Um destes dias andando a passear pelo centro da vila de Lousada, em soalheita tarde destes dias quentes da Primavera de 2022, indo a pensar com os meus botões da memória, dei com os olhos na montra duma loja comercial onde em tempos passei muitas horas de manhazinha cedo, ao tempo uma padaria que era dum simpático senhor António, venerando personagem da vila de Lousada daquelas tempos. Isso porque eu ali ficava a fazer tempo, até à aproximação da hora do começo das aulas no Externato de Lousada, naqueles períodos de finais dos anos 60, em dias de aulas, aos princípios dos 70; pois como eu ia muito cedo para Lousada, na única carreira da camioneta da Pereira Meireles da Lixa que passava à Longra em horário anterior ao início das aulas, para não ficar ao frio e a pequena padaria era bem quente, eu para ali ia e ficava a conversar com o senhor Antoninho, que muito gostava de falar comigo de tudo e mais alguma coisa. Eu do lado de fora do balcão, obviamente, e ele dentro, falando entre a chegada e saída da clientela que ia buscar bejus para o pequeno almoço. Ora eu que sempre fui de falar pouco, mas com gente de que gosto e dá oportunidade até gosto de falar, conversava bem com esse meu amigo, como era o caso.
Lembro-me bem desse senhor Antoninho, muito boa pessoa. Como tenho sempre na memória o Senhor Sousa, o porteiro do Externato, para onde eu ia logo que o via passar na sua bicicleta, para abrir a porta daquele histórico colégio de ensino externo. Entre tanta coisa passada e vivida quando por ali andei a estudar, andando eu também de livros debaixo do braço com colegas amigos, ao tempo de frequência no Externato Eça de Queirós.
Hoje a loja naturalmente está mudada e o negócio mudado de ramo. Tal como o Externato há muito que nem existe. Mas permanece a lembrança, apesar de depois disso nem frequentar muito Lousada, por não calhar, de modo que já poucas pessoas conheço hoje em dia dessas de meus tempos estudantis lousadenses. Mas sempre com um lugar especial daquela vila em mim.
É uma honra, mesmo, estar na história do Colégio-Externato Eça de Queirós, de Lousada. Constando no importante livro “Uma História da Educação em Lousada", da autoria do Prof. Luís Ângelo Fernandes. Sendo por isso interessante constar naquele livro da História do ensino em Lousada, através duma foto também histórica. Uma honra, não só, mas também, porque esse antigo colégio foi uma referência no panorama da educação da região, incluindo-se então entre seus alunos, além dos naturais e residentes de Lousada, também jovens estudantes de Felgueiras, Paredes e Paços de Ferreira.
(Externato de Lousada - Foto da página de facebook do Externato Eça de Queirós)
Tempos em que o histórico colégio era deveras familiar no ambiente da terra através de figuras carismáticas, como o "Contínuo" Senhor Sousa, a secretária sempre prestável (senhora muito simpática, da qual me estava já a falhar o nome, mas recordando seu sorriso me vem à ideia como era tratada carinhosamente) a Chiquinha, assim como professores como o tão apreciado Padre Meireles de História, o Padre Campos do Português, Padre Mota de Francês, o Padre Jorge de Inglês e do célebre carro antigo, Professora Orísia de Ciências, etc. etc. Andando o tão afável sr. Sousa de cigarro de mortalha sempre na boca, além de ser conhecido nas suas andanças de bicicleta a atravessar a vila no itinerário profissional. Lembrando que comíamos barato na casa de pasto do sr. Freitas, típica mistura de tasco e restaurantezinho antigo, por trás dos Bombeiros. Ao passo que no centro da mesma vila comprávamos o jornal na loja de papelaria da Geninha, enquanto esperávamos a camioneta de carreira em frente à loja do Rega, rindo-nos com a sua useira conversa de engalhar os clientes.
(Imagem de "Postal" de finais dos anos sessenta)
Sendo do curso liceal de bons amigos como Zé Vieira, mais tarde advogado de renome e dirigente apreciado dos Bombeiros; tal como também o Jorge Magalhães, volvidos anos tornado Presidente da Câmara de Lousada; Zé Alberto; o Teles de Santa Margarida, o Costa de Silvares, o Sousa do Unhão, Reis, Graça, Raquel, Maria José, Goreti, entre outros. Além de colegas mais novos, amigos e companheiros de outros anos.
(Fotos do álbum pessoal - em cima com parte da minha turma de Letras; e em baixo com colegas, mais o Senhor Sousa.)
Depois seguiria eu pela vida adiante, de permeio ainda com passagem pelo Colégio de Vila Meã e depois disso ficara entretanto à espera de incorporação no serviço militar, até ter acontecido o 25 de Abril, etc. e tal…
Lousada está pois aqui no coração. Diz-se de Felgueiras que quem beber da água da fonte de Santa Quitéria jamais deixa Felgueiras; enquanto eu nem precisei disso, gostando muito como sempre gostei, como felgueirense de gema a partir da água que bebi desde criança do fontanário da Longra. Mas gosto também de outros sítios, de modo diversificado. Sendo afeiçoado à cidade do Porto, por exemplo. Tanto que de modo especial onde me sinto melhor a passar algumas horas é em Fátima e no estádio do Dragão. E Lousada faz parte de minhas ternas lembranças.
Armando Pinto
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