À laia do tempo…
Ainda não chegaram a estas paragens as
andorinhas, nem outras aves de arribação, na presença de tempo por ora pouco
agradável e ambiente de menor encanto. Faltando vir manhãs de Primavera, com um
ressurgir de vida ao acordar, e encanto de soalheiras tardes dos dias de
renovação da natureza. Mas assomam entretanto, já, outros passarinhos,
arribando até cá mais aves trazendo também encantos e desencantos de alma na
renovação da vida e desenvolvimento social. Pousando na diversidade, qual
passarinho da recordação empoleirado num galho de lembranças, como que a trazer
sentimentos revigorados, com retaguarda relacionada com aspirações de
desenvolvimento.
Não é tarde nem é cedo, como se diz,
para determos ideia de reminiscência, na altura de transição do ambiente natural,
enquanto o Inverno não acaba nem a Primavera chega, quando o ambiente social
está quase às avessas, com a crise que teima continuar. Passada a época de
Carnaval, quando já a folia carnavalesca nem é como antigamente, na linha da
descaracterização derivada de fusões contra natura e derivadas ocorrências de
tais uniões. Entrando de seguida temporada quaresmal rigorosa, à medida da cor
roxa própria da quadra, vindo então a talhe lembrar algo relacionado com outros
tempos e modos. Não tanto porque quando é assim qualquer coisa serve, para o
efeito, mas porque calha para lembrar a preceito.
Ora, o Carnaval já foi, voando pelo ar
como confetes e serpentinas atiradas, entretanto, despido que vai o tempo de
roupagem de fantasias. Pois, por ter passado já, traz memórias de outro
passado, quando as passeatas de carnaval eram feitas por pessoas
individualmente ou em grupos ocasionais, em desfiles de outros tempos, que
saíam à rua, mascarados com suas caretas, mais roupas velhas e fora de regra,
passeando-se diante dos conterrâneos, conhecidos e assistentes, sem se darem a
reconhecer, nem qualquer outra intenção, quantas vezes com figurações
engraçadas ou provocantes, na linha que no carnaval ninguém leva a mal. Mas sem
tropelias. Até por fim ser queimado o entrudo, junto com peças fora de uso, em
fogueira popular. Junto com leitura de testamento normalmente teatral, no
verdadeiro termo público.
Não é necessário ir muito ao fundo da
arca de lembranças, quanto a fazer uma descrição profunda, por tudo isso estar
bem na memória de qualquer pessoa, conforme a época de cada qual. Nem agora se
torna preciso apontar o que tem sido mais recente, por estar bem presente em
todos os que assistimos ao desfile do tempo atual. Não de um corso carnavalesco
qualquer, mas do trajeto que ocorre nos tempos que correm, agora. Podendo
dizer-se que qualquer semelhança com a realidade não é simples coincidência,
apenas pura existência.
Armando Pinto
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