Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sábado, 15 de novembro de 2025

À minha madrinha…!

A vida, no seu desenrolar dos dias e dos anos, vai mudando tudo, incluindo o que nos rodeia e fazendo desaparecer também pessoas de ligação à nossa vida. Como agora, entre quem nos dizia e continuará a dizer muito, faleceu a minha madrinha de batismo, a Celestinha. A minha madrinha que, sei, gostava muito de mim, como eu dela. Assim como, ela que era uma grande bordadeira, das mais apreciadas de Felgueiras com seus pontos de fada do bordo tradicional felgueirense, bordou peças do enxoval que minha namorada levou para o nosso casamento. Como até tinha orgulho de mim, quão demonstrou com sua presença, e logo na primeira fila, na sessão de lançamento do meu livro grande historiador da região, bem como noutras ocasiões, que me recordo bem. 

A minha mãe escolheu-a para minha madrinha, era ela ainda jovem com 16 anos e mais alguns meses, por ser vizinha nossa, de porta com porta por assim dizer. Pois à época, aquando de meu nascimento, no mesmo edifício vivia também a família dela. Visto a casa, que era de meu avô materno, estar então dividida para duas famílias, habitando uma parte a prole de meus pais e na outra a da minha madrinha, em quem recaiu a respetiva escolha graças à boa vizinhança. Sendo eu batizado com vinte e seis dias de vida, quando ela me pegou ao colo na igreja de Rande. Acontecendo que então me deram o nome do namorado dela da ocasião, também da Longra, cujo namoro depois nem durou muito, mas já estava dado o nome e ficou, com que nunca engracei deveras, mas enfim estava o registo feito e claro não houve volta a dar. Enquanto a repartição dos andares da casa ainda continuou assim por mais alguns anos, lembrando-me eu até (teria poucos anos, mas ficou na retina das imagens ténues) de ela me levar a acompanhar a sua ida ao leite, como então aos finais das tardes ia à quinta da vacaria de Rande com o namorado seguinte, com quem veio a casar; e quando ela ia mais cedo e ele aparecia depois, para cair nas boas graças dela levava-me com ele na lambreta com que aparecia, para a ir esperar. Além de outros momentos em que ela, em frente â casa, bordava sentada junto com uma irmã, enquanto sua mãe, a Zéfinha, fazia meias de lã. Volvidos anos a casa passou a ser só habitada por nós, indo a família da minha madrinha, de seus pais, a Zéfinha e o Zezinho carteiro, para outra nas proximidades, dentro da Longra, até que ela casou e foi viver para a então vila de Felgueiras. Mas sempre mantendo contactos, como me lembro de aparecer sempre com sua cara sorridente. Como pela vida além, desde a minha comunhão solene, em que veio e me trouxe a minha primeira camisa de usar com fato, que mandou fazer a uma costureira que andava na Triple Marfel e fazia em casa camisas de popeline (pano branco liso e leve) como as da grande fábrica das camisas; como depois quando eu vinha a férias após ausência de temporadas, quando andava no seminário, ela fazia questão de eu ir a sua casa almoçar como visita de honra; assim como no meu casamento esteve com seu marido e filhos. E quando foram apresentados os meus primeiros livros ela esteve lá. Sendo agora a minha vez de estar com ela, como estive hoje no seu velório, junto a ela. E ela estará sempre nas minhas lembranças afetivas.

Até sempre, Madrinha!

Armando Pinto