Crónica escrita como singela homenagem particular, embora de substância coletiva, em artigo publicado no já habitual espaço de opinião com lugar no jornal concelhio Semanário de Felgueiras, em sua edição de sexta-feira 7 de setembro:
Houve e há pessoas que admiramos só de ler, ouvir e ver algo
relacionado, como grandes individualidades, ou nem tanto, que nos chegam pela
transmissão da história, como através de televisão e outros meios da
comunicação social, quer de simpatia mais vasta ou de empatias particulares.
Enquanto, quantas vezes, pessoas haverá que tenham estado à nossa beira, quase
sem se dar por elas, mas de grande valia, com préstimo comunitário.
Efetivamente, na parte do cérebro reservada a memorizar bons
aspetos, fica sempre a lembrança de pessoas e coisas marcantes, com maior
distância física ou proximidade afetiva e ambiental. Permanecendo em bom lugar
das memórias determinadas figuras que foram públicas no meio ambiente da
convivência normal. Quais, por exemplo, além de pessoas de laços familiares e
roda de conhecidos dos mesmos denominadores comuns, também grandes senhores e
senhoras de atividade assinalável, sem esquecer párocos ternamente retidos nos
arcanos das recordações, mesmo funcionários e agentes da vida comunitária, mais
antigos colegas de brincadeiras desenvoltas e professoras distintas do que
ficou no ouvido desde os bancos da escola. Mas também, e sobretudo, pessoas
prestáveis, como vem à lembrança uma boa senhora, que desta feita agora apraz
referir, como remembrança de valência comunitária.
Obviamente, também no caso, como diz o rifão popular, cada
cabeça sua sentença. Havendo naturalmente muitos e bons exemplos, quer no
aspeto particular, como de âmbito mais vasto. Devendo pois quem de outra forma
pensar igualmente se manifestar, por suas ideias e ações. Enquanto, exprimindo
aqui simples lembranças pessoais, se coloca mais um lembrete relacionado à
ideia de perpetuação merecida. Porque apologia histórica também contempla
pequenas coisas, por vezes grandes em significado. Vindo ao caso um exemplo de
gente com história, mesmo entre a multidão normal de pessoas conterrâneas,
porém com saliência por suas obras valorosas em prol da sociedade anónima
popular.
Eis assim o tema: Uma boa senhora, simples, bondosa, que em
tempos idos estava sempre pronta a acorrer a casa de alguém que precisava de
uma injeção urgente, fosse a que hora fosse. Como lembra de então, era o autor
destas linhas ainda criança e depois até adulto, e a via ir onde houvesse
pedidos para dar injeções, quer uma pica em petizes ou medicinal seringadela em
gente crescida.
Perante sua caixa metálica de guardar a seringa, aberta de
modo tradicional tal apetrecho antigo, cujo aço andava amolgado já pelo uso, os
olhos da miudagem e dos graúdos, enquanto aguardavam, arregalavam-se de
curiosidade a vê-la na praxe costumeira de desinfetar seringa e agulha através
de chama acesa em banho de álcool etílico. E era atrativo até reparar como
tinha jeito, no seu mister de habilidosa, a introduzir o remédio pele abaixo
quase sem se notar, na ternura da sabedoria de vocação ancestral. Era assim e
foi a “Quininha das injeções”, como popularmente ficou conhecida em seu tempo e
nos dias que se seguem pela memória alongada às recordações perenes. Uma
senhora que vivia no lugar do Monte da Costa, vizinho à Longra, passando seus
dias nas cercanias de sua residência por Rande, Sernande, Varziela, Unhão,
Lordelo e naturalmente Pedreira, freguesia onde dormia, andando durante o dia,
até sol posto em horas a fio, a satisfazer pedidos de pessoas necessitadas de
seus cuidados, por gosto de fazer bem. Chamada Joaquina Afonso Pacheco, tal era
seu nome de batismo, mas na boca do povo simplesmente “Quininha das injeções”.
Que Deus haja e a tenha consigo em melhor lugar, ainda, que bem merece!
ARMANDO PINTO
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