Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Artigo no Semanário de Felgueiras sobre ex-líbris da Peregrinação Felgueirense de Agosto…


Quando se sucedem assuntos de certo chamariz local, na chegada da época eleitoral autárquica, mas porque se vão sucedendo também casos de lesa interesse supremo, com algum surgimento de vira-casaquismo (tal o caso duma união de freguesias em cujo ambiente ficam sem jeito antigos apoiantes partidários e ficarão mal novos adeptos simpatizantes, o que leva a algum desinteresse por esses processos, à vista das jogadas de interesses que não salvaguardam a memória coletiva), nem apetece tratar nada que respeite a esses temas, quanto à atividade publicista. De modo que, por causa do cheiro da aragem e do estado onde até as ervas não são limpas em determinados locais, a mostrar que agora os representantes situacionistas nem conhecem as localidades, se volte atenções por algo mais sagrado, por via das “coisas”…


Versa então em torno da proximidade da Peregrinação do Concelho de Felgueiras, a crónica publicada desta vez no Semanário de Felgueiras, em sua edição desta sexta-feira 14 de julho: 

À guisa da Peregrinação do Concelho

Com o sol mais a pino na andança estival, entremeando por entre variações ao verão entrado nos dias que vão avançando, no crestar das sensibilidades, caminha a atualidade à medida do tempo aqui pela região, em época de festividades e eventos de Estio. Dando para estender a manta da lembrança ao jeito dum merendeiro temporal, no sabor recordatório.


Ora, no espreguiçar das memórias que assolam as ideias em momentos destes, na proximidade da Peregrinação do Concelho, refrescam-se alguns sentimentos no sentido da identidade coletiva que tais recordações provocam, tomando o todo pela parte. Parecendo andarem no ar ainda odores duma romaria como essa, de antiga tradição, quanto já foi mais mas ainda vai sendo, a Peregrinação do povo de Felgueiras, sob invocação do Sagrado Coração de Maria, que anualmente vai em procissão até ao alto do monte de Santa Quitéria onde, depois da habitual missa campal, é costume muita gente ficar em reunião familiar em torno de toalha a servir de mesa de merenda, desde os tempos do final da Grande Guerra que deu azo a essa manifestação sacra.


Pois então, não sendo esses tempos de muita fartura, nem as pessoas comuns muito atritas a certos cometimentos, não ficaram muitos registos fotográficos dessas e outras antigas ocorrências. Ficando contudo imagens gravadas nas memórias, havendo muita gente que se lembrará de velhos costumes e peripécias vividas em eras recuadas. Tal qual, também, aqui o autor destas linhas. Lembrando-me bem de como, criança a olhar para cima no meio da multidão, depois da chegada ao cimo do monte daquela procissão da nossa terra e agarrado a meus pais, ficava admirado de ver minha mãe emocionada ante a imagem de Nossa Senhora das Graças, na passagem do andor na parte final da peregrinação, enquanto eu fixava mais os olhos no mexer dos raios presos das mãos da Nossa Senhora, que ao tempo saía na ligação da então vila até ao cume daquele lugar de ternas lembranças, o historicamente chamado Monte das Maravilhas. Onde se sequiava a sede, após o esforço da caminhada e durante a missa, com água açucarada vendida publicamente de cântaros revestidos de cortiça, que mulheres traziam à cabeça e iam apregoando entre o povo amontoado no terreiro do adro e extensivo arraial, a par do bocejar cansado durante a cerimónia, atenuado com uma ou outra novidade das palavras saídas da “prática”, ouvida a contar curiosidades e factos da religiosidade relacionada com aquele sítio do santuário felgariano.

Com efeito, não havia então máquina fotográfica em mãos da maioria das pessoas, nem outros meios de captação visual, há algumas décadas, por esses idos anos, sensivelmente à entrada dos idílicos tempos de sessenta e das fotos a preto e branco… porém captei na retina da memória e não mais me esquece esses e outros momentos que dão côr ao sentimento que faz coisas destas fazerem parte das celebrações mentais que englobam o arreigo ao que une o felgueirismo que povoa a mentalidade comum. Como o que substancia a antepassada consagração do concelho de Felgueiras, na presente idealização duma merecida amplitude que representa quanto brotou e vai jorrando da Fonte da Santa para tudo o que possa gerar progresso felgueirense.

ARMANDO PINTO

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