sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um rosário evocativo, sobre o Alto de Santa Quitéria, de Felgueiras

Ainda no decurso deste mês de Maria e em período comemorativo do dia litúrgico dedicado a Santa Quitéria, desfiamos um rosário evocativo de ligações afetivas ao monte da Santa, como popularmente é conhecido o planalto sobranceiro à sede do concelho de Felgueiras.


Eis então o que nos veio à memória, em mais uma crónica no Semanário de Felgueiras. De cujo artigo, aqui e agora, damos à estampa a imagem da respetiva coluna, publicada na página 10 da edição desta sexta-feira, dia 23.

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Desta mesma narrativa, para efeitos de mais fácil acesso à leitura, publicamos também, de seguida, o original texto datilografado.

Lembranças sobre Santa Quitéria

Desde tenra idade, ainda durante aqueles anos em que vemos tudo com encanto e curiosidade, me habituei a sentir pelo alto de Santa Quitéria um fascínio especial. Ouvindo minha avó paterna contar histórias de seus tempos, quando levava flores para plantar no jardim do monumento da Virgem, a mando das senhoras de Valdomar, irmãs do Conselheiro Mendonça, aquele que fora antigo Presidente da Câmara e Administrador do Concelho… ela que conheceu bem o Padre Henrique Machado, grande amigo e visita regular da Casa de Valdomar de baixo, em Rande, onde havia oratório doméstico para rezar missa e se desenrolavam convívios de angariação de verbas para o culto e preservação das casas, capelas e templo de Santa Quitéria…

Então, em dias de peregrinação anual, depois da chegada da procissão e comido o farnel em família, à sombra do frondoso terreiro, como havia certa atração em fazer um habitual circuito pela igreja, onde estava à entrada um quadro com imagem terrífica mas engraçada do inferno, indo depois ajoelhar ao pé do altar de Santa Quitéria, seguindo-se passagem pela casa das esmolas, perante visão grandiosa de grandes quadros com as caras dos benfeitores do santuário, enquanto se ouviam pessoas idosas a contar a lenda da Santa e seus milagres… até subirmos à torre, de forma a mirar o lindo panorama da paisagem sousã…

E com que encantamento ficamos então quando, um dia, tivemos finalmente em mãos um livro que meu avô materno guardava, um livrinho com alguns desenhos por entre muitas folhas escritas a falar de tudo aquilo do Monte das Maravilhas, que fora escrito precisamente pelo Padre Machado, de que tanto ouvia falar…

Ora, está aí a chegar às nossas mãos mais um livro sobre Santa Quitéria, publicado por estes dias, cuja apresentação ocorre neste mês de Nossa Senhora, o Maio das flores e dos amores, por ocasião celebrativa da data dedicada a Santa Quitéria. Sendo de louvar o seu aparecimento, sabendo-se que em Felgueiras rareiam obras histórico-literárias e o próprio concelho felgueirense quase nem está historiado a partir da Idade Média, faltando documentação publicada da era do concelho perfeito, nomeadamente desde o século XIX, quando foram extintos antigos Alfozes e os sucessivos concelhos de Unhão e Barrosas se irmanaram de vez no de Felgueiras. Ainda há pouco tempo, quando apresentamos o nosso recente livro sobre o autor da Casa das Torres, Luís Gonçalves, sentimos alguma surpresa em muita gente ao verem o original desenho do monumento da Imaculada e referência ao mesmo sr. Gonçalves, no caso, como autor do desenho da respetiva coluna e gradeamento envolvente, como aquilo estava à época.

Daí nosso apreço pela existência de mais este livro. Ainda que sobre o tema até haja diverso material, felizmente. Desde a existência de um ou outro manuscrito setecentista, havendo depois, em 1879, «O Monte Pombeiro de Felgueiras enobrecido pelo martírio da Virgem Santa Quitéria Bracarense», como em 1885 o trabalho «Vida de Santa Quitéria e Monte Pombeiro enobrecido», pelo Padre Joaquim Álvares de Moura. E mais, tal como 1903 teve publicação um livreto da «Reforma dos Estatutos da Confraria do Santíssimo Sacramento erecta na parochial de Santa Eulália de Margaride concelho de Felgueiras»; enquanto em 1909 teve luz o livro «Vida, Martírio e Milagres da Preclaríssima Virgem e Mártir Santa Quitéria-Glórias e Maravilhas do Monte Pombeiro», pelo Padre Henrique Machado - obra que teve 2ª edição em 1947; ainda naquele mesmo ano, anterior, saiu com data impressa de 1909 um «Relatório/Colégio de Santa Quitéria Felgueiras», que reflete à posteridade notas de referência informativa da sua existência e da vivência do santuário. Já em 1983 - embora escrito em 1972 - foi publicado pequeno livro do Padre Pinho Nunes, intitulado «Santa Quitéria», do qual surgiu em 1991 uma nova edição acrescentada. E no ano 2002 foi publicado um livro intitulado “Monte de Santa Quitéria, Felgueiras”, com o nome da terra em subtítulo, da autoria do Padre Carlos Moura. Isso tudo além de um outro recente, em 2010, ao género de ficção infantil (“A cerejeira que floriu em Maio”) de Nuno Higino e José Emídio.

Os livros são muito mais que simples conjuntos de folhas de papel, nem sendo simplesmente só páginas com carateres impressos e imagens fixadas. São fontes de saber e de exprimir sentimentos, em suma. Assim, aí está mais um, a bem da comunidade, dentro da temática felgueirista, quão importante será sempre o sentimento felgueirense. 

Armando Pinto

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