Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A “Feira de Maio” de Felgueiras em mais um artigo jornalístico


Entrado no calendário o mês mais primaveril, por excelência, no encanto da germinação e floração da natureza, aí está mais uma festiva Feira de Maio como é tradição anual em Felgueiras, há mais de um século já. Cuja realização este ano ocorre no presente fim de semana, desde sexta dia 2, até segunda-feira 5 de Maio.

Na inerência de tudo o que lhe está associado e por quanto significa esta ocorrência concelhia, procuramos dar mais ênfase à mesma festividade, em mais um artigo jornalístico, na sequência e complementação de anteriores crónicas sobre o mesmo tema, através de texto no jornal Semanário de Felgueiras.

Nesse âmbito, o habitual artigo do autor, da colaboração com que de quando em vez participamos no SF, desta vez versa sobre uma visão de enquadramento histórico correspondente.  Como aqui expomos e resguardamos, colocando a respetiva coluna publicada na página 10 do número de 2 de Maio.

                                  (CLICAR sobre o recorte digitalizado, para ampliar e ler)

Do mesmo texto, para facilitar a leitura, atendendo a quem tiver dificuldades em lidar com as formas de ampliação, colocamos também a versão escrita original, de seguida:

Secular Feira de Maio

Transmitia em 1901 o jornal Semana de Felgueiras a realização duma interessante feira, criada na sequência de atividades associativas do setor agrícola, de que resultara anteriormente a criação de um sindicato e o surgimento do próprio jornal Semana, como porta-voz informativo dos interesses dessa área extensiva à vida local. Num intuito alastrado a procurar uma maior intensidade dos laços de união histórica.

Com efeito, foi então criada essa mescla de feira festiva por deliberação camarária de Março de 1901, ao tempo também denominada por feira franca e de periodicidade anual, desde logo ficando assente, como era originalmente, que se devia realizar todos os anos no primeiro dia do mês de Maio. Sendo sugerida oficialmente por representantes do sindicato agrícola, teve apoio de comerciantes do concelho, os quais propuseram que a então feira anual de gado cavalar, com lugar a 28 de Junho dentro do programa das festas do concelho, passasse a ser uma realização independente e com fins de mais vasto alcance: pois, além das trocas e vendas de todas as espécies de gado, passou a incluir a generalidade das ofertas constantes do mercado normal de produtos, com laivos de festa e arraial por meio de concursos para o gado em exposição, mais atribuição de prémios para os melhores cavalos, melhor junta de bois e melhor touro. Ao que em anos seguintes foram acrescidas outras valências, como em 1902 foi inserido no cartaz um aliciante popular através dum despique de cantigas ao desafio, sendo instituído um prémio para o melhor par de cantores repentistas da feira. Enquanto, desde esses primeiros tempos, era presença tradicional a Banda do Aniceto a dar toque filarmónico, tão apreciada pelo povo que era a música de banda. E em caso como esse, já que a Feira de Maio depressa ganhou contornos de acontecimento anual; de tal forma que extravasou fama para lá do horizonte regional, chegando a fazer com que acorressem a Felgueiras nessa ocasião muitos feirantes de Trás-os-Montes e das Beiras, como deu conta uma reportagem inserta na revista Ilustração Portuguesa, publicação de grande impacto à época.

Passados esses tempos, manteve-se no decurso de longas décadas, na sede concelhia, essa assim ultra centenária e anual Feira de Maio, em Felgueiras. Com lugar no primeiro domingo e seguinte segunda-feira desse mês. «Importante feira» essa que, segundo registava a referida histórica revista “Ilustração Portugueza”, em sua edição de 2 de Junho de 1919, se realizava «no largo fronteiro» (ao antigo edifício da Câmara Municipal, depois casa do Tribunal). Transformada em certame de enraizado cunho expositor de gado, através de concursos pecuários de criadores agrícolas e competição alargada a corridas de cavalos, além de outros números de lazer. Sabendo-se, conforme referia o jornal Notícias de Felgueiras, anos mais tarde, que constava no rol um desfile etnográfico chamado Cortejo das Lavradeiras; tal como, em diversos anos, incluiu mesmo provas populares de ciclismo.

Realizavam-se essas festas de ano então ainda no centro da vila, ocupando área do campo da feira e depois outros espaços laterais das ruas, no mesmo centro. Presentemente o seu cunho tradicional tem-se diluído nas constantes mudanças de locais das realizações, indo para espaços vagos ou em obras e depois de estes ocupados para outros, sucessivamente durante anos, até que começou a ser colocada a Feira de Maio dentro da área aberta atrás da Cooperativa Agrícola, e ultimamente na urbanização das Portas da Cidade, enquanto o espaço entre os seus arruamentos tem estado vago, mais como parque de divertimentos anual, na atual cidade. Alternando nalguns anos com um programa abrangente em ideia de promoção da cultura e turismo do concelho, à mistura com animação, espaço de venda de produtos tradicionais, exposições e conferências, ao mesmo tempo que passou a ser apelidada de Feira das Tradições, com inclusão dum cortejo etnográfico e por vezes festivais folclóricos. Contudo a necessitar de reforço do carácter tradicional, esperando-se que ainda lhe seja destinado espaço próprio, um dia, para o efeito.

© Armando Pinto