Há um ditado popular adiantando que ano de nevão é ano de pão.
Ora este ano não houve nenhum nevão por estas bandas, por ora, e o ano está quase a
acabar, faltando contudo algo da cultura da memória felgueirense, pelo menos… como será
se não houver uma justa lembrança perante a memória de um felgueirense ilustre,
como foi o maestro Aniceto Pinto Ferreira. Neste ano em que perfaz 150 anos desde o seu nascimento, numa conta completada já em Abril, até.
Foi então sobre esse tema que por estes dias escrevemos, na
colaboração prestada à imprensa local quando solicitado, no Semanário de
Felgueiras.
De tal artigo, publicado na página 2 da edição do SF desta
sexta-feira, dia 12 de Dezembro, transpomos para aqui a respetiva coluna, em
imagem digitalizada da edição impressa, e de seguida o texto correspondente,
do original escrito.
150 Anos do Maestro Aniceto Ferreira
Costuma-se dizer que uma terra vale muito pelas pessoas que
teve e tem, no conceito da semente gerada em bom solo, qual Mátria que se honra
por seus bons filhos. Tal qual se distinguem as regiões pelas inerentes
potencialidades, graças aos méritos produzidos.
Noutro conceito, vêm de longe, dos confins dos tempos, as
notícias transmissoras que dão conhecimento de acontecimentos passados,
tornando possível a existência de informações de antigas realidades, e
conhecimento de pessoas, usos e costumes de antanho. Desde os tempos bíblicos
da criação do mundo, embora a primeira nota não fosse exemplar, em determinados
aspetos, segundo se constata pela tentação provocada por Eva perante Adão.
Havendo depois a transmissão noticiosa passado sucessivamente, mais tarde e
comedidamente, através das gravuras rupestres, que venceram a erosão do tempo e
chegaram à atualidade. Até que surgiram os papiros e por fim o papel, em cuja
maleabilidade chegaram tantas notícias impressas, que movem o mundo global.
Ora, no meio de toda essa transmissão noticiosa, é possível
saber-se da boa matéria-prima que enobrece Felgueiras, havendo conhecimento das
potencialidades felgueirenses e de bons filhos de Felgueiras criados nestas
terras também com mel, segundo a simbologia do brasão municipal, atendendo à
velha existência do gado de vento que ficou registado num dos forais que
honraram um dos antigos Alfozes de Felgueiras…
Contudo, como é infeliz máxima desta terra, nem sempre
Felgueiras tem sabido honrar seus melhores nomes, naquela sequência costumeira
de mãe... e boa madrasta, que teima em ser a maneira Felgueirista. Tradição que
urge erradicar e alterar, sendo já tempo de afagar a memória dos felgueirenses
ilustres, por exemplo, como deve ser à mão de boa memória.
Vem ao caso que passa este ano, neste ano já a caminhar para
o fim, a conta de 150 anos do nascimento do famoso maestro felgueirense Aniceto
Pinto Ferreira. Um senhor cujo nome tem passado através das sucessivas gerações
como um dos bons felgueirenses de sempre. Sendo personagem que teve de ser
saliente para, passado século e meio, ainda ser lembrado, por quanto é
constantemente referenciado – agora e há muito que já nem há ninguém de seu
tempo, obviamente, mas ele continua como constante recordação.
Pois em devido tempo lembramos aqui, neste espaço
publicista, e com muita antecedência, esta efeméride merecedora de apreço
felgueirense. Através de crónica coeva à então passagem de 147 anos sobre a
mesma data, em ocasião que desfiamos uma descrição de seu percurso curricular.
E, enfim, chegou-se entretanto ao ano da comemoração correspondente, há já
alguns meses, tendo sido a 8 de Abril que, em 1864, nasceu em
Margaride-Felgueiras esse Aniceto Pinto Ferreira que, na sua passagem na terra,
foi o primeiro regente da Banda dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras, juiz
de paz, professor de música, relojoeiro, garagista, etc, e maestro das bandas
que tiveram continuidade na atual Banda de Música de Felgueiras, cujos sons dos
instrumentos podem ainda chamar atenção à memória de tão ilustre antepassado.
Felgueiras não teve mais Anicetos desses, tal qual só houve
um Dr. Costa Guimarães e uns Magalhães Lemos, Agostinho Ribeiro, Fonseca
Moreira, Leonardo Coimbra, Francisco Sarmento Pimentel, Padre Luís Rodrigues e
outros assim, do precioso legado deixado através dos tempos. Homens de boa
memória, de conhecida naturalidade, nascidos de boa semente felgariana.
Honre-se pois tal dignidade, sendo tempo de Felgueiras saber exaltar como deve
ser o que teve e tem de melhor, dando honra ao mérito, ao que é genuinamente
felgueirense.
Armando Pinto
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