveta por falta de apoios
públicos ou privados, mas que em boa hora saiu à estampa graças ao pertinente
patrocínio do Semanário de Felgueiras, na pessoa do seu administrador, Manuel
Faria.» - in “Semanário de Felgueiras” de 28-11-1997 (entre diversos textos
apreciativos de José Quintela, Armindo Mendes e Conceição Fonseca).
«...Uma obra muito
esperada, mas que obstáculos vários impediram de publicar mais cedo...» - in
“Jornal de Barrosas” de 27-11-1997.
«Armando Pinto, mais um
escritor Felgueirense, apresentou publicamente o lançamento do seu livro
“Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”... Este projeto literário
nasceu na cabeça de Armando Pinto no longínquo ano de 1974 e em 1991 estava
pronto a ser publicado. O que veio a acontecer seis anos depois...» - in “O
Sovela” de 28-11-97.
« (Do livro) já fiz um
juízo que bem o enobrece...Você escreveu a Bíblia dos povos de Rande e Alfozes
de Felgueiras onde nada falta, a história e a tradição dos lugares e gentes
(Velho Testamento) e a mensagem iluminada (Novo Testamento) que, Deus o queira,
seja um caminho aberto de progresso, felicidade e paz para essas terras de
Promissão e para esse Bom Povo. Felicito-o sinceramente...» - Monsenhor-Padre
Manuel Amorim, historiador, da Póvoa de Varzim, em missiva de 02-12-97.
«...Uma obra importante
para todos aqueles que se dedicam ao estudo das localidades portuguesas... é um
repositório da história do que é uma freguesia e um concelho... interessante
livro que se lê com agrado e que relata a vida de uma freguesia onde ainda vale
a pena viver...» - Dr. Paulo Sá Machado (“Das Letras e das Artes”), “Notícias
do Tâmega” de 18-12-97.
«...Para lá das sete
centenas de páginas, o autor abrange tudo quanto existe de informação total
desta freguesia, um trabalho que levou bastante tempo a cozinhá-lo, pois
sabemos dar esse justo valor, já que fizemos diversos trabalhos monográficos e
sabemos muito bem os custos e sacrifícios que se têm de fazer para levar a bom
porto estas tarefas...» - Dr. A. Lopes de Oliveira, em alocução cultural na
“Rádio Clube de Fafe” a 6 de Março de 1998, então no seu programa “Dos Livros e
dos Autores”. Texto depois transcrito no jornal “Notícias de Felgueiras” de
19-3-98.
«...Louvamos o autor e,
bem assim, o editor deste belo trabalho monográfico de Armando Pinto, que nos
dá este admirável estudo, contendo uma caminhada de mais de sete centenas de
páginas. Consideramos que ele bateu o recorde de paginação no tocante a freguesias.
Que saibamos este excedeu em tudo o que se tenha imprimido... Acerca deste
precioso estudo, de que mais uma vez sublinho o seu total interesse e que sirva
de exemplo a outros autores que estudem as suas freguesias...» - A. Lopes de
Oliveira, in “Notícias de Guimarães” de 17-4-98, como no “Notícias de Vizela”
de 24-4-98. E, do mesmo
autor-comentador, também na rubrica “Leituras” de um dos jornais de Fafe: « (Repetindo
anteriores apreciações à obra e autor) ...É preciso que haja mais estudos
monográficos assim das nossas freguesias...» -
no “Correio de Fafe” de 30-9-98.
«...Parabéns pelo
belíssimo estudo monográfico que recolheu sobre uma freguesia – Rande – a
demonstrar que é possível produzir grandes obras de temas aparentemente
insignificantes... – Dr. Barroso da Fonte, em missiva datada de Guimarães em
03-01-2002.
«Armando Pinto trouxe a
público, em 1997, um volume a que chamou “Memorial Histórico de Rande e Alfozes
de Felgueiras”... (onde) perpassa toda a história local da freguesia de Rande e
do concelho de Felgueiras... Vista à luz deste livro, feito por quem gosta da
investigação e tem amor ao que faz, resulta num verdadeiro exemplo de como não
é pelo tamanho das terras que se deve medir a sua grandeza social, industrial,
intelectual, enfim a sua dimensão geográfica. Que ela foi berço de gente
ilustre que faz grande a sua história, prova-o Armando Pinto pelas largas
dezenas de nomes próprios que bem poderiam caber numa verdadeira
enciclopédia...» - jornal “Poetas e Trovadores” de Janeiro/Março 2002.
«Li com interesse o
livro Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras. Interesse, aquele,
acrescido pelo fato que meus ancestrais maternos são de Felgueiras... Seu
livro, retratando Rande, região próxima (de Jugueiros), com detalhes, deu-me uma
ideia como teria sido a vida daqueles meus ancestrais. Escrevo-lhe, em
primeiro, felicitando-o pelo seu trabalho...» - Eng.º Carlos Freire Machado, do
Rio de Janeiro-Brasil, em missiva de 28-02-2004. E, do mesmo (estudioso de suas
raízes familiares com proveniência de Felgueiras): «Tenho o maior apreço pelo
seu trabalho, que não só é útil por registar o passado, como também serve de
documentação para estudos futuros sobre o presente... Aqueles que escrevem,
como o caro amigo, nem imaginam quais os caminhos que pode seguir sua obra. Ela
poderá percorrer mundo, dependendo da ventura que envolve tudo e todos nesta
vida.» - Eng.º Carlos F. Machado, em missiva datada do Rio de Janeiro a
27-03-2004.
«... De sua obra, tão
esclarecedora nas minudências históricas, as informações foram e são para mim
verdadeiras aulas dos costumes e monumentos portugueses dessa região de
Felgueiras...» - Lygia Sampaio, de Salvador da Baía-Brasil (artista e
investigadora, depois autora do livro “De Sam Payo a Sampaio”), em missiva de
17-6-2004.
«... Espero poder
desenhar o título do seu novo livro “Remembranças Felgueirenses” que, a julgar
pelos livros que me ofereceu e que estou lendo com o maior interesse e prazer,
deve ser mais uma joia na sua riqueza literária. A propósito, gostaria que me
dissesse o significado de “Alfozes”. Embora imagine o que é, desconheço o termo
que não encontro nos dicionários que consultei...» - Armando (Lucas) Teixeira,
em missiva datada de Piracicaba, Estado de São Paulo-Brasil, a 09 de Fevereiro
de 2007.
Enquanto isso, foi-se
continuando e mantendo permanente faina, de tudo o que despertasse os sentidos,
ao nível de escrita, investigação, divulgação, mas também atenta ação e, dentro
do possível, necessário protagonismo, como intervindo noutros aspetos culturais
e bairristas.
Antes e depois, ainda,
durante a participação autárquica como membro da Assembleia de Freguesia, além
de pugnar sempre pela afirmação telúrica, pelo progresso local e
desenvolvimento cultural, como pelo ordenamento toponímico e pelo processo da
aspiração da elevação da Longra a vila, fui em 1999, a pedido da equipa
executiva da Junta de Freguesia, autor da proposta textual para a simbologia
heráldica do Brasão da Freguesia de Rande (embora a mesma Junta de Freguesia, à
época, tenha depois procedido a algumas alterações pontuais, e sobretudo
imposição de cores, na proposta oficial feita em 2000 à respetiva Comissão de
Arqueologia e Heráldica, quando o respetivo brasão perdeu o símbolo que
relacionava à História local... conforme foi, posteriormente, aprovado em
Setembro de 2003).
Em 1999/2001 estive
incluído numa Comissão para criação da Toponímia de Rande, nomeada em
Assembleia de Freguesia, a qual não teve efetividade por parte da respetiva
Junta de Freguesia.
Em 2002 fiz parte de
nova Comissão para o Ordenamento Toponímico de Rande, escolhida pela Junta de
Freguesia em Março desse ano, tendo sido desenvolvido o processo da
inventariação das vias de comunicação e atribuição dos nomes (de cujo trabalho eu
próprio elaborei as respetivas atas, a relação apropriada e o relatório de
informação e conclusão, documento que teve aprovação em Assembleia de Freguesia
a 23 de Abril seguinte e foi entregue na Câmara Municipal de Felgueiras em 30
de Abril do mesmo ano para a devida aprovação; o que veio a ocorrer
oficialmente cerca de dois anos e tal depois... em Dezembro de 2004 – embora,
na decisão, fosse aprovada com cortes e alterações introduzidas, com certas
intenções, em nome de uma comissão oficial instalada para formalização de
despacho).
Como estudioso da
história local, em resultado de ter escrito a monografia histórica da
freguesia, servi de testemunha, depondo no mês de Agosto de 2002, no processo
judicial de defesa da integridade do território da freguesia de Rande, no caso
do monte de Santana (que pôs em confronto a Junta de Rande com a de Idães, a
propósito de processo movido pelo então proprietário do terreno em causa,
quando em Julho de 2002 fora pela autarquia de Idães arrancado o marco de
delimitação e invadida propriedade, de cuja contra-ordenação em Setembro
seguinte houve despacho favorável e em Novembro imediato sentença vitoriosa
para Rande). E fui, também em 2002, autor do original da Proposta de Lei para a
Elevação da Longra a Vila, a pedido da Junta de Freguesia de Rande (de que
resultou, depois, a respetiva apresentação oficial por meio de deputados
subscritores e posteriormente a aprovação da Vila da Longra pela AR a 1 de
Julho de 2003).
Convirá notar que foram
três as propostas entradas na Assembleia, através dos partidos PS, PSD e CDS,
sendo depois votadas em conjunto, simplesmente a que ficou oficializada foi a
do PSD, ou seja a proposta pela Junta de Rande e apresentada pelo Grupo
Parlamentar do PSD, visto nas outras duas ter havido inclusão de Unhão,
freguesia que no fim não ficou integrada na vila. Aliás como registei na
escrita do livro “Elevação da Longra a Vila”, publicado dias depois, nos
princípios de Julho de 2003.
Nestas atitudes e
ações, quer colaborando com a Junta de Freguesia de Rande quando a sua
composição era de elementos do Partido Socialista, até 2001, como, depois, a
partir de 2002 a sucessora gerência passou a ser do Partido Social Democrata,
houve apenas e tão só intento de contribuir e defender a freguesia natal, sem
outros fins nem segundas intenções, não olhando a nomes ou posições mas
unicamente aos interesses da terra do coração. Tal como, tendo subjacente
desejo de que houvesse fortalecimento da mística local, atendendo a vislumbre
de algum desconhecimento e certo desinteresse para com o passado conterrâneo,
ou seja a memória coletiva, houve oferta pessoal de quadros emoldurados a expor
material fotográfico de interesse histórico local, para exposição pública
permanente na sede da Junta de Freguesia de Rande. Como, entre possíveis
exemplos, cedi material fotográfico histórico para decoração de outros espaços
públicos, como foi o caso de fotografia que, depois da necessária ampliação,
ficou em lugar de destaque na farmácia da Longra e uma outra num café da região.
Nesse sentido e com
idêntico objetivo, sempre estive disponível para demais colaborações
solicitadas ou necessárias aos interesses da terra, como aconteceu na
co-autoria de um livro em 1996 e oferta de outro de própria autoria em 2003, em
ambos os casos para fins de angariação de receitas para benefícios paroquiais;
assim como, graciosamente também, em 2003 e 2004 na produção do Boletim
Informativo da Junta de Freguesia, como desde 2004 no Boletim Informativo da
Comissão Fabriqueira da Paróquia (nos números que se editaram, por ora), entre
outros exemplos.
E, porque é de notar
também, a quase totalidade dos livros escritos foram, na sua maior parte,
dirigidos e são dedicados à freguesia de Rande e à Longra povoação e vila, como
ao concelho de Felgueiras.
Apesar de feitio algo
discreto, não gostando muito de me mostrar em público ou subir a palcos, como a
tribunas e deitar faladura, mas antes preferindo trabalhar na área
organizativa, por trás, como se diz, tive entretanto ainda algumas funções
coletivas de organização, além dos cargos e desempenhos institucionais de
permeio exercidos. Assim, estive incluído em 1996 no grupo que recuperou a
tradição das Marchas de S. Tiago de Rande, como em 1997 na comissão
organizadora que criou o Desfile de Carnaval da Longra, de iniciativa de
representantes da Associação Casa do Povo da Longra; e em 2004 na implantação
do Carnaval da Vila da Longra, desde então organizado em parceria da mesma
Associação com as Juntas de Freguesia da vila. Assim como em 2004 na reedição
da Feira da Longra, inicialmente recriada pela Direção da Associação Casa do
Povo e depois continuada junto com os representantes das instituições
autárquicas. Tal qual integrei as comissões promotoras das comemorações dos
sucessivos aniversários da Vila da Longra, até 2006.
Quando requeridos
préstimos, estive igualmente disponível para colaborar com outras terras do
concelho de Felgueiras. Conforme ocorreu já com participação solicitada e
concretizada em curta prestação para um trabalho realizado pela Escola de
Sernande (datilografado nos originais e fotocopiado nos exemplares
distribuídos), volume esse escrito pelas respetivas professoras sob título
“Minha Terra, Minha Escola, Minha Gente”, no ano letivo de 1992/93. E mais
profusamente com um longo artigo no livro oficial das Festas das Vitórias da Lixa,
em 2000. Bem como na autoria do livro historiador de S. Jorge de Várzea, em
2006. Além de no Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras, publicado
em 1997, haver referências às freguesias da área sul do concelho, como ali está
guardada a história da Honra, do Julgado e Concelho do Unhão, da Misericórdia
do Unhão, do Concelho de Barrosas e do Concelho de Felgueiras. Assim como
pugnei pela recuperação do que restava da antiga igreja românica de São
Cristóvão de Lordelo, através de artigos escritos a partir de 2001 no Semanário
de Felgueiras e nos meus blogues da Internet.
Pelo meio de tanta
coisa, durante anos de intensa atividade pública a nível local, outras
ocorrências foram passando, enquanto decorria a década de noventa até parecer
uma eternidade... enquanto as ocupações bairristas e telúricas iam atenuando a
espera, ânsia e frustração por o longo trabalho escrito sobre a memória
histórica da terra natal não haver então meio de poder ser editado, depois de
pronto para publicação em 1991 (quando foi entregue na Câmara, inutilmente) e
ter chegado a estar num prelo em 1993, algo que, finalmente, com consequentes
acrescentos de atualização, foi conseguido anos mais tarde, com a apresentação
pública do “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras” a ocorrer a 21
de Novembro de 1997. Tal qual com diversos anseios para a autoestima
conterrânea que se demorou a alcançar.
Felizmente surgiram,
entretanto, outras compensações íntimas, como o que se viveu, a partir de 1994,
no percurso da criação, manutenção e vivência do Rancho da Casa do Povo da
Longra. E derivada revitalização também em 1994 da instituição cultural Casa do
Povo, transformada em Associação a partir de Dezembro de 1996. Embora com
muitas preocupações e a ter de andar a acudir a todos os lados, engolindo
muitas vezes determinadas situações para manter a estrutura... Mas, na
reabertura da mesma casa, em Março daquele ano 94, como desde a fundação do
Rancho, respetivo pioneiro grupo institucional, até se pensar que já funcionava
por suas próprias linhas, foi-se conseguindo levar o barco a bom rumo, a
dirigir essa nau ao longo de anos inesquecíveis, até Setembro de 2006. Afinal
doze anos de presidência do Rancho, mas também de gerência da respetiva
Associação-sede, pois que mesmo em curto período de exercício como
vice-presidente tive de assumir sempre quase tudo, incluindo
representatividades, quando o presidente só aparecia em palco para discursar em
eventos públicos... E, depois foram mais os dez anos de presidência da Direção
da Associação Casa do Povo, até dizer basta...
Enquanto isso e o mais,
menos mal em sonhos, mas não materialmente para fazer face às dificuldades de
manutenção das intenções culturais e associativas, à falta de apoios,
felizmente não pensava tanto noutros assuntos sempre que o Porto foi sendo
campeão e se ouvia, no apogeu, o tema “We are the champions”, dos Queen. Algo
que se deseja sempre repetir, ano após ano, como no efeito de encher o peito ao
ouvir “Somos Campeões” em plena erupção do estádio do Porto, tal como a
expansão pelos ares que transmite instantâneo trautear mental da ode musical
dos “Filhos do Dragão”.
Já a nível mais
particular, de permeio, quanto a desempenhos comunitários, na missão de
dirigente e empreendedor associativo-cultural, ainda que de feição diferente
também iam aparecendo escolhos, pelo que muito ia tendo de ficar só nas
intenções, embora algo fosse sendo contrabalançado nas vozes de outros, ouvindo
alegres melodias por entre repiques de cavaquinhos e foles de concertinas,
apreciando isso quanto fosse como largar emoção nos golos do Porto; e não tanto
os sentimentos retraídos noutras ocasiões. Enquanto registava o que podia,
literariamente. Escrevendo, afinal, ia-se fazendo explodir canções românticas
que andam no compasso dos sentidos, como num compor de versos que os casos
sérios das letras rimadas conseguem produzir, pois no bater das letras salta-se
ao infinito das compensações. A Longra chegou a vila... e o coração estremeceu
no preciso momento da votação, seguido de bem estar, um torpor pacífico
indescritível. A Casa do Povo festejou grandes momentos, o seu Rancho
enternecia, e o mundo até pareceu que parava os olhos apenas no palco onde
estavam canseiras e sonhos misturados em paixão. Horas de convívio, bons
momentos e ocasiões de contraste, noitadas de Janeiras, reuniões até mais não,
dias de ensaios com e sem problemas também no consumo interno, contactos e
laboração de expediente, excursões a levar o nome da terra ao perto e ao longe,
esforço em prol da causa, tudo intervalado de horas de produção literária
historiadora e de feição reivindicativa, a procurar elevar a ligação bairrista.
Uma melodia sentida, de mãos nos bolsos e escrita de cabeça, quando não de mãos
a abanar mas também a dedilhar sempre que necessário. Uma vida vivida, de forma
tal qual a vida possibilita e se consegue realizar.
Isso e mais, na
prática, acabou em parte por cair quase em saco roto, mais tarde, quando se deu
a chamada reorganização administrativa do território e a partir de 2013 surgiu
uma malfadada União das freguesias, que no caso resultou em fusão oficializada
da Pedreira com Rande e Sernande, por culpa, primeiro dos políticos nacionais e
depois dos locais que não olharam aos direitos históricos e permitiram que
fosse riscado a régua e esquadro tal aberração; e depois ainda dos aderentes de
partidos políticos que votaram a favor disso – alguns inclusive naturais e
habitantes de Rande e Sernande, integrantes de listas e da primeira
constituição da Junta e Assembleia da União, ou seja pessoas que foram pelos
interesses dos residentes da Pedreira, parte que até já tinha maior poder de
mobilização eleitoral pelo seu maior número de votantes; e a partir daí a
região central da Longra e zonas circunvizinhas de Rande e Sernande perderam
importância e hipóteses de progresso, por ora.
A nível bairrista,
interventivo no torrão natal, fui passando a contribuir algo mais na
retaguarda, depois de afastamento de lideranças e sobretudo trabalho efetivo em
prol da terra, não podendo eternizar a presença física em tudo. Continuando
atento aos possíveis interesses locais, dentro das possibilidades. Afastando-me
de muita coisa por motivos de saúde, sem esquecer quão gratificante foi o
envolvimento nalgumas realizações, através de colaborações com entidades
representativas, a bem da terra, da sua cultura e identidade. E, curiosamente
também, esclarecido em ficar a conhecer melhor (no pior sentido, obviamente)
algumas pessoas e situações.
Como assim... A vida,
com anseios, preocupações, devaneios e ocupações, decorre enfim na evolução das
rugas de pensar, sorrir, laborar e sentir.
Tive sempre, além dos
laços familiares, algumas afeições interiores e predileções íntimas, paixões de
sempre, com a Longra e Rande, como obviamente Felgueiras, em lugar muito
querido; a par com o Futebol Clube do Porto, algo especial; mais a escrita e
leitura de temas de apreço; o estudo da história, particularmente a local mas
também a de historial Portista e a da Pátria, que é como dizer memórias de
instituições, símbolos e valores de gosto próprio; idem em colecionismo de
adereços simbólicos e artefactos identificativos; fotografia de recordação; de
ver com olhos de ver o que desperta sentimento e valor; arte clássica e
antiguidades; literatura historiadora e de realismo clássico; perfeição em tudo
que seja possível; entre outras afetividades, afinidades e características,
sobretudo, em sentido genérico, quer de âmbito particular como na identificação
natural à região Norte da nação, que tem pólo mais representativo na capital
Invicta, e naturalmente ao país Pátrio, Portugal, e à terra Mátria, Felgueiras.
Nos alvos preferenciais
de atenção, as paixões nunca desviaram, contudo, acompanhamento de atualidades,
além do rincão natal, também do país e do mundo. No alcance daquele ditote
afirmativo de que «quem conhece o seu povo, conhece o mundo todo» (do qual há
variantes, naturalmente). Tendo gosto em ser de Portugal, até porque nunca
seria possível ver-me a viver permanentemente noutro sítio fora da Longra...
onde melhor se conhece tudo, até de olhos fechados. Aliás, dos poucos países
visitados, dentro do que tem sido possível, o que mais ficou foi marca íntima
de ida à Terra Santa; enquanto dos outros poucos pontos do mundo percorridos,
em curtas excursões, pouco mais, além de sítios marcantes pontualmente, eles
detiveram de especial.
Enquanto isso, ligando
sempre a terra e o país natal ao resto do mundo, nota-se que a evolução
universal tem sido em sentido inverso, descendente, desinteressante e
hipócrita. Tornando numa falsa liberdade as imposições por decretos! Para mais
feito por gente que só olha a seus interesses e roubaram o povo em direitos e
regalias, como aconteceu a partir do início do século XX, mais precisamente
desde a era do desaparecimento do escudo e entrada da moeda Euro. Sobrevindo entretanto
uma forte crise monetária e por extensão também social e de valores, de modo
vincado no estado de corrupção dos políticos da classe reinol, de entre os que
andaram por lugares públicos com responsabilidades.
Tal como com as
alterações temporais e profissionais, tudo se foi modificando. Quase ainda com
os tempos de criança na cabeça, mas já bem maduro e com a vida contada em
bastantes anos… Como pode ser que a vida tenha corrido tão depressa?
Há um poema de Carlos
Tê que bem sintetiza isso tudo:
“É triste ser-se
crescido e não ter mais rédea solta/ Ir descobrir o sentido Do mundo à nossa
volta /É triste dizer adeus Aos nossos velhos cantinhos/ E ouvir a nossa mãe A
mandar-nos ir sozinhos/ Ou que triste é ter de trocar os calções pelo colarinho
apertado/ ter cartão de Identidade já com outro penteado/
É triste ser
responsável, Guardar horas na cabeça /Ter tantas obrigações, Que fazem andar
depressa/ Ai como é bom recordar Esse tempo de criança /Às vezes queria parar,
Crescer muito também cansa."
Hoje tudo está
diferente. Desapareceram muitas pessoas que conhecemos e estimamos, com quem
convivemos e vimos envelhecerem. Quantas pessoas fugiram já de nossos olhos,
dos que partiram “sem avisar". Até caminhos e estradas, de realidade e
recordação, mais situações conterrâneas e bairristas, foram tendo alterações.
Com um percurso social
e profissional de vida algo gasto, chegou enfim uma época do chamado descanso,
também mental e sobretudo de azáfama.
Diz-se que o mais banal
é as pessoas terem de esperar toda a semana pela sexta, todo o ano pelo verão,
toda a vida por felicidade, à espera de qualquer melhoria da maneira de passar
os dias. Ora, apesar das dúvidas e incertezas, derivado ao corte monetário pelo
roubo que os políticos fizeram ao cidadão comum que descontou toda uma vida e
afinal a reforma não é o que estava no papel, mesmo assim, resolvi não esperar
mais, pois que seria arriscar, com enfartes no corpo e o ânimo abalado.
Pensando então em transformar todos os dias em sextas-feiras, podendo assim estar
sempre e a toda a hora com o meu neto Tiago nos dias dele estar em nossa casa,
e com o Gonçalo todo o tempo que ele esteja na Longra, sempre que a Clara cá
venha. Como seja até em aproveitar as quatro estações, sem precisar de estar a
olhar para o relógio, mais a contar as horas e os dias, ansiando por feriados,
mais as férias e outros períodos que tais.
Atividade
Literária Pública
No percurso literário,
dados os primeiros passos com um artigo publicado em 1967 na revista Jardim
Seráfico, publicação anual que à época servia de crónica da Casa dos
Capuchinhos de Gondomar, e depois de em 1974 iniciar andanças jornalísticas
como colaborador do jornal O Porto (então órgão oficial do Futebol Clube do
Porto), passei a dedicar-me a temas locais com primeira experiência em 1978 no
jornal Mensageiro da Longra (do Centro Cultural e Recreativo da Longra, do qual
fui autor do “risco” original do distintivo do mesmo grupo), ao que adveio
posterior crónica que proporcionou uma Menção Honrosa nos III Jogos Florais de
Felgueiras em 1984, seguindo-se colaboração episódica no Boletim Municipal da
C. M. de Felgueiras e, então, daí em diante regular colaboração na imprensa
periódica concelhia e obra publicada em livros.
Entretanto, além da
escrita e pesquisa, em que fui autodidata, sem formação específica mas sim
através de amador estudo próprio, tive todavia participação associativa quando
em 1994 estive incluído no grupo de sócios fundadores da AEJAVAS-Associação de
Escritores, Jornalistas e Artistas do Vale do Sousa; embora depois não tenha
mantido muitas ligações sociais a meios literatos, ainda que haja participado
episodicamente em sessões culturais na própria região, mais por força de cargos
associativos desempenhados e autoria de publicações próprias.
DO AUTOR - Obras publicadas:
- Livro (volume
monográfico) «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras»; publicado
em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo Semanário de Felgueiras.
- Livro (de contos
realistas) «Sorrisos de Pensamento» – Colectânea de Lembranças Dispersas;
publicado em Outubro de 2001. Edição do autor.
- Livro (alusivo da)
«Elevação da Longra a Vila» - Julho de 2003. Edição do autor.
- Livro (cronista do)
«Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à
Comissão Fabriqueira paroquial, destinando receita a reverter para obras na
igreja). Edição do autor.
- Livro «Padre Luís
Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa» – Na passagem de 25 anos de seu
falecimento; publicado em Novembro de 2004. Edição do autor.
- Livro «S. Jorge de
Várzea-História e Devoção», publicado em Abril de 2006. Edição da Paróquia de
Várzea.
- Livro «Futebol de
Felgueiras-Nas Fintas do Tempo» (sobre Relance Histórico do F. C. Felgueiras e
Panorâmica Memorial do Futebol Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do
Clube Académico de Felgueiras) – pub. Setembro de 2007. Edição do autor.
- Livro "Destino
de Menino" (conto personalizado - dedicado ao 1º neto) - Dezembro de 2012,
em edição restrita de autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro "Luís Gonçalves:
Amanuense-Engenheiro da Casa das Torres", patrocinado pela fábrica IMO da
Longra - biografia de homenagem ao arquiteto do palacete das Torres, de
Felgueiras - Janeiro de 2014.
- Livro “História de
Coração” (dedicado ao 2º neto) – edição de autor, com tiragem limitada em
exemplares numerados e autenticados pessoalmente. Novembro de 2015.
Obra escrita e a
escrever, em espera para publicar:
- (possível/futuro)
Livro de «Remembranças Felgueirenses», sobre notas de Recordações e
Curiosidades do concelho de Felgueiras (escrito há muito, mas à espera de
viabilidade); pub. ano ?.
- (Próximo livro a
dedicar ao meu 3º neto, quando ele tiver alguns anos e que me anda ainda apenas
na cabeça, por ora.)
Livros oficiais
(alusivos a realizações de eventos), entretanto também publicados:
- «1ª Mostra Filatélica
e Exposição Museológico-Postal da Casa do Povo da Longra» (relativa a Semana
Cultural de abrangência comemorativa do centenário de Francisco Sarmento
Pimentel e octogenário do Correio da Longra - Julho de 1995).
- «1º Festival Nacional
de Folclore “Longra/97”» (livro com “Memória Concisa da Casa do Povo da
Longra”, englobando partes historiadoras e galeria diretiva da Associação -
Maio de 1997).
- «2º Festival de
Folclore do Rancho da Casa do Povo da Longra» (contendo Lendas e Narrações das
freguesias da área da instituição - Setembro de 1998).
- «Associação Casa do
Povo da Longra-60 Anos ao Serviço do Povo» (alusivo ao respetivo sexagenário,
contendo a História da instituição - Abril de 1999).
- «3º Festival de
Folclore da Longra-Memória etnográfica do sul Felgueirense e afinidades
concelhias» (Julho de 1999).
- «4º Festival de
Folclore da Longra-Celebração Folclórica do sul Felgueirense» (Julho de 2000).
- «Evocações da Festa
Paroquial de S. Tiago de Rande» (Julho de 2000 - de promoção à festa desse ano,
por solicitação da respetiva comissão organizadora, traçando panorâmica das
festas antigas.)
- «Rancho da Casa do
Povo da Longra-Sete anos depois... em idade de razões» (Maio de 2001 – livro
comemorativo do 7º aniversário do mesmo agrupamento e também alusivo ao 5º
Festival de Folclore da Longra, de Julho seguinte – incluindo texto de fundo
narrativo do “Conto de um Rancho Amoroso”, sobre a história do grupo em
questão.)
- «6.º Festival do
Rancho da Casa do Povo da Longra – Desfile de Oito Anos de Vida» (Junho de
2002).
- «7.º Festival da
Associação Casa do Povo da Longra – Danças Mil em Nove Anos de Folclore» (Junho
de 2003).
- «Grupo de Teatro da
Casa do Povo da Longra – Sete Anos na Arte de Talma Associativa» (Outubro de
2003 – Primeiro livro historiador do respetivo agrupamento, em tempo do seu
sétimo aniversário).
- «8.º Festival da
Associação Casa do Povo da Longra – Alcance duma Década Etno-partilhada» (Junho
de 2004).
- «9.º Festival da
Associação Casa do Povo da Longra – Comunhão de Tradição Associativa» (Junho de
2005).
Outros trabalhos
publicados de co-autoria, como participação e de inclusão:
- Colaboração, com
Resumo Histórico de Rande, no Jornal Escovinhas, da Escola Primária da Longra,
em 1991 (que na publicação, depois transcrita também no Jornal Escolar de
Felgueiras, teve algumas gralhas na transposição dactilografada, de que
resultaram trocas de datas, sobretudo).
- Colaboração pontual
num trabalho realizado pela Escola de Sernande, escrito sob título “Minha
Terra, Minha Escola, Minha Gente”, no ano letivo de 1992/93.
- Co-autoria em
«Freguesia de Rande (S. Tiago) e Povoação da Longra» - Março de 1996 / Edição
patrocinada pela Junta de Freguesia de Rande (pequeno livro, em género de
mini-coletânea sobre temas diversos da freguesia de Rande, cuja receita
reverteu para obras paroquiais. Infelizmente, no produto impresso deste
trabalho voltaram a surgir gralhas, com enganos numa importante data e num nome
inclusive, por parte de quem transcreveu do original para o tratamento
informatizado do texto).
- Inclusão na revista
“Poetas de Todos os Tempos” (sediada em Penha Garcia), Junho de 1996, com poema
«Amém Felgueiras».
- Participação em
«Felgueiras-Tradição com futuro», livro da Editora Anégia - Junho de 1996
(sobre o concelho de Felgueiras).
- Participação (com
excerto do poema “Amém Felgueiras”, junto com trabalhos de alguns poetas
concelhios) em brochura intitulada “Pão de Ló com Poesia”, distribuída pela
Biblioteca Municipal de Felgueiras, de colaboração com o comércio doceiro
local, em Maio de 1998.
- Participação com
textos nas V, VI, VII, VIII, IX e X Colectânea de Textos de Autores do Vale do
Sousa, edição da Câmara Municipal de Paredes, de 1999 a 2004, respetivamente
(ou seja, desde que houve convite pessoal para a correspondente colaboração,
até à suspensão da mesma iniciativa).
- Participação, com
trabalho «Pergaminhos Desportivos Felgueirenses», no livro oficial das Festas
da Lixa intitulado “Lixa Cidade de Ontem e Hoje-Nossa Senhora das Vitórias/2000”
- Setembro de 2000.
- Participação na
revista do 13º aniversário do jornal Semanário de Felgueiras, intitulada “13
Anos”, com artigo “Memória Jornalística de Felgueiras-Alargamento Informativo”;
Junho de 2003.
- Elaboração (sobre
dados fornecidos pela entidade proponente) do anual Boletim Informativo da
Junta de Freguesia de Rande, n.º1-Dezembro de 2003 e nº 2-Dezembro de 2004
(únicos exemplares editados pela mesma autarquia).
- Elaboração (nas
mesmas condições) do Boletim Informativo da Comissão Fabriqueira da Paróquia de
S. Tiago de Rande (atualmente Conselho Económico Paroquial), n.º 1-Janeiro de
2004; nº 2-Jan. 2005; nº 3-Dezembro de 2006, nº 4 - Dez. 2007, nº 5- Dez. 2008,
nº6-Dez. 2009, nº 7-Dez. 2010, nº8-Dez. 2011; nº 9-Dez. 2012, nº 10-Dez. 2014 e
nº 11-Dez. 2015 (por ora, até à atualidade).
- Citação em diversos
casos, entre os quais (além de alguns anteriores, quando o trabalho ainda
estava apenas dactilografado), depois da respetiva edição, se reflete que o
livro «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras», publicado em
Novembro de 1997, consta, entre outros exemplos:
- da bibliografia do
livro “Penafiel Há Cem Anos II”, de José F. Coelho Ferreira, ed. em 2000.
- Como algo do mesmo
“Memorial...” esteve em 2002 inserido parcialmente no “site” da Internet do
“Semanário de Felgueiras On-line”.
- Idem, constando
respigos do mesmo Memorial, referentes à história local de Rande, no material
do Cd-rom “Festas, Romarias e Tradições 2000 Hoje - Porto”, disco compacto
editado em 2001 por Terras de Portugal, Edições, L.da, relativo ao Distrito do
Porto, incluindo o concelho de Felgueiras.
- Bem como o mesmo
livro está referido no texto oficial da Proposta da Elevação da Longra a Vila
(2003);
- Tal como, no decurso
do tempo, ao que se apercebe, o referido Memorial serviu já de base para
diversos trabalhos de finais de cursos estudantis, até monografias académicas,
como teve consultas em monografias historiadoras e livros de investigação
histórico-memorialista:
- Conforme, por
exemplo, consta honrosamente da bibliografia em “Daciano Costa e o Design
Industrial” - a propósito de ligação à Metalúrgica da Longra e referente à
história dessa famosa empresa «pioneira em muitos aspetos, sendo o mais
importante a aposta que efetuou no Design», por Susana Antunes e Liliana
Soares, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão/Instituto Politécnico de
Viana do Castelo, Curso de Arte, Comunicação e Design-variante de Design
Paisagístico, ano letivo de 2004/2005.
- Como também na
Monografia de Cepães-Fafe (com dados sobre o Foral de Unhão e Cepães, segundo
ajuda solicitada a título pessoal). Ainda, no livro “As Desfolhadas e a
animação comunitária”, feito em 2005 por alunos da Escola Superior de Educação
de Fafe.
- E em “De Sam Payo a
Sampaio” – Um Estudo Genealógico, discorrido pela arte de Lygia Sampaio, livro
publicado em Outubro de 2006 em Salvador da Baía, Brasil, em cujo volume
constam informações respetivas, nas origens dos ancestrais Felgueirenses da
autora.
- Bem como no livro “os
Freire Machado”, de Carlos Freire Machado, editado em Novembro de 2008, no Rio
de Janeiro, Brasil, com respigo sobre localização do sítio (Assento), da região
de Felgueiras, de onde partira um ascendente de um dos ramos da família em
Apreço… incluindo também o mapa dos Caminhos de Santiago na diocese do Porto,
do livro Memorial Histórico de Rande e alfozes de Felgueiras.
- E também em
“METALÚRGICA DA LONGRA como pioneira na integração do design no mobiliário em
Portugal”, trabalho de Monografia por Daniel Oliveira Pereira e Pedro Joaquim
Teixeira Ribeiro, em Design do Produto, 3º ano, de Estudos de Casos em Design
2011 / 2012, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão Viana do Castelo,
Janeiro de 2012.
- Participação (com
artigos Vislumbre histórico-memorial, Elevação a Vila, Feira da Longra em nova
versão, Festa na Casa do Povo e Impacto do Carnaval da Longra) no
jornal-suplemento Especial “Vila da Longra”, de 19 de Março de 2006, número
único, apoiado pelas Juntas de Freguesia de Rande e Pedreira e publicado por CM
Edições, no âmbito do lançamento do jornal Expresso de Felgueiras.
- Participação (com
artigo historiador alusivo, ”Feira de Maio remonta a 1901”) no jornal especial
dedicado à anual “Feira de Maio” Felgueirense, numa edição do Expresso de
Felgueiras, em número extra de 06 de Maio de 2006.
- E ainda citado, pelos
trabalhos do livro Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras, bem
como com indicação do blogue Longra Histórico-Literária, no livro “Felgueiras:
500 anos de concelho”, da C M F, coordenado por Pedro Vilas Boas Tavares, de
2015.
- (Assim como o livro
“Luís Gonçalves: Amanuense-Engenheiro da Casa das Torres”, vai estar incluído
entre referências contidas no livro do arquiteto Carlos Loureiro sobre casas
brasileiras antigas do distrito do Porto.)
Colaboração na imprensa
e comunicação pública:
- Colaborador do jornal
O Porto, órgão oficial do F. C. do Porto, de 1974 a 1980.
- Colaborador do jornal
Mensageiro da Longra em 1978 (publicado em 4 números mensais, nesse único ano
de existência).
- Colaborador regular
do semanal Notícias de Felgueiras desde 1985 até 1995.
- Colaborador episódico
do Boletim Municipal da C. M. Felgueiras em 1984-85 (com “Felgueiras na
Imprensa em tempos idos”, nos seus números de Abril de 1984 a Agosto de 1985);
no suplemento do Jornal de Notícias, JN Domingo, em Outubro de 1986 (com “Um
Herói do ar no exílio”); d’ O Jornal de Felgueiras em 1985/86 (onde, além de
artigos e notícias, foi apresentado esboço para a Monografia Histórica de que
resultou, anos mais tarde, o Memorial Histórico de Rande e Alfozes de
Felgueiras) e, no mesmo jornal depois outra colaboração novamente em 1993; como
também, colaborador ainda do Jornal da Lixa em 1987 e 1995; d’ O Sovela em
1995; do Jornal Escovinhas da Escola da Longra e do Jornal Escolar de Felgueiras
em 1991; do Gazeta de Felgueiras em 1994 e 2002; no suplemento natalício d’ “O
Comércio do Porto” (com “Conto de Natal”), no seu número de 10 de Dezembro de
1998; do Voz de Felgueiras, em 2004; do Voz Portucalense em 2004 e 2006; como
do Expresso de Felgueiras em 2006 - entre outra produção dispersa em diversas
publicações.
- Colaborador desde a
respetiva fundação, em 1997, no Jornal de Barrosas durante a sua curta
publicação (extinto que foi no mesmo ano).
- Colaborador episódico
de um “site” informático, existente desde 2007 no universo da chamada
blogosfera da Internet e gerência de um amigo, blogue intitulado “Vila da
Longra”. Como ainda do, existente desde 2008, blogue “Irmão Sol”, de Espaço dos
Antigos Alunos Capuchinhos. E com alguma participação, conforme as
solicitações, nalguns blogues de temática Portista, etc.
- Autor e gerente do
blogue "Lôngara - Actividade Literária e Memória Alvi-Anil", criado
em Janeiro de 2010 (entretanto desaparecido da Internet).
E, igualmente, dos
blogues "Memória Portista" e "Longra Histórico-Literária",
criados em Junho de 2012.
[Relacionado com a
atividade na chamada Blogosfera, por vezes têm aparecido transcrições de textos
e cópias de fotos dos meus blogues noutros espaços da Internet e redes sociais.
Facto relevante foi também que é citado um tema do meu blogue Memória Portista
num livro italiano, publicado em novembro de 2015 - “Foot-ballers al frente –
storie di calciatori (e di un tifoso) nella grande guerra”. (Traduzindo:)
“Futebolistas na Frente / histórias de
jogadores (e de um apoiante) na Grande Guerra”, de Giorgio “Acerbis” Ciriachi
(autor que pediu a minha permissão através de mensagem), em publicação da
editora Urbone Publishing. Em cuja
publicação é feita referência a uma foto minha (do meu blogue) e informação
respetiva, reportada a um capítulo dessa obra, com indicação do nome nos
agradecimentos.]
- Colaborador da
revista Mundo Azul, do Conselho Cultural do F. C. Porto, desde o seu 1º ano, de
2009, até à suspensão acontecida em 2010 (com a ocorrência da mudança do
Conselho Cultural do FCP).
- Colaborador efetivo,
a partir de 1996, do jornal concelhio Semanário de Felgueiras, em cuja situação
ainda se mantém na atualidade - com regular crónica, em página contendo rubrica
pessoal, além de alguma colaboração noticiosa.
Currículo da Carreira
Profissional:
Administrativo – Inicial
e anteriormente no Centro de Saúde da Longra (Felgueiras), entre 1976 até 2013
(desde 1 de Março de 1976 a 3 de Abril de 2013, com licença por baixa médica de
permeio no final, devido a problemas cardíacos, entre 2011 a 2013) - e depois,
em 2013 / 2014 (a partir de 4 de Abril de 2013 até 31 de Outubro de 2014), no
ACES Vale do Sousa Norte - C. S. de Lousada (sede do agrupamentos dos antigos
Centros de Saúde de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira). Aposentado,
finalmente, a partir de 1 de Novembro de 2014.
Curiosidades e
particularidades:
Em aspeto associativo
particular, sou sócio do Futebol Clube do Porto, da Casa do F. C. Porto de
Felgueiras, como da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de
Felgueiras; assim como fui da Associação Casa do Povo da Longra, do Futebol
Clube da Longra, tal qual do Centro Cultural e Recreativo da Longra e do F. C.
de Felgueiras (até à interrupção das suas atividades, nestes casos).
Passadas tantas fases
existenciais, vividas por uma pessoa em contacto com muitas pessoas, além das
horas de solidão de estudo e escrita, no fim de contas, olhando-se tudo o que
se sentiu, momentos houve especiais, de mexer com a pele só de lembrá-los. E,
entre isso, pela inerente sensibilidade, os beijos mais marcantes ficarão para
sempre recordados – de despedida e dor, os últimos beijos nas testas frias da
avozinha Júlia, da Mãezinha e Paizinho. E, de apaixonado amor, o primeiro dado.
Daí resultou tudo o que fica agregado.
Ultrapassada uma
autêntica viagem à volta do mundo pessoal, como foi desde a infância até à
idade madura, chegou depois o final da carreira profissional, com pedido de
reforma antecipada (por entretanto os políticos terem mudado as leis e rasgado
socialmente anteriores contratos e assim ter havido alteração das condições e
idade de reforma, pois que no que estava estipulado antes já teria direito a
tal). Depois de ter sofrido três ataques cardíacos, dos quais um enfarte do
miocárdio e duas pericardites, e porque de permeio, segundo as normas derivadas
da crise político-social dos inícios do século XXI, não me foi concedida
reforma por invalidez, tive de pedir a aposentação antecipada com penalização
de vencimento, ou seja com reforma mais pequena, para não abusar da saúde… e
ainda poder viver mais uns anos sem a pressão da vida laboral. Depois de
descontar muito durante cerca de 39 anos, sendo assim vítima da crise social
arranjada pelos políticos e falcatruas dos corruptos do país, políticos que
quando chegaram ao poder só pensaram no interesse deles e dos seus.
Havia então eu, de
permeio, quando acabou o período de baixa devido à doença, pedido para não
continuar no anterior local de trabalho, devido ao nervosismo que a azáfama do
centro de saúde da Longra provocava, sendo das maiores unidades de saúde da
zona, pessoalmente olhando à sobrecarga com o atendimento ao público e direção
da unidade. E fui então para o ACES de Lousada, a sede do agrupamento dos
centros de saúde da região, ficando ali, desde Abril de 2013, na parte de apoio
à direção, na UAG-Unidade de Apoio e Gestão, em coordenação dos centros da
região de saúde chamada de Tâmega 3, oficialmente com o pomposo nome de Região
de Saúde Norte-ACES Tâmega III-Vale do Sousa Norte-Unidade de Apoio e Gestão.
Num ótimo ambiente, foi
assim de modo mais despreocupado que passei o último período de horário de
trabalho. E em Lousada tive uma festinha de despedida, como corolário do bom
ambiente que ali respiramos conjuntamente, recebendo provas de simpatia e
amizade. Chegado o último dia, a 31 de Outubro de 2014, reunimo-nos em torno de
um convívio, com o pessoal amigo a homenagear-me simbolicamente pela oferta de
um livro de poesias, mais um objeto de recordação (que sempre tenho diante de
mim no meu escritório, em casa) e um diploma, com autógrafos assinados por
todos, que está emoldurado na parede do mesmo meu recanto doméstico.
(Imagem) =
Diploma do “Povo” da UAG, recebido em 31-10-2014 =
Então, após longo
percurso social, entre vivências assinaladas em comprovativos escritos e
memorizados de aptidões e constatações, desde diplomas literário-formativos até
recordações humanas, o melhor diploma recebido até hoje foi o da amizade e
reconhecimento, esse que no último dia de Outubro de 2014 me foi entregue, numa
demonstração de companheirismo de colegas da mais recente parte da minha
carreira profissional. Cujo rosto está na imagem, a falar por si e por cada
qual. O que me tocou bem cá dentro.
Assim, com
simplicidade, como quem bebe água pura, que é corredia e límpida, bastando
deixar correr o pensamento, em torrente sincera digo que valeu a pena essa
última fase profissional vivida, para ter felizmente conhecido gente tão
acolhedora, simpática e plena de companheirismo - como boa razão para haver
estado na existência da UAG de Lousada, Unidade de Apoio e Gestão do
Agrupamento de Centros de Saúde do Vale do Sousa Norte, Tâmega III.
Deixadas correr as
águas já passadas sobre as pontes do rio Sousa, haja agora o futuro, sempre
atento ao porvir, entre afetos e atenções.
***
Enquanto isso, porque a
minha vida de homem tem tido junto sempre a mulher à medida, deu-se
paralelamente o percurso de minha esposa, no caso pessoal. Algo que junto, em
forma resumida, segundo o que ajudei a formatar em género curricular, segundo o
CURRÍCULUM VITAE
(Modelo Europeu):
= INFORMAÇÃO PESSOAL
Nome: Pinto, Maria
Deolinda Guimarães Sampaio
(Morada… Telemóvel…
Carta de condução, etc)
Nacionalidade: Portuguesa
Data de nascimento -
conf. Registo civil: 06-05-1955. Verdadeira: 27-04-1955.
= SITUAÇÃO e EXPERIÊNCIA
PROFISSIONAL
Atualmente: Aposentada
(desde Fevereiro de 2013)
Última profissão:
Comerciante (a tempo inteiro)
- a partir de Novembro
de 1995
Nome e endereço da
empresa: Casa Linda / Edifício Nova Longra - Vila da Longra
Função/cargo ocupado:
Gerente e única funcionária
Principais atividades: Atendimento
de clientes, caixa, pagamentos, aquisição de materiais, gestão e tudo o mais
inerente ao funcionamento do próprio estabelecimento.
Anteriores empregos:
- De Janeiro de 1985 a
Novembro de 1995
Nome e endereço do
empregador: Codizo – Empresa de Calçado da Longra, L.da - Rande
Função/cargo ocupado: Encarregada
de costura
Principais atividades:
Supervisão do serviço, distribuição de tarefas, vistoria do respetivo fabrico.
- De 1976 a 1985
Fábrica de Calçado
Sozé, L.da – (primeiro) Cimalhas-Sernande, (depois) Monte das Ruas-Lagares; e
(por fim) Calvário-Várzea; Felgueiras
Função/cargo ocupado:
Encarregada de costura
Principais atividades:
Supervisão do serviço, distribuição de tarefas, vistoria do respetivo fabrico.
- De 1973 a 1976:
Fábrica de Calçado Carvalho Dias – Padroso – Margaride; Felgueiras
Função/cargo ocupado:
Gaspeadeira
Principais atividades:
Costura de calçado
- De 1966 a 1973:
Empresa de Calçado Alexandre Sampaio e Filhos – (inicialmente) Cimalhas-
Sernande e (depois) Longra-Rande; Felgueiras
Função/cargo ocupado: Gaspeadeira,
acumulando com função de encarregada de sector
Principais atividades: Costura
de calçado e tarefas de organização do fabrico.
= FORMAÇÃO
- Datas – Concluído em Julho de 1966
Nome e tipo de
organização de ensino ou formação: Escola Primária de Varziela – Felgueiras
Designação da
qualificação atribuída: 4º ano de escolaridade
= APTIDÕES E
COMPETÊNCIAS SOCIAIS
- Sentido de programação
do trabalho - Preferência de trabalho em equipa - Compatibilidade de
convivência - Dedicação.
= APTIDÕES E
COMPETÊNCIAS TÉCNICAS
Curso de Formação para
a Indústria do Calçado – Costura, promovido pela Codizo, Empresa de Calçado da
Longra, L.da, e patrocinado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional,
frequentado e concluído com aproveitamento em 1990, durante três meses e
concluído em Dezembro do mesmo ano.
- Curso do Centro de
Novas Oportunidades, da Escola Profissional de Felgueiras – 2007/2008 (Sistema
Nacional de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências-Chave para
a Educação e Formação de Adultos de nível Básico) – com diploma de 15 de Maio
de 2008.
***
Voltado ao recato dos
dias passados sem ter de cumprir horários fixos e na acalmia de andar por casa,
houve então oportunidade de escrever este relambório particular. Na ideia de
oferta familiar, pois que a família é a pedra angular da nossa vivência. Como
temos uma família de que gostamos muito.
Uma
Família Bonita
Era assim, conforme
sintetizamos nos princípios destas memorietas, que meu pai, Joaquim Pinto,
definia como via e gostava de sua família, segundo constatava ser a sua
descendência e quão isso o fazia feliz. Ele que cresceu sem pai, criado quase
por estranhos de laços familiares, sendo sua mãe criada de servir em casas de
fidalgos, em labutas sofridas. Tendo depois, por sua vez, criado um mundo
envolvente em que formou a própria família, a pontos de ter chegado a nós, à
nossa vez, numa bonita família continuadora.
Em vista disso, como
homenagem e perpetuação familiar, registamos alguns traços das características
que o notabilizaram a nossos olhos e mais sentidos na alma da recordação.
In
Memoriam: Joaquim Pinto
Em ideia que temos, uma
das evidências terrestres é que fixar memória respeitante a algo particular ou
coletivo será uma forma de celebrar a vida. E, neste sentido, essa atitude terá
em conta valorização de tudo o que mereça apreço, com discernimento de
avaliação, a enaltecer na amplitude de uma identificação.
Pode a área cronista
ter também afetividade e a visão literária ser sensível. Nem sempre a narrativa
publicista deve ser demasiado técnica, de texto conciso, frases modelares,
segundo normas feitas, mas em lugar próprio igualmente proporcionar
oportunidade de manifestos sentimentos e partilha exposta de conhecimentos.
Ora, sendo habitual ao autor escrever sobre os outros, em espaços públicos,
desta vez calha a preceito dirigir uma pessoal mensagem, na ocasião natalícia,
na pertinência do Natal ser a festa da família por excelência. Ajustando-se a
oportunidade para dedicação duma homenagem, no sentido de elo familiar, ao
patriarca da família e extensivamente a toda a prole sucedânea, todos nós, os
que somos da Família Pinto, da Longra.
Está, com efeito,
eternamente viva a memória do progenitor e patriarca familiar, o meu Pai. Por
sinal também uma figura marcante da memória local, atendendo ao seu currículo
prestigiado com o Prémio da Associação Industrial Portuense, em 1959 (como
obreiro da sirene e de alguns inventos na Metalúrgica da Longra, fábrica de
grande prestígio, que foi autêntica escola de artes laborais, a pontos de então
haver consideração de ser uma honra pertencer a seus quadros). Além de
bairrista e profundo conhecedor da história local de tempos passados, segundo o
que viveu e ouviu, tendo tido primordial comparticipação na monografia sobre as
memórias da freguesia natal, por meio das informações que me deu para o livro
Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras. Subsídio comparticipativo
que se deveu também à esposa, a saudosa minha Mãe, Matriarca da família, pelo
muito que contava na sua ligação estremosa, dando razão suprema ao ditame de
que no companheirismo a um homem de relevo sempre houve e está uma grande
mulher.
Costuma dizer-se que os
avós são pais com açúcar. Definição a preceito, no caso em apreço, para o avô
dos filhos e sobrinhos do autor destas linhas, mas também e especialmente Pai,
tal o sabor doce que deixou, a criar água em boca sufocada.
Como seiva que produz
vida e renova a natureza, a memória de nosso pai permanecerá pelos tempos, em
perene saudade e constante recordação. O seu exemplo estará sempre presente,
nos valores que ele soube incutir, na união da família que conseguiu criar e
fortalecer.
Contava ele que,
segundo ouvira, se celebrava a missa dominical de Rande aquando do seu
nascimento. E, conforme se tornou público, porque o parto de sua mãe estava
difícil, o pároco dessa época, Padre Augusto, pediu do altar a todos uma
oração. Então foi feita conjuntamente uma sentida prece, para que nascesse em
boa hora. Facto passado a 10 de Dezembro de 1916, na mesma igreja onde depois
foi batizado, participou nos atos da comunidade paroquial até ao seu
falecimento, ocorrido a 10 de Março de 2006; em cujo templo por fim, no seguinte
dia 11, foi encomendado a Deus. Agora, de peito contrito, aqui e onde nos
lembramos dele, como nosso herói e figura pública que mais nos marcou, estamos
gratos, agradecendo a boa hora em que veio ao mundo para criar as raízes que
deixa em nós.
Aos domingos, dizia
ele, para ser domingo de verdade tinha sempre de ir à missa de Rande, pela
manhã; e de tarde havia de dar um passeio pela freguesia, sempre, para ver os
seus sítios queridos, o lugar de Janarde onde nasceu, a casa de Valdomar onde
passou sua infância, mais todos os lugares que conhecia como as próprias mãos.
Quanto gostava de ver quando aparecia a seus olhos qualquer melhoria na
freguesia. Assim como tinha algum desgosto pelo desaparecimento de uma fonte
que fizera parte do ambiente de sua juventude, a Fonte da Vinhó, antes
existente junto a um campo da Quinta, entre Casal Corne e Janarde. A freguesia
de Rande fazia parte dos seus pensamentos e anseios. Como sonhava com o
alargamento do Largo da Longra, de modo a que o centro da vila que ainda conheceu
pudesse ter uma praça central. Conversava muito com os filhos e até os netos
sobre esses e outros motivos de seu interesse, sabendo transmitir aos vindouros
autêntico apego pelo torrão natal. A terra em que ele era uma referência, quer
como construtor da sirene da antiga Metalúrgica, empresa onde durante muitos
anos foi o operário mais antigo; tal como mais tarde artífice bobinador e,
depois, por todos se terem habituado a vê-lo constantemente, em presença
habitual na sua veneranda fisionomia, tão respeitado na consideração geral,
tornando-se personagem grado e admirado.
No silêncio contido do
nosso coração, continuamos a conversar e, sempre que haja qualquer obra ou
beneficiação na sua e nossa terra, os nossos sentidos serão os seus olhos,
presente como estará sempre connosco, bem no íntimo de todos quantos o amamos.
Remexendo no fundo da
mensagem, que desejamos voe até ao Infinito, tomando as asas do poeta,
permita-se uma adaptação para dizer-lhe, na ligação terrena fortalecida
espiritualmente:
Se vires que pode
merecer-te
Alguma coisa a dor que
nos ficou
Da mágoa sem remédio de
perder-te,
Roga a Deus que de nós
te afastou
Que na Sua Glória nos
faça ver-te
Quão ditosa a doutrina
nos legou.
*
Em homenagem de
reconhecimento, foi Joaquim Pinto, da Longra, merecedor de um Voto de Pesar
pela Assembleia Municipal de Felgueiras, na primeira sessão ordinária realizada
por aquele órgão autárquico após o seu falecimento. Deliberação essa havida na
respetiva sessão ordinária realizada a 20 de Abril de 2006, por voto
apresentado pelo Grupo Parlamentar do PSD e aprovado por unanimidade dos 63
membros presentes no hemiciclo municipal, de todos os grupos
partidário-parlamentares Felgueirenses.
Igual reconhecimento
houve de seguida na autarquia de Rande, através de voto que teve apresentação
pela Junta de Freguesia e aprovação de todos os presentes em assembleia magna,
tendo assim também a Assembleia de Freguesia de Rande tido esse sinal de apreço
em sessão do seguinte dia 27 do mesmo mês.
E fazendo memória, cá
estamos nós todos. Filhos, noras, netos e netas e bisnetos. Desde os mais
velhos até ao Gonçalo e ao Tiago e seguintes. Com o que nos une bem presente!
*
Posto isto, chega o fim
desta narrativa. Ainda na continuação da vida. Encerrando a contagem pessoal,
de enumeração e descrição personalizada.
Trilhado que foi (e por
enquanto ainda vai sendo) um caminho de cidadão anónimo, despercebido e quanto
possível discreto, sem dispensar tomadas de posição e defesa do que acredito e
me toca, em cidadania e vivência afetiva, sobretudo através da comunicação
escrita, aqui deixo mais as linhas que ficam nestas folhas, qual guarida também
silenciosa de valores e afetos.
O sentido de paraíso
pode ser também uma espécie de livraria em que exista um simples livro onde se
guarde o melhor que sentimos.
***
Na arca de nossa
memória, chegado este ponto, ressoam cheiros e sabores como o que apetecia nos
tempos dos assados do forno feitos por minha mãe, as batatinhas de São João,
com carne estufada, que uma vez me soube pela vida em dia da antiga festa da
Longra e como falei disso durante dias aquilo ficou nas memórias da família em
nossa casa, mais os bolinhos e coelho guisado do farnel que comíamos no monte
da santa, em dia de peregrinação felgueirense ao alto de Santa Quitéria… E os
doces e especialidades de culinária que a Rosa começou a fazer depois que andou
no curso antigo das fadas do lar, na Casa do Povo... Até que, em tempo de
Natal, vem ao semblante o presépio familiar.
Ora o presépio, é uma
presença tradicional significativa que me habituei a ter em casa e procurei
manter com meus filhos e continuo com os netos. Desde o apanhar do musgo até ao
fazê-lo na sala, onde nos juntamos. Construído por gosto, levanta-se na
figuração da lapa de Belém, como ilustração da natividade daquele Menino
nascido no oriente, num humilde estábulo mas aquecido pelo bafo de animais,
segundo a tradição antiga e a Cristandade comemora. E adorado desde logo por
todos os que tiveram conhecimento de tal facto divino, quando aconteceu, já
passa de dois milénios, nos arredores daquela Belém da Judeia que há muito se
ouve falar nas igrejas, através da leitura das sagradas escrituras (e eu pude
ver quando lá fomos à Terra Santa). Presépio que extravasa o musgo que
exemplifica a natureza ambiental, sobreposto por ornamentações, quais arremedos
de morros, caminhos e rudes construções, ao sabor da inspiração e engenho
pessoal da feição respetiva, sem descurar gostos etnográficos e ar plebeu, na
religiosidade tradicional. Pois o presépio encadeia, afinal, um quadro temático
de horizonte emblemático, encerrando algo da sensibilidade natural, de quanto o
nascimento de Cristo, do Deus que veio à terra, então, tem lirismo peculiar, na
necessidade humana de amplitude e transfiguração. Sendo o presépio como que o coração
poeta do povo a embalar os mais íntimos desejos.
Armando Pinto
Pelo Natal de 2016 -
este livro.
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