Mais um artigo escrito e publicado, dentro da colaboração
jornalística ao jornal Semanário de Felgueiras. Cujo título sintetiza o seu conteúdo,
através de texto a procurar deixar
expressa a ideia do valor atribuído ao tema.
Dessa crónica, escrita a seguir à época pascal e publicada no SF desta sexta-feira 17 da quinzena seguinte à Páscoa, colocamos a respetiva coluna, mais o correspondente
texto original para mais acessível leitura, aqui.
Irmãs Vicentinas do Unhão
Ainda lembra aos ouvidos o toque da campainha do Compasso
Pascal, passada que foi a Páscoa, sem ir muito longe algumas lembranças
relacionadas, no que toca ao tema que vem à ideia, desta vez. Sendo que esta
região sempre terá umas quantas referências a puxar pela memória coletiva, quer
no aspeto ambiental como nas dotações, vindo então ao caso a faceta do
património humano.
Ocorreu ainda há pouco, também, a comemoração da outorga do
Foral Manuelino aos antigos concelhos de Felgueiras e Unhão. Encerrando-se esse
período com a celebração da concessão régia da carta foralenga à velha Honra do
Unhão. Cujos festejos tiveram pontos altos nas realizações programadas com
lugar no edifício conventual da Misericórdia local. Onde sobressai o labor da Comunidade
Vicentina das Irmãs de Caridade da Ordem de S. Vicente de Paulo. Ora, é sobre
essa realidade que desta feita apraz registar uma existência de apreço, tal é
sentida a sua presença e por quanto representa na região a faina das conhecidas
Irmãs em prol do bem comum. Cuja vida conventual, por outro lado, tem ainda
outros contactos memoriais à vivência local, de certo modo até com interligação
ao tempo pascal ainda de fresca memória, sabendo-se que Felgueiras, como terra
do pão de ló, é vasto sítio de implantação da doçaria tradicional – para a qual
eram precisos ovos com fartura e nos conventos eram usadas as claras para
engomar os véus dos hábitos, restando as gemas para o doce pão leve e outras
iguarias adocicadas.
Com efeito, antigamente as Irmãs da Comunidade Vicentina da
Misericórdia do Unhão usavam umas espécies de toucas muito salientes e hirtas,
de pano endurecido através de aplicação de caldas de claras de ovos e produtos
similares caseiros. O autor ainda chegou a ver isso, recordando-nos de ver as
Irmãzinhas (como lhes chamávamos popularmente) a circular pela região com esses
hábitos distintos. Andavam pelas portas em missão e consequentemente a joeirar
algo mais, assim vestidas, metendo respeito e certo temor por isso mesmo, pois
usavam tal alto toucado, à espécie de "chapéu" chamado de corneta,
quase se assemelhando a uma gaivota de asas abertas. Também sendo associadas à
memória popular, desses tempos passados, pela assistência que prestavam com um
género de medicina popular, pois eram especialistas na confeção caseira dum remédio das bichas à
maneira antiga, custoso de engolir por seu intenso travo, mas de bom efeito
curativo.
Isso tudo num aspeto que assim justifica retenção de
mais-valia, perante o caso de estar instalada no concelho a Comunidade das
Irmãs Vicentinas, mais propriamente chamadas Filhas de Caridade da Ordem de S.
Vicente de Paulo, no Unhão (além de também no monte de Santa Quitéria), onde as
mesmas exercem funções de educação dirigindo externatos com infantário,
pré-escolar e escolas de ensino básico, além de apoio sócio-caritativo à
comunidade da região. Vindo aqui agora ao caso, no facto a realçar, o exemplo
das Irmãs do Unhão, como normalmente se diz, pela ligação afetiva ao tema.
Estão as mesmas no seu convento sito no antigo Paço dos
Condes, edifício que em 1868 foi comprado pela Misericórdia de Nª Sª do Rosário
do Unhão, em aquisição ao Barão do Calvário (Felgueirense que ao regressar do
Brasil se radicou em Penafiel), desde quando ali ficou instalada a sede
definitiva daquela instituição, fundada anteriormente em 1630 (conforme
aludimos no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, em 1997).
Até que as referidas Irmãs Vicentinas vieram, em 28 de Março de 1933, para o
serviço do antigo hospital da Misericórdia de Nª Sª do Rosário, e desde então
se fez notar, sobremaneira, a sua presença na própria terra e na região
envolvente. Como que a abrir as asas do antigo véu e a pousar no ambiente de
mensagem atual. Quais andorinhas a levarem uma Primavera a quem necessitar.
Armando Pinto
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