À porta de entrada da vida local num ciclo diferente e no mesmo número da edição do Semanário de Felgueiras em cujo espaço é publicada a primeira grande entrevista do
novo presidente da Câmara Municipal de Felgueiras, Nuno Fonseca, mais um artigo de opinião do autor deste blogue tem também lugar em parte duma das páginas do mesmo jornal. No caso, como de costume, com a memória particular e coletiva no sentido. Desta vez subordinando o tema da crónica ao
Como Felgueirenses que somos, e extensivamente
Nortenhos do país começado há séculos por esta região de fortes raízes
luso-galaicas e sucessor sangue afonsino aliado ao pendor sousão, temos natural
caráter genuíno, ao jeito como consideramos e chamamos de gajo um espécime de
referência, como alguém que por bem ou por mal não passa despercebido. Tal qual
sujeito, à imagem da gramática clássica, é elemento fundamental numa frase,
referimos certos tipos de figuras pelo prisma da atenção geral, sem
constrangimento mas como sujeito de imaginário figurativo interessante. Podendo
assim dizer que somos uns gajos porreiros, quão por vezes até conseguimos dizer
umas coisas, como recentemente aconteceu com a mudança dos destinos do figurino
autárquico, por assim dizer.
Pois bem, Felgueiras passa a viver uma outra fase
diante da nova vivência com a realidade derivada das eleições autárquicas
acontecidas ao começo deste outubro de transição, entre diferenciados casos da
essência felgueirense.
Assim sendo, com natural apetência de trocar os bês
pelos vês na derivação da antiga ligação aos alfozes portucalenses-durienses e
arribas minhoto-galegas, cá nos postamos sem trocar de identidade, por mais
água que corra pelos diversos cursos de água que formam o rio Sousa, por aqui
assim chamado em diferentes percursos dos riachos que nascidos de variados
locais se juntam ao sair do concelho. O que mostra, mais uma vez, como por
aqui, em paragens felgarianas, é a diversificação que até ao correr da
liquidez, se solidifica no que deve unir a generalidade do que torna
identificável a sede da gente que bebeu e se sacia nas fontes locais.
Não há como nos sentirmos ser de alguma coisa e
termos qualquer causa afetiva a que nos sintamos ligados, como sermos e termos
a nossa terra e tudo o que nos leva a sentirmo-nos apertados ao rincão natal e
afetivo. Realidade alterada com a reorganização administrativo-territorial
decidida pelos políticos reinantes ao princípio da segunda década do século
XXI, originária da união de freguesias que a partir de 2012/2013 levou a certo
desinteresse generalizado pela coisa pública, incluindo o recorde de abstenção
verificado nas eleições autárquicas desse período. Vindo a talhe, como mero
exemplo, que um pólo urbano mais conhecido por sua localização com direitos
históricos tenha passado no papel a ter outro nome imposto. O que, como se
costuma dizer que há pecados que também se pagam neste mundo, tem feito com que
alguns dos responsáveis dessa aberração a nível nacional e regional já tenham
caído na consideração pública e outros vão pagando fatura moral, pelo menos.
Como há certas coisas que apesar das dúvidas se costuma dizer que haver há-as, as
quais por vezes lembram como pragas juradas por razões justas pegam mesmo e são
bem feitas nas cores do tempo, por causa do cheiro da fortidão das tintas
ambientais.
Estas loas de afinidades têm que se lhes diga. Numa
derivação de como é, por exemplo, sentir ligação ao pão de ló, apesar de não
termos qualquer lucro e apenas sensibilidade bairrista, com isso (no caso
pessoal aqui do autor destas regras), por ser algo que transporta bom sabor
coletivo. Bem como, noutro exemplo bem vincado, ocorreu com a alteração há anos
sucedida no panorama do futebol felgueirense, perante o desaparecimento do
clube representativo do nome Felgueiras e posterior ressurgimento com a
fundação do sucessor clube episódico, como é da história (entretanto também
narrada em livro respetivo). A pontos, que não mais esquece, em certo jogo onde
o autor destas linhas presenciava a evolução do novo grupo que passara a
equipar com cores diferentes do clube histórico, um assistente ao lado passou
todo o tempo a puxar pela equipa adversária, pensando ser o Felgueiras que
tinha na cabeça, o que só descortinou quando se deu conta que quem vestia de
azul-grená eram os da outra equipa…
Estamos pois, no refrescar duma aragem capaz de
fazer memória, de novo atentos à revitalização da identidade felgueirense, com
esperança no que venha daí, diante do que possa voltar a tornar interessante o
felgueirismo que nos corre nas veias.
ARMANDO PINTO
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