Estamos em tempo de Todos os Santos e Fiéis Defuntos, cujos dias ocorreram ao
princípio deste mês de Novembro. Sendo sempre este um período de maior lembrança aos
familiares e demais ente-queridos entretanto ausentes fisicamente.
Havendo já
desaparecido de nosso sangue pais, tios, primos e, de afinidade, também muitos amigos, evocamos noutras
ocasiões deste blogue a figura materna e agora lembramos a figura paterna - como homenagem e perpetuação familiar,
registando alguns traços das características que notabilizaram a nossos olhos e
mais sentidos na alma da recordação esse que foi e é nosso herói eterno.
In Memoriam: Joaquim Pinto
Em ideia que temos, uma das evidências terrestres é que
fixar memória respeitante a algo particular ou coletivo será uma forma de
celebrar a vida. E, neste sentido, essa atitude terá em conta valorização de
tudo o que mereça apreço, com discernimento de avaliação, a enaltecer na
amplitude de uma identificação.
Pode a área cronista ter também afectividade e a visão
literária ser sensível. Nem sempre a narrativa publicista deve ser demasiado
técnica, de texto conciso, frases modelares, segundo normas feitas, mas em
lugar próprio igualmente proporcionar oportunidade de manifestos sentimentos e
partilha exposta de conhecimentos. Ora, sendo habitual ao autor escrever sobre
os outros, em espaços públicos, desta vez calha a preceito dirigir uma pessoal
mensagem, na ocasião do período dos Santos, como se costuma dizer, e ainda de aproximação natalícia, na pertinência da proximidade da festa de família
por excelência. Ajustando-se a oportunidade para dedicação duma homenagem, no
sentido de elo familiar, ao patriarca da família e extensivamente a toda a
prole sucedânea.
Está, com efeito, eternamente viva a memória do progenitor e
patriarca familiar do signatário. Por sinal também uma figura marcante da
memória local, atendendo ao seu currículo prestigiado com o Prémio da
Associação Industrial Portuense, em 1959 (como obreiro da sirene e de alguns
inventos na Metalúrgica da Longra, fábrica de grande prestígio, que foi
autêntica escola de artes laborais, a pontos de então haver consideração de ser
uma honra pertencer a seus quadros). Além de bairrista e profundo conhecedor da
história local de tempos passados, segundo o que viveu e ouviu, tendo tido
primordial comparticipação na monografia sobre as memórias da freguesia natal,
por meio das informações que nos deu para o livro Memorial Histórico de Rande e
Alfozes de Felgueiras. Subsídio comparticipativo que se deveu também à esposa,
a saudosa Mãe do autor destas evocações, a Matriarca da família, pelo muito que
contava na sua ligação estremosa, dando razão suprema ao ditame de que no
companheirismo a um homem de relevo sempre houve e está uma grande mulher…
Costuma dizer-se que os avós são pais com açúcar. Definição
a preceito, no caso em apreço, para o avô dos filhos e sobrinhos do autor
destas linhas, mas também e especialmente Pai, tal o sabor doce que deixou, a
criar água em boca sufocada.
Como seiva que produz vida e renova a natureza, a memória de
nosso pai permanecerá pelos tempos, em perene saudade e constante recordação. O
seu exemplo estará sempre presente, nos valores que ele soube incutir, na união
da família que conseguiu criar e fortalecer.
Contava ele que, segundo ouvira, se celebrava a missa
dominical de Rande aquando do seu nascimento. E, conforme se tornou público,
porque o parto de sua mãe estava difícil, o pároco dessa época, Padre Augusto,
pediu do altar a todos uma oração. Então foi feita conjuntamente uma sentida
prece, para que nascesse em boa hora. Facto passado a 10 de Dezembro de 1916,
na mesma igreja onde depois foi baptizado, participou nos actos da comunidade
paroquial até ao seu falecimento, ocorrido a 10 de Março de 2006; em cujo
templo por fim, no seguinte dia 11, foi encomendado a Deus. Agora, de peito
contrito, aqui e onde nos lembramos dele, como nosso herói e figura pública que
mais nos marcou, estamos gratos, agradecendo a boa hora em que veio ao mundo
para criar as raízes que deixa em nós.
= Joaquim Pinto – fisionomia aos 89 anos, quase no fim da
sua marcante caminhada terrena – na foto, junto com o filho autor destas
linhas. =
Aos domingos, dizia ele, para ser domingo de verdade tinha
sempre de ir à missa de Rande, pela manhã; e de tarde havia de dar um passeio
pela freguesia, sempre, para ver os seus sítios queridos, o lugar de Janarde
onde nasceu, a casa de Valdomar onde passou sua infância, mais todos os lugares
que conhecia como as próprias mãos. Quanto gostava de ver quando aparecia a
seus olhos qualquer melhoria na freguesia. Assim como tinha algum desgosto pelo
desaparecimento de uma fonte que fizera parte do ambiente de sua juventude, a
Fonte da Vinhó, antes existente junto a um campo da Quinta, entre Casal Corne e
Janarde. A freguesia de Rande fazia parte dos seus pensamentos e anseios. Como
sonhava com o alargamento do Largo da Longra, de modo a que o centro da vila
que ainda conheceu pudesse ter uma praça central. Conversava muito com os
filhos e até os netos sobre esses e outros motivos de seu interesse, sabendo
transmitir aos vindouros autêntico apego pelo torrão natal. A terra em que ele
era uma referência, quer como construtor da sirene da antiga Metalúrgica,
empresa onde durante muitos anos foi o operário mais antigo; tal como mais
tarde artífice bobinador e, depois, por todos se terem habituado a vê-lo
constantemente, em presença habitual na sua veneranda fisionomia, tão
respeitado na consideração geral, tornando-se personagem grado e admirado.
No silêncio contido do nosso coração, continuamos a
conversar e, sempre que haja qualquer obra ou beneficiação na sua e nossa
terra, os nossos sentidos serão os seus olhos, presente como estará sempre
connosco, bem no íntimo de todos quantos o amamos.
Remexendo no fundo da mensagem, que desejamos voe até ao
Infinito, tomando as asas do poeta, permita-se uma adaptação para dizer-lhe, na
ligação terrena fortalecida espiritualmente:
Se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a dor que nos ficou
Da mágoa sem remédio de perder-te,
Roga a Deus que de nós te afastou
Que na Sua Glória nos faça ver-te
Quão ditosa a doutrina nos legou.
*
Em homenagem de reconhecimento, foi Joaquim Pinto, da
Longra, merecedor de um Voto de Pesar pela Assembleia Municipal de Felgueiras,
na primeira sessão ordinária realizada por aquele órgão autárquico após o seu
falecimento. Deliberação essa havida na respectiva sessão ordinária realizada a
20 de Abril de 2006, por voto apresentado pelo Grupo Parlamentar do PSD e
aprovado por unanimidade dos 63 membros presentes no hemiciclo municipal, de
todos os grupos partidário-parlamentares Felgueirenses.
Igual reconhecimento houve de seguida na autarquia de Rande,
através de voto que teve apresentação pela Junta de Freguesia de Rande e aprovação de
todos os presentes em reunião magna da Assembleia local, tendo assim também a Assembleia de
Freguesia de Rande tido esse sinal de apreço em sessão do seguinte dia 27 do
mesmo mês.
Ora, fazendo memória, escreve o autor em nome coletivo: Também nós continuamos a procurar honrar essa memória. E, assim, cá estamos nós todos, desde os mais velhos até ao Gonçalo e ao Tiago. Com o
que nos une bem presente!
Armando Pinto