Pois com a idade a andar para a frente e as recordações a
ficarem para trás, por vezes sem quase se saber como, há lembranças que afloram
aos pensamentos. Como certamente acontecerá com muita gente. Vindo desta feita à
ideia algo relacionado com tempos de encanto da infância, a talhe de ter estado
em mãos com uma fotografia, entretanto incluída por junto no conjunto publicado
aqui sobre imagens de trabalhos do campo. Ao ver pessoas que conhecemos há
muitos anos e já desapareceram, deixando contudo qualquer réstia de sua
passagem na terra, pelo menos na memória de quem escreve qualquer coisa também
sobre isso.
Ora, aquilo assim ali, naquela foto desbotada pelo tempo,
deixa ver alguns trabalhadores rurais de antanho, entre os quais dois irmãos
que eu já conheci muito depois, homens adultos, casados e com filhos. Os quais tinham uma irmã que ficara solteira, a
Luisinha do Surrego, como era conhecida por ser filha dos caseiros da quintinha
do Sub-Rego, na parte baixa da então povoação da Longra, junto ao rio Sousa (na
vizinhança da quinta da vacaria, como sempre foi mais conhecida a Quinta da
Casa de Rande). E a Luisinha era uma risonha mulher, como eu a via na minha
idade infantil, que por norma acompanhava minha mãe na ida e vinda do terço,
que era rezado pelas tardes de domingo na igreja de Rande. E eu, que ia e vinha
pela mão de minha mãe, também, habituara-me a admirar a jovialidade daquela
jovem senhora, muito faladeira. Mas sobretudo gostava de a ouvir cantar, a acompanhar
o Padre João, nos cânticos entremeados entre os mistérios do terço. E como ela
cantava bem! Era mesmo um encanto, podendo dizer que ela cantava e encantava. A
pontos de ter ficado na memória da criança que mais tarde verteu essas
impressões numa escrita possível. Tendo o tema da Luisinha, inclusive, sido
incluído num dos contos do livro “Sorrisos de Pensamento”, dado à estampa em
2001.
Dessa parte de tal livrinho, porque foi publicado há muito tempo e há muito está esgotado, vem assim a talhe relembrar a que propósito foi lembrada a Luisinha do Surrego, entre outros exemplos que por vezes vagueiam em voos de pensamentos.
Armando Pinto
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