Faz agora em 2017 a soma de 90 anos que
a 3 de Fevereiro eclodiu na cidade do Porto a mais importante tentativa de dar
a volta à situação saída do derrube da República, um ano antes, pelo 28 de Maio
de 1926. Tendo essa revolta acontecida a 3 de fevereiro de 1927 não tido
sucesso por falta de apoio dos revoltosos de Lisboa, que apenas aderiram dias
depois, já com tudo controlado pelos militares no tempo afetos ao poder, por
assim dizer.
Do comité de vanguarda desse
movimento oposicionista, entre outros, esteve envolvido o Capitão João Sarmento
Pimentel, transmontano de nascimento mas de residência felgueirense, sendo que
a casa mãe de sua família é de laços do Douro Litoral, a Casa da Torre, da
freguesia de Rande, no concelho de Felgueiras e distrito do Porto – onde aliás nasceram seus irmãos.
Embora os Sarmentos Pimentéis tivessem muito afeto pela região do Nordeste Transmontano,
onde tinham propriedades derivado a ser a região natal de seu avô materno.
(Referindo-se estas curiosidades devido a haver em Trás-os-Montes uma
localidade também chamada Felgueiras, e poder haver certas confusões).
Como por diversas vezes temos
referido assuntos sobre os dois irmãos Sarmentos Pimentéis mais famosos, João e
Francisco, bem como no caso do Capitão das “Memórias” temos colaborado até num
projeto que tem sido desenvolvido e difundido pela revista TRIPLOV, desta vez
damos destaque a uma crónica há alguns anos publicada num blogue chamado “Fio
da História", onde, sob título “Sarmento Pimentel, a revolução do Porto”, houve
destaque para esta efeméride também…
Dessa crónica, com a devida
vénia, recordamos essa
“Revolta do Porto”, de João Sarmento
Pimentel
«No dia 3 de Fevereiro de
1927 saiu à rua, na cidade do Porto, o primeiro movimento
militar contra a Ditadura implantada em 28 de Maio de 1926. O movimento devia
ocorrer simultaneamente no Porto e em Lisboa, mas na capital os revolucionários
só conseguiram avançar a 7 de Fevereiro, o que foi fatal para ambos os focos da
revolução. Outras tentativas se seguiriam a esta, mas nenhuma delas logrou
obter êxito até ao 25 de Abril de 1974, 48 anos depois.
João Sarmento Pimentel,
capitão demitido do Exército, participou na revolta e a ela se refere no livro
que escreveu mais tarde no exílio brasileiro (1962) com o título Memórias do
Capitão, do qual se transcreve o seguinte trecho:
“Foi poucos dias antes de
eclodir a revolta que o General Simas Machado me procurou para tomar parte
nela, alegando que, embora eu não tivesse comando e já há alguns anos afastado
do serviço de quartel, a minha adesão traria para o lado dos revolucionários
dois amigos meus com influência decisiva na guarnição militar de Lisboa - o
major Ribeiro de Carvalho e capitão Francisco Aragão (…)
As démarches políticas, que eu
não acompanhei nem quis conhecer, eram agora chefiadas por Jaime Cortesão e
emperraram, não sei bem porquê. A data de 31 de Janeiro para o levante foi
adiada para 3 de Fevereiro, começando no Porto sob a promessa de que 12 horas
depois Lisboa se sublevava. Acreditando na promessa, aceitaram implicitamente a
derrota.
Num desses dias que
antecederam a revolução fui procurado por alguns oficiais que estavam na conjura
e com eles discuti detalhes da luta para derrubar a ditadura militar,
insistindo sempre no pronunciamento simultâneo de, pelo menos Porto e Lisboa
(…)
Quatro anos depois, exilado e
demitido do Exército, assim como Ribeiro de Carvalho e tantos outros que, como
o pobre de mim, andaram pela África e Flandres a defender a República e a
Democracia, tiveram ocasião de me dizer que se haviam enganado, e que a
revolução do Porto se perdeu pela falta de apoio imediato dos republicanos de
Lisboa.
Desde então considerei a
revolução perdida. Como última esperança ainda se mandou numa traineira a
Lisboa Raul Proença e Camilo Cortesão para pedirem mais uma vez auxílio aos
correligionários do Sul e também para os informar da situação em que nos
encontrávamos: muita gente por enterrar, os hospitais atulhados de feridos e as
munições de guerra e as de boca a acabarem-se.
O Governo aproveitou a
diversidade de opiniões no seio dos políticos da oposição, e da indecisão
daqueles que lhe arreganhavam os dentes, para estabelecer uma defesa forte em
Lisboa e para concentrar as tropas de outras Regiões Militares à roda da cidade
do Porto, nos lugares estratégicos que lhe garantissem a iniciativa do ataque
às forças revolucionárias.
Não foi difícil aos neutros
perceberem para que lado pendia a vitória e que o Governo estava senhor das
Fábricas de Munições e dos Caminhos de Ferro. E como, além duma parte da tropa
cujos Comandos havia escolhido à sua feição totalitária, também tinha nas mãos
largas o Banco de Portugal, a ditadura ordenou o bombardeamento indiscriminado
e intensivo.
Dois dias depois o comando
revolucionário pedia um armistício e Lisboa... revoltou-se!
Nós os do Porto, chamámos
àquele levante tardio de Lisboa, a "Revolução do remorso".
É claro que a ditadura,
podendo bater os seus inimigos, primeiro um e, depois deste vencido, o outro
esmagou este retardatário impiedosamente.
Deu-se até ao esporte
salazarista de andar a caçar a tiro, nas ruas de Lisboa, os republicanos
tresmalhados, como quem caça coelhos”.»
= Pose de família, de pais e irmãos do clã Sarmento Pimentel, na Casa da Torre, em 1905 =
Nota: O autor desse artigo
evocativo, Sr. Aniceto Afonso, referia então que teve «o privilégio de
acompanhar o conselheiro da Revolução António Marques Júnior a S. Paulo, em
1982, para levarmos as estrelas de general ao capitão Sarmento Pimentel, depois
da sua promoção decretada pelo Conselho da Revolução.»
Ora, está em princípio
agendada para meados de Abril próximo uma exposição de homenagem a Sarmento Pimentel, para ter lugar em Lisboa – em data e local em devido tempo ainda a anunciar e para
a qual o autor deste blogue tem também alguma colaboração, dentro do possível.
Armando Pinto
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OBS.: O "Projeto Sarmento Pimentel", acima referido pode ser consultado na revista Triplov
OBS.: O "Projeto Sarmento Pimentel", acima referido pode ser consultado na revista Triplov