Quando lia o livro das lições
da Escola, na primária, ao ter diante dos olhos aqueles versos de Junqueiro dos
Simples, na composição sobre a moleirinha – uma velhinha que ia com seu jumentinho adiante, enquanto enternecia netos como eu, não pela personagem mas pelo que fazia lembrar – me vinha à ideia minha
avozinha, então paralítica na cama havia anos, mas que me encantava.
Ah, como me fazia bem entreter-me à sua beira, sentar-me junto a ela a ouvi-la; e como nela tudo era bom. Enquanto ela vivia santamente resignada e era o sol que entrava na família e irradiava até às pessoas amigas e conhecidas, como os raios de sol que eu via entrar pelas frinchas da casa e misturado ao fumo da lareira fazia espirais, subindo como o incenso na igreja…
Ah, como me fazia bem entreter-me à sua beira, sentar-me junto a ela a ouvi-la; e como nela tudo era bom. Enquanto ela vivia santamente resignada e era o sol que entrava na família e irradiava até às pessoas amigas e conhecidas, como os raios de sol que eu via entrar pelas frinchas da casa e misturado ao fumo da lareira fazia espirais, subindo como o incenso na igreja…
«…Vendo esta velhita,
encarquilhada e benta,
Toc, toc, toc, que recordação!
Minha avó… se me representa…
Tinha eu seis anos, tinha ela
oitenta…
(isso nos versos de Guerra
Junqueiro, pois eu era criança mas nem sei quantos anos ela teria, ao tempo, interessava-me lá... eu via-a sempre de cara linda e sorridente! E como o que eu
lia a espaços ia condizendo:)
...Que prazer d’outrora para os
olhos meus!
Minha avó contou-me quando fui
criança…
Toc, toc, e os astros abrem
diamantinos,
Como estremunhados querubins
divinos,
Os olhitos meigos para a ver
passar…»
A minha avó tinha ficado assim
quando eu tinha poucos meses e faleceu estava eu com catorze anos, meses antes
de perfazer minhas quinze primaveras da vida. Fazia parte da minha vida.
Faz agora anos que vim propositadamente de onde estava e a não via há meses, portanto, para me poder despedir dela fisicamente. Estávamos em 1969, ano que então me fez sentir um grande abalo, na primeira perda de alguém muito querido, assim. Dando-lhe por fim um último beijo no dia do funeral, na tarde chuvosa de 18 de fevereiro, em que eu fui nem sei bem como, absorto, mais que perdido em pensamentos. Alguns dos quais mantenho bem vivos, passados já muitos anos. Sendo que isso foi já há 48 anos, caminhando para os cinquenta a conta da saudade entremeada em todos esses anos e que me faz bem lembrá-la nesta data. Porque sempre gostei muito da minha avó Júlia. E nunca esquecerei a minha avozinha.
Faz agora anos que vim propositadamente de onde estava e a não via há meses, portanto, para me poder despedir dela fisicamente. Estávamos em 1969, ano que então me fez sentir um grande abalo, na primeira perda de alguém muito querido, assim. Dando-lhe por fim um último beijo no dia do funeral, na tarde chuvosa de 18 de fevereiro, em que eu fui nem sei bem como, absorto, mais que perdido em pensamentos. Alguns dos quais mantenho bem vivos, passados já muitos anos. Sendo que isso foi já há 48 anos, caminhando para os cinquenta a conta da saudade entremeada em todos esses anos e que me faz bem lembrá-la nesta data. Porque sempre gostei muito da minha avó Júlia. E nunca esquecerei a minha avozinha.
ARMANDO PINTO
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))
- Nota de curiosidade: Na foto vê-se por fundo visual a original fábrica MIT do Largo da Longra, estando à esquerda da imagem fotográfica o popular barracão onde funcionavam as oficinas da "fábrica velha" que deu origem à Mit / Metalúrgica da Longra.
A. P.
Nenhum comentário:
Postar um comentário