Quando se sucedem assuntos de certo chamariz local, na
chegada da época eleitoral autárquica, mas porque se vão sucedendo também casos
de lesa interesse supremo, com algum surgimento de vira-casaquismo (tal o caso duma união
de freguesias em cujo ambiente ficam sem jeito antigos apoiantes partidários e ficarão mal novos adeptos simpatizantes, o que leva a algum desinteresse por esses
processos, à vista das jogadas de interesses que não salvaguardam a memória
coletiva), nem apetece tratar nada que respeite a esses temas, quanto à
atividade publicista. De modo que, por causa do cheiro da aragem e do estado onde
até as ervas não são limpas em determinados locais, a mostrar que agora os representantes situacionistas nem conhecem as localidades, se volte atenções por algo
mais sagrado, por via das “coisas”…
Versa então em torno da proximidade da Peregrinação do Concelho de Felgueiras, a crónica publicada desta vez no Semanário de Felgueiras, em sua edição desta sexta-feira 14 de julho:
À guisa da Peregrinação do Concelho
Com o sol mais a pino na andança estival, entremeando por
entre variações ao verão entrado nos dias que vão avançando, no crestar das
sensibilidades, caminha a atualidade à medida do tempo aqui pela região, em
época de festividades e eventos de Estio. Dando para estender a manta da
lembrança ao jeito dum merendeiro temporal, no sabor recordatório.
Ora, no espreguiçar das memórias que assolam as ideias em
momentos destes, na proximidade da Peregrinação do Concelho, refrescam-se
alguns sentimentos no sentido da identidade coletiva que tais recordações
provocam, tomando o todo pela parte. Parecendo andarem no ar ainda odores duma
romaria como essa, de antiga tradição, quanto já foi mais mas ainda vai sendo,
a Peregrinação do povo de Felgueiras, sob invocação do Sagrado Coração de
Maria, que anualmente vai em procissão até ao alto do monte de Santa Quitéria
onde, depois da habitual missa campal, é costume muita gente ficar em reunião
familiar em torno de toalha a servir de mesa de merenda, desde os tempos do final
da Grande Guerra que deu azo a essa manifestação sacra.
Pois então, não sendo esses tempos de muita fartura, nem as
pessoas comuns muito atritas a certos cometimentos, não ficaram muitos registos
fotográficos dessas e outras antigas ocorrências. Ficando contudo imagens
gravadas nas memórias, havendo muita gente que se lembrará de velhos costumes e
peripécias vividas em eras recuadas. Tal qual, também, aqui o autor destas
linhas. Lembrando-me bem de como, criança a olhar para cima no meio da
multidão, depois da chegada ao cimo do monte daquela procissão da nossa terra e
agarrado a meus pais, ficava admirado de ver minha mãe emocionada ante a imagem
de Nossa Senhora das Graças, na passagem do andor na parte final da
peregrinação, enquanto eu fixava mais os olhos no mexer dos raios presos das
mãos da Nossa Senhora, que ao tempo saía na ligação da então vila até ao cume
daquele lugar de ternas lembranças, o historicamente chamado Monte das
Maravilhas. Onde se sequiava a sede, após o esforço da caminhada e durante a
missa, com água açucarada vendida publicamente de cântaros revestidos de
cortiça, que mulheres traziam à cabeça e iam apregoando entre o povo amontoado
no terreiro do adro e extensivo arraial, a par do bocejar cansado durante a
cerimónia, atenuado com uma ou outra novidade das palavras saídas da “prática”,
ouvida a contar curiosidades e factos da religiosidade relacionada com aquele
sítio do santuário felgariano.
Com efeito, não havia então máquina fotográfica em mãos da
maioria das pessoas, nem outros meios de captação visual, há algumas décadas,
por esses idos anos, sensivelmente à entrada dos idílicos tempos de sessenta e
das fotos a preto e branco… porém captei na retina da memória e não mais me
esquece esses e outros momentos que dão côr ao sentimento que faz coisas destas
fazerem parte das celebrações mentais que englobam o arreigo ao que une o
felgueirismo que povoa a mentalidade comum. Como o que substancia a antepassada
consagração do concelho de Felgueiras, na presente idealização duma merecida
amplitude que representa quanto brotou e vai jorrando da Fonte da Santa para
tudo o que possa gerar progresso felgueirense.
ARMANDO PINTO
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