Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Lembranças de antigamente: uma senhora que cantava e me encantava no Terço dos domingos em Rande…

Pois com a idade a andar para a frente e as recordações a ficarem para trás, por vezes sem quase se saber como, há lembranças que afloram aos pensamentos. Como certamente acontecerá com muita gente. Vindo desta feita à ideia algo relacionado com tempos de encanto da infância, a talhe de ter estado em mãos com uma fotografia, entretanto incluída por junto no conjunto publicado aqui sobre imagens de trabalhos do campo. Ao ver pessoas que conhecemos há muitos anos e já desapareceram, deixando contudo qualquer réstia de sua passagem na terra, pelo menos na memória de quem escreve qualquer coisa também sobre isso.

Ora, aquilo assim ali, naquela foto desbotada pelo tempo, deixa ver alguns trabalhadores rurais de antanho, entre os quais dois irmãos que eu já conheci muito depois, homens adultos, casados e com filhos. Os quais tinham uma irmã que ficara solteira, a Luisinha do Surrego, como era conhecida por ser filha dos caseiros da quintinha do Sub-Rego, na parte baixa da então povoação da Longra, junto ao rio Sousa (na vizinhança da quinta da vacaria, como sempre foi mais conhecida a Quinta da Casa de Rande). E a Luisinha era uma risonha mulher, como eu a via na minha idade infantil, que por norma acompanhava minha mãe na ida e vinda do terço, que era rezado pelas tardes de domingo na igreja de Rande. E eu, que ia e vinha pela mão de minha mãe, também, habituara-me a admirar a jovialidade daquela jovem senhora, muito faladeira. Mas sobretudo gostava de a ouvir cantar, a acompanhar o Padre João, nos cânticos entremeados entre os mistérios do terço. E como ela cantava bem! Era mesmo um encanto, podendo dizer que ela cantava e encantava. A pontos de ter ficado na memória da criança que mais tarde verteu essas impressões numa escrita possível. Tendo o tema da Luisinha, inclusive, sido incluído num dos contos do livro “Sorrisos de Pensamento”, dado à estampa em 2001.

Dessa parte de tal livrinho, porque foi publicado há muito tempo e há muito está esgotado, vem assim a talhe relembrar a que propósito foi lembrada a Luisinha do Surrego, entre outros exemplos que por vezes vagueiam em voos de pensamentos. 


Armando Pinto

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