Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Curiosidade memoranda: Dr. Abel Tavares, Ilustre Professor de Medicina com ligação felgueirense, presente no exame ao corpo da Vidente Beata Jacinta Marto, aquando da trasladação dos seus restos mortais para o Santuário de Fátima, em 1951.

Sabendo-se da afinidade do Prof. Dr. Abel Tavares com Felgueiras, sendo sua esposa de naturalidade felgueirense e extensivamente ele sido proprietário da mansão familiar na freguesia da Pedreira, a casa do Souto de baixo, onde passava temporadas e ali tido naturalmente fortes laços telúricos; bem como na linha de anteriores lembranças sobre o mesmo que, embora natural do Minho, cá no Douro Litoral foi tido como felgueirense de afetividade (cuja ligação o levou a ter sido sócio da Casa do Povo da Longra e presidente da Assembleia da Cooperativa Agrícola de Felgueiras); entre motivos que, além de sua saliência científica no meio portuense e intervenção de âmbito católico portucalense, mereceram aqui anteriores referências; a sua memória volta a ser agora auscultada em mais um bom motivo, por sinal deveras interessante.

Com efeito, segundo notícia conhecida através do que transmite o jornal Voz de Fátima, em sua edição de Junho de 1951, o Dr. Abel Tavares, ao tempo Assistente do famoso Prof. Dr. Hernâni Monteiro, esteve presente como interveniente no exame aos restos mortais da pastorinha vidente Jacinta Marto, quando nesse ano foi o corpo da menina examinado para a trasladação dos seus restos mortais para o Santuário de Fátima. Do facto ficando então a constar foto alusiva na 1ª página do referido mensário, com legenda respetiva («Os Ex. mos Doutores Maximino Correia, da Universidade de Coimbra, Hernâni Monteiro, Professor de Anatomia da Faculdade de Medicina do Porto, e Abel Tavares, Assistente da mesma Faculdade, procedendo ao exame dos restos mortais dos Videntes.») – cuja imagem para aqui se transpõe, como comprovativo assinalável.


Complementando esta nota historiográfica, reproduz-se (na parte respeitante ao tema) o texto da correspondente notícia, inserta na seguinte página 3, in “Voz de Fátima de 13 de junho de 1951. Embora sem aí constar já o nome do Dr. Abel Tavares, mas apenas os dos dois chefes das equipas respetivas. Conforme, de seguida, sob título “Os restos mortais de JACINTA estão no Santuário desde 1 de Maio”, rezava assim a notícia (respeitando a grafia antiga da época):

«Com a maior simplicidade, como é próprio de tudo o que à Fátima se refere, num ambiente quase familiar, efectuou-se no passado dia 1 de Maio a trasladação dos restos mortais da Jacinta para o túmulo que lhe estava preparado, no transepto, lado do Evangelho, da nova igreja do Rosário, na Cova da Iria. Na véspera, dia 30 de Abril, tinha-se procedido à abertura do pequenino jazigo, no cemitério paroquial da Fátima, e ao exame médico e canónico dos despojos que ele encerrava. Presidiu Sua Exª Rever. ma o Senhor Bispo de Leiria, acompanhado dos Revs. Cónegos João Pereira Venâncio e José Galamba de Oliveira, dos Pais e outras pessoas de família dos Videntes, autoridades para isso especialmente convidadas, etc. O exame médico esteve a cargo dos Ex. mos Srs. Doutores Maximino Correia, Reitor da Universidade de Coimbra, e Hernâni Monteiro, da Faculdade de Medicina do Porto. Não houve dificuldade nenhuma em verificar a autenticidade e integridade do cadáver da Jacinta, cujo rosto, embora mirrado e bastante escuro, conserva as primitivas feições. (…) O corpinho da Jacinta esteve visível na tarde do dia 30 e muitas pessoas o visitaram. Depois de cumpridas todas as formalidades legais e científicas, o caixão de chumbo foi fechado e metido numa urna própria. Às 11 horas do dia 1 saiu esta da casa em que se fizera o exame, quase em frente da igreja paroquial, e organizou-se o cortejo para a Cova da Iria. Vinham adiante as crianças das escolas e creches, alunos do Seminário das Missões da Consolata e dos Seminários Diocesanos de Leiria, Sacerdotes, e atrás um considerável grupo de Religiosas e muito povo, principalmente das aldeias vizinhas. O Pai e a Mãe dos Videntes acompanharam o féretro, e muitas outras pessoas de família. A procissão, chamemos-lhe assim, constituiu um espectáculo comovedor, ao mesmo tempo de uma singeleza extraordinária. A chegada à Cova da Iria, sobretudo, e a entrada para a Igreja, tendo subido a urna a escada monumental aos ombros de sacerdotes, foram momentos que jamais esquecerão àqueles que tiveram a dita e privilégio de a eles assistir. Celebrou Missa solene de requiem o Rev. Sr. Cónego Galamba de Oliveira, com assistência de Sua Ex.ª Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria. Depois das encomendações, todos os presentes foram autorizados a tocar objectos de piedade na tampa e exterior da urna. Desfile impressionante, que durou largo espaço. Passava um pouco da 1 hora da tarde, quando a urna contendo os preciosos despojos foi depositada no túmulo e este coberto com grossa placa de mármore. Descanse em paz, e no Céu, onde todos a cremos, interceda a Deus e a Nossa Senhora por nós!»


Acrescente-se que também no caso do pastorinho vidente Francisco o Prof. Dr. Abel Tavares e seus colegas estiveram presentes, mas como peritos testemunhas do aparecimento dos seus restos. Porque na ocasião do caso de Jacinta, em 1951, não fora possível descobrir os restos do irmão (sendo que o exame em questão era para ser feito aos restos mortais dos dois irmãos pastorinhos, mas por ter sido verificado que não estava junto nada de Francisco, esse processo teve de esperar mais algum tempo). Até que, passado um ano, em março de 1952 se efetuaram «escavações no local indicado pelos pais e irmãos do vidente, tendo-se encontrado um pouco abaixo dos alicerces do túmulo onde repousaram os despojos de sua irmã, Jacinta de Jesus Marto, a ossada do Francisco. Depois do exame desta, feito na presença do Senhor Bispo de Leiria, do promotor da causa da beatificação dos dois servos de Deus e de alguns cónegos da Sé Catedral da diocese e dos senhores Professores Doutores Maximino Correia, Reitor da Universidade de Coimbra, Hernâni Monteiro e Abel Tavares, ambos da Universidade do Porto, foram, finalmente, neste dia 13, os ossos do vidente encerrados numa pequena urna e conduzidos em procissão do cemitério paroquial da Fátima para a igreja do Santuário.» Contendo também partes de seu terço, algo descoberto na exumação dos restos de Francisco, com «as contas encontradas entre os ossinhos de suas mãos», autenticamente comprovativas e que ficaram depositadas na urna que contém suas relíquias físicas. (Conforme jornal Voz de Fátima de 13 de março de 1952).

Armando Pinto

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