Em mais uma abordagem relacionada com a atualidade,
escrevemos desta vez, em nossa regular colaboração no jornal Semanário de
Felgueiras, um artigo de temática relacionada com a recente reorganização territorial
e consequente agregação de freguesias.
De cujas eleições resultaram situações que já estão a vir ao de cima, como deu conta o SF na edição do mesmo número desta sexta-feira passada presente, em notícia e comentário que transcrevemos no post a seguir (acima deste). Dando mais razão, noutros contornos, ao que explanamos neste artigo, que transpomos para aqui conforme ficou impresso na respetiva coluna, à página 10 da
edição impressa do SF de 08 de Novembro:
(CLICAR sobre o recorte digitalizado, para ampliar)
… E de seguida, para devidos efeitos, aqui está o texto
datilografado, para leitura mais acessível:
Agregação desagregada...
Outrora, por estes dias de inícios de Outono e à entrada de Novembro, havia um ambiente próprio da quadra dos Santos, na generalização à evocação dos Fieis Defuntos e azáfama de convívios à roda de magustos. Isto num mero exemplo de coisas simples e quase banais, que tomam proporções temporais. Agora, a bem dizer, nenhum rasto de costumes antigos e muito menos de restos de conversas inacabadas pairam no ar.
Até pedaços de tradição se está a consentir que nos destruam. Aos poucos vamos perdendo identidade e já ninguém refila. Só falta decretarem que deixe de se chamar Portugal a este país que sabemos ser o nosso, mas já não sentimos como tal, mais parecendo um Portugal sem portugueses, não só sem alguns feriados e dias santificados, de quase apenas almas levadas do diabo. Então se as próprias freguesias estão a desaparecer e os concelhos não leva muito que passem a género de comunidades agregadas intermunicipais…?!
Diz o povo que os políticos estão a dar cabo de tudo. E a realidade é essa. Sabendo-se que no caso da reorganização territorial, a nível do que nos diz mais respeito, houve culpa da Câmara Municipal e Juntas de
Freguesias que não tomaram posições devidas, assim como das outras forças políticas que não fizeram força nenhuma, já que ninguém com responsabilidades representativas teve coragem de vincar posição e mostrar decisão, todos deixando que em Lisboa decidissem no papel, sem conhecimento das realidades. E chegou-se ao cúmulo em que está o panorama organizativo, até sem o povo ainda se aperceber de toda a dimensão, algo que só com o tempo se irá demonstrar verdadeiramente.
Numa visão de arqueologia intelectual e rigor moral, recorde-se que o país real fora conhecendo mutações várias, conforme as circunstâncias, ao longo dos séculos. Numa sucinta descrição do território nacional, pode dizer-se, sobre a malha político-administrativa de outros tempos, que as províncias foram nascendo por via do fundo cultural das gentes ao longo do território e não devido a aspetos burocráticos. Assim, em 1816 eram seis as províncias, e em 1832 passaram a ser oito. Em 1836 ficaram a ser 11 as províncias existentes. No que concerne aos concelhos existentes em Portugal o número mais elevado foi de 800 durante séculos e, em 1836, passaram a ser 351. Recentemente eram 308 (ou 309, se juntarmos Olivença, que se encontra historicamente sob indevida administração espanhola desde 1801). E as freguesias eram em número que nem vale a pena agora precisar ao certo, já… Isto antes da reforma Administrativa de 2012, decretada com a “Tróica” do FMI, Fundo Monetário da CEE, sob a falsa desculpa da crise económica que se abateu sobre grande parte dos países e levou a acordos para ajudas e consequentes poupanças exigidas aos países menos desenvolvidos da Comunidade Europeia.
Entretanto, passou Felgueiras por diversas fases de constituição de seu território, consoante as alterações administrativas, sabendo-se dos factos históricos noticiosos da existência de antigos Julgados e Concelhos em parcelas depois incluídas na totalidade posterior, passando pela antiga constituição de um próprio concelho do mesmo nome mas de menor tamanho, como ainda inclusão noutro concelho, de permeio, até à
fixação em 33 freguesias englobadas com a reforma administrativa acontecida no período liberal. Tendo sido muitos anos volvidos que, em 1998, houve separação de uma para a criação do concelho de Vizela.
Agora foi a razia que se vê e sente, levando a que a grande maioria se comece a desinteressar por tudo, não se revendo já em quase nada. Tal diz uma estafada frase antiga, hoje a vir ao cimo da realidade, que um povo sem memória não tem passado, e na verdade estamos a perder tudo quanto nossos antepassados criaram e nos legaram. O que lavará a deixar-se de dar para qualquer peditório…
ARMANDO PINTO