Condizendo ao que vem no dicionário de Língua Portuguesa, retrospeção é
termo referente à observação de tempos, factos ou acontecimentos passados, e
atualidade bem se sabe ser visão do presente. Sendo por esse prisma que, aos
olhos do passado e à compita com o tempo atual, trata o artigo desta feita escrito pelo
autor destas linhas para publicação no jornal Semanário de Felgueiras, puxando
análise retrospetiva de outro tempo até à verificação da época que corre, numa ação descritiva como exercício à meditação coletiva. De cujo relato sintético, publicado no Semanário de Felgueiras desta última sexta-feira de setembro, dia 29, à entrada do Outono ainda fresco, se junta aqui o respetivo texto:
Em tempo…
Clicar na tecla do comando, apertar o “play”, carregar no
sítio de iniciar ou andar, pôr em “off” ou “on”, clicar para visionamento de
computador, disparar câmaras digitais ou apontar telemóveis, tudo são modos de
dizer e fazer nas ações atuais em que a técnica comanda parte da vida. Embora
fique sempre no íntimo algo humano e de forma vincada a sensibilidade humanoide.
Ainda que o teclar em maquinetas ganhe cada vez mais importância, quando antes
se ia a livros e jornais pesquisar, em trabalho de sapa original, e agora,
apesar disso continuar a ser necessário, muita gente se acomode a procurar nos
motores de busca da internet e trabalhos feitos por outros, mesmo que
simplesmente, de diferenciadas formas e feitios.
Gravados que ficam os passos dados em meios informáticos e
outros que tais, mais registados perpassam momentos marcantes da vida comum na
massa cerebral, permanecendo na memória humana o que se acentuou em perspetiva
pessoal. Qual disco rígido da cabeça e que, em ondas emotivas percorrendo as
artérias corporais, chega ao coração e fortalece os músculos sensitivos.
Um destes dias, velando meu neto mais novo com aquela
atenção a que o passar dos anos deu rejuvenescimento mental, dei comigo a
divagar no tempo. (Colocando a memorização na primeira pessoa, porque não
adianta meter o plural onde é pessoal, passe as regras narrativas dos cânones).
Ora, então, estava eu a embalá-lo com a mão no berço, enquanto ele se ia
deixando ir nos sonhos de poucos meses de vida, quando me lembrei que uns bons
anos antes era eu assim que era baloiçado naquele mesmo berço, um exemplar de
madeira torneada com travessas arqueadas nos pés, que tem passado de geração em
geração e já me aconchegara, como serviu de berço a meus filhos e por fim aos
netos quando aqui por casa o ambiente ganha atração com o sucessivo mais novo
rebento, entre os três que enchem mais o núcleo familiar. Vindo-me à ideia,
conforme certas marcas figurantes no subconsciente, como seria assim que minha
avozinha me arrolava o sono, desde a cama onde estava paralisada (por doença
que a atacou, estando até comigo ao colo na ocasião). E como, depois, habituado
a seus embalos afetivos, muito gostava de me sentar à sua beira a ouvi-la
contar-me histórias, encostado à sua cama e mexendo-lhe nas mãos, por minha
vez, em embalo de acariciamento mútuo.
Pois assim, habituado a histórias, não admira certa ligação
à fixação de histórias da história. E com o torpor do sossego temporal,
arrolando os pensamentos, o espírito da meditação voe pelo tempo e espaço.
Pousando num galho a trinar em redor, como ave a repenicar sensações. Calhando
então absorver o que a vida acaba por transmitir, vendo que tudo tem sequência
e pode repetir ou revezar-se, dependendo do sentido tomado. Quanto se verifica
por muitas situações em que o que antes era visado, mais tarde é contrariado
noutra versão diferenciada. Como quem não concordava com algo e posteriormente,
chegado à mesma posição, faz precisamente algo do género, ou até a mesma coisa,
senão pior, esquecendo anterior perceção. Como por vezes acontece, dando razão
ao ditado que se refere genericamente, na evolução da vida, quanto ao facto de
haver quem assim proceda, para que cresça e apareça. Como quem diz que tudo
pode ser melhor, havendo noção que tem de sobreviver certa coerência.
É pois tempo de repensar o tempo, aquele tempo que se via
amorosamente, quais anseios dum porvir, fazendo por isso, à medida dos sonhos.
ARMANDO PINTO
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