A vida sempre tem de continuar, mas tem também momentos de reflexão
e consequentemente proporciona ocasiões de tributação valorizável, quanto a homenagear
algo ou alguém que de alguma forma fez parte da vida que conhecemos e partilhamos.
Nesse prisma, de valorização da memória coletiva, prestamos
desta feita uma homenagem pública através de mais uma das normais crónicas no
Semanário de Felgueiras. De cuja mensagem para aqui se transporta o que
transmitimos no respetivo artigo, do qual postamos a coluna impressa no jornal,
à página 10 da edição desta sexta-feira dia 7 de Março.
(CLICAR sobre o recorte digitalizado, para ampliar)
Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos seguidamente o
texto original:
Barnabé: antigo guarda-redes do panteão memorial
felgueirense
Na azáfama da vida vão surgindo, por vezes, dias que são
noite, no vislumbre de quão curto e passageiro é o trajeto que percorremos
neste mundo. Sobretudo em lembrar como toda a nossa vivência é ligeira, no
sentido da relativa brevidade, olhando-se para trás e vendo que muitas de
nossas referências vão desaparecendo, na voragem dos tempos. Ora, como no
inverno os dias pequenos provocam certa nostalgia e acabrunhamento, também o
entardecer da vida desencadeia certo abatimento, no diferente modo de ver as
coisas. Tal o que sentimos sempre que desaparecem pessoas que estimamos e
admiramos, além naturalmente de entes queridos e amigos, também daqueles
personagens que em momentos da vida vimos com idealismo e admiração, como
figuras públicas afinal.
Pois um destes dias desapareceu do número dos vivos mais um
senhor conhecido da comunidade felgueirense, entre mais naturalmente, no caso
por quanto representou em determinada época para a chamada mística
felgueirista, como elemento importante que foi nos tempos da implantação
clubista do futebol em Felgueiras. Sabendo-se como o desporto-rei sempre foi
importante veículo de promoção e desenvolvimento local, bem como elo especial
de unidade bairrista. Tendo falecido recentemente o Barnabé, famoso
guarda-redes de antigos tempos do futebol associativo em Felgueiras, de quando
os jogos da bola começaram a despertar maior interesse e paixão e a gerar
afluência de multidões. Um nome entre mais referenciais num felgueirismo sem
parangonas na comunicação nacional, mas com direito a uma verdadeira recordação,
quão mentalmente seja o panteão da memória felgueirense.
Com efeito, Barnabé expirou na quinta-feira dia 20 deste mês
de Fevereiro, depressa se espalhando a notícia de sua morte. Não tanto pelo
nome afixado nos avisos necrológicos, mas pelo cognome com que ficou conhecido.
Ficando a saber-se que falecera António Joaquim da Costa, como era o verdadeiro
nome completo desse senhor mais conhecido por Barnabé. Desaparecido do número
dos vivos aos 78 anos, num dia pardacento de Fevereiro, em que, como diz um
ditote popular, sendo pela época de S. Matias, as noites são iguais aos dias. E
a notícia tocou em quem o conheceu, sobretudo por ter sido precisamente figura
pública em seus tempos áureos de guardião da camisola nº 1 do F C Felgueiras. A
pontos de seu nome ter andado em cantilenas que ficaram no ouvido, como, era o
autor desta lembrança ainda menino e moço, por inícios da década de sessenta, e
entre atentos e interessados adeptos felgueirenses se cantava, em momentos
vitoriosos da equipa do Felgueiras: “O Barnabé defende a bola / Ele não tem
medo / De sujar a camisola…”!
Barnabé jogou em tempos da primeira conquista regional do
antigo Felgueiras, alinhando então ao lado de nomes que fizeram história entre
os simpatizantes do histórico Felgueiras, como Pimenta, Sabú, Mamede, Mendes,
Roda, Cardoso, Augusto, etc. Havendo depois passado a representar o Lixa, numa
transferência de grande impacto pela rivalidade existente. Passou ele então a
ser cobrador na empresa de camionetas da Lixa, numa feição simpática que faz
lembrar ainda essa antiga função, da cobrança através de bilhetes que cortava e
entregava aos passageiros, a troco de pagamento logo guardado na sacola de
couro pendente a tiracolo. Como nos recordamos de o ver no trajeto da carreira
para Caíde, parando sempre na Longra para colocar os sacos do correio no
tejadilho, com uma vista nesses volumes de serapilheira e outra nos moços que
num ápice se agarravam à escada articulada das traseiras de tais ronceiros
veículos. Ficando ele, mesmo assim, ligado às recordações felgueiristas por ter
jogado pelas cores lixenses na finalíssima que, em 1965, levou à primeira subida
de divisão do F C Felgueiras.
Parece que foi ontem, mas já passaram muitos anos. Os
catraios desses tempos tinham o Barnabé como alguém fora do comum, enquanto
jogador do Felgueiras, por defender bem aquela baliza grande que víamos no
campo da Rebela. Mais tarde conhecemo-lo melhor, em interessantes contactos
pessoais, quando o sr. Barnabé ia à Casa do Povo da Longra assistir aos ensaios
e espetáculos do Rancho criado pelo autor destas linhas, porque um dos seus
netos fez parte do plantel folclórico dos primeiros passos desse agrupamento.
E, tal qual diante dum quadro ou imagem, qual recordação, só não se compreende
o que não se sente, como bem sentimos consideração devida a esse antigo ídolo
das assistências entusiastas às tardes de bola em Felgueiras, in illo tempore.
Armando Pinto
Esmeralda Pinto
ResponderExcluirQuero deixar, aqui, o meu profundo agradecimento ao Sr. Armando Pinto pelo emotivo texto que publicou no semanário de Felgueiras, acerca do meu pai, António Joaquim Costa. Ou como era conhecido, o BARNABÉ. Fiquei deveras emocionada com as palavras proferidas e que mostraram, um bocadinho, aquilo que o meu pai foi durante a sua vida.
Não nascemos para viver. Nascemos para morrer. E é o que fazemos durante esta passagem que conta.
Obrigada pelo reconhecimento que deu ao meu pai, que venceu sempre todas as batalhas, excepto esta última, para aquele conhecido inimigo de todos, o maldito cancro! Um bem Haja!