Dando mais uma volta em viagem do tempo, nestes apontamentos de recuperação da memória coletiva que por vezes anda arredia do conhecimento oficial e até geral da causa felgueirense, procuramos dar mais um contributo com mais um dos diversos exemplos possíveis, desta vez resgatando para a lembrança pública um dos homens que em tempos idos se salientaram na afirmação de Felgueiras. Conforme fica escrito no artigo vindo a público no Semanário de Felgueiras, em sua edição impressa de 12 de maio, de cuja página para aqui transpomos imagem da respetiva coluna e o correspondente texto, ilustrado com algumas imagens de arquivo do autor:
Eduardo Cabanelas: notável
felgueirense dos transportes
Terra que se preze valoriza o que de bom
sai de suas entranhas, sendo que qualquer sítio vale mais pelo que produz. Em
visão enaltecedora à Gens local, num sentimento natural pelo que edifica a identidade
comum; de valorização humana, qual orgulho em pessoas conterrâneas de realce. Tal
é o caso desta vez aqui a evocar, lembrando um dos grandes dinamizadores da
vida regional em tempos idos, num despertar de apreço às origens.
Ora Felgueiras foi, com efeito, terra
mátria de lavra empreendedora, vindo a talhe nesse campo uma lembrança pelos
inícios da grande empresa de transportes públicos Cabanelas, oriunda de Felgueiras,
cujo timoneiro histórico foi Eduardo Cabanelas.
Corriam tempos de transição secular, nos alvores do passado seculo XX, quando em Felgueiras prosperava já o negócio dos transportes públicos, ainda na era dos carros puxados por cavalos, com a memória a chegar ao labor de Eduardo Cabanelas, um dos filhos do iniciador dessa faina, o patriarca Joaquim Cabanelas, aquele “rubro” Cabanelas imortalizado em verso por António Nobre no livro Só. Sendo que o começo desse trabalho familiar vinha de finais do século XIX, ainda na era das diligências, quando o mesmo Joaquim Vieira da Costa (Cabanelas) era cocheiro da carroça-diligência que fazia o transporte de pessoas vindas do Porto para o interior de Entre Douro e Minho. Como das vezes que o poeta António Nobre foi um dos passageiros, ele que viajou nessa malaposta e daí lhe ficou ideia do «rubro e gordo Cabanelas» que o deixava segurar as guias dos cavalos, como lembrou na sua obra poética.
Corriam tempos de transição secular, nos alvores do passado seculo XX, quando em Felgueiras prosperava já o negócio dos transportes públicos, ainda na era dos carros puxados por cavalos, com a memória a chegar ao labor de Eduardo Cabanelas, um dos filhos do iniciador dessa faina, o patriarca Joaquim Cabanelas, aquele “rubro” Cabanelas imortalizado em verso por António Nobre no livro Só. Sendo que o começo desse trabalho familiar vinha de finais do século XIX, ainda na era das diligências, quando o mesmo Joaquim Vieira da Costa (Cabanelas) era cocheiro da carroça-diligência que fazia o transporte de pessoas vindas do Porto para o interior de Entre Douro e Minho. Como das vezes que o poeta António Nobre foi um dos passageiros, ele que viajou nessa malaposta e daí lhe ficou ideia do «rubro e gordo Cabanelas» que o deixava segurar as guias dos cavalos, como lembrou na sua obra poética.
Trabalho esse depois continuado pelos filhos Eduardo, Joaquim e
Zeferino, abalançados a renovar a velha frota de diligências, tendo depois
Eduardo acabado por se manter à cabeça do empreendimento que segurou e fez expandir.
Ao tempo havia em Felgueiras mais alquiladores, como eram chamados os que alquilavam
trens de cavalos, os negociantes de alquilaria. Tanto que no jornal Semana de
Felgueiras era anunciado em 1902 a existência de carros de aluguer de cavalos
com cocheiro, por exemplo, como em 1915 o Jornal de Felgueiras dava conta que
passava a haver, desde Junho desse ano, uma carreira diária entre a então vila
de Felgueiras e a povoação de Vizela, «estabelecida pelos importantes
alquiladores desta vila (de Felgueiras) Srs Eduardo Cabanelas e Aniceto
Ferreira». Evoluindo a situação posteriormente com o crescimento da empresa do
patriarca Cabanelas, enquanto Mestre Aniceto se dedicava mais a negócios de
mecânica, entre outras das profissões também por si desenvolvidas, a par com
seu dom musical, como é sabido.
Felgueiras era ainda, por essas alturas,
uma terra pacata, qual remanso aninhado no sopé da Santa (como popularmente
sempre foi mais conhecido o monte de Santa Quitéria). A pontos que Brito Camacho,
escritor, além de militar e político, em suas Jornadas (livro publicado em
1927) referiu de modo curioso: «Se o leitor alguma vez fôr a Felgueiras, no
verão, recomendo-lhe que peça uma limonada no Café Central (servida em) grande
copo d'agua fresca, muito fresca e assucarada…»
= Eduardo Cabanelas, em 1914, conduzindo um carro particular
de serviço próprio, marca FIAT, modelo antigo ainda com volante à direita e
faróis de carboneto. Foto captada em Felgueiras, nos arredores da vila, nesse
tempo, vendo-se ao cimo do campo visual, mais atrás, a torre do santuário de
Santa Quitéria. =
Então Eduardo Cabanelas, seguidamente, alargou
horizontes e foi crescendo o negócio, passado do inicial mister até ao empreendimento
que prosperou com o tempo das camionetas de carreira, compradas que foram as
primeiras durante a Grande Guerra de 1914-18, então ainda com capota de lona, e
em 1919 duas já de tejadilho rígido, num percurso chegado mais tarde à era dos
seguintes autocarros de viação.
De nome completo Eduardo Vieira da Costa
Cabanelas, natural e residente em Margaride-Felgueiras, era filho de Joaquim
Vieira da Costa (Cabanelas) e Ana Joaquina. Chefe de família, por sua vez, da
prole constituída por seu casamento com Ana de Sousa Lemos. De quem descende
todo o cipoal Cabanelas que, qual autocarro palmilhando pela região, se
alastrou até outras localidades, sem perder a ligação ao rincão de suas raízes,
enquanto a firma do mesmo nome se ramificou também em diversas empresas,
honrando a proveniência Cabanelas de Felgueiras.
= O Sr. Eduardo Cabanelas junto a um dos autocarros da sua
empresa que faziam a “corda” de ligação de Felgueiras a Caíde, com gradeamento
em cima do tejadilho para transporte de correio. Camionetas que, após a saída
da vila de Felgueiras, paravam na estação do Correio da Longra tradicionalmente,
para o efeito, porque, além do transporte de pessoas que iam com destino à
estação ferroviária mais próxima, na região, também levavam os sacos de correio
das estações de Felgueiras e Longra – no histórico Serviço com a CP, em serviço
combinado com a CP, Companhia Portuguesa dos comboios, em que a empresa Cabanelas
detinha os respetivos direitos.=
ARMANDO PINTO
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