Entrado no calendário o mês mais primaveril, por excelência,
no encanto da germinação e floração da natureza, aí está mais uma festiva Feira
de Maio como é tradição anual em Felgueiras, há mais de um século já. Cuja realização este ano ocorre no presente fim de semana, desde sexta dia 2, até segunda-feira 5 de Maio.
Na inerência de tudo o que lhe está associado e por quanto
significa esta ocorrência concelhia, procuramos dar mais ênfase à mesma festividade, em mais
um artigo jornalístico, na sequência e complementação de anteriores crónicas
sobre o mesmo tema, através de texto no jornal Semanário de Felgueiras.
Nesse âmbito, o habitual artigo do autor, da colaboração com
que de quando em vez participamos no SF, desta vez versa sobre uma visão de enquadramento histórico correspondente.
Como aqui expomos e resguardamos, colocando a respetiva coluna
publicada na página 10 do número de 2 de Maio.
(CLICAR sobre o recorte digitalizado, para ampliar e ler)
Do mesmo texto, para facilitar a leitura, atendendo a quem
tiver dificuldades em lidar com as formas de ampliação, colocamos também a versão
escrita original, de seguida:
Secular Feira de Maio
Transmitia em 1901 o jornal Semana de Felgueiras a
realização duma interessante feira, criada na sequência de atividades
associativas do setor agrícola, de que resultara anteriormente a criação de um
sindicato e o surgimento do próprio jornal Semana, como porta-voz informativo
dos interesses dessa área extensiva à vida local. Num intuito alastrado a
procurar uma maior intensidade dos laços de união histórica.
Com efeito, foi então criada essa mescla de feira festiva
por deliberação camarária de Março de 1901, ao tempo também denominada por
feira franca e de periodicidade anual, desde logo ficando assente, como era
originalmente, que se devia realizar todos os anos no primeiro dia do mês de
Maio. Sendo sugerida oficialmente por representantes do sindicato agrícola,
teve apoio de comerciantes do concelho, os quais propuseram que a então feira
anual de gado cavalar, com lugar a 28 de Junho dentro do programa das festas do
concelho, passasse a ser uma realização independente e com fins de mais vasto
alcance: pois, além das trocas e vendas de todas as espécies de gado, passou a
incluir a generalidade das ofertas constantes do mercado normal de produtos,
com laivos de festa e arraial por meio de concursos para o gado em exposição,
mais atribuição de prémios para os melhores cavalos, melhor junta de bois e
melhor touro. Ao que em anos seguintes foram acrescidas outras valências, como
em 1902 foi inserido no cartaz um aliciante popular através dum despique de
cantigas ao desafio, sendo instituído um prémio para o melhor par de cantores
repentistas da feira. Enquanto, desde esses primeiros tempos, era presença
tradicional a Banda do Aniceto a dar toque filarmónico, tão apreciada pelo povo
que era a música de banda. E em caso como esse, já que a Feira de Maio depressa
ganhou contornos de acontecimento anual; de tal forma que extravasou fama para
lá do horizonte regional, chegando a fazer com que acorressem a Felgueiras
nessa ocasião muitos feirantes de Trás-os-Montes e das Beiras, como deu conta
uma reportagem inserta na revista Ilustração Portuguesa, publicação de grande
impacto à época.
Passados esses tempos, manteve-se no decurso de longas
décadas, na sede concelhia, essa assim ultra centenária e anual Feira de Maio,
em Felgueiras. Com lugar no primeiro domingo e seguinte segunda-feira desse
mês. «Importante feira» essa que, segundo registava a referida histórica
revista “Ilustração Portugueza”, em sua edição de 2 de Junho de 1919, se
realizava «no largo fronteiro» (ao antigo edifício da Câmara Municipal, depois
casa do Tribunal). Transformada em certame de enraizado cunho expositor de
gado, através de concursos pecuários de criadores agrícolas e competição
alargada a corridas de cavalos, além de outros números de lazer. Sabendo-se,
conforme referia o jornal Notícias de Felgueiras, anos mais tarde, que constava
no rol um desfile etnográfico chamado Cortejo das Lavradeiras; tal como, em
diversos anos, incluiu mesmo provas populares de ciclismo.
Realizavam-se essas festas de ano então ainda no centro da
vila, ocupando área do campo da feira e depois outros espaços laterais das
ruas, no mesmo centro. Presentemente o seu cunho tradicional tem-se diluído nas
constantes mudanças de locais das realizações, indo para espaços vagos ou em
obras e depois de estes ocupados para outros, sucessivamente durante anos, até
que começou a ser colocada a Feira de Maio dentro da área aberta atrás da
Cooperativa Agrícola, e ultimamente na urbanização das Portas da Cidade,
enquanto o espaço entre os seus arruamentos tem estado vago, mais como parque
de divertimentos anual, na atual cidade. Alternando nalguns anos com um
programa abrangente em ideia de promoção da cultura e turismo do concelho, à
mistura com animação, espaço de venda de produtos tradicionais, exposições e
conferências, ao mesmo tempo que passou a ser apelidada de Feira das Tradições,
com inclusão dum cortejo etnográfico e por vezes festivais folclóricos. Contudo
a necessitar de reforço do carácter tradicional, esperando-se que ainda lhe
seja destinado espaço próprio, um dia, para o efeito.
© Armando Pinto
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