sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

90 Anos da Revolta do 3 de Fevereiro do Porto, de João Sarmento Pimentel


Faz agora em 2017 a soma de 90 anos que a 3 de Fevereiro eclodiu na cidade do Porto a mais importante tentativa de dar a volta à situação saída do derrube da República, um ano antes, pelo 28 de Maio de 1926. Tendo essa revolta acontecida a 3 de fevereiro de 1927 não tido sucesso por falta de apoio dos revoltosos de Lisboa, que apenas aderiram dias depois, já com tudo controlado pelos militares no tempo afetos ao poder, por assim dizer.

Do comité de vanguarda desse movimento oposicionista, entre outros, esteve envolvido o Capitão João Sarmento Pimentel, transmontano de nascimento mas de residência felgueirense, sendo que a casa mãe de sua família é de laços do Douro Litoral, a Casa da Torre, da freguesia de Rande, no concelho de Felgueiras e distrito do Porto – onde aliás nasceram seus irmãos. Embora os Sarmentos Pimentéis tivessem muito afeto pela região do Nordeste Transmontano, onde tinham propriedades derivado a ser a região natal de seu avô materno. (Referindo-se estas curiosidades devido a haver em Trás-os-Montes uma localidade também chamada Felgueiras, e poder haver certas confusões).


Como por diversas vezes temos referido assuntos sobre os dois irmãos Sarmentos Pimentéis mais famosos, João e Francisco, bem como no caso do Capitão das “Memórias” temos colaborado até num projeto que tem sido desenvolvido e difundido pela revista TRIPLOV, desta vez damos destaque a uma crónica há alguns anos publicada num blogue chamado “Fio da História", onde, sob título “Sarmento Pimentel, a revolução do Porto”, houve destaque para esta efeméride também…

Dessa crónica, com a devida vénia, recordamos essa

“Revolta do Porto”, de João Sarmento Pimentel

«No dia 3 de Fevereiro de 1927 saiu à rua, na cidade do Porto, o primeiro movimento militar contra a Ditadura implantada em 28 de Maio de 1926. O movimento devia ocorrer simultaneamente no Porto e em Lisboa, mas na capital os revolucionários só conseguiram avançar a 7 de Fevereiro, o que foi fatal para ambos os focos da revolução. Outras tentativas se seguiriam a esta, mas nenhuma delas logrou obter êxito até ao 25 de Abril de 1974, 48 anos depois.

João Sarmento Pimentel, capitão demitido do Exército, participou na revolta e a ela se refere no livro que escreveu mais tarde no exílio brasileiro (1962) com o título Memórias do Capitão, do qual se transcreve o seguinte trecho:

“Foi poucos dias antes de eclodir a revolta que o General Simas Machado me procurou para tomar parte nela, alegando que, embora eu não tivesse comando e já há alguns anos afastado do serviço de quartel, a minha adesão traria para o lado dos revolucionários dois amigos meus com influência decisiva na guarnição militar de Lisboa - o major Ribeiro de Carvalho e capitão Francisco Aragão (…)
As démarches políticas, que eu não acompanhei nem quis conhecer, eram agora chefiadas por Jaime Cortesão e emperraram, não sei bem porquê. A data de 31 de Janeiro para o levante foi adiada para 3 de Fevereiro, começando no Porto sob a promessa de que 12 horas depois Lisboa se sublevava. Acreditando na promessa, aceitaram implicitamente a derrota.
Num desses dias que antecederam a revolução fui procurado por alguns oficiais que estavam na conjura e com eles discuti detalhes da luta para derrubar a ditadura militar, insistindo sempre no pronunciamento simultâneo de, pelo menos Porto e Lisboa (…)
Quatro anos depois, exilado e demitido do Exército, assim como Ribeiro de Carvalho e tantos outros que, como o pobre de mim, andaram pela África e Flandres a defender a República e a Democracia, tiveram ocasião de me dizer que se haviam enganado, e que a revolução do Porto se perdeu pela falta de apoio imediato dos republicanos de Lisboa.


Desde então considerei a revolução perdida. Como última esperança ainda se mandou numa traineira a Lisboa Raul Proença e Camilo Cortesão para pedirem mais uma vez auxílio aos correligionários do Sul e também para os informar da situação em que nos encontrávamos: muita gente por enterrar, os hospitais atulhados de feridos e as munições de guerra e as de boca a acabarem-se.
O Governo aproveitou a diversidade de opiniões no seio dos políticos da oposição, e da indecisão daqueles que lhe arreganhavam os dentes, para estabelecer uma defesa forte em Lisboa e para concentrar as tropas de outras Regiões Militares à roda da cidade do Porto, nos lugares estratégicos que lhe garantissem a iniciativa do ataque às forças revolucionárias.
Não foi difícil aos neutros perceberem para que lado pendia a vitória e que o Governo estava senhor das Fábricas de Munições e dos Caminhos de Ferro. E como, além duma parte da tropa cujos Comandos havia escolhido à sua feição totalitária, também tinha nas mãos largas o Banco de Portugal, a ditadura ordenou o bombardeamento indiscriminado e intensivo.
Dois dias depois o comando revolucionário pedia um armistício e Lisboa... revoltou-se!
Nós os do Porto, chamámos àquele levante tardio de Lisboa, a "Revolução do remorso".
É claro que a ditadura, podendo bater os seus inimigos, primeiro um e, depois deste vencido, o outro esmagou este retardatário impiedosamente.
Deu-se até ao esporte salazarista de andar a caçar a tiro, nas ruas de Lisboa, os republicanos tresmalhados, como quem caça coelhos”.»


= Pose de família, de pais e irmãos do clã Sarmento Pimentel, na Casa da Torre, em 1905 =

Nota: O autor desse artigo evocativo, Sr. Aniceto Afonso, referia então que teve «o privilégio de acompanhar o conselheiro da Revolução António Marques Júnior a S. Paulo, em 1982, para levarmos as estrelas de general ao capitão Sarmento Pimentel, depois da sua promoção decretada pelo Conselho da Revolução.»

Ora, está em princípio agendada para meados de Abril próximo uma exposição de homenagem a Sarmento Pimentel, para ter lugar em Lisboa – em data e local em devido tempo ainda a anunciar e para a qual o autor deste blogue tem também alguma colaboração, dentro do possível.

Armando Pinto
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OBS.: O "Projeto Sarmento Pimentel", acima referido pode ser consultado na revista Triplov 
(clicando) aqui !
A.P.