Guerra em paz
Com o tempo de verão na sua plenitude, como que a refletir
atmosfera dos dias de muito sol, há ambiente sem nuvens de predisposição
estival, à maneira da boa disposição tomar conta do ânimo envolvente.
Estando-se em período de férias para muita gente, metendo fase de algum
descanso ou lazer turístico, como convidam as temperaturas quentes. Sendo época
que noutros tempos dava para se andar aos grilos, notados pela própria sinfonia
refrescante, enquanto hoje há quem ande à procura de “pokémons”, numa moda mais
virtual de jogo em voga para apreciadores.
Nessa ambiência de descontração, contando ser temporada de
passeios e visitas, lembra o caso também haver quem possa passar por estes
lados nossos, ao jeito como se visita monumentos e museus por outros sítios, se
por cá também houver o que ver, para quem não se agarrar demasiado aos meios
virtuais, entenda-se. Saltando à ideia quão interessante seria haver um museu
público na cidade sede do concelho, para melhor oferta aos visitantes e que,
além de conter o usual quanto a artefactos, servisse sobretudo de garante do
património conjunto. Ultrapassando o que existe (sabendo-se da existência de
locais particulares e especialmente do museu do Assento, este não só longe do
centro urbano mas também sem um delineamento historiador do que respeita ao
território, mais personalidades salientes e factos memorandos), ou seja, que
diga respeito a tudo e todos.
Vem isto a propósito, ainda que não pareça, de se estar em
período comemorativo da 1ª Grande Guerra Mundial, cujo início ocorreu
precisamente no ano da chegada do antigo comboio a terras de Felgueiras, em
1914 recorde-se, e levou às trincheiras da Flandres até 1918 também mancebos
felgueirenses incorporados no Corpo Expedicionário Português. Decorrendo então
o centenário da I Guerra Mundial, período propício a pelo menos lembrar não só
os mortos mas igualmente os intervenientes que sobreviveram, nessa participação
mártir em que estiveram jovens conterrâneos daquele tempo. Pois esses (que
deviam ser enumerados até em lista historiadora, num estudo dos muitos que
deviam ficar em letra de forma), todos eles, seriam alguns dos nossos patrícios
merecedores de homenagem, não tanto com medalhas a título póstumo, mas com algo
físico que faça perdurar pela memória coletiva o seu sacrifício, em
representação afinal da população que por cá ficou e deu seguimento à
felgaridade através das gerações seguintes. Vindo a talhe reparar na falta de
um museu municipal onde figurem essas e outras ocorrências, de modo a honrar os
nossos antepassados.
Resulta então esta lembrança, e daí a pertinência, de um
destes dias ter chegado ao conhecimento do autor destas linhas o facto da
destruição dumas quantas fotografias coevas, que deixadas ao sol e à chuva,
como se diz, por desleixo de descendentes, se desfizeram pelo efeito do tempo
das fisionomias de rapazes que viveram nesta região, fardados com os uniformes
de cotim e capacetes de soldados dos tempos de La Lys. Fotos essas, retratando
pessoas desta zona que estiveram nesse conflito internacional desenrolado nos
campos de batalha em solo europeu, testemunhavam em películas impressas tal
período sofrido da história pátria. Entre exemplares merecedores de chegarem ao
conhecimento dos vindouros. O que leva a imaginar que poderia haver forma de
oficialmente prover uma recolha de documentação ainda existente, em diversos
géneros de suporte, para criação dum fundo histórico, por exemplo, e
extensivamente isso ficar à vista pública pelos tempos fora.
Não fazendo disto uma guerra, mas para descanso de consciência,
fica a ideia para paz da memória.
ARMANDO PINTO
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