A memória coletiva, na generalidade, é partilhada, transmitida e também construída pelo grupo ou sociedade em que todos nos inserimos. Distinguindo-se da memória individual, por dizer respeito a toda a comunidade ao redor.
Baseada na transmissão oral dos saberes necessários ao trabalho e à vida em grupo, mesmo novas e velhas ocupações, a memória registada demanda meios atinentes à salvaguarda de memorizações de interesse para o conhecimento de modos de ser antepassados.
= Sr. Luís Gonçalves =
Na atualidade, o conceito e sobretudo o funcionamento da memória ganhou importantes suportes das ciências físicas e biológicas. Os estudos envolvem necessariamente conceitos de retenção, esquecimento e seleção. Como elaboração a partir de variadíssimos estímulos, pois a memória é sempre uma construção feita no presente a partir de vivências e experiências ocorridas no passado. Relacionando-se a memória ao meio social, em que se articulam relatos individuais ou conjuntos, contribuindo para a compreensão do que engloba a memória coletiva.
= Sr. Luís de Sousa Teixeira =
Assim, neste ponto de vista, damos agora nota, por este meio, de uns quantos quadros sociais dos que compõem a memória e vêm ao caso, por assim dizer. Desta vez colocando à vista de todos umas imagens de memórias aparentemente mais particulares, mas que contudo remetem a um conceito de grupo. Tratando-se, logo na imagem cimeira, de um grupo de pessoas duma mesma família, em pleno início do século XX, cuja recordação carrega em si uma lembrança interagindo com a sociedade, seus grupos e instituições, no contexto das relações sociais. Sendo essa família, adiante-se, oriunda duma casa de situação remediada algures no lugar do Paço (sem necessidade de se especificar mais, visto então haver lugares chamados de Paço de cima e Paço de baixo), numa prole constituída por numerosos elementos que se distribuíam por diversos lugares de residência da freguesia de Rande, noutros tempos já. Abarcando diversificados estatutos de vida comunitária, tendo ainda alguns desses elementos desempenhado papel de algum relevo local e tido sucessores mais ou menos salientes.
= Padre Luís de Sousa Rodrigues =
Alastrando uma rememoração deste género, no contexto dos diferentes grupos com que nos relacionamos no estudo memorial, como conterrâneos, podemos também impregnar algo mais das memórias dos que nos cercam em antiga ligação à terra, de maneira que, ainda que não estejamos em presença destes, o nosso lembrar e as maneiras como percebemos e vemos o que nos cerca, se constituem a partir do que representaram, numa unidade que também é nossa. Nesse sentido de comunidade afetiva, lembramos também individualmente alguns personagens de quadros de referências. Tal qual personagens anónimas, como paradigmas visuais de antigas diversões e afazeres. Bem quanto outras pessoas conhecidas, vindo ao acaso, por exemplo, as figuras de uns senhores como Luís Gonçalves, arquiteto de várias construções conhecidas, como a Casa das Torres em Felgueiras, tal como a casa do Montebelo e o edifício da Casa do Povo, na Longra; também Luís de Sousa Teixeira, patriarca da Casa da Quinta, o qual se salientou especialmente como benfeitor e mesário da Misericórdia do Unhão e por ter mandado edificar as capelas do monte de Santana, no alto de Rande; mais o Padre Luís Rodrigues, sacerdote natural de Rande e que foi um célebre reitor da igreja da Lapa, do Porto, mas sobremaneira célebre compositor de música sacra, entre outros dotes; até ao Padre João Ferreira da Silva, saudoso Pároco de Rande e Sernande desde 1943 até 1973, quando faleceu.
= Padre João Ferreira da Silva =
Ora, para já ficamos por aqui, desta feita, nestas rememorações que tais. Em mais um exercício atinente à elevação da memória coletiva, no intuito de contribuir para o sentimento de pertinência a um grupo de passado comum, qual garante do sentimento de identidade imortalizada numa memória compartilhada, não só no campo histórico, mas outrotanto no campo simbólico.
E por ora basta, até mais ver…
E por ora basta, até mais ver…
© Armando Pinto
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