Armando Pinto
50
ANOS DE NAMORO!
–
Primavera / Verão de 1973 a 2023
= Edição particular do autor, em tiragem restrita de 20 exemplares, autenticados manualmente, primeiro para oferta de aniversário à namorada desde há 50 anos… e depois para distribuição a familiares.
=
2023 =
À Linda, minha esposa,
Mãe de meus filhos e Avó
de meus netos:
- Dedico e ofereço este
livro, pelo teu 68.º aniversário natalício,
evocando o nosso início
de namoro, passado meio século de quando há 50 anos tinhas completado 18 anos e
ia começar a nossa história conjunta.
Armando
Era uma vez… Foi e é… uma
história que deu vida a diversas boas histórias. Uma História em que, dessa e
desta vez, foi e é personagem protagonista aqui o autor destas lembranças, e
como tal também sou narrador, em género de memória personalizada, como parte
ativa e co-autor da ação e caráter resultante.
História particular esta,
que se recorda agora, em 2023, na passagem de 50 anos desde o começo
correspondente. Porque nem só se refere ao respetivo início a sério, mas aos
antecedentes à correspondência que possibilitou e facilitou o resultado que
leva a isto estar a ser recordado, perante frutos de todo esse trajeto pessoal.
Exatamente. Vindo agora
assim a ficar em letra de forma, a ser descrito na primeira pessoa, por passar
por estes tempos a bela soma de cinquenta anos do que levou ao namoro que fica
aqui lembrado. Na ocasião da comemoração do aniversário natalício deste ano da
minha namorada desde há cinquenta anos (motivo desta escrita e sua publicação
ser prenda de aniversário!), agora que de sua vida perfaz 68 anos, dos quais 50
já andei com ela, primeiro debaixo de olho e por fim mesmo ao lado dos olhos e
de tudo mais, incluindo o coração.
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Já passou meio século.
Recuando a 1973, com a Primavera já florida e a juventude a fervilhar em 18
primaveras vividas, pessoalmente.
Ao tempo, a então
povoação da Longra para a parte de cima ia só até onde hoje está o Edifício
Vila da Longra. Dali para a frente a estrada nacional era ainda beirada de
matas de um lado e do outro, com a iluminação pública também circunscrita até
ali, em postes de ferro (de bocados dos railes da antiga linha do comboio que
passou no início do século XX pela região). Sendo assim o ambiente noturno
deveras escuro como breu fora do centro da Longra. Bem como de dia se ia por lá
acima sem ver casas, que não havia ainda por ali, nesse bocado de terreno entre
o centro da Longra e arredores, por essa banda. Enquanto nesse mesmo lado,
entre a Longra e Cimalhas, nesse mesmo troço de passagem, após a reta imediata
e chegada à curva acima, na confluência hoje do ex-Café Juventude e edifício
Mira Longra, havia a casa da Louceira com uma ramada de vides à frente e um
quintal no flanco; como para o lado, também beirado de mata, era por um caminho
estreito e de terra solta que se seguia para o sentido dos lugares da Piedade,
Quintela e em direção à igreja de Sernande… E de seguida, acima, passada a
curva da estrada nacional, havia então algumas casas, ainda que poucas, entre
as quais a casa onde vivia a jovem que veio a ser também protagonista desta
história.
As estradas nacionais por estes lados eram ainda então de leito algo reduzido, sendo mais estreita (que agora) a via de passagem dos carros e outros veículos, então em alcatrão velho, porque as bermas estavam em terra e cascalho solto, a ocupar as largas margens laterais, ficando a estrada propriamente dita com a parte melhor, embora com piso irregular e estalado, como era alcatroada numa mescla de alcatrão com seixos e pedrinhas à vista. Tal como se via e sentia, no caso em que se encontrava aquela estrada de ligação da Longra para cima, que vem ao caso. Sendo que nesse tempo as estradas eram de vez em quando compostas com piche de alcatrão, lançado por uma escura máquina em ferro, da qual saía borrifado esse líquido pegajoso, depois coberto por camadas de areia lançada a esmo, que se entranhava colando ao pavimento, para no fim ser tudo aquilo calcado com um cilindro grosso e pesado. Maquinetas essas que depois ficavam nalguma das bermas durante largo tempo, à espera de serem levadas para outros sítios a consertar pelos cantoneiros. Mesmo porque esse estado de situação à vista se manteve por mais anos adiante. A ponto que passados anos, numa imagem captada pela minha máquina fotográfica, uma dessas maquinetas pretas de ferro ficou registada à posteridade – e merecerá mais adiante também outra referência.
Estava-se então ainda em
1973. Assim ainda antes do 25 de Abril, da revolta militar que no ano seguinte
levou ao golpe de estado que alterou a sociedade portuguesa, a começar na
política, coisa que nesses idos de 1973/74 pouca gente sabia e entendia. Um
tempo em que pelas estradas da Longra passavam ainda poucos carros, além das
camionetas de carreira e obviamente das bicicletas até então muito usuais,
sendo nessa época muito raro o trânsito automóvel, de modo que se podia mesmo
jogar à bola por ali, como tantas vezes acontecia. Aliás, nesse tempo, da
transição de finais dos anos 60 e princípios dos 70, dos anos antecedentes ao
25 de Abril, é que passaram a aparecer mais veículos de transportes, começado
que foi então mais pessoas a terem carros e motos, com o nível de vida social a
melhorar.
Foi pois nesse tempo que
começou nosso namoro. Em pleno verão. Mas antes começara, no princípio de tudo,
ainda pela Primavera. Tinha eu ainda 18 anos de vida e ia nos 19, que
completaria já depois de iniciado o namoro, portanto.
Isso assim porque, antes
da “oficialização” do namoro, houve naturalmente primeiras vistas de atenção,
etc. e tal. Com o processo antecedente, pessoal e intransmissível.
A Longra era o centro urbano de região. E o Largo da Longra a zona histórica da localidade. Com o sítio de confluência das estradas (das direções de e para Felgueiras, Lousada e Caíde) a dar no chamado Largo, ao centro do qual havia o triângulo divisório, ao género de placa central de delimitar a parte rodoviária da área de estar, por assim dizer, onde costumavam estar as pessoas que por ali paravam e passavam tempos livres, incluindo uso social de conversação e poiso de diversos hábitos. Como por exemplo ali abancavam engraxas, ou seja rapazes com caixas de engraxar, sendo acotiado ali se engraxar os sapatos domingueiros e calçado de dias melhores. Cujo centro, naquele triângulo central bordejado por limites de fiadas de cimento pintado às tiras, era rematado ao meio por uma árvore de bom porte, o chamado pinheiro do Largo da Longra. Estando ao lado a Loja da Ramadinha, que fora da Se’ Marquinhas e naquele tempo estava já nas mãos do senhor Roberto, típica taberna com uma ramada na frente a cobrir um retiro meio empedrado lateral à estrada. E em frente, do outro lado, havia a casa que muito antes foi da antiga fábrica de Móveis de Ferro da Longra, da “fábrica velha” da MIT/Metalúrgica da Longra, antecessora da “fábrica nova” da Metalúrgica entretanto mudada para a reta da Arrancada. Edifício esse onde pelos inícios dessa década dos anos setenta estava instalada uma fabriqueta, a fábrica de calçado de Alexandre Sampaio, onde trabalhava também a sua filha Deolinda… e daí ficar tudo dito. Vendo-a quase todos os dias por ali, os olhos foram-se afeiçoando ao que viam.
Os olhos da recordação
reveem mentalmente esses tempos, quão permanece tudo na retina da memória.
Bastando isso, aqui, porque teria de se pedir emprestadas muitas e boas
palavras para conseguir descrever tão linda memória pessoal.
O certo é que foi sendo
amassada dentro da cabeça a idealização, que tardou a passar do coração para a
ação. Apesar de haver a ideia, mas durante tempos foi assim, sem andar
decisivamente. Pois se nunca tínhamos sequer falado pessoalmente e apenas nos
víamos. O círculo das amizades era então ainda muito circunscrito a quem
conhecíamos melhor, com quem convivíamos anos a fio. Enquanto no Café da Longra
era passado muito desse tempo.
Havia já então esse que
era conhecido por Café do senhor Manel das Mobílias, embora mais gerido pela
esposa, a Isaurinha. Estabelecimento que viera dar outro ar à povoação, pois
até ali como ponto de encontro havia só o bar da Casa do Povo da Longra, como
vinha desde há muitos anos. Apenas havia na terra e em diversas outras terras
as típicas tabernas, popularmente conhecidas por lojas de vinhos e petiscos.
Mas quanto a casas de café, então conhecidos por “senéque bares “ (de
“snack-bar”), eram então coisa pouca e situados apenas em centros urbanos mais
desenvoltos, por norma. Tanto assim que o Café Longra passou a ser sítio de
convivência de muita gente da área e redondezas, pois entre Lousada e
Felgueiras não havia outro, a não ser lá em cima na então vila os típicos Café Jardim
do Albano, mais o Belém, o Popular e o Cari, além do efémero Staminé do Dr.
Hermínio, e da Pastelaria Moderna, que aparecera pouco antes também e dera para
começar em Felgueiras a ver-se mulheres irem ao café.
Ora o Café Longra, além de local de estar e conviver lá dentro, dava também para se estar fora, à porta ou junto à parede da frente a ver os andamentos e o mundo a andar, como tudo e toda a gente que por ali passava.
(foto)
Estava eu então no vai
que vai ou não vai e espera a ver. Com algumas particularidades de permeio, que
fazem parte das lembranças. Sabendo contudo bem quem queria ter para namorada.
Até que houve coragem
pessoal e já que não havia oportunidade de falar pessoalmente, foi por carta.
Que chegou ao destino, apesar de nesse tempo nem saber sequer o seu nome
completo. Era ainda tempo de cartas de amor. Coisas simples e banais, mas muito
amorosas. E as nossas ficaram bem no nosso íntimo.
Essas peripécias
recordamo-las e temo-las connosco. Como a lembrança de que, afinal, resultou.
Passada a Primavera e
entrado o Verão começou o namoro a sério. Marcado encontro para o fim da missa
de domingo, naquela manhã de domingo de nossas vidas, começou por fim o namoro
de falar pessoalmente, frente a frente. Realizando anseios e cumprindo nosso
destino.
E cá andamos, com filhos
e netos a abraçar-nos à vida. Agora já no Outono da nossa vida, mas com raízes
profundas a toda essa vida vivida, da nossa história e das histórias nascidas e
decorridas nas gerações sucessivas, até onde chega o que resulta de nosso
namoro de há cinquenta anos, que aqui e agora pulsa na nossa memorização.
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***** ~~~
Passados anos, já com o
namoro transformado no casamento resultante, em 1977, após quatro anos de
namoro, vieram os frutos – e que lindos rebentos brotados do enlace! Quão,
neste andamento da narrativa, ultrapassando além da história do namoro para os
anos seguintes, são os filhos. Do património amoroso alargado ao longo dos
anos, dentro de nós a extravasar o que ficou dentro dos álbuns da família. E
esses dois rebentos, vem a calhar lembrar, por sinal fotografados duma das
vezes entre as sessões fotográficas paternas, já pelos anos da década de
oitenta (quando também já tínhamos a nossa casa construída), a terem até ficado
mesmo diante de cenário duma máquina de deitar alcatrão às estradas, das tais
que testemunharam também os tempos iniciais do namoro.
Passados cinquenta anos,
desse tal início, sabe bem recordar isso, ao reviver o que deste modo foi
transposto a papel escrito. Tanto que, passados todos estes anos, já tantos, e
com a vida entretanto passada, naturalmente com bons e menos bons momentos de
diversa ordem, se tivesse que voltar atrás e na vida repetir tudo, voltava
obviamente a querer e fazer tudo igual – pois era assim, como foi, que tive a
minha família: nós os pais, mais os filhos e netos.
Como poetou Camões, pondo
voz na boca do pastor Jacob, que esperando por sua amada não se importava de
passar tudo mais outros tantos anos…: «– Mais servira, se não fora para tão
longo amor tão curta a vida!»
Tal qual quando eu gosto
de algo é mesmo a valer, quão mais ainda do que abraço nos melhores momentos da
minha vida. Como eu gosto do que é meu.
Ora, andando pela vida
adiante, ficamos a acariciar tudo o que está percorrido e consubstanciado no
quadro da família.
Abril de 2023 - Armando
Pinto
Viagem no tempo em imagens:
(fotos - sequência /galeria)
Bibliografia DO AUTOR
Obras publicadas:
- Livro (volume
monográfico) «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras»; publicado
em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo Semanário de Felgueiras.
- Livro «Associação Casa
do Povo da Longra – 60 Anos ao Serviço do Povo» (alusivo ao respetivo
sexagenário, contendo a História da instituição – Abril de 1999).
- Livro (de contos
realistas) «Sorrisos de Pensamento» – Colectânea de Lembranças Dispersas;
publicado em Outubro de 2001. Edição do autor.
- Livro (alusivo da)
«Elevação da Longra a Vila» - Julho de 2003. Edição do autor.
- Livro (cronista do)
«Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à
Comissão Fabriqueira paroquial, destinando receita a reverter para obras na
igreja). Edição do autor.
- Livro «Padre Luís
Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa» – Na passagem de 25 anos de seu
falecimento; publicado em Novembro de 2004. Edição do autor.
- Livro «S. Jorge de
Várzea-História e Devoção», publicado em Abril de 2006. Edição da Paróquia de
Várzea.
- Livro «Futebol de
Felgueiras – Nas Fintas do Tempo» (sobre Relance Histórico do F. C. Felgueiras
e Panorâmica Memorial do Futebol Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do
Clube Académico de Felgueiras) – pub. Setembro de 2007. Edição do autor.
- Livro “Destino de
Menino” – dedicado ao 1º neto – Dezembro de 2012, em edição restrita do autor,
numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro “Luís Gonçalves:
Amanuense – Engenheiro da Casa das Torres”, patrocinado pela fábrica IMO da
Longra – biografia de homenagem ao Arquiteto do palacete das Torres, de
Felgueiras – Janeiro de 2014.
- Livro “História de Coração”
– dedicado ao 2º neto – Novembro de 2015, em edição restrita do autor, numerada
e autenticada pessoalmente.
- Livro “Torrente Escrita
– em Contagem Pessoal”, ao género autobiográfico – Dezembro de 2016 – edição
restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente (apenas para partilha
familiar).
- Livro “História dum
Brinquedo que não se pode estragar”, dedicado ao 3º neto – em Fevereiro de
2019, edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro “Luís de Sousa
Gonçalves O SENHOR SOUSA DA IMO” – Patrocinado pelo IESF-Instituto de Estudos
Superiores de Fafe – biografia de homenagem ao fundador da Fábrica IMO da
Longra – Novembro de 2019.
- Livro “Ciclistas de
Felgueiras” – sobre os homens do ciclismo português naturais de Felgueiras que
andaram na Volta a Portugal e provas importantes – publicado pela editora
Bubock Publishing S.L. Janeiro de 2020.
- Livro “Um tal Covid na
história familiar… num sorriso de vida”, dedicado ao 4.º neto, em Dezembro de
2022, edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- (E este) Livro “50 ANOS
DE NAMORO! – Primavera / Verão de 1973 a 2023”, dedicado à esposa.
(Além da autoria de livros oficiais alusivos a realizações de eventos locais, entretanto também publicados.)
= 27 de abril de 2023
AP
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