Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Artigo com a Biblioteca Municipal em estante... no Semanário de Felgueiras


Numa ligação ao artigo anteriormente aqui tratado, continua-se nos contornos da biblioteca municipal de Felgueiras, desta vez com texto publicado na mais recente edição do jornal Semanário de Felgueiras. 

Assim sendo, não só por presentemente não acontecer nada de novo, de enfoque especial, cá pela nossa região, mas também porque o que existe vale mais, voltamos atrás no tempo para mais uma rememoração, na ciência comprovativa que a memória deve fazer justiça. 

Eis então a coluna, do que foi publicado no SF desta sexta-feira 27 de Fevereiro, seguindo-se o texto normal, para facilitar a leitura:

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Hernâni Cidade

Estamos com Fevereiro a dar seus últimos toques, com noites enluaradas, de modo que no dizer popular o luar de Fevereiro quem o dera o ano inteiro. Apesar do frio e tempo instável, como época das “Febreiradas”, na voz popular quanto às Fevereiradas a condizer, em que tanto chove como faz sol. Além de ser o mês mais pequeno, mas mesmo assim dando para as costumeiras andanças de dia e pela noite dentro, com os festejos de Carnaval (época móvel, que calha mais neste mês), tal qual primeiras manifestações populares da Quaresma.

Ora, assim sendo, pode ver-se bem como o que parece de menor abrangência e nem sempre com tempérie estável, também tem seus atrativos. Quanto no caso da cultura de interesse mais local, relacionada à identidade concelhia.

Vem ao caso a lembrança dum personagem que teve alguma influência em Felgueiras, mas por motivos diversos tem sido injustiçado nos contornos históricos felgueirenses, como foi o Prof. Dr. Hernâni Cidade. Pessoa que já nem é de nosso tempo, mas deve merecer consideração.

Houve e há quem se admire por Hernâni Cidade ter escrito, em princípios da década de quarenta, do século XX, que desconhecia a história de Felgueiras, afirmando, no que se entende de suas palavras impressas, que os felgueirenses eram dos povos felizes que não tinham um passado a reter-lhes o futuro. Sabendo-se que esse homem de cultura foi o iniciador duma pioneira biblioteca municipal, sobretudo. Mau grado opiniões contrárias, contudo com alguma verdade a constar duma publicação do antigo jornal Primeiro de Janeiro, em caderno-suplemento de edição especial vindo a público em 1979, contendo informações recolhidas precisamente com dados constantes na antiga biblioteca municipal, quando ainda estava implantada no edifício dos paços do concelho.

A relação com a falta de conhecimentos do passado felgueirense nem é de estranhar, verificando-se que nesses idos anos de quarenta e até de cinquenta praticamente nada havia a historiar Felgueiras. Temos em mãos, por exemplo, um álbum editado em 1953 pelo antigo jornal O Século, com o país de lés a lés, por distritos, incluindo imagens e informações cinquentonas de cidades, vilas e aldeias, com alguma importância. E ali, no distrito do Porto, lá estão as cidades e quase todas as vilas cabeças de concelho, mas de Felgueiras nada, mais parecia nem andar no mapa, nesses tempos…

Ora, com essas e outras, não virá mal algum ao mundo em se recuar nos trilhos da história. Remetendo à evocação do Prof. Hernâni Cidade, personagem oriundo do sul (do Redondo-Évora) mas que viveu temporadas em Felgueiras com familiares, nas férias de professor das Faculdades de Letras do Porto e Lisboa. Acontecendo então que foi ele quem criou a primeira biblioteca municipal da vila de Felgueiras, dedicando-se durante tempos de descanso a juntar livros espalhados e ordenando algum material literário e documental existente na Câmara. Apesar de desconhecer a história de Felgueiras, mas sabendo-se que vinha a Felgueiras visitar amigos e passava temporadas com a família, conforme recordava sua filha, a ativista política Helena Cidade Moura. Entretanto gerou-se uma ideia de certo menosprezo, passado muito tempo, derivado a um escrito em que ele expressou desconhecimento pela história felgueirense (crendo mesmo, como escreveu, que pertencia «à categoria dos povos felizes que a não têm...»), como resultado da falta de informações enfeixadas que à época se fazia sentir localmente. Tendo contudo Hernâni Cidade, escritor e jornalista de renome, transmitido apenas as suas impressões com “Felgueiras e seus arredores”, artigo datado de Lisboa em 1941 e publicado na coleção «Portugal Económico Monumental e Artístico», que serviu para diversos fins em publicações locais, onde teve transcrições ao longo de muitos anos.

Isto da cultura, quanto à vertente histórica, é quase como a lua, que a todos encanta mas não é de ninguém.

Armando Pinto