Numa ligação ao artigo anteriormente aqui tratado, continua-se nos contornos da biblioteca municipal de Felgueiras, desta vez com texto publicado na mais recente edição do jornal Semanário de Felgueiras.
Assim sendo, não só por presentemente não acontecer nada de novo, de enfoque especial, cá pela nossa região, mas também porque o que existe vale mais, voltamos atrás no tempo para mais uma rememoração, na ciência comprovativa que a memória deve fazer justiça.
Eis então a coluna, do que foi publicado no SF desta sexta-feira 27 de Fevereiro, seguindo-se o texto normal, para facilitar a leitura:
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Hernâni Cidade
Estamos com Fevereiro a dar seus últimos
toques, com noites enluaradas, de modo que no dizer popular o luar de Fevereiro
quem o dera o ano inteiro. Apesar do frio e tempo instável, como época das
“Febreiradas”, na voz popular quanto às Fevereiradas a condizer, em que tanto
chove como faz sol. Além de ser o mês mais pequeno, mas mesmo assim dando para as
costumeiras andanças de dia e pela noite dentro, com os festejos de Carnaval
(época móvel, que calha mais neste mês), tal qual primeiras manifestações
populares da Quaresma.
Ora, assim sendo, pode ver-se bem como o
que parece de menor abrangência e nem sempre com tempérie estável, também tem
seus atrativos. Quanto no caso da cultura de interesse mais local, relacionada à
identidade concelhia.
Vem ao caso a lembrança dum personagem
que teve alguma influência em Felgueiras, mas por motivos diversos tem sido
injustiçado nos contornos históricos felgueirenses, como foi o Prof. Dr.
Hernâni Cidade. Pessoa que já nem é de nosso tempo, mas deve merecer consideração.
Houve e há quem se admire por Hernâni
Cidade ter escrito, em princípios da década de quarenta, do século XX, que
desconhecia a história de Felgueiras, afirmando, no que se entende de suas
palavras impressas, que os felgueirenses eram dos povos felizes que não tinham
um passado a reter-lhes o futuro. Sabendo-se que esse homem de cultura foi o
iniciador duma pioneira biblioteca municipal, sobretudo. Mau grado opiniões
contrárias, contudo com alguma verdade a constar duma publicação do antigo
jornal Primeiro de Janeiro, em caderno-suplemento de edição especial vindo a
público em 1979, contendo informações recolhidas precisamente com dados
constantes na antiga biblioteca municipal, quando ainda estava implantada no
edifício dos paços do concelho.
A relação com a falta de conhecimentos
do passado felgueirense nem é de estranhar, verificando-se que nesses idos anos
de quarenta e até de cinquenta praticamente nada havia a historiar Felgueiras. Temos
em mãos, por exemplo, um álbum editado em 1953 pelo antigo jornal O Século, com
o país de lés a lés, por distritos, incluindo imagens e informações
cinquentonas de cidades, vilas e aldeias, com alguma importância. E ali, no
distrito do Porto, lá estão as cidades e quase todas as vilas cabeças de
concelho, mas de Felgueiras nada, mais parecia nem andar no mapa, nesses
tempos…
Ora, com essas e outras, não virá mal
algum ao mundo em se recuar nos trilhos da história. Remetendo à evocação do
Prof. Hernâni Cidade, personagem oriundo do sul (do Redondo-Évora) mas que
viveu temporadas em Felgueiras com familiares, nas férias de professor das
Faculdades de Letras do Porto e Lisboa. Acontecendo então que foi ele quem
criou a primeira biblioteca municipal da vila de Felgueiras, dedicando-se
durante tempos de descanso a juntar livros espalhados e ordenando algum
material literário e documental existente na Câmara. Apesar de desconhecer a
história de Felgueiras, mas sabendo-se que vinha a Felgueiras visitar amigos e
passava temporadas com a família, conforme recordava sua filha, a ativista
política Helena Cidade Moura. Entretanto gerou-se uma ideia de certo
menosprezo, passado muito tempo, derivado a um escrito em que ele expressou
desconhecimento pela história felgueirense (crendo mesmo, como escreveu, que
pertencia «à categoria dos povos felizes que a não têm...»), como resultado da
falta de informações enfeixadas que à época se fazia sentir localmente. Tendo
contudo Hernâni Cidade, escritor e jornalista de renome, transmitido apenas as
suas impressões com “Felgueiras e seus arredores”, artigo datado de Lisboa em
1941 e publicado na coleção «Portugal Económico Monumental e Artístico», que
serviu para diversos fins em publicações locais, onde teve transcrições ao
longo de muitos anos.
Isto da cultura, quanto à vertente histórica,
é quase como a lua, que a todos encanta mas não é de ninguém.
Armando Pinto