Lê-se nalguns órgãos de comunicação por estes dias, a meio
de Junho, que «Felgueiras vai ter, a partir de 2017, uma vez por mês, a título
experimental, uma feira ao sábado, para além dos mercados semanais, à
segunda-feira, que se mantêm.
Segundo o vereador Francisco Cunha, a experiência vai
prolongar-se por um ano para se perceber "a apetência da população".
Se os resultados forem bons, prometeu, a realização de uma feira ao sábado,
passará a ter caráter definitivo.
O mercado de Felgueiras, realizado sempre à segunda-feira,
registou noutras épocas uma maior procura. Nas últimas décadas, a presença de
clientes tem decaído, algo que o vereador atribui ao facto da maioria da
população estar ocupada nos seus empregos. Por isso, acrescentou, talvez ao
fim de semana haja maior disponibilidade para as pessoas acorrerem ao mercado.
Acresce que, prosseguiu, as recentes obras de remodelação
realizadas no mercado municipal, proporcionam melhores condições para quem
vende e para quem compra, justificando-se por isso tentar potenciar o espaço. Francisco
Cunha diz que os feirantes já foram contactados e fizeram chegar as suas
expectativas, mostrando-se agradados com a realização de uma feira, uma vez por
mês, ao fim de semana. Se a experiência correr de acordo com as expetativas da
Câmara, assinalou, os feirantes que habitualmente vendem os seus produtos em
Felgueiras poderão ter possibilidade de aumentar os seus rendimentos, o que
dinamizará o setor agrícola no concelho…»
= Foto da feira no mercado de Felgueiras, conforme consta no
desdobrável turístico de Felgueiras publicado pela CMF em 1983.
Pensando na perspetiva de munícipe, uma razão forte da feira
de Felgueiras não ter grande importância pode ser pelo facto de só se realizar
de manhã (sabendo-se que as manhãs são mais ocupadas e depois do almoço há mais
disponibilidade) e nunca se ter estendido pela tarde adiante, como as da Lixa,
Lousada, Paredes, Amarante, etc. - as mais conhecidas da região e deveras frequentadas por
muita gente. Basta ver como a feira da Longra, que na versão nova é algo recente
e apenas acontece sensivelmente de 2 em 2 meses, como decorre todo o dia
costuma ter apreciável frequência. Assim sendo, para melhor dinamizar a feira
de Felgueiras, além dessa feira mensal aos sábados (que deve resultar), porque
não experimentar estendê-la pela tarde das segundas-feiras, também?!
Este tema das feiras em Felgueiras, na ótica memorial, já
foi historiado em crónicas do autor destas notas, nomeadamente nalguns artigos
no Semanário de Felgueiras. Conforme se junta de seguida:
Feiras no Concelho de Felgueiras
Outrora, quando a subsistência de muita gente dependia do
escoamento ao que era fabricado nos campos, representava primazia no modo de
vida das gentes destas terras Felgueirenses, também, a venda dos produtos
cultivados, através das feiras que ia havendo por estes sítios.
Decorreram séculos enquanto esse processo de mercado desempenhou
lugar primordial na economia da região, tendo significado remedeio e progresso
nesses tempos, minorando problemas de uma existência algo estacionária em zona
de agricultura intensiva e propriedade dividida. Em tempo enquadrado num
ambiente de paisagem influenciada às suas causas e marcas, como de um
quotidiano rural afeiçoado ao regime de arrendamento de quintas, por meio de
pagamento aos senhorios de uma parte dos géneros do próprio amanho da terra,
através de carros de pão, envasilhas de vinho, alqueires de feijões, cabos de
cebolas, arrobas de batatas, peças de linho. Dependendo muito da terra, que era
esfarelada entre dedos no apuro, da disposição e quantidade das carreiras de
uveiras e sucedâneos bardos de vinho. E acordos de honra por palavra dada, sem
papel assinado. Então em ronceiras carroças com galinhas, coelhos e outros
animais de criação doméstica e “carreadas” de cereais, frutos, sementeiras e
hortaliças em carros de bois cujo carrego detinha efeito nas grandes rodas a
chiar o peso das cibanas sobre ressequidos eixos, lá eram transportados os
produtos para as feiras, às carradas, em vista à substituição dos princípios da
autossubsistência de trocas e procuras às próprias casas nas comunidades algo
isoladas, pela economia de mercado da venda pública propícia a oferta antes da
entrega, regateando-se preço acertado. Bem como com bois e vitelos a medrar,
levados até esses largos da confluência mercantil puxados por sogas, açougues
presos a jugos ou cangas, conforme os casos de juntas ou unidades, sob ação de
aguilhões.
= Antigo Largo da Corredoura, da vila de Felgueiras, que servia de praça central e era onde funcionava o original campo da feira…
Conforme a origem da palavra, feira (do latim “feria”) tinha
a ver com um dia livre, relacionando-se na evolução linguística também com a
palavra féria, de descanso. Entre os Romanos era um «dia em que se prescrevia a
cessação do trabalho, para que as pessoas estivessem livres para feirar…»
Criadas as feiras ao tempo de D. Afonso III, em Portugal,
desde os longínquos reinados que tal estabelecimento resultou com a instituição
desses postos de transações, concentrando num local o fruto do trabalho do povo
e colocando à disposição a distribuição de bens necessários, ao mesmo tempo que
tornava lucrativa a tarefa agrária. Ao passo que conjuntamente havia
possibilidade de negócios de gado, arrematado pelos lavradores para ajuda nos
trabalhos agrícolas. Enquanto à mão apareciam panos e outras necessidades ao
trajar e “cacos”, “limpezas” e demais precisos do lar, enfim havendo de tudo um
pouco à frente do nariz, a tentar os olhos.
= Trajes antigos de feira – Coreografia etnográfica – conf.
Publicação do Rancho Folclórico de Varziela. =
Nesta área sobreviveram velhas tradições em primitivas
feições nalgumas feiras onde o povo folgava. Do que há notícia, entre outras
possíveis, sabe-se que ao tempo da Honra do Unhão, existiu primacialmente uma
feira denominada de Santo Eusébio, instalada sensivelmente em campo situado no
monte desse nome, sobranceiro ao lugar da Sargaça, naquela freguesia condal.
Sucedendo com a anexação, mais tarde, ao então Julgado de Felgueiras, que para
compensar a perda da independência foi mantido no Unhão privilégio de feira
franca, de três em três semanas, «não admitindo realização de outras nos
arredores da Comarca de Guimarães...». Feira que no tempo do posterior concelho
do Unhão se realizava já uma vez por semana. Entretanto, em Pombeiro, na era
administrativa de seu Couto, outra ali decorria à sombra do desenvolvimento monástico.
Mais vagas notícias dão conta, na tradição popular, de ter havido ainda uma
feira temporária em Jugueiros, no tempo em que esta freguesia Felgueirense
pertenceu a Fafe. Terá tido lugar desde longínqua época a Feira de Margaride,
que, segundo parece haver referência, aludida algures, tal «mercado já existia
no ano de 1590, então realizado no Souto da Corredoura, às portas da vila». De
distantes tempos vem igualmente a da Lixa, que pelo menos se fazia (segundo o
Dr. Eduardo Freitas na sua monografia) «já em começo do século passado» (XIX);
havendo quem refira até uma data, de 1726, em que já existiria (segundo
referência surgida no Cortejo Histórico de Felgueiras de 2004); a qual,
conforme Carlos Coelho escreveu, «realizava-se num largo, da Povoação da Lixa,
pertencente à casa do Terreiro, com autorização dos seus proprietários». Também
em Várzea havia uma, «na fertilíssima planície atravessada pela (antiga)
estrada e onde se faz(ia) uma boa feira mensal», quando (conforme descrição do
“Minho Pitoresco”), por desaparecimento da antiga, na transição concelhia a
vila-sede «não tinha feira nem mercados»... tendo essa de Várzea sido criada a
meio do século XVIII, realizando-se sempre em dia próprio de cada mês, ao tempo
conhecida por Feira dos Despiques e que se manteve com o século XIX bem
adiantado (sendo ainda referida no “Minho Pitoresco”, em 1886), até que a
Câmara a mudou para a sede do concelho. De permeio houve criação simultânea de
duas, em Barrosas e na Longra, no tempo do concelho de Barrosas, tendo esses
feirões do Largo do Bom Jesus e do Sambeito da Longra também tido supressão já
no decurso da integração total do concelho de Felgueiras. Tendo sido até a da
Longra parceira importante de outras periódicas que se realizavam pela região,
e que por norma eram anunciadas com antecedência na imprensa, como há notícia
do jornal “Vida Nova” (do Padre Albino Magalhães), ainda em 1912, fazendo então
cotejo da feira da Longra à da Aparecida (do concelho de Lousada), por exemplo…
Assentado o pó de tais transformações, passaram os homens a
irem com os tradicionais varapaus e as mulheres de taleigos à cabeça em demanda
da vila de Felgueiras, para onde fora transferida a de Várzea, enquanto junto à
capela de São Jorge se passou a efetuar apenas uma anual, pelos 23 de Abril –
transformada em novas características que lhe granjearam fama até meio do
século XX por inserir no seu programa a Feira da Linhaça, que englobava mercado
ao ar livre de todos os utensílios da lavoura, além da grande feira de gado
bovino que costumava ter grande afluência e de que restou até à atualidade a
tradicional feira de trocas de gado.
Então, desde os tempos do largo da Corredoura, em Margaride,
«onde se realiza(va)m as feiras (entretanto surgidas com o novo concelho)
mensais de 14 e 29 (hoje em dia semanais e de apenas meio dia), onde (se via) o
lavrador, que desmonta(va) à porta da tenda, prendendo a égua em uma argola
cravada na parede ou num tronco da carrada de lenha que espera(va) ao sol o
machado do rachador...(e) pousa(va)m os saltimbancos...» - conforme era
descrito em 1886 no “Minho Pitoresco”, entrecortado por parênteses de atualização
- foram alguns os poisos da feira de gado e mercado de Felgueiras, até ao que
conhecemos agora do Mercado Municipal e zona adjacente.
Da mesma Feira de Margaride, a crónica social “Ilustracção
Portugueza”, em página dedicada à Vila de Felgueiras, no seu número de 2 de
Junho de 1919, fixou algumas fotografias, da «feira de gado cavalar», em frente
ao então “Hotel Belém” (a qual «perto d’ele se realisa e que costuma ser muito
concorrida») como, extensivamente, das «barracas de fatos feitos e roupa branca
no largo próximo à igreja de Margaride».
A evolução do tempo alterou toda aquela antiga importância,
aqui registada assim superficialmente.
Entretanto, em meados das entradas da década de cinquenta,
houve também anual festa com Feiras Francas no lugar do Assento, na freguesia
de Jugueiros. Incluía essa festividade, criada pela Câmara, feiras de gado
abrangentes a três dias consecutivos no último fim-de-semana de Agosto, a
abarcar concursos de gado bovino, suíno, lanígero, cavalar, muar e caprino,
rematando no último dia com a Feira dos Caçadores, a qual englobava ainda
concurso de criadores de furões. Nos tempos mais recentes a mesma ficou como
Feira de Gado da Festa de Santa Marta e Senhora da Paz, inserida em tal festa
anual do Largo do Assento, em Jugueiros.
= Postal Ilustrado da coleção editada pelo Rancho Folclórico
de Varziela =
Manteve-se contudo, segundo tradição de longas décadas, na
sede concelhia, a centenária e anual Feira de Maio, em Felgueiras – desde 1901
com lugar no primeiro domingo e seguinte segunda-feira desse mês. «Importante
feira» que, no referido exemplar da “Ilustração Portugueza” de 1919, se
realizava «no largo fronteiro» (ao antigo edifício da Câmara Municipal, depois
casa do Tribunal). Certame esse de enraizado cunho expositor de gado, através
de concursos pecuários de criadores agrícolas e competição alargada a corridas
de cavalos, além de outros números de lazer, que antigamente contavam com um
desfile etnográfico chamado Cortejo das Lavradeiras; tal como, em diversos
anos, incluíram mesmo provas populares de ciclismo. Realizavam-se essas festas
de ano então ainda no centro da vila, ocupando área do campo da feira e depois
outros espaços laterais das ruas, no mesmo centro. Presentemente o seu cunho
tradicional tem-se diluído nas constantes mudanças de locais das realizações,
indo para espaços vagos ou em obras e depois de estes ocupados para outros,
sucessivamente durante anos, até que começou a ser colocada a Feira de Maio
dentro da área aberta atrás da Cooperativa Agrícola, e ultimamente na
urbanização das Portas da Cidade, enquanto o espaço entre os seus arruamentos
tem estado vago – restando mais como parque de divertimentos, por ora...
esperando-se que ainda lhe seja destinado espaço próprio, um dia, para o
efeito.
Entretanto, a partir da década dos anos noventas começou em Felgueiras a ser realizada uma feira anual de reconstituição histórica, umas vezes no alto do Monte de Santa Quitéria e outras no centro da cidade de Felgueiras, a que foi dado nome de Feira das Tradições, contando com a colaboração e presença de representações dos ranchos folclóricos do concelho e alguns grupos convidados de outras zonas, com fins de recriação cultural, sendo os produtos angariados e vendidos pelos próprios agrupamentos.
= Feira da Longra na primeira reedição, em 2004!
Já em pleno começo do século XXI foi retomada a tradição da
Feira da Longra, inicialmente em versão anual, como aconteceu em 2004 e 2005.
Depois, dentro das suas características próprias, a nova Feira da Longra, na Vila da
Longra (inicialmente com lugar no espaço de lazer junto à sede da Junta e terreiro de recreio da escola, mais arruamento lateral à Casa do Povo), seguidamente foi realizada em quatro edições anuais a partir de 2006 e em 2007 teve definição oficial através de aprovação municipal. Havendo
mais tarde passado a realizar-se na Zona Industrial da Longra (no parque da antiga Metalúrgica da Longra), sensivelmente de dois em dois meses,
conforme marcação da parte organizativa.
= Sequência de imagens da feira da Longra: A antiga, no
baldio da mata do Sambeito, perto ao Largo da Longra; e a nova, na genuína
versão inicial, junto à sede da Junta e escola. =
Enquanto isso, em Jugueiros de há anos a
esta parte recomeçou a anteriormente referida feira de gado anual, embora mais
como festividade de divertimento. E a partir de 2012, por despacho municipal, passou a haver no centro da cidade de Felgueiras uma Feira das Antiguidades e Velharias, com lugar na primeiro domingo de cada mês, no jardim da Praça da República.
No presente, em suma, mantêm-se apenas no concelho, como
feiras regulares, a semanal Feira de Felgueiras, às segundas-feiras de manhã,
mais a congénere da Lixa às terças. E, em nova versão, de cerca de seis realizações
durante o ano, a referida Feira Tradicional da Longra, como anualmente a Feira
dos 23 de Abril em Várzea, e na Lixa a Feira das Oitavas nas segundas-feiras de
Páscoa; tal qual nos primeiros Domingo e Segunda-feira de Setembro a Festa das
Vitórias da Lixa, mais sua tradicional Feira das Uvas e das Cebolas. Às quais
se acrescenta, nas circunstâncias conhecidas, a referida anual de Jugueiros, de
cunho festivo; como também uma vez por ano a Feira das Tradições na sede do concelho, de revivalismo histórico, mais a mensal das Antiguidades e Velharias, aos domingos primeiros de cada mês. E então, a partir de 2017, a mensal maior de Felgueiras num sábado de cada mês.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))