São Pedro, o apóstolo Simão, que foi primeiro bispo da Igreja, a quem Cristo proclamou: «-Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja», é representado simbolicamente como governante das chaves do edifício da Igreja, por Jesus Cristo lhe ter acrescentado: «-Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado no Céu e tudo quanto desligares na terra será desligado no Céu». E extensivamente tem também em Felgueiras as chaves da festividade oficializada como festa concelhia, ao findar o mês de junho dos santos populares.
É esse memo santo a quem a fé popular dos nossos antepassados felgueirenses se apegou, desde eras remotas, e lhe entrregou por assim dizer as chaves da edifiicação concelhia, referente ao conjunto edificado em comunidade. Sendo S. Pedro, inicialmente pescador e por fim cabeça da Igreja institucional da Cristandade, o santo honrado com a dedicação da festa do concelho, sobre a qual versa desta vez a crónica usual do autor no Semanário de Felgueiras – de cujo artigo, publicado na edição de 11 de maio do S F, se junta aqui imagem de recorte da respetiva coluna jornalística, mais o texto por extenso.
Chaves para Felgueiras
Dizer que temos Felgueiras no coração não será grande
novidade, tal o espírito mais generalizado em boa parte dos naturais e
residentes do concelho de Felgueiras. Algo que nem dá especial individualidade,
atendendo a que existem terras há muito associadas a corações, quer na arte da
filigrana, quer em artefactos de folclore. Mas, atendendo ao sentimento
felgueirense, não é já descabido pensar-se que há aura felgueirista na
associação à rosca do pão de ló. E, de modo particular, pode ser mesmo
compatível haver uma vera sensibilidade felgariana relacionada às chaves de São
Pedro, sendo como é a festa do concelho sob invocação do santo guardião das
chaves do céu, na associação da sua primazia como pedra angular da Igreja.
No imaginário popular S. Pedro é tido como Padroeiro de
Felgueiras, embora sem assim ser considerado oficialmente. Tendo cada paróquia
seu padroeiro, como por exemplo Margaride tem Santa Eulália, outras paróquias
diferentes patronos; e também desde eras remotas há paróquias com S. Tiago como
Orago, na ligação à passagem das peregrinações para Compostela, como em Rande,
Sendim e Pinheiro, nas diversas variantes dos Caminhos de Santiago no interior
do Douro Litoral. Porém a atribuição de primaz das Festas do Concelho ao santo
Príncipe dos Apóstolos deriva da mais antiga ermida de que há notícia na
região, conforme é narrado na setecentista Corografia do Padre Carvalho da
Costa, ter sido dedicada a S. Pedro, no alto do monte onde foi martirizada
Santa Quitéria, cujo nome perdurou no local.
Extensivamente S. Pedro, o santo em apreço como ícone das
festas que dão origem ao feriado municipal de Felgueiras, tem imagem
iconográfica na igreja do monte de Santa Quitéria, na representação de pescador
do mar da Galileia, mas com duas chaves na mão, enquanto na igreja matriz da
paróquia de Margaride, em pleno centro da sede do concelho, está com
representação de Bispo dos Bispos da Igreja. Ou seja, na imagem provinda da
antiga capela de S. Pedro, no monte agora popularmente chamado da Santa, é
representado no templo com trajes da época tendo numa mão duas chaves e na
outra o livro de suas cartas; ao passo que na igreja paroquial da cidade surge
paramentado de Papa, com tiara na cabeça, tendo nas mãos outros seus atributos.
Tais considerações fazem vir à superfície (sendo S. Pedro da
devoção de gentes de zonas marítimas que costumam demandar Felgueiras em
peregrinações de votos), a falta que existe, ainda, dum monumento reportado ao
mesmo santo em local público, de modo a fazer ligação à identidade coletiva.
Agora mais ainda, de forma a dar ser à passagem do centro de Felgueiras a local
privilegiado da mesma festa. A propósito da interessante iniciativa, bem
pensada e concretizada, da colocação durante algum tempo duma chave alusiva à
festa de S. Pedro em frente aos Paços do Concelho, numa jornada festiva que
trouxe em cortejo a mesma chave feita numa oficina de serralharia da Longra,
com desfile dentro da urbe citadina de Felgueiras ao som de muitos bombos. Algo
que passa a lembrar a próxima realização, desta feita trazendo para a cidade o
centro das festividades, tal como há anos houve anterior tentativa.
Alterando-se assim o panorama, que pode até resultar, de vez, desde que haja
efetiva ligação entre a tradição e a idealização. Quão louvável é a intenção,
podendo assim haver em Felgueiras uma festa do concelho à imagem do que é feito
com festas grandes de concelhos vizinhos. Onde os pontos fortes costumam ser,
além da parte chamada profana, também a religiosa. Podendo, no caso, a
procissão de S. Pedro que costuma ser feita no alto vir até à cidade. Assim
como o cortejo das flores, número maior do cartaz, vai desde baixo até lá
acima, também poderia a manifestação religiosa vir até ao sopé, o que nem seria
difícil porque, como se costuma dizer, ao baixo todos os santos ajudam.
ARMANDO PINTO
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