Neste ano de 2015, conforme ficou referenciado aqui ontem,
no “post” publicado neste blogue, em pleno domingo de início de mais um verão
outonal da quadra tradicional de São Martinho, tendo havido um aniversário
especial, houve uma correspondente “Prenda”
– um livro, de iniciativa pessoal, oferecido pelo autor destas linhas, com uma
dedicatória especial.
Porque este livro, de 50 páginas (incluindo sequência de
fotos constantes na paginação), teve simplesmente uma edição reduzida, de
distribuição restrita como “Presente de Aniversário” oferecido ao segundo meu
neto (além de ficar destinado para ser ainda ofertado a familiares próximos,
oportunamente), partilhamos do mesmo a mensagem respetiva, através do próprio
texto. Só o texto, naturalmente, por motivos óbvios - como edição particular
que é.
Ora, em forma narrativa de estilo romântico-realista, eis
esse personalizado texto:
Armando
Pinto
História
de Coração
2015
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Armando
Pinto
História
de Coração
= Livro dedicado ao Tiago
Sampaio Silva Pinto, meu segundo neto e menino que vejo crescer. Numa mistura
de crónica e história, com algo de conto sobre ele e a pensar nele, o meu neto
Tiago.
2015
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Edição do autor, em tiragem
restrita de 15 exemplares, numerados manualmente e autenticados com rubrica
autógrafa do autor.
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Ao Tiago!
Quando por estes dias, ainda com
raios de sol de princípios de Outono a dar na relva do jardim de nossa casa,
jogo com o Gonçalo e o Tiago à bola, em tão bons momentos de me rever nos dois
meus netos… e, então, enquanto o Gonçalo
já dá uns toques, estando nos seus cinco anos feitos, o Tiago chuta a bola
quando apanha melhor jeito, ao chegar à conta de seus dois anos, salta-me pois no
pensamento outro jogo…
Digo assim ao Tiago, escrevendo,
para mais tarde ele ler (porque ainda é pequenino) para jogarmos outro jogo.
Não à “bó” como agora, nem com ele a agarrar essa mesma bola e fugir a rir,
como agora também; mas comigo a escrever-lhe, contando uma história de memória,
sobre o que somos enquanto pessoas de nossa terra, família e amigos,
valorizando o que é ser português Felgueirense, com sentido no que
representamos nós… enquanto meto pelo meio algumas recordações destes dois anos
intensamente preenchidos a vê-lo e tê-lo, ao Tiago. Dizendo-lhe, como e para
sempre: Gosto muito de ti!
~~ * ~~
Diz a ciência do Universo que o
mundo, a Terra, não apenas a que calcamos, mas o nosso planeta em que vivemos,
surgiu do chamado Big Bang, ou lá o que é ou foi, qual explosão, esse tal
minuto zero há milhões de anos. Isso para explicar o surgimento do Universo,
como nos apercebemos, diante do mistério da vida que a inteligência humana não
abarca. Contudo, como resultou de energia, vemos que há gravidade terrena,
também no sentido que algo nos atrai a este mundo.
Na grandeza física e afetiva do
tempo, realmente algo nos arrasta e encanta, havendo princípio e fim, no alfa e
ómega de nossa existência. Tal o que nos liga ao futuro, através das gerações
vindouras, por meio de nossos descendentes. Ganhando alento em se saber que
teremos continuação na terra, quão épico é vermos nossos rebentos a frutificar
e expandir nosso sangue, em nossa mesma terra. Até sentirmos nossos netos.
É assim que, agora, meus braços
abarcam o mundo, abraçando os dois netos, o Gonçalo e o Tiago, um em cada braço
e ambos apertados a meu peito. A partir que chegou o Tiago, a juntar-se ao
primo, e a fazer crescer a esperança de vida conjunta – os meus netos, meninos
do avô, de mim.
Ora, há sempre um princípio, como
também no caso de que resultou esta história. Havia um rapaz e uma rapariga
que, aqui há muitos anos já, gostavam muito um do outro e por isso se casaram,
resolvendo fazer uma família deles. Desse casamento nasceram duas crianças, um
menino e uma menina, que cresceram e depois, da parte deles, também formaram
família e tiveram filhos… (Assim contei uma vez ao Gonçalo para o adormecer, e
tive de repetir por ele querer ouvir mais, dizendo-lhe, por fim:) e então
nasceu um menino, muito bonito, o Gonçalo, de quem gosto muito… (e agora
acrescento) Depois veio um outro menino, bonito também, de quem gosto muito
igualmente… que é o Tiago! (E ao Tiago não contei isto ao adormecer,
entretanto, pois ele para dormir, se estiver para aí virado, só precisa do seu
ó-ó e sentir a presença dos avós).
Ora, assim foi!
Sim… Era uma vez e é… chegada que
foi a vinda do Tiago ao mundo e ao mundo dos que o esperavam já com amor. E eis
que chegou a mim, ao meu ser, também. Desde logo ficando a fazer parte do meu
mundo, igualmente. E, na afeição que sinto pelas crianças que são de meu
sangue, desde sempre, houve atração mútua. A partir da primeira sensação de o
pegar ao colo e o sentir sorrir levemente, num consolo de cumplicidade por
estarmos no mundo um do outro.
Na verdade desde os primeiros
momentos de vida que houve um clique mútuo, comum. Quanto os meus meninos me
prenderam, quão ficamos logo ligados, desde que os vi e eles tiveram primeiras
manifestações. Como que sabendo haver ligação umbilical ao correr do sangue nas
veias que chegam ao coração e fazem pulsar nossas vidas. As crianças, na sua
pureza, sabem por intuição natural do que gostam e não fazem por menos, é ou
sim ou sopas... E entendem o que lhes é mais querido. Sabendo perceber algo que
tem interesse e valor, em sinceridade pura. Talvez como Jesus disse que
deixassem ir até si as criancinhas, ou como terá Deus revelado aos pequeninos
os mistérios ocultados aos sábios e entendidos?!
Eis então que chegou o Tiago.
Nascido no hospital de Penafiel, numa noite em que seu pai, o meu Nuno, foi o
primeiro da família a vê-lo. Depois de algumas horas de espera, até sair do
regaço da Lígia, sua mãe. De carinha serena e feição simpática num lindo rosto.
Nasceu em Penafiel, por ter de
ser, porque com as políticas de décadas de anos, nos dias que correm, só
ocorrem agora partos assistidos em hospitais centrais e assim não há
maternidade hospitalar em Felgueiras. Mas o Tiago logo que sua mãe teve alta
hospitalar veio para o concelho de Felgueiras, para a sua casa, na Longra.
Porque é nosso, sendo também os avós de ambos os lados residentes por estas
bandas de Felgueiras.
Nascido ao chegar um fim de
semana de Novembro pleno de afeição, já com uma hora decorrida do oitavo dia do
mês, o Tiago apareceu aos nossos olhos nessa sexta-feira quando peguei nele ao
colo, na hora da visita a que fomos os seus quatro avós. Passadas horas de seu
nascimento, ocorrido na madrugada desse dia, após espera desde a passagem de quinta
para sexta. E logo no sábado tirei uma foto com os meus dois netos juntos
comigo, tendo o Gonçalo vindo de Lisboa com os pais para ver o primo, ainda no
quarto do hospital. Para na tarde seguinte de domingo o Tiago ter tido receção
em casa, numa festiva convivência familiar.
Podemos depois sentir a boa
presença do Tiago na quadra natalícia, indo até vê-lo a casa quando foi feita a
decoração da sua primeira árvore de Natal; ao passo que ele assistiu com o
Gonçalo ao fazer do presépio de casa do avô Armando, embora naturalmente ainda
quase só a olhar por entre o tomar de sabor da chupeta; mas de imediato fazendo
ele parte já das poses familiares junto ao mesmo presépio familiar. Como,
volvido pouco tempo, andou devidamente figurado pelo Entrudo, vestido com traje
de Carnaval junto com os pais, mais o primo e tios, na seguinte época
carnavalesca. Até que passou a estar em casa dos avós durante as horas de
trabalho dos pais, ficando em dias repartidos quer connosco na Longra, como com
os avós residentes na cidade de Felgueiras, por ser querido por todos, por
igual.
Começou o Tiago a ser a
coqueluche, por assim dizer, da Pastelaria onde a avó Linda ia (e vai) após o
receber. E num ápice houve ali afeição comum. O Tiago, que ainda era um menino
sossegado e de rir só para quem conhecia (mesmo cauteloso a tocar em qualquer
coisa, como fazia primeiro a pôr só um dedo no que ia vendo, para se assegurar
do que seria…), depressa se pôs mexido e só estava bem a ir ao colo das amigas
da avó, sendo centro das atenções de toda a gente. Mesmo, ganhando confiança,
se lançava sobretudo para a Olga e seus filhos, do café, e para a Inês, fotógrafa
amiga, com a qual ganhou atração especial. Começando, enfim, a ficar bem
sociável e a ser um menino de muita gente simpática consigo.
Fui entretanto notando algumas
das suas características e ele habituando-se aos meus beijos e abraços. Deve
ter alguma coisa a ver ele também ter as minhas linhas ao sorrir, tal como
idêntica maneira de apreciar as coisas. Fazendo apetecer só estarmos bem a beijá-lo,
querendo sempre apertá-lo bem a mim.
Ainda eu trabalhava
profissionalmente (nesse tempo em Lousada, onde até tinha bom horário mas só
saía do emprego pelas cinco e tal da tarde) e, como tal, nos primeiros tempos
tinha o Tiago mais no pensamento, também, durante o dia, pois só ao fim da
tarde o podia ver, quando ainda chegava a casa a tempo, antes da Lígia o ir
buscar. Até que me reformei e, ficando assim em casa todos os dias, passei a
vê-lo crescer, efetivamente. E começamos a ser companheiros, sentindo ele ter
colo comigo em todos os sentidos.
Parafraseando William Shakespeare,
o coração sabe o que quer.
Assim sendo, havia presença
física e sentimental. Ao vivo tudo sabe bem melhor. E é bom viver assim!
Na convivência tida, num repente,
ainda bebezinho, era já o Tiago figura da terra. Como poderia não ser esta
nossa terra também a sua, como já era e é?!
Desse modo, como prenda, para
mais tarde recordar (e obviamente seja para ele ler quando entender isto),
conto-lhe, desde já, como era esta nossa terra, à vista cronista em tempo de
seu nascimento, com algumas extensões de ajuste à situação de tempo e memória.
~~~ - ~~~
Na eventualidade do Tiago poder
vir a gostar de história, dentro da disciplina de história pátria e universal,
mas sobretudo no campo da história local, e como enquadramento do sítio que é
nosso chão pátrio, recuemos a tempos imemoriais para se ver como esta região tem
história desde longas eras. (Tendo contudo de recorrer a termos técnicos, por
necessidade descritiva, crendo que o Tiago um dia não desgostará disso,
também.) Cujo arrazoado será um dia mais para o Tiago, como agora no seu
entendimento ele pressente haver qualquer coisa de especial nas estantes de
livros do escritório caseiro do avô paterno, que ele fica a olhar sempre que
entra ali em tal compartimento.
Como ele gosta de ir ao
escritório do avô e fica a admirar aquilo tudo, olhando para as paredes. Mal
soube dizer as primeiras palavras já sabia indicar que ali, no que à volta via,
aquilo queria dizer “Porto”, como balbuciava a seu jeito, inicialmente “Pô” e
depois “Pôto”… Ele bem deve saber que ali à volta há outras coisas, mas sabe
que dizendo assim resume tudo o mais importante. Contando que gosta de mexer no
que chega seu tamanho e sempre que pode trata de procurar sentir com os dedos o
que suas mãos querem ver também.
Chegou-se a pôr no pequeno
escritório uma cama para ele dormir as sestas, nos dias que passa em nossa casa
(dos avós da Longra) e assim nós o termos perto e nos apercebermos melhor se
ele acordar, por ser no andar mais usado da casa. Mas, qual quê, o Tiago prefere
adormecer na cama maior do quarto dos avós e, sempre que possível, com os dois
à beira. No escritório gosta mas é de tentar mexer no computador ou livros do
avô; e se conseguir pegar em objetos da secretária, mais à mão, então é um
regalo… A pontos que quando desaparece momentaneamente, e nós nos apressamos a procurar
apanhá-lo, o primeiro sítio onde o procuro é no meu escritório. E ele, para
disfarçar (sabendo que eu me desfaço logo…), como que a dizer que só está a
ver… (quando me vê aparecer) se apressa a levantar os braços e grita: «Pôto»!
Lá virá o tempo em que também se
aperceberá como o avô gosta da terra que é a nossa. Tendo natural afeto
relacionado através de livros e objetos correspondentes a essa afinidade.
Por isso, segue aqui a colocação
duma crónica que lego, sobre história da terra em que também vive o Tiago.
= X =
Foto 18
Panorâmica morfológica e humana do concelho de Felgueiras:
= Visão ligeiramente
historiadora, em contexto de leves evocações, como que dando uma vista de
olhos, apesar de sucinta, pela ambiência concelhia. =
Felgueiras insere-se na área de
afinidades de Entre Douro e Minho, embora administrativamente esteja incluída
na Província do Douro Litoral e Distrito do Porto, na sua zona Nordeste, e em
plena região do Vale do Sousa, na respetiva parte superior, com ligações à
região do Tâmega, conforme (a partir da legislação de fusão regional publicada
em 2008 e instalada em 2009, dos novos regimes de quadros legais das associações
de municípios), atualmente inclui espaço intermunicipal com denominação de
comunidade do Tâmega e Sousa.
Localização esta que se remete
numa transição entre o Litoral e o Interior, no limite das áreas distritais de
Porto e Braga, qual limiar fronteiriço de Douro e Minho, porém com maior
dependência à área metropolitana do Grande Porto. Com raízes e tradições de
certa maneira comuns a toda a ampla região do Noroeste de Portugal, bem como em
determinadas particularidades à fraternal Galiza, onde demandavam os percursos
do Caminho Português de Santiago que por estas bandas deixaram influências da
antiga passagem, de que restaram algumas dedicações de paróquias cujo Santo
Padroeiro é S. Tiago Maior.
Como “cidade sede de concelho do
distrito”, Felgueiras tem seu nome na toponímia da cidade do Porto, constando
honrosamente entre as denominações toponímicas do burgo portucalense nas
chamadas Rua de Felgueiras e Travessa de Felgueiras, dentro da capital do
Distrito. Honra que data desde 1959, ano em que teve lugar a respetiva
deliberação, ao tempo a distinguir «o concelho com o mesmo nome, do Distrito do
Porto», situando-se as artérias em apreço na portuense freguesia de Ramalde, no
BCE (Bairro de Casas Económicas) da Boavista-Vilarinha, sendo arruamentos do interior
desse também conhecido por Bairro da Vilarinha, junto à avenida da Boavista.
Quanto à denominação da região
genuína do concelho, o nome local da zona, Felgueiras, é derivado do latino
“filicarias”, o qual significava terras onde há (havia) fetos, nome esse mais
tarde circunscrito à povoação central, de que resultou a vila e posterior
cidade, que ficou como sede concelhia, passando posteriormente a ser
generalizado ao concelho. Sendo esse termo associado, conforme antigas
referências documentais, a Felgarias Rubeas, relativo de terrenos cobertos de
fetos que, quando secos, toma(va)m cor avermelhada, rúbea, rubra acastanhada,
transformando primitivamente a zona em felga. Evoluindo, no tempo, posterior
conhecimento por Felgerias, Felgueyras, até Felgueiras.
Entretanto, passou Felgueiras por
diversas fases de constituição de seu território, consoante as alterações
administrativas, sabendo-se dos factos históricos noticiosos da existência de
antigos Julgados e Concelhos em parcelas depois incluídas na totalidade
posterior, passando pela antiga constituição de um próprio concelho do mesmo
nome mas de menor tamanho, como ainda inclusão noutro concelho, de permeio, até
à fixação em 33 freguesias englobadas com a reforma administrativa acontecida
no período liberal. Ora, só em pleno séc. XIX, com a inclusão de freguesias
provindas de concelhos extintos, em 1852, como transferências doutros, em 1853,
e por fim com a criação da Comarca de Felgueiras, em 1855, o concelho teve
limites fixados.
Na atualidade, Felgueiras é um
dos 18 municípios do Distrito do Porto, que até 2013 era composto por 32
freguesias (depois que perdeu uma, quase no final do século XX, em 1998, para a
criação do novo concelho de Vizela) e no princípio do século XXI com uma
população total à volta de cinquenta e oito mil habitantes (mais precisamente
58. 084 habitantes. segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE),
pelos Censos de 2011 (notando-se um ligeiro decréscimo nos últimos dez anos,
visto o número populacional ter sido de 58. 553 no Censos de 2001), enquanto
abarca área de cerca de 116 quilómetros quadrados, num número mais preciso de
115, 7 Km2, pelos números de 2010 do Instituto Geográfico Português (IGP).
Posteriormente, por decisão do
governo central do país, “a régua e esquadro” desde Lisboa, sem que os
representantes do concelho de Felgueiras (quer o presidente do Município e
restantes autarcas locais da Câmara e Assembleia Municipal, quer os das Juntas
e Assembleia de Freguesia, desse mandato, gente de diversos partidos e
coligações), se manifestassem oficialmente, houve alteração com a junção de
diversas freguesias, no chamado reordenamento territorial da reorganização
administrativa que criou a chamada União de Freguesias (atualmente ainda com
algumas indefinições na legislação institucional), derivando daí que nesta
nossa região foi instituída, a partir de 2013, uma apelidada união das
freguesias de Pedreira, Rande e Sernande.
Atualmente, a partir de 2013, por
ora Felgueiras tem 20 unidades administrativas, entre 8 uniões de freguesias e
12 freguesias separadas (freguesias sem alterações).
Segundo dados no início dos anos
2000, a referida população distribuía-se por escalões etários de modo
significativo, demonstrando existir elevado índice de população ativa, cuja ocupação
maioritária se divide entre a indústria e a agricultura, além de outros setores
em menor escala, com relativa importância de população flutuante derivada à
implantação industrial.
O concelho de Felgueiras é
limitado a Norte por terras dos concelhos de Fafe e Guimarães, a Sul por
terrenos de Lousada e Amarante, a poente por zona de Vizela e a Nascente por
parte do concelho de Celorico de Basto. Tem sede concelhia na cidade de
Felgueiras, cuja área se alonga pela freguesia de Margaride mas abrange também
parcelas das de Várzea, Moure, Sendim, Lagares, Pombeiro e Varziela. Isto como
cidade, pois com a união de freguesias, atualmente, a área é ainda maior.
O concelho é constituído por
quatro centros urbanos: Além da cidade-sede do concelho, Felgueiras possui
outra cidade, a Lixa (que incluía partes de Borba de Godim, Vila Cova da Lixa e
Macieira da Lixa, pois com a mudança de 2013 Macieira ficou unida com Caramos);
mais duas vilas, a de Barrosas (em parte de Idães, de Felgueiras; e englobando
uma parcela de Santo Estêvão de Barrosas, do concelho de Lousada); mais a da
Longra (que, além da antiga área mais urbana de Rande, onde se situava a
inicial povoação da Longra, como vila incluiu também mais partes das antigas
freguesias de Rande, Sernande, Pedreira e Varziela – situação que entretanto
ficou indefinida, ou seja deixando a parte de Varziela de ser considerada na
área da vila da Longra, sendo agora Varziela unida com Margaride e outras, da
União de Freguesias de Margaride, Lagares, Moure, Várzea e Varziela); enquanto
crescem áreas urbanas de complemento a zonas rurais por boa parte do restante
território.
A área do concelho, em vias de
comunicações, é atravessada pela autoestrada A11 e pelas principais Estradas
Nacionais números 101 (Guimarães-Felgueiras-Amarante), 101-3
(Felgueiras-Lagares-Vizela), 101-4 (Lixa-Pinheiro), 207 (Agrela/Paços de
Ferreira-Lousada-Longra-Felgueiras-Fafe-Póvoa de Lanhoso), 207-2
(Longra-Caíde), Variante à 207 (Longra-Várzea- EN101) e Variante à 101
(exterior à cidade de Felgueiras, até à 101), além de outras de classificação
regional e local.
Não será terra de promissão, mas
o concelho de Felgueiras é algo especial na capacidade do seu povo e nas
potencialidades desenvolvidas. Apesar de em princípios do século XXI, ainda se
notar número significativo de iliteracia em parte de sua população, não tanto
já num analfabetismo que existiu até anos atrás, mas sensivelmente no espírito
de falta de evolução instrutiva, entre factos evidentes em compreensão de
análise textual e entendimento auditivo, por exemplo. Contudo supera as
insuficiências na sua veia empreendedora, sendo o concelho de Felgueiras
saliente pela produção de sensivelmente cinquenta por cento da exportação
nacional de calçado, pela produção de um terço dos melhores vinhos verdes da
própria região demarcada, pelos atraentes bordados saídos de dotadas mãos, pelo
património existente, pelas suas tradições populares e religiosas, como pelo
raro encanto de seus recantos paisagísticos.
= X =
Pois sim, isto por ora não diz
nada ao Tiago. Pode não parecer, mas não faria falta se não fosse para memória
futura. Porque para já seria melhor estar quieto. Coisa que o Tiago não deixa,
como gosta de andar agarrado à minha mão, porque sabe que o levo onde ele quer
ir. Então se for a garagem…
Ah, a garagem!
(Deve haver qualquer coisa
especial nas garagens, pois já o Gonçalo gostava que eu o levasse à garagem.
Conquanto que o Gonçalo era mais a ver a porta a abrir, ficando atento às portadas
de garagem a abrir; o que acontecia especialmente na do prédio dos avós da
Longra, onde eu lhe fazia as vontades… enquanto por sua vez o Tiago, além disso
também, gosta de ficar a pôr as mãos em tudo o que pode…)
Ainda se entendia pouco da sua
linguagem, ao Tiago, e já eu o percebia. A “aague”, “a gá”… a “gáae”… Aí era e
é onde tinha e tem muito que agarrar e brincar. E como me indica o sítio do
comando da porta da garagem! E gosta de pressionar o botão para a porta subir,
vendo a porta da garagem a abrir… e então depois me manda guardar o comando no
meu bolso (indicando, como faz desde pequenino), por já não precisar dele.
Então quando o carro do avô está lá, é que é… Lá dentro, sentando-se no banco
ao lado do avô, tem de mexer em tudo, como gosta de ouvir o rádio ligado e
descobrir aquilo tudo por ali…
Foi assim, ali, que, estando um
dia ele a brincar à minha beira dentro do carro, parado na garagem aberta, e
abstraindo-me eu a olhar para o ambiente de fora e dentro, enquanto ele dava
largas à sua curiosidade, me distraí assobiando baixinho… até que me deparei
com ele (tendo pouco mais de ano e meio), a olhar para mim e a assobiar… como
eu, imitando-me.
Ora, deixando fazer-se ouvir um
silvo do tempo, como que o deixando vasculhar por entre coisas guardadas,
retomo a deixa da crónica de fundo histórico:
Antecedentes e Percurso Histórico:
Esta área geográfica sentiu
através dos tempos as transformações do noroeste minhoto-duriense e viveu
também os momentos comuns à grei nacional. Como passamos a descrever, em leves
traços retrospetivos.
Para se não recuar em demasia no
tempo, mas avançando cronologicamente nesta resenha histórica uma visão ampla
de longa existência, pode adiantar-se que após os diversos estádios de
povoamento com estadas de diferenciados povos, de que perdurou com maior ênfase
sobretudo a génese lusitana e as marcas da romanização, foram porém os Godos
que influência mais marcante tiveram na consolidação da identidade profunda,
como se comprova pelas réstias toponímicas deixadas, em toponímia geográfica,
nos nomes das terras, através das raízes genealógicas dos antepassados destes
sítios.
São paradigma no caso os
topónimos de origem germânica derivados dos primeiros colonos definitivos,
fidalgos godos romanizados, que legaram seus nomes às quintas originárias dos
primitivos povoados, as “villas” rústicas florescentes da exploração do
território, de cujas denominações na evolução através do tempo resultaram nomes
de lugares e sucessoras freguesias. Entre o que se nota desse rasto, em
variedade de referências provindas de antigas villas romano-godas, que deram
origem a nomes próprios de atuais freguesias, como Aião, Airães, Friande,
Godim, Idães, Margaride, Moure, Rande, Regilde, Revinhade, Santão, Sendim,
Sernande, Unhão... Havendo ainda notícias de nomes de primitivas paróquias, de
tempos de suevos e visigodos.
Naturalmente que outros nomes
tiveram diferentes origens, em diversas peripécias semânticas. Por exemplo, os
topónimos (nomes de lugares e / ou freguesias) derivados de pedra são muito
frequentes na Galiza e em Portugal. Conforme estudos vários sobre a toponímia
galaico-portuguesa, os mais antigos topónimos reportados a pedra, às pedras ou
ao carácter pedregoso de um sítio, tal como em Pedreira, foram anteriores ao
latim. Ainda pré-latino é o nome de Várzea, provindo do topónimo pré-romano Varcena,
com significado a apontar para campina cultivada, em vista do solo fértil que
aí campeava. Posteriormente, de afinidade linguisticamente ao latim, houve
outros casos pós-latinos (românicos ou medievais, ou já galaico-portugueses e
mesmo portugueses), como se nota no nome do lugar de Pedra Maria, que «é um
vestígio evidente de um ancestral culto das pedras», alusivo à fé derivada de
falado aparecimento de uma imagem num penedo. E em diversas freguesias, nomes
de lugares, ainda, indicam uma toponímia antiga a fazer eco de uma atividade,
como Vinha, por exemplo. Já Vinhó, diminutivo de Vinha, tem sempre termo de
comparação relativamente perto, como acontecia no nome da Fonte da Vinhó que,
em tempos passados, existiu em Rande junto a um campo de vinha da Casa da
Quinta. E, a calhar a talhe, por se referir o nome Quinta, esse é um nome
exemplar de quanto o antigo mundo rural teve peso na toponímia nortenha do país
e particularmente nesta região felgueirense, em apreço. Como uma substancial
parte dos topónimos se refere a um estilo de vida centrado em atividade
agrícola, relacionada a propriedade maioral do sítio respetivo, a antiga
quintana, posterior quintaa e depois também Quintã, relacionam importante
Quinta, na evolução semântica de lugar assim denominado, na fragmentação em
sub-unidades das pioneiras villas.
Desses antigos povoamentos dão
conta alguns restos encontrados em escavações arqueológicas, sobretudo de
antigos povoados de que existem testemunhos por vestígios encontrados, entre
outros casos, no monte do Senhor dos Perdidos, em Penacova; no monte de
Aparecida, em Pinheiro; no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande, Rande e
Varziela, de antigo habitat (cujas réstias estão soterradas, depois de escavações
operadas aquando do rasgamento dos acessos à autoestrada A11 e num arruamento
do alto da Longra); bem como em Sendim, no monte do Crasto e nas ruínas de
antiga villa romana.
Apressando o passo, neste
processo noticioso de comunicação resumida do passado identificativo da região,
chegara entretanto evolução populacional, em tempo de fixações de propriedades
(das petras fixilis e terminus fixus, marcos divisórios do código visigótico,
dentro de contexto de delimitação), nas áreas coutadas de privilégios
senhoriais e consequentes foreiros dependentes, visando promoção de povoamento
e difusão de amanho das terras, por via do desbravamento de montes e vales.
Chegando ao desmembramento dos primitivos domínios de explorações e a
intensificação do povoamento em herdades parceladas com os então casais derivados
das antigas villas, nos entretantos das instituições dos fundamentos regionais.
Antecedência de um meio rural, em torno de antiga realidade feudal em
transformação evolutiva, de permeio aglutinada em lugarejos, até que no século
XII começaram a ser instituídas as paróquias, interligadas às freguesias
rurais, desenvolvendo-se diversos ciclos do percurso dos povos locais. História
afim a toda a faixa banhada pelos fios de água do Sousa incipiente, rio
provindo de veredas dos lados de S. Vicente de Sousa, cuja memória coletiva
mesmo que distante no tempo e podendo parecer prosaicamente obscura, sem
surrealismo será de apreciar como poema, pois a poesia, ainda que por vezes
possa ter pouca clarividência, terá sempre beleza e encantamento na sua
verdade, como a cronologia, quando pura e com vigor.
= X =
Anos antes disto, desta descrição
e de ter o Tiago, também manifestei ao Gonçalo o meu amor avoengo, num livrinho
que lhe quis dedicar. Ao Gonçalo disse e digo, escrevendo sobre a Pátria e
história pelo país além, para quando ele entender e um dia recordar, quanto este
avô gosta dele, tanto ou mais como daqui até Lisboa e de Lisboa até aqui. Agora
que há também o Tiago, escrevo ao Tiago sobre Felgueiras, onde vivemos, mas
querendo dizer que gosto muito dele, tanto ou mais para lá do Porto, capital do
nosso distrito, gostando de estar com ele na Longra.
Obviamente, tenho de repetir, ele
ainda não entende mas virá depois a perceber. Ainda que já saiba olhar ao que o
rodeia, dando atenção a programas de desenhos animados que lhe despertem
atenção diante da televisão, parando qualquer brincadeira sempre que ouve
músicas mais chamativas ou anúncios (reclames) que lhe prendam os olhos.
Contudo o que o prende mais é a
brincadeira com quem gosta, como com o Leandro e a Lara, na Pastelaria. E com o
Miguel. Amigos que o fazem sentir-se bem e gostam de o ver evoluir. Enquanto
ele, sempre que pode, vai dentro do balcão da pastelaria chamar pela “Óga”, de
permeio com andar por entre os clientes mais usuais dali, tudo gente sua amiga
e seus admiradores.
Passou assim o Tiago a ser mais
um ente querido das pessoas que vão à pastelaria tomar o pequeno almoço e dar
duas de conversa, pela manhã. Tornado em figura familiar, nos dias em que fica
com os avós da Longra e a avó o leva consigo. Sempre obediente à avó, então, em
sinal de já entender o que lhe dizem. Mesmo à sua maneira, como quando a avó
Linda, indo à farmácia e ali lhe disse para ele não mexer nuns apetrechos que lá
estavam, falando que aquilo era só para ver com os olhos… ele, não resistindo,
obedeceu, mas, zás, encostou a cabeça naquilo… para ver bem com os olhos!
Enquanto isso, do que ele não
passa é de se lembrar do primo, do Gonçalo. O Guga é referido em tudo, quanto
vê o faz lembrar do primo, que só vê de tempos a tempos, quando o Gonçalo vem à
Longra. Brincando pelo corredor do prédio da pastelaria, ao olhar para a montra
da loja da Inês, vendo as fotos em exposição, logo descobre algumas do Gonçalo,
umas vezes, ou parece vê-lo noutras. Chega a casa dos avós e olha para os
quadros das paredes e logo aponta onde estão fotografias do Gonçalo. Mas em outras
quaisquer situações e sítios onde o Gonçalo brinca com ele, lhe faz vir à boca
o nome. Tudo é Guga. E com o Gonçalo presente, gosta bem de andar com ele!
Começando a entender-se melhor ao
chegar aos dois anos, no seu falar, porém já antes ia-se fazendo perceber bem,
na fala reduzida própria da idade. Indo a correr chegar a mangueira ao “pô”,
como dizia em pleno verão (deste ano de 2015), para o Afonso, da “Iinda” (Mindinha)
regar o seu quintal, da água de casa dos avós. Curiosamente de forma igual como
o Nuno dizia o mesmo nome, muitos anos atrás, quando eramos vizinhos de porta e
o Nuno brincava com o Manel e a Emília (tendo ficado famoso, entre amigos e
conhecidos… O seu dizer – «o “pô: tatau mané, tatau mila e calou...!»)
= X =
Posto isto, voltando para o Tiago
e deixando fora da narração factos mais pormenorizados, acerta-se a crónica (da
história a contar, para memória histórica):
… Ainda antes da nacionalidade,
toda a região esteve incluída nos vastos domínios da Condessa Mumadona,
inventariados por escritura testamentária no ano 1059. Ganhando contornos
administrativos no período senhorial dos Sousãos, cujo solar principal estava
implantado em terra que por esse motivo manteve a denominação originária na sua
toponímia, entre S. Veríssimo e S. Vicente de Sousa. Sendo a família Sousa
donatária do vasto território banhado pelo rio Sousa, curso fluvial com
nascente precisamente em Sousa, havendo assim recebido o nome original como
tal. Nesse período feudal a zona estava administrativamente dividida, havendo
terras ligadas à Honra do Unhão e mais tarde ao seu Julgado, outras ao Julgado
de Felgueiras, posteriormente transformados em concelhos, como também algumas
estiveram adstritas ao Couto de Pombeiro e houve ainda antigo Couto do convento
e depois Priorado de Caramos, além de outros Coutos circunscritos a antigos
lugares, que deram origens a freguesias.
Em 1836 foram, contudo, os
seculares concelhos de Felgueiras e Unhão dissolvidos, e com a sua extinção
mudaram suas freguesias, junto com outras de mais concelhos extintos, passando
toda a área a ser englobada pelo então novel concelho de Barrosas. Esta
transformação foi, porém, pouco duradoura pois, volvidos escassos meses,
depressa se separaram algumas freguesias, para reunificação em restaurados
concelhos de Felgueiras e Lousada, permanecendo no município de Barrosas até ao
seu final, na curta existência de quinze anos, escasso número de freguesias.
Passando estas a integrar de vez o concelho de Felgueiras em 1853 (como antes
se aflorou), enquanto outras que ainda andaram dispersas algum tempo mais por
diferentes administrações foram, depois, unidas a Felgueiras em 1855, com a
criação da sua Comarca, quando o concelho de Felgueiras atingiu o máximo de 33
freguesias.
Da união que faz a força, ficando
então o concelho íntegro, resultaram diversas manifestações comunitárias
reveladoras dos novos laços de unidade, como por exemplo foi instalada a
Irmandade da Misericórdia de Felgueiras, tal como houve reestruturação da
Irmandade do Imaculado Coração de Maria, com passagem da sua sede para o “Monte
das Maravilhas” onde ficou instalada como Confraria do SS Coração de Maria e
Santa Quitéria, para cuja solenidade de inauguração da então nova estrada (das
capelas, agora tida por antiga, de acesso a pé) foram as representações de
todas as paróquias com andores dos respetivos Oragos, mais estandartes e cruzes
paroquiais. Bem como, anos mais tarde, em 1898, nasceu a Associação Humanitária
dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras.
Tendo o concelho ficado completo
em 1855, até aí o dia municipal (na sequência das reformas do período liberal e
fases seguintes de reorganização administrativa) ocorria a 14 de Outubro, data
da outorga em 1514 do Foral de D. Manuel I a Felgueiras. Como no entanto, a
partir de determinada altura, as populações não se reviam totalmente nesta
efeméride, pela dispersão antiga das divisões administrativas, lembrando-se que
também o antigo concelho do Unhão teve Foral e igualmente o Alfoz do Couto de
Pombeiro tivera Carta Régia, além de ter havido uma circunscrição de Caramos,
como ainda o efémero concelho de Barrosas, foi mais tarde decidido
(aproveitando lei da República, a partir de 1911) que, para todo o concelho de
Felgueiras, passasse a ser o dia de S. Pedro, a 29 de Junho, por ser o dia da
festa mais antiga tradicionalmente ocorrida na região, desde eras remotas
realizada numa ermida que existiu no alto depois passado a ser conhecido por
Monte de Santa Quitéria. Para o efeito foi, com efeito, aproveitada lei de
1911, com a entrada da República, estabelecendo que todos os concelhos deveriam
ter um feriado municipal, pois, efetivamente, não havia unificação por todos os
concelhos (tal como em Felgueiras acontecia ainda com Barrosas, onde era
guardado feriado na segunda-feira das festas do Espírito Santo; e em Várzea com
a festa do 23 de Abril, por exemplo). Passando assim, desde 1911, a ser Feriado
Municipal o 29 de Junho oficialmente em todo o território de Felgueiras.
Em 1998 o território concelhio
foi encurtado, porque então Felgueiras perdeu a freguesia de Santo Adrião de
Vizela, para a criação do novo concelho de Vizela (mantendo-se, contudo, de
Felgueiras as de S. Jorge de Vizela e Santa Comba de Regilde, que inicialmente
estiveram na proposta da mesma aprovação da Assembleia da República).
De relevo na vivência
comunitária, entre diversas realidades, existem algumas agremiações cativantes
no sentimento coletivo Felgueirense, de que servem de exemplo as seculares
instituições criadas nos tempos da junção das freguesias, como se aludiu
anteriormente, e também outras mais recentes. Nos tempos que correm, enquanto o
clube mais representativo, o Futebol Clube de Felgueiras, depois de especial
carreira fulgurante, passou por fase obscura até que foi extinto, no início
deste século XXI, ao passo que o clube sucessor, denominado Clube Académico de
Felgueiras, inicialmente assim chamado, voltou depois a ter o nome antigo, com
um pequeno acrescento, ficando a ser “Futebol Clube de Felgueiras 1932”, em
homenagem referencial ao ano de início do futebol em Felgueiras, passando a
angariar coletivamente o carisma do antigo; e, enquanto e além disso, não
abundando grupos culturais e recreativos de âmbito concelhio; o trabalho
associativo ganhou algum fôlego no surgimento, por exemplo, do Rotary Clube de
Felgueiras, a ação social pôs-se mais em campo através da ramificação das
Conferências Vicentinas, e, felizmente, nalgumas freguesias distinguem-se
Associações de carisma.
Em diferente aspeto justifica
retenção de mais-valia o caso de que está instalada no concelho a Comunidade
das Irmãs Vicentinas, mais propriamente chamadas Filhas de Caridade da Ordem de
S. Vicente de Paulo distribuídas por dois conventos, dos quais ainda existe e
elas permanecem presentemente no monte de Santa Quitéria, enquanto na casa da
Misericórdia do Unhão estiveram entre 1933 até 2015. Onde as mesmas exerceram e
têm funções de educação dirigindo externatos com infantário, pré-escolar e
escolas de ensino básico, além de apoio sócio-caritativo à comunidade da região.
Assim como presentemente há a casa dos também Vicentinos Padres Lazaristas da
Congregação da Missão junto ao santuário de Santa Quitéria, depois de longas
décadas de frutuoso labor em caminho vivido por Pombeiro e Lagares. E em
Lordelo, na Casa da Mata, existe também a Comunidade dos Padres Carmelitas
Calçados, da Ordem de N.ª S.ª do Carmo, que prestam relevantes serviços
pastorais na região, incluindo administração paroquial nalgumas freguesias.
= X =
Foi nas “Freiras do Unhão”, no
Jardim infantil pré-primário e escola primária ao tempo existente na casa
conventual da Misericórdia do Unhão, a cargo das Irmãs Vicentinas, que o Nuno e
a Clara andaram, ali tendo o pai e a tia do Tiago feito o ensino básico, da
aprendizagem escolar. Onde eu os levava e ia buscar, antes e depois do emprego (como
durante muitos anos era e foi, no Posto Médico da Casa do Povo da Longra). De
mão na mão e sorrisos no pensamento. Como agora passo os dias, mas sempre
presente, quando o tenho comigo, sempre que o Tiago passa o dia em nossa casa.
Pequenino ainda, mas muito gostando de estar connosco.
Contudo tendo de estar os dois
para ele se sentir melhor, quando lhe damos de comer, quando conversamos com
ele, enquanto andamos no jardim ou nos arredores circundantes da casa e ele
anda por ali junto a nós, como quando o vemos brincar, a não ser quando o puxo
nas andanças de triciclo e só um serve. Já a jogar à bola também é comigo, que
o amparo nos remates, porque por vezes ainda vai pisando a bola e pode cair, ou
a bola gira mais depressa que o seu pé alcança… E quando vimos para casa ou
vamos a qualquer sítio, destes por aqui, em caminhadas de pouca monta, gosta de
dar a mão aos dois, de ir no meio e se possível ir sendo levantado. Como, de
mão agarrada a nós, ir saltando sobre as bolas de ferro do passeio do Largo da
Longra. E ao chegarmos a casa, antes ainda, costuma dizer querer ir ao Quim
(nome que sempre disse bem, assim), para ver a oficina, e depois ir ter com a
(tia) Rosa, fazendo-se entender (ao balbuciar, desde pequeno: Gá) para ver os
gatos e as galinhas. Porém de preferência anda mais ao colo do avô, aqui na
Longra, e de quando em vez também de quem o quiser levantar.
No caso, falando eu, ao escrever,
do que se passa quando está comigo e do que sei ir acontecendo,
presencialmente.
Como o Tiago gosta de ter alguém
de quem goste perto de si e tendo muitos amigos, nesta terra, como tudo o que é
belo e ternurento tem graça, vem a talhe (dando vez à continuação da narrativa
histórica), de deixar umas referências alusivas. Inclusive, tendo o avô
materno, o amigo e sr. Prof. Edgar Silva, sido Vereador Municipal da Câmara de
Felgueiras entre finais do século XX até início do século XXI; e (embora,
noutro aspeto, aqui mais para nós) também o avô paterno tenha entretanto
escrito alguns livros sobre história de sítios e gentes de Felgueiras. Pois…
como não ser o Tiago alguém, quando nesta nossa terra sempre houve gente saliente?!
Senão, ora atente-se em como
Felgueiras tem Pessoas importantes.
Personagens Felgueirenses Ilustres:
Da grande família Sousa,
importante e dominante da região nos tempos próximos à fundação do país, foi
descendente o Sousão D. Gomes Aciegas, possível fundador do Mosteiro de
Pombeiro. Outro, considerado como Felgueirense, por ser oriundo da original
família da Casa de Sergude de Sendim, tem sido associado localmente o navegador
quinhentista Nicolau Coelho, comandante da Nau Bérrio, uma das embarcações da
armada de Vasco da Gama que descobriu a rota marítima para a Índia, sendo mais
tarde Nicolau Coelho um dos capitães da frota de Pedro Álvares Cabral que
descobriu o Brasil. Felgueirense de certidão, natural de Pombeiro, foi o
escritor e historiador do séc. XVII Manuel Faria e Sousa, que viveu na corte espanhola
do reinado Filipino. Da antiga Honra do Unhão era toda a genealogia dos Condes
primitivos da família Sousã, iniciada com D. Gonçalo de Sousa (no tempo de quem
foi construída e sagrada a igreja românica do Unhão, em 1165 da era romana). De
Rande e naturalmente também de Felgueiras é o aviador Francisco Sarmento
Pimentel, participante do derrube da Monarquia do Norte, em 1919, mas conhecido
sobretudo por ter efetuado a primeira travessia aérea de Portugal à Índia, em
1930. Tal qual Felgueiras se honra do eminente psiquiatra Dr. António Magalhães
Lemos, natural de Margaride. De Lixa-Felgueiras era o Dr. Eduardo Freitas,
autor da primeira monografia histórica escrita sobre o concelho de Felgueiras.
Nasceu igualmente na Lixa e no concelho, mais propriamente em Borba de Godim,
uma das freguesias da então povoação (depois vila e por fim cidade) da Lixa, o
filósofo Dr. Leonardo Coimbra, que foi ministro da Primeira República. De
Rande, também o celebrizado mestre de canto gregoriano e compositor de música litúrgica,
Padre Luís Rodrigues. Como, de Varziela, Lucas Teixeira, antigo Religioso
Beneditino, célebre executor de iluminuras de vulto e depois poeta secular, de
grande engenho reconhecido internacionalmente. E, fazendo jus a enfileirarem
com os mais ilustres Filhos de Felgueiras, contam-se ainda outros nomes dignos
de menção, como o antigo Par do Reino que foi Rebelo de Carvalho; o célebre
lutador pela criação da Comarca Dr. Costa Guimarães; o Conselheiro Dr. António
Mendonça, antigo e prestigiado Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras,
deputado monárquico e ilustre homem de Letras proprietário do jornal “Semana de
Felgueiras; Guilhermina Mendonça, conhecida por “Menina de Rande”, considerada
popularmente como santa logo à sua morte em 1912 (cuja biografia narramos no
“Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”); mais os grandes
beneméritos que foram Agostinho Ribeiro e António Fonseca Moreira; o Dr. Luís
Gonzaga da Fonseca Moreira, marcante Presidente da Câmara, empreendedor de
obras municipais de apreciável alcance; Dr. Miguel Costa Santos, Lente da
Escola Médico-cirúrgica do Porto; Dr. António Costa Santos, Desembargador e
Presidente da Câmara de Deputados; Dr. Alexandre Mendonça, Juiz Conselheiro do
Supremo Tribunal de Justiça; José Xavier, pioneiro da indústria concelhia, além
de empreendedor de realizações associativas; Dr. João Brandão, presidente da
Câmara de Felgueiras do período de implantação da República e deputado
republicano; o missionário Padre António Correia dos Reis Coelho, antigo
procurador do Arcebispo de Goa, na então Índia portuguesa; também Manuel
Sampaio, autor de alguns estudos monográficos de história local antiga; Américo
Martins, protótipo de empresário de sucesso em tempos idos; o fundador do
Futebol Clube de Felgueiras, Verdial Horácio de Moura; o famoso ciclista Artur
Coelho que, correndo pelo Futebol Clube do Porto, foi vencedor em 1957 de
importante prova ciclista chamada 9 de Julho, também conhecida por Volta a São
Paulo (Brasil) e integrou a seleção portuguesa de ciclismo participante na
Volta a Espanha em 1957 e 1958; o atleta Sampaio Peixoto, o qual, correndo pelo
Académico do Porto, alcançou marca de recordista ibérico de atletismo, em 1945;
D. Armindo Lopes Coelho, anterior Bispo Diocesano do Porto; D. João Miranda
Teixeira, querido vulto de Bispo-Auxiliar do Porto e entretanto temporariamente
Administrador Apostólico da Diocese; assim como, apesar de não ser natural do
concelho mas sim Felgueirense de coração, o paradigmático Autarca Dr. Machado
de Matos – entre muitos outros personagens distintos.
= X =
Neste percurso, entretanto, com
toda a ligação que existe, o Tiago foi batizado em terra de Felgueiras, tendo
recebido o batismo cristão na igreja paroquial de S. Tiago de Rande, matriz da
paróquia da nossa e sua residência. Onde teve lugar essa cerimónia tradicional,
dentro de tal templo antigo, erigido pelo ano de 1730. Tratando-se de igreja de
estilo simples, da arquitetura das igrejas rústicas que foram construídas em
tempo de ampliação das comunidades rurais, normalmente a substituir capelas ou
igrejas mais pequenas, ao tempo. No caso de Rande, como é referido no livro
“Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, até esta igreja foi
edificada em sítio onde houvera uma mais antiga e que ruiu, sendo por isso
necessário ter sido feito uma nova escritura eclesiástica sobre os bens
pertencentes à paróquia, conforme ficou escrito no novo Tombo, escriturado em
1743…
Neste ponto, entre igrejas e
outras construções, pode dizer-se que há deveras pela região felgueirense
diversos casos de realce, neste campo:
Foto 37
Monumentos e Valores Artísticos
Há espalhados pelo concelho
diversos testemunhos do passado, consubstanciados em monumentos e outros
valores artísticos.
Salienta-se contudo dos demais o
beneditino Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, do qual se salienta a igreja de
valiosa traça, embora com aposição misturada de diversos estilos pelas
alterações sofridas ao longo dos séculos. Há depois, como antes se referiu
noutro prisma, a estação arqueológica do Monte do Senhor dos Perdidos, ainda
rudimentarmente explorada e entretanto abandonada; tal como o que está
soterrado no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande com Rande e Varziela
(cujas escavações, de antigo povoado da Cimalha, tiveram lugar no início do
séc. XXI derivado à construção de novos acessos viários, onde se descortinaram
vestígios dum antigo caminho divisório das paróquias e foram encontradas
parcelas de cerâmica, contudo o resto depois ficou enterrado); como há ainda
algo da antiga cidade de Eufrásia em pequenos vestígios de ruínas, em Sendim,
com restos de velha villa romana. Existem também pequenos tratos de caminhos
romanos em Caramos, Pombeiro e Vila Fria; e uma calçada medieva, numa parte de
caminho lajeado medieval, na Calçada de Rande; em todos estes casos de antigo
itinerário do Caminho de Santiago para Compostela, que teve assim passagens
pelo concelho de Felgueiras. De relembrar ainda a antiga existência de estátua
de um guerreiro Lusitano em S. Jorge de Riba-Vizela.
Outros marcos do passado
representam diversas casas senhoriais dispersas pelo território concelhio,
solares antigos sucedâneos de antanhas villas romanas e ancestrais fortalezas,
de que se salientam a Casa de Sergude, em Sendim, a Casa de Simães, em Moure, a
Casa de Rande e Casa da Torre, em Rande, a Casa do Coto, em Varziela, a Casa de
Junfe, no Unhão, a Casa da Porta, na Pedreira, a Casa do Mosquete, em Lordelo,
etc.
E as igrejas românicas, como a de
Lordelo (em ruínas), a de Vila Verde (recuperada); e as que restaram sempre eretas,
com traços originais desse estilo na região, ou seja as de Unhão, Sousa, Borba
de Godim, Airães e Santão; além do pequeno templo de Padroso contendo escassos
restos das características do românico rústico; são exemplares arquitetónicos
apenas suplantados em antiguidade por dólmens existentes na Refontoura e em
Regilde, mais vestígios de Castros, como os de Caramos e Lagares; por entre
apreciável número de valores patrimoniais. E, entre outros possíveis
exemplares, algumas construções religiosas como o santuário do Bom Jesus de
Barrosas, o Calvário e Capela do Encontro em Caramos e, especialmente, o
santuário de Santa Quitéria. Além de nichos de Alminhas em sítios estratégicos
de diversas freguesias, bem como posteriores nichos monumentais de dedicação a
Nossa Senhora, mais os cruzeiros paroquiais.
Lenda de Santa Quitéria:
Em diferente feição, mas antiga
por demais, há a lenda de Santa Quitéria, martirizada e sepultada em planalto
que ganhou seu nome posteriormente. Segundo tradição milenar foi morta no Monte
Pombeiro, como aquele ermo era antigamente chamado. Onde séculos mais tarde
foram descobertos restos mortais que poderão ser da santa e de seus
companheiros de martírio. Em cujo local foi então erigida a igreja em honra de
Santa Quitéria, substituindo antiga ermida dedicada a S. Pedro. E, pelos
milagres ali operados, o lugar passou a ser também conhecido por Monte das
Maravilhas. Sintomático desta lenda é o facto de no sítio onde parou de rolar a
cabeça da santa, depois de degolada, ter jorrado uma fonte, desde eras remotas
conhecida por Fonte de Santa Quitéria, cuja água começou a ser tida como
milagrosa (ainda que na transição do século XX para o XXI tivesse, por vezes,
ficado imprópria para consumo, por erros humanos).
Pela proximidade desse fontanário
a uma das vias concelhias dos Caminhos de S. Tiago, no caso o itinerário que
passava em Sendim (motivo revelador da dedicação daquela freguesia a S. Tiago,
tal como se verifica noutros pontos, como por exemplo em Rande onde a origem da
proteção do Orago é similar), realizando-se antigamente à beira dessa fonte do
sopé do monte de Santa Quitéria uma festa em honra de S. Tiago, a mesma bica de
água chegou a ser conhecida também por esse nome, como fonte de S. Tiago; tendo
no entanto com o decurso do tempo perdurado o nome original de Fonte da Santa.
Diz o povo, na sabedoria popular, que quem dela beber jamais deixará
Felgueiras, apaixonando-se por esta terra.
Segundo ideias eruditas, a local
lenda de Santa Quitéria poderá ser derivada ao género de cristianização dos
montes, cabeças e cabeços, relacionando-se o facto da mesma “santa da cabeça”,
decapitada, ter sido sepultada no lugar da “cabeça da santa”, estando no monte,
cabeço ou cabeça. Importa que perdurou e tem mística. E, como é por demais
sabido, a tradição tem muita força. Pois, como dizia S. Crisóstomo, onde há
tradição não se procure mais provas!
= X =
Ao Tiago, digo agora, para ele um
dia saber como era aqui esta nossa região, mais qualquer coisa que deixo
escrito, na atenção que lhe merecem certas ocorrências, olhando concentrado e
aninhado em seus pensamentos, como o Tiago se gosta de se pôr a seu jeito
quando está a brincar ou a fazer qualquer coisa de que gosta. Ainda não andava
bem mas, enquanto se mexia, e gostava de se sentar sobre uma perna, até que
agora ao chegar aos dois anos já se ajoelha à frente do que quer ver, apoiado
sobre as duas pernas. Assim, também naquele seu jeito, ficam diante de si
algumas outras considerações.
Outras curiosidades Felgueirenses:
O nome de Felgueiras tem sido
conhecido desde longas eras pelo fabrico tradicional de um doce regional
típico, o Pão-de-ló de Margaride. A fama desta especialidade de doçaria antiga,
que data de meados do século XIX, pelo menos, desde que foi expandida por
Leonor Rosa da Silva, fez com que a principal casa doceira de Felgueiras fosse
oficialmente nomeada como fornecedora da Casa Real, por uma carta dos Duques de
Bragança em 1888 e posterior Alvará do rei D. Carlos em 1893. Tendo depois
surgido outras pequenas fábricas derivadas, algumas de nomeada, por sinal.
No último quartel do século XX,
porém, o nome do concelho de Felgueiras passou a ser também conhecido como zona
portuguesa mais industrial do fabrico de calçado. Este sector industrial
suplantou de facto as anteriores ocupações fabris locais, iniciadas com a
metalo-mecânica na Longra em princípios do século XX, quando as bases agrícolas
começaram a ter alternativa com aquela ocupação, que desempenhou importante
papel na economia da comunidade Felgueirense. Instalação industrial depois
seguida pela indústria têxtil implantada a meio do mesmo século nos arredores
da então vila de Felgueiras, além de outras de menor consistência produtiva.
Assim como Torrados e Lagares foram centro da produção de calçado mecanizado, a
partir que começou a ser feito em série; embora antes, quando o fabrico era
manual, houvesse mestres abancados por quase todo o concelho.
Sintomático da importância de
fabrico do calçado, atendendo a que antigamente a zona com mais fábricas desse
sector era São João da Madeira, enquanto depois Felgueiras passou a ombrear com
essa zona da Beira Litoral e acabou por a suplantar, as duas cidades foram
geminadas, por esse facto, em acordo celebrado entre ambas as respetivas
autarquias, em 1996.
Também, pelas ligações de
Felgueiras ao mundo, através dos laços de união mantidos pelas gentes
Felgueirenses com outros povos, houve já alguns compromissos selados entre
Felgueiras e algumas cidades estrangeiras, para favorecer possível intercâmbio
de solidariedade e ações de âmbito cultural e social, como foram os casos
entretanto acontecidos de geminações entre a Câmara Municipal de Felgueiras com
Point Saint Maxence (França) em 1993, Boa Vista (Cabo Verde) e Santa Cruz de
Cabrália (Brasil) em 1996 e S. Vicente (Cabo Verde) em 1998. Além de
pré-acordos, ao que aconteceu em 1988 com Porto Seguro, do Brasil; e com
Nueil-les-Aubiers, de França, em 2007.
Em questão de vizinhança,
estreitando laços mais ao perto, Felgueiras está incluída na Comunidade
Intermunicipal do Tâmega e Sousa, junto com Lousada, Paços de Ferreira,
Paredes, Penafiel, Castelo de Paiva, Amarante, Baião, Celorico de Basto, Marco
de Canavezes, Cinfães e Resende, emparceirando assim nessa atual comunidade
urbana, composta pela união dos municípios das antigas associações do Vale do
Sousa, do Tâmega e do Douro Sul, numa fusão de proximidade entre concelhos, com
relativas ligações ambientais e patrimoniais de tal conjunto destes 12
municípios do verdejante interior nortenho.
Enfraqueceu porém a importância
de Felgueiras no ponto de vista de serviços públicos, quanto a casos como a
justiça (tribunal) e sobretudo a parte de fornecimento elétrico (EDP) e a
saúde, passando nuns casos a depender de Penafiel, noutros de Amarante e até de
Lousada na saúde, pois, com o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Támega
e Sousa, ficou a sede em Lousada, presentemente, nos tempos que correm dos anos
deste início do século XXI.
Saliente contudo, na vida local,
para a riqueza transformadora necessária ao quotidiano regional, em Felgueiras,
houve sempre a agricultura, de cujas colheitas viveram as pessoas toda uma vida
em sucessivas gerações, agora em vias de transformação. Nesta área salienta-se
a cultura do vinho verde por todo o concelho, néctar característico desta terra
inserida na sua região demarcada. De cuja associação é derivada a criação de
instituições representativas, como a AFAVI e a Confraria do Vinho Verde.
= X =
Por isso tudo o que fica
subjacente, percorre este texto a visão que o Tiago nos dá, num toque afetivo
que ao vê-lo, sempre, é como manhã de sol que se nos depara. Como quem ao
acordar vem à janela e vê um lindo dia a surgir. Sendo que esse pedaço de
alegria faz parte do nosso viver, aqui onde estamos. E Felgueiras nestes dias,
para constar ao porvir, pode definir-se doutro modo:
Caracterização Geral de Felgueiras
O concelho de Felgueiras, com
efeito, expande características de área de transição Minhota-Duriense, bem
patentes no verde dos terrenos, predominando ruralidade, e, derivado às amenas
condições de clima normalmente temperado e húmido, também na produção do vinho
verde, em cuja demarcação Felgueiras está interligada.
Se em eras recuadas era
essencialmente agrícola a laboração das gentes Felgueirenses, a partir de
determinada época passou a sentir efeitos da industrialização, sem contudo
perder dependência assinalável da lavoura. Foi nos anos vinte, do século XX,
que Felgueiras teve inicial acesso à chamada revolução industrial, através das
primeiras oficinas de ferraria e serralharia nascidas na antiga povoação da
Longra, atualmente centro da vila da Longra; onde igualmente começou o fabrico
de panificação em série, e se instalou a metalurgia como bandeira concelhia;
chegando depois a Margaride a tecelagem, cerca da década de quarenta; até que
nos anos cinquenta houve iniciação da confeção mecanizada de calçado, sector
que estava distribuído pelo concelho nos antigos moldes artesanais e, então,
passou a ser industrializado nas zonas de Torrados e Lagares, sobretudo;
expandindo-se posteriormente a todo o concelho por fábricas de pequena e média
expressão, tornando Felgueiras um pólo expoente desse ramo económico. De cunho
tradicional existe também o ramo produtivo dos bordados da Lixa, oriundo de
trabalhos manuais dos bordos espalhados desde a Serrinha a Airães, e as rendas
riquíssimas da Trofa-Pombeiro, sendo estas duma tradição antiquíssima estarem
expostas às portas das casas ao correr da estrada.
Esse potencial humano, que
identifica os genes de Felgueiras, provém de tempos remotos, entretanto
identificados, sendo a região habitada pelos povos antigos que desenvolveram a
região nortenha do País. Porém os nomes que perduraram nas terras locais
derivam dos tempos da Reconquista Cristã, dependendo dos Godos e descendentes
germânicos que fundaram as originais propriedades senhoriais, através das quais
se expandiram as freguesias e paróquias. Eram na época diversas as famílias
feudais que originaram o povoamento das terras de Felgueiras, com destaque para
a família Sousa, os Sousões de que falam os velhos alfarrábios e acompanharam o
nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques; como também os Monizes Coelhos,
descendentes do aio Egas Moniz, tendo a região fortes vínculos à célebre
Condessa Mumadona, senhora de grande parcela do Condado Portucalense.
Ao longo dos tempos, mergulhando
na memória, Felgueiras teve particularidades que marcaram o seu percurso. Digna
de ser preservada toda uma retaguarda histórica como a de Felgueiras, a sua
herança espiritual está guardada em diversas publicações, mais por iniciativas
particulares, que, felizmente, e na inversa de outras facetas culturais, servem
de legado à posteridade.
Testemunham esse longínquo
passado uma série de construções antigas, passando pelos solares senhoriais, e
especialmente nas igrejas românicas ancestrais.
Pelo prisma da humanização,
relatam usos e costumes as tradições populares, evidentes nas festas populares
e paroquiais que abundam ainda, como também e sobremaneira no folclore, através
de reconstituições efetuadas por Ranchos Folclóricos, agrupamentos vocacionados
a servir de guarida à transmissão de tudo o que fez parte das tradições
populares, embora geralmente mais usuais em danças e cantares, sem esquecer a
área museológica ambiental de outros tempos.
Em estado ambiental o clima
regional mais acentuado é do tipo temperado e de amplitude moderada, em região
sob influência dum clima do tipo chuvoso em períodos húmidos de Outono/Inverno
e com mais curta época de períodos secos de Primavera/Verão. Clima temperado
que propicia boas condições para crescimento de espécies vegetais, de
repercussão no próprio relevo acidentado, pontuado por montes e vales,
arborizado e afrutado por plantações florestais, de pomares e sobretudo vinhas,
numa ocupação de encosta e cumeada. Como ainda, no panorama físico, em termos geológicos,
a sua área, alternando com destacáveis parcelas de solo arável e terreno
bravio, é constituída essencialmente por formações de natureza granítica, mas
também de outras, mais pequenas, como xistos e sítios de coberturas menos
antigas.
Felgueiras, espalmando-se no
genuíno vale dos cursos de água do rio Sousa, sob manto vivo de cores da
natureza, onde o verde é vivo e o azul celeste mais azul, através de paisagem
verdejante a refulgir radiação do azul do céu, reflete uma maneira de viver que
tem características genuínas, de gente que vive no seu mundo, que não o mundo
todo mas sem perder noção do universo em redor.
*
Proclamam os “slogans”, conforme
reza a literatura de promoção, que «Felgueiras é capital do calçado e solar do
vinho verde». Será isso mas ainda mais, na realidade, pois a sua essência, com
efeito, resulta num encontro com a história e a natureza.
Sem passado não poderia haver
futuro, e uma terra que tenha alma, com gente que valorize a História, terá de ter
quem saiba honrar a sua memória, para conhecer as verdadeiras potencialidades e
possuir identidade.
Chegado assim a este ponto, como
o Tiago diz: Pumba…! (pronto, já está, acabou). Aportando o fim da história
circundante à verdadeira história, que é a do Tiago.
= X =
Em Felgueiras da atualidade, cá
estamos, em família, a que pertencemos nós e o Tiago. Tendo agora eu dois
netos. Dois netos, como antes tive dois filhos, tenho hoje esses dois filhos e
mais dois acompanhantes de vida, seus companheiro e companheira. Em verdade,
duas e duas, mais duas sorveduras de fresca água pura, na torrente da vida.
Tendo agora nos dois netos, mais dois amores.
Enquanto isso, o Tiago agarra o
mundo, seu e nosso. Como gosta de agarrar qualquer objeto com um alicate, como
vê o pai a fazer em casa, ou com alguma outra ferramenta, como vê o tio Quim na
oficina. Tanto como… ele que é atraído a olhar para o ar sempre que vê passar
um avião, quantas vezes, devido ao barulho dos aviões, mas também avionetas e
até helicópteros, gostando muito de ver os aviões a riscar com fumo branco o
azul do céu… um dia, tendo um alicate nas mãos, ao ver um avião a passar lá no
cimo, abriu o alicate para cima, em direção ao ar celeste (como numa perspetiva
de visão), com cara franzida de determinação e olhos atentos, a tentar agarrar
o avião… com o alicate de sua vontade!
Esse querer é por assim dizer o
mesmo de quando mostra personalidade e faz impor seu desejo, com decisão. Como
quando quer qualquer coisa e eu o tento contrariar, mas ele, está boa a vida,
parece nem ouvir o que se lhe diz e resiste ao que e a quem se opõe ao que
quer. Até que, quando lhe faço a vontade, ele logo transforma o semblante em
sorriso prazenteiro, de felicidade contagiante. Na sua radiosa força de viver,
pujante de energia e querer.
- Se quer ir à garagem, por mais
colo que se lhe dê e o tente distrair, pois é para o comando da garagem que ele
aponta, indicando o sitio das chaves, a mostrar o que quer, e depois toca a
andar para o fundo das escadas do jardim e… é para ali… vamos à garagem! Se o
incomoda a babete de plástico, para aparar a comida que cai ao meter-se-lhe à
boca… e ele diz tira… pois ainda se consegue levá-lo de conversa algum tempo,
mas é para tirar mesmo e tira-se… acaba-se por a retirar, pois acabou a
refeição. E quando a avó lhe está a dar banho, por entre as chuveiradas que lhe
fazem impressão, sempre tem de agarrar o raro do chuveiro para fazer à sua
maneira. Quão sabe fazer valer sua ideia, quando fica farto de andar sentado no
carrinho das compras, e abre os braços a querer colo, enquanto vai connosco ao
supermercado… e então posso entretê-lo um bocado com outras coisas, sobretudo a
levá-lo a ver as portadas de subir (do armazém do “Continente”), ficando quase
absorto a ver aquilo a levantar depressa, mas, depois sempre acaba a rir-se
para mim… quando pego nele ao colo!
É com essa convicção que, quando
o trazemos, vindo nós desde a zona de sua casa, do Edifício Vila da Longra,
para a nossa vivenda, antes ainda, ao transpor o passeio do Café Longra, o
Tiago quer sempre ver os peixinhos, e o levamos a ver o pequeno aquário de
fibra a servir de lagozito onde deslizam peixes pequenitos, junto à loja de
ferragens (do Quim da “Casa Agrícola Vila da Longra”). Entre cuja rede de
proteção ao mesmo recipiente, ele sempre mete um dedo para ver os peixes virem
acima e acha graça a isso. Tal como do outro lado da rua, ao passarmos no Largo
da Longra, em frente ao Centro Comercial da Dores, o Tiago sempre quer subir às
bolas de ferro do passeio. E de seguida prefere ir ao meu colo, aproveitando ocasião
para atravessarmos a estrada, agarrando-se e abraçando-me. Porque a vida é
mesmo assim, para ser vivida. E eu estou a gostar bem de atravessar com ele
esta fase terna da vida.
Como remate (sabendo como o Tiago
já gosta de bola, de agarrar e chutar as bolas que vê por perto, nestes seus
primeiros anos, quando escrevo isto), lhe dou esta prenda, deixada numa terna
oferta, como será este livro específico, em forma narrativa de estilo
romântico-realista, com dedicatória especial:
Quando o Tiago está com dois anos
(precisamente ao completar os correspondentes 24 meses de vida), e bem dentro
da fase enternecedora da infância, quando tudo nele tem graça, ofereço-lhe este
livrinho, composto de pequeno texto, mas de tamanho elevado. Para ele
obviamente entender e apreciar mais tarde, no belo caminhar pela evolução da
idade. Guardado que fica assim em livrinho feito expressamente para o efeito.
Com amor de avô, em sentido supremo. Procurando fixar a grata existência que é
o Tiago em nossas vidas. Qual impressão sempre viva, numa ideia de perpetuar momentos
de vida, como quem capta fotografias através de letras escritas com o coração.
~~ * ~~
Escrito no Outono e colocado como prenda de Aniversário (dos
2 anos).
Longra - Felgueiras, Novembro de 2015.
ARMANDO PINTO
DO AUTOR (além de artigos em jornais e revistas)
Obras publicadas:
- Livro (volume monográfico) «Memorial Histórico de Rande e
Alfozes de Felgueiras»; publicado em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo
Semanário de Felgueiras.
- Livro (de contos realistas) «Sorrisos de Pensamento» –
Colectânea de Lembranças Dispersas; publicado em Outubro de 2001. Edição do
autor.
- Livro (alusivo da) «Elevação da Longra a Vila» - Julho de
2003. Edição do autor.
- Livro (cronista do) «Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de
Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à Comissão Fabriqueira paroquial,
destinando receita a reverter para obras na igreja). Edição do autor.
- Livro «Padre Luís Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa»
– Na passagem de 25 anos de seu falecimento; publicado em Novembro de 2004.
Edição do autor.
- Livro «S. Jorge de Várzea-História e Devoção», publicado
em Abril de 2006. Edição da Paróquia de Várzea.
- Livro «Futebol de Felgueiras-Nas Fintas do Tempo» (sobre
Relance Histórico do F. C. Felgueiras e Panorâmica Memorial do Futebol
Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do Clube Académico de Felgueiras) –
pub. Setembro de 2007. Edição do autor.
- Livro "Destino de
Menino" (conto personalizado - dedicado ao 1º neto) - Dezembro de 2012, em
edição restrita de autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro "Luís Gonçalves:
Amanuense-Engenheiro da Casa das Torres", patrocinado pela fábrica IMO da
Longra - biografia de homenagem ao Arquiteto do palacete das Torres, de
Felgueiras - Janeiro de 2014.
Livros oficiais (alusivos a realizações de eventos),
entretanto também publicados:
- «1ª Mostra Filatélica e Exposição Museológico-Postal da
Casa do Povo da Longra» (relativa a Semana Cultural de abrangência comemorativa
do centenário de Francisco Sarmento Pimentel e octogenário do Correio da Longra
- Julho de 1995).
- «1º Festival Nacional de Folclore “Longra/97”» (englobando
partes historiadoras e galeria diretiva da Associação - Maio de 1997).
- «2º Festival de Folclore do Rancho da Casa do Povo da
Longra» (contendo Lendas e Narrações das freguesias da área da instituição -
Setembro de 1998).
- «Associação Casa do Povo da Longra-60 Anos ao Serviço do
Povo» (alusivo ao respetivo sexagenário, contendo a História da instituição -
Abril de 1999).
- «3º Festival de Folclore da Longra-Memória etnográfica do
sul Felgueirense e afinidades concelhias» (Julho de 1999).
- «4º Festival de Folclore da Longra-Celebração Folclórica
do sul Felgueirense» (Julho de 2000).
- «Evocações da Festa Paroquial de S. Tiago de Rande» (Julho
de 2000 - de promoção à festa desse ano, por solicitação da respetiva comissão
organizadora, traçando panorâmica das festas antigas.)
- «Rancho da Casa do Povo da Longra-Sete anos depois... em
idade de razões» (Maio de 2001 – livro comemorativo do 7º aniversário do mesmo
agrupamento e também alusivo ao 5º Festival de Folclore da Longra, de Julho
seguinte – incluindo texto de fundo narrativo do “Conto de um Rancho Amoroso”,
sobre a história do grupo em questão.)
- «6.º Festival do Rancho da Casa do Povo da Longra –
Desfile de Oito Anos de Vida» (Junho de 2002).
- «7.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra –
Danças Mil em Nove Anos de Folclore» (Junho de 2003).
- «Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra – Sete Anos na
Arte de Talma Associativa» (Outubro de 2003 – Primeiro livro historiador do
respetivo agrupamento, em tempo do seu sétimo aniversário).
- «8.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra –
Alcance duma Década Etno-partilhada» (Junho de 2004).
- «9.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra –
Comunhão de Tradição Associativa» (Junho de 2005).
ARMANDO PINTO