Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 9 de março de 2018

Flores diferentes no jardim das afinidades felgueirenses - Exercício de palavras e memórias de mais um artigo no Semanário de Felgueiras



(Artigo escrito no primeiro fim de semana de março e publicado no Semanário de Felgueiras de sexta-feira seguinte, edição de 09 - 3 - 2018:)


Curiosidades… e afinidades!

Viana tem Santa Luzia, Felgueiras Santa Quitéria – salvo distâncias e diferenças – de panoramas a tocar na imensidão dos afetos; como também a Penha está para Guimarães, o Bom Jesus em Braga, e aos olhos de Lousada o planalto do Senhor dos Aflitos, mailo Monte Crasto para Gondomar, quão a vista do alto da Assunção encima Santo Tirso e por aí adiante. Na diferenciação de tratamentos e aproveitamentos. Tal como na memória da gente felgueirense resiste o carisma do antigo Externato Infante D. Henrique, nas letras de Lousada perdura o idealismo do antigo e também desaparecido Eça de Queirós, como o Externato de Vila Meã faz lembrar ser essa a terra de Agustina.

Numa associação assim de afinidades, Felgueiras tem também relações e memórias ligadas ao desenvolvimento industrial através de firmas antigas de grande impacto na vida concelhia, com papel relevante e natural à primazia do Pão de Ló de Margaride, no sentido emblemático da rosca desse doce tradicional fofo. Mas também, por extensão ao labor das gentes locais, a empreendimentos industriais, por meio de fábricas geradoras de progresso e rentabilidade social, como foi a Metalúrgica da Longra, do grande industrial Américo Martins, a pontos de ter incluído filme promocional do desenvolvimento do país na década de cinquenta, num dos documentários que passavam nas salas de cinema a anteceder filmes de matinés e soirés de antanho; bem como a SIC, cuja firma teve nome expansivo em atos e obras da lavra original do grande felgueirense Teófilo Leal Faria; mais outras das primeiras fábricas grandes de calçado; e especialmente a Marfel, das primeiras camisas de popelina feitas em série, mais lenços de estilo, que levavam o nome de Felgueiras bem longe, incluindo a sua marca duma rosa negra. Tendo a MIT/Metalúrgica da Longra sido um caso especial, de forma que até proporcionava sessões de filmes e espetáculos para as famílias dos operários e teve um boletim próprio, como ainda ensino pós-laboral para o seu pessoal; enquanto a Triple Marfel criou seu Rancho Folclórico institucionalizado, cuja existência proporcionou a realização do 1º Festival de que houve memória em Felgueiras. Entre exemplos diversos de pioneiras organizações tocantes ao surgimento dessas e outras empresas coevas.


Ora, nesses tempos de eras passadas foi pois essa tal rosa negra, bordada a meio dum lado das camisas, que deu mais visual a esse produto que quase não precisava de reclame, e como tal se pode referir, por assim dizer, passados já os tempos das sucessoras camisas de nylon e tudo o resto, mais cortes cintados, pois que atualmente está tudo diferente e modernizado. Havendo ideias que ficaram, do que houve e perdura, mesmo sem nada ter a ver.

Vem a talhe, assim, que por estes dias surgiram em Felgueiras, pela sede do concelho, quase discretamente, umas pequenas flores pintadas nalguns pontos da cidade, a cores. Sem que alguém saiba o significado desses pequenos ramos estampados, a não ser obviamente no conhecimento de quem teve a autoria dessa ideia tipo espalha flores, de feição estranha e contudo com seu quê interessante, para lá dum elã enigmático. Aparecendo diante dos olhos, para quem direcionar o olhar rente aos passeios, umas florzitas em sítios diversos, parecendo ao calha, mas a dar ideia de como a vida pode ser colorida com coisas simples, desde que não estrague nada. O que logo deu para lembrar flores noutros tempos existentes em suportes suspensos, mas entretanto desativados… e as tais flores, da camisaria que outrora promoveu o nome Felgueiras, então mais conhecido pelo vinho verde e outras condicionantes associadas. Negras as rosas antigas, mas parecidas com as coloridas de agora. E como tudo o que é público nos traz memórias e associamos sempre a alguma coisa comum, qual jardim (daquelas coisas estranhas que se podem entranhar), diremos, serão essas umas flores de lugar de lembranças, regadas então na memória do que a cidade reflete. 


ARMANDO PINTO
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