Na linha da colaboração normal ao jornal mais regular de
Felgueiras e no seguimento da crónica ilustrada aqui publicada anteriormente, ainda há dias,
eis o prometido artigo em que serviu de mote o cortejo dos tabuleiros de
Tomar e estensivamente o das flores de Felgueiras, com algumas adições apropriadas ao tema.
Disso, como ilustração, juntamos recorte da respetiva coluna
publicada na edição desta sexta-feira 17 de Julho, à página 2, do Semanário de Felgueiras. E
de seguida o texto original, para leitura.
Cultura de Atração e Impacto
Mau grado a crise social que se sente e passando sobre a
correspondente escassez de valorização cultural, ainda vai havendo alguma
cultura de valores por este país fora, nomeadamente na preservação de algumas
tradicionais organizações. Quanto se passa em muitos lados do retângulo
português, em cujo mapa Felgueiras tem algum relevo.
Ora, dando colorido aos semblantes crispados pelos tempos
atuais, entre diversas realizações festivas de impacto, existem alguns cortejos
deveras interessantes. Quanto ainda num destes dias nos entrou pelos olhos
dentro o singular cortejo dos tabuleiros de Tomar. Conforme muita gente viu
pessoalmente e muitos presenciaram em imagens difundidas por vários canais
televisivos nacionais. Em cujas reportagens, assinalando esse mar de flores
alinhadas entre pães, em cestos muito bem elaborados, houve uma referência
ouvida a relembrar alguma aproximação do cortejo das flores de Felgueiras,
apesar das diferenças de desfile e sua apresentação.
Vem assim a propósito a apreciação que estes factos merecem,
apesar do estado atual em que se vive.
Verifica-se nos tempos recentes, com efeito, algum
retrocesso na vida social, bem patente no sentimento público de tudo estar a
andar para trás. Quase numa sequência de erros políticos e colapsos económicos
sentidos pela população. Cujo recuo, afinal, tem levado à retoma de antigas
valências, pois, como há muito diz a sabedoria popular, quando não há pão até
migalhas vão.
Perante isso, após atropelos geradores de revés, como
aconteceu com a extinção de freguesias e imposição de uniões ficcionadas, sem
diminuição de custos mas aumento de pecúlios, nota-se um evidente afastamento
de muita gente diante de realizações e manifestações de cariz local e regional,
mesmo desinteresse bairrista, na falta do que dava alma à coisa pública.
Enquanto, por outro lado, há autarcas, desconhecedores das extensões
territoriais que representam agora, a deixar correr a água, embora com fontanários
secos, em aspetos singelos, para não se ir muito além nas constatações.
Nesses comenos, entre causas e efeitos, sente-se acuidade na
salvaguarda do que ainda existe, num ponto de vista revitalizador, quanto a
possível recuperação telúrica. Vindo à tona a necessidade de mais vir a ser
feito e pelo menos se manter o que existe, no fortalecimento de imagens de
marca capazes de arrastar e fazer puxar a situação para uma unidade sentida.
Vem então à baila quão importantes são os casos de
motivação, querendo dizer algo capaz de provocar atração a uma causa, como no
sentido dos interesses duma entidade, seja instituição ou localidade. Qual o
caso do referido cortejo das flores que ainda há pouco voltou a colocar
Felgueiras no mapa. Merecendo assim uma reflexão, num paralelismo possível ao
muito mais antigo e famoso cortejo de Tomar, que leva à cidade do Nabão uma
imensidão de visitantes, quer excursionistas nacionais e turistas estrangeiros.
Faltando porém em Felgueiras uma dose promocional mais atenta e precisa, como
se vê em Tomar, desde um simples símbolo alusivo numa das rotundas de entrada,
até uma decoração apropriada no edifício dos paços do concelho e ruas da
cidade, além da promoção noticiosa evidente que chega a todo o lado; mas
ganhando no respeito pelos romeiros, em transportes de deslocação colocados
(entre a cidade de Felgueiras e o alto de Santa Quitéria, local principal da
festa do concelho), já que em Tomar, ainda recentemente, frise-se, os
forasteiros foram obrigados a longa caminhada desde o aparcamento de autocarros
até aos locais de passagem do cortejo.
Portugal é país de tradições persistentes e Felgueiras
felizmente mantém algumas. Devendo isso assim merecer sempre atenção, por
quanto tudo ganha melhor visibilidade e apreço diante de factos provocadores de
impacto, qual atração que a vida ganha em haver cor e diversão na diferença da
normalidade.
Armando Pinto
((( Clicar sobre os recortes digitalizados, para ampliar )))