Espaço de atividade literária pública e memória cronista

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Viagem Memorial Histórica pelos estabelecimentos de saúde da região de Felgueiras e arredores – a propósito da passagem aniversária da USF Longara Vida



Núcleos de Saúde em Felgueiras

Na calha do recente aniversário da Unidade de Saúde familiar da Longra, oficialmente chamada USF Longara Vida, vem em talhe uma rememoração de enquadramento histórico relacionado.


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Nas existências benéficas pelos tempos em equação, detendo vislumbre na apreciação de estudo dos diversos tipos de socialização, há dotações que pelas suas características são incontornáveis, num circuito com devido alcance. Mas, intrometendo-se nas mesmas obtenções, factos acrescem que têm de ser vincados, a propósito. Por entre variadas motivações valorizáveis, seja das chamadas culturas urbana, ambiental e demais, incluindo intentos de preservação patrimonial, recuperação de identidade, iminências da memória coletiva, como outros valores dignos de crédito, será de somar algo relativo à área da saúde. 

Vêm a talhe estas considerações relativamente à continuidade da Unidade de Saúde da Longra, de jeito a aproveitar para rememorar um panorama retrospetivo dos estabelecimentos de saúde no concelho de Felgueiras, no especto de apontamento historiador.


Então, indo por partes e passando ao primeiro ponto, de mais importante fator histórico, o percurso cronológico da saúde institucionalizada, no concelho de Felgueiras, remonta ao século XIX, com a construção do antigo Hospital de Felgueiras. Sabe-se que em 1855, por iniciativa do Dr. António Leite Ribeiro Magalhães, da Casa da Vitoreira, com a colaboração de outras pessoas importantes da terra felgariana, foi fundada a Irmandade da Misericórdia da Vila de Felgueiras, com a finalidade primordial da construção de um hospital. O qual começou a ser feito pouco depois e ficou implantado no edifício mais tarde conhecido por hospital velho (posteriormente transformado na original sede da Cercifel e depois, com a mudança desta, integrando também aumento das novas instalações do hospital atual).

Já no século XX, corria 1912, Agostinho Ribeiro, que fizera fortuna no Brasil, doou seus bens à mesma Misericórdia para custear a construção de novo hospital, acrescido de um lar de asilo próximo, como aconteceu. Com a então nova construção, o edifício hospitalar surgido viria a ser denominado Hospital Agostinho Ribeiro, em homenagem ao seu maior obreiro, e o Lar teve o nome de Maria Viana, em memória da esposa do referido benfeitor.

= Hospital de Felgueiras - antigas fisionomias da frente e das traseiras

Entretanto, ainda no século XIX, começara também a funcionar o Hospital da Misericórdia do Unhão, após haver sido comprado em 1868 o edifício que fora palácio dos condes, adquirido pela mesma Misericórdia ao Barão do Calvário. Aquisição aquela, então feita, para instalar a sede da referida instituição antes fundada em 1630, e onde viria a funcionar o dito hospital, inicialmente chamado de S. Mateus, em dedicatória ao que fora anteriormente patrono da mesma casa fidalga. Essa mansão (que, de permeio, servira como Paços do antigo concelho e se prestara ainda para acolher a cadeia na vigência do mesmo velho concelho do Unhão e do depois sucessor e efémero de Barrosas), teve então conversão em hospital, tendo em 1870 havido aquisição de mais espaços anexos para o efeito, em cuja sequência e derivada ampliação patrimonial, volvido um ano tiveram início os cuidados assistenciais, então entregues às Irmãs Hospitaleiras. A pontos de em 1871 terem ali entrado os três primeiros doentes, e em 1872 ter sido lançado no livro de registo de óbitos o nome do primeiro defunto que lá expirou.

= Centro de Saúde de Felgueiras quando funcionou nas instalações do antigo estabelecimento de ensino Externato Infante D. Henrique

Mantiveram-se durante longos anos estas duas dotações concelhias (com o Hospital do Unhão a chamar-se já de Nossa Senhora do Rosário, alusivo à Padroeira da Misericórdia sua proprietária, o qual a partir de 1934 ficou ao cuidado das Irmãs de Caridade da Ordem de S. Vicente de Paulo), até que surgiu o primeiro Posto de Saúde, adstrito à Casa do Povo da Longra, nos inícios da década de quarenta, do século XX. Tendo essa casa Longrina, em junção às benesses proporcionadas a seus beneficiários, efetivamente criado em 1941 seu Posto Médico, como Delegação Clínica local de abrangência a diversas freguesias da respetiva área – em época ambulatória cingida aos então dois estabelecimentos hospitalares do concelho. Ao passo que, no que toca a aparecimento de outros Postos Médicos, só na década de cinquenta foi criado um outro Posto na Casa do Povo de Jugueiros, enquanto o de Margaride-Felgueiras, mais tarde sede do Centro de Saúde concelhio, foi implementado apenas na década de sessenta (ao tempo numa fração de um prédio da travessa de Belém e muito depois passado para o edifício do antigo Externato), seguindo-se os Postos Médicos da Casa do Povo de Borba de Godim-Lixa, Casa do Povo do Marco de Simães e os Postos Clínicos de Várzea, Regilde e Serrinha, enquanto, por exemplo, o de Barrosas era ainda uma dependência do então Posto da Casa do Povo da Longra e do sucessor Posto Clínico da Longra, ficando independente simplesmente em 1979.


Enquanto isso, o Hospital da Misericórdia do Unhão foi de permeio, já na década de sessenta também, transformado em estabelecimento de ensino. Ao passo que o Hospital de Felgueiras passou por sucessivas alterações, chegando a estar dependente do Centro de Saúde de Felgueiras, até que em 2002 e após retorno à posse da Misericórdia, passou em revitalização a ter características especiais, derivadas de protocolos entre a Misericórdia de Felgueiras e a Administração Regional de Saúde do Porto.

= Imagens de convívios de colegas, no tempo do Posto Clínico da Casa do Povo da Longra.

Entretanto, passando ainda as décadas de setenta e oitenta do século XX, os Postos Clínicos da região (com esse nome, como foram conhecidos durante muitos anos), dependiam então dos chamados Serviços Médico-Sociais do Distrito do Porto, incluídos na dependência dessa tutela, em parceria com instituições locais onde estavam inseridos. Sendo assim independentes uns dos outros, os que estavam sediados em Casas do Povo encontrando-se interligados ao respetivo organismo (acumulando Previdência Rural e Segurança Social), enquanto os outros se encontravam diretamente ligados aos serviços centrais do SMS do Porto.


Em 1977 houve separação institucional, através de autonomia dos referidos Postos Médicos, aquando de diploma governamental que integrou as Unidades Médico-sociais das Casas do Povo nos Serviços-médicos Distritais. Após isso, estabelecido depois novidade de um regime dos Centros de Saúde, na década de oitenta, passou a haver junção de todas as Unidades concelhias em torno de uma Direção, tornando-se a Unidade de Saúde da então vila-sede do concelho em central e as restantes como derivadas extensões.

Estava então em ação o famoso Posto Clínico 105 da Longra…


Tendo essas Unidades estado em diversas situações de instalação (residência), por assim dizer, na transição de século surgiram edificações construídas de raiz: A partir de 1999 a sede de Felgueiras passou a ocupar novas instalações próprias (entre o quartel da GNR e a Biblioteca Municipal), como houve idêntica inauguração na Lixa no mesmo ano; e, já em 2004 se seguiu igual mudança na Longra e em 2005 idêntica praxe inaugurativa em Regilde, tendo em 2008 sido a vez de Simães, Barrosas e Jugueiros, período em que praticamente se alongaram obras também para inerentes transplantes de instalações de quase todas as restantes.


Neste pé, passa-se a outro ponto da ordem: Tendo em conta a mudança verificada na Extensão da Longra e, quanto ao respetivo local de situação, tem de se referir, em reforço à posteridade, que o terreno em que foi construído o edifício do novo Centro de Saúde da Longra foi cedido pela Associação Casa do Povo da Longra, para o efeito, de modo a evitar que saísse da localidade tal dotação. Terreno aquele, portanto, onde ficou ereto o Centro de Saúde da Longra, então proveniente de cedência pela Casa do Povo da Longra. De facto derivado ao carácter de serviço público preciso, para a sua permanência na Longra.


Por fim, entrado 2009, por legislação governamental, passou a vigorar nova regulamentação de Agrupamentos, ficando englobados conjuntamente, numa nova denominação de ACES do Tâmega, os Centros de Saúde das áreas dos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira.


Na situação seguinte, o Centro de Saúde de Felgueiras, desde a referida regulamentação correspondente, passara a comportar a sua Sede de Margaride-Felgueiras e Extensões distribuídas pelas localidades das Unidades anteriormente enumeradas, num universo de áreas repartidas em maiores escalas pelas Unidades da cidade de Felgueiras e das vilas da Longra e Lixa, cada qual com números humanos que rondam (numa escala arredondada de mil e tantos, em princípios do séc. XXI) a conta de18.000 inscritos na U. S. de Felgueiras, 12.000 utentes na Longra e 7.500 na Lixa. Estando, na mesma época de inícios do presente séc. XXI, inscritos pelas outras Unidades totais ainda significativos, tais como na casa dos 5.000 em Barrosas, Jugueiros e Simães, 4.000 em Várzea e Serrinha e 3.000 em Regilde.

Então encontravam-se inscritos pelos Centros de Saúde do concelho de Felgueiras também pessoas residentes noutros concelhos, permanecidas por opção nos seus locais anteriores de assistência médica, entre outros exemplos de situações verificadas.


Passados tempos adveio a nova atualização com a junção dos Centros de Saúde na chamada ACES, sendo no caso a ACES Tâmega III - Vale do Sousa Norte, Agrupamento de Centros de Saúde da região, englobando Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, com sede no Centro de Saúde de Lousada. Dentro do Serviço Nacional de Saúde e da Administração Regional de Saúde do Norte.


Até que, nesse período ainda, houve criação das Unidades Familiares de Saúde, com um novo regime de manutenção administrativa e autónoma gerência em dependência relativa.

Então, em Setembro de 2014 resultou a oficialização da Unidade de Saúde Familiar Longara Vida, como ficou chamada a da Longra. A USF continuadora do antigo Centro de Saúde da Longra que, na génese de sua criação e por todas as mesmas instituições deverem ter uma denominação de ligação local, tomou o nome antigo de Lôngara. Que historicamente remete para algo arqueológico. Atendendo ao passado da terra, que de Lôngara, por encurtamento normal, deu Longra.

A USF Longara Vida faz recuar memórias de pessoas que foram conhecidas também pelos anos de trabalho dedicado durante longo tempo, desde o antigo Posto Médico da Casa do Povo da Longra, passando pela Unidade do Centro de Saúde que foi implantado no atual local em autêntico finca-pé pessoal do então presidente da Casa do Povo e responsável administrativo da Unidade de Saúde da Longra, para que que a mesma não saísse da terra, como é do conhecimento histórico. Ficando nas mesmas instalações ainda peças de mobiliário cirúrgico antigo, de coleção particular, a testemunhar todo esse trajeto.

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Entre memórias pessoais de uma vida de 38 anos de trabalho no Centro de Saúde da Longra, e mais algum tempo, a pedido e por motivo de saúde, na sede em Lousada, gabinete da UAG - Unidade de Apoio e Gestão, ficaram boas recordações, em fotos e comprovativos.


Armando Pinto
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