Como de costume por três vezes ao mês, às sextas-feiras
correspondentes, o Semanário de Felgueiras está nas bancas e em casa dos
assinantes com novidades. E, como de tantas vezes, desta feita com mais um
artigo da colaboração que o autor deste blogue mantém no mesmo periódico concelhio desde 1996 – de período anterior aos vinte anos que este mês se
completam, no próximo dia 21, desde a publicação do livro "Memorial Histórico de
Rande e Alfozes de Felgueiras" (patrocinado pelo mesmo "Semanário", graças ao reconhecimento do Dr. Manuel Faria pelo trabalho do autor no âmbito histórico-cultural felgueirense).
Sob motivos do imaginário popular de relação ao tempo comum, incide sobre temas de interesse coletivo a redação escrita com que, esta semana de fim de outubro e princípio de novembro, se procura aflorar alguns motes da realidade felgueirense, na ligação à presença dos contornos nacionais na atual dependência europeia. Sem explanar demasiado, até quase a preceituar apurada atenção da leitura para a intenção da narrativa expositora. Com entremeios de algumas figuras de estilo e o mais que se pode ler, porque o que é doce nunca amargou e todos ansiamos por bom sabor para o que gostamos, de maneira melhor aos sentidos.
Tal o intuito do artigo, publicado na edição do Semanário de Felgueiras à chegada da primeira sexta-feira de novembro, conforme se transcreve :
Doçura ou travessura
Pelo meio desta semana de mudança da hora e dos meses da
transição do outono, passou a noite do chamado Halloween. Essa noitada importada
dos Estados Unidos da América e deveras notada através dos filmes americanos
que ao longo de gerações foram chegando à Europa e por extensão ao cantinho
português do extremo ibérico. Como até a esta região felgueirense do pão de ló
de Margaride e uvas de antigos bardos e ramadas, a salpicar a tela de cores em
vislumbres desde o alto de Santa Quitéria, miradouro de Santana, monte da
Aparecida, Senhor dos Perdidos e outros pontos altaneiros da região felgariana.
Numa natureza alterada pelos desígnios da Europa político-comunitária, chegada
a era de profusão das vinhas e frutos da CEE, passados os tempos das castas
locais, enquanto a produção caseira vai dando lugar ao que se vê a perder de
vista, na toada natural da evolução da vida social. Como meros exemplos do que
territorialmente se estende às uniões de freguesias que alteram carateres, mais
o caráter do que antes unia e hoje mais separa.
Então, quão está a ficar enraizado nos hábitos, na
transformação de antigas tradições para novas habituações, em plena noite da
véspera e chegada do Dia de Finados, teve lugar a meio desta semana a senha da
noite das bruxas, o já conhecido chavão de “doçura ou travessura”, em
brincadeira típica do Halloween, qual celebração de crianças e até adultos que,
de casa em casa ou diante de familiares e pessoas amigas, ditam a sentença…
Perante a atualidade, aqui pelo concelho de Felgueiras,
embora sem arremedos fantasiados, por não se querer fingir a realidade e muito
menos meter medo a quem quer que seja, também o povo felgueirense, antes ainda,
logo ao princípio do mês, decidiu solicitar um novo maná, qual pão das almas (como
antigamente em certas regiões havia a tradição do pão de Deus e por cá era
costume as caveiras de botefas esburacadas a alumiar nas desfolhadas da quadra
dos Santos, pela época da lembrança de Todos os Santos, à chegada do dia dos
Fieis Defuntos). Estando assim ainda no paladar do povo de Felgueiras a doçura
pedida, na esperança de um futuro amplo.
Ora, longe indo os tempos de antigas lendas que davam como
escondidas riquezas no chão de terras nortenhas, através de tesouros que os
mouros deixaram enterrados na fuga provocada por sua expulsão por sítios da
sucessiva Reconquista cristã e no reino portucalense, pela região e nos alvores
da nacionalidade, acrescidas algumas curiosidades também soterradas muito mais
tarde aquando das invasões francesas, para evitar maiores perdas nos desmandos
provocados pelos gauleses napoleónicos, ainda há muita riqueza, porém, no
subsolo e acima do chão por estas bandas, nas potencialidades desta região
também de mel, onde as abelhas do brasão concelhio têm correspondência no labor
da gente que gosta de viver sentindo bem o que é a sensibilidade de ser
Felgueirense. Sem que esta terra tivesse ficado com grandes marcas de períodos
antecedentes, como a romanização, mas que tenha sinais evidentes da muito
posterior cultura da edificação românica, naturalmente distintiva. Bem como
noutros aspetos da história local que, mais ou menos conhecida, tem cunho
próprio. Em quanto, afinal, se evidência a atenção popular, como se nota no
interesse, mais por instinto afetivo que institucional, com que boa parte do
povo gosta de ver e saber sobre particularidades da memória coletiva. E agora o
futuro está aí, a ganhar na vista da esperança que as lições de outrora sejam
tidas em conta no presente. Tal como sem valorização do passado não haverá boa
visão do futuro.
ARMANDO PINTO
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