A propósito da realização do já tradicional Festival do Pão
de Ló, no Mosteiro de Pombeiro, aproximando-se a época da Páscoa em que esse doce leve e fofo faz parte da mesa familiar
e da espera ao Compasso… bem como da seguinte Feira de Maio de lugar histórico
no centro da antiga vila e atual cidade de Felgueiras… mais a festa religiosa de Margaride, o popular Corpo de Deus... e ainda a campanha em
marcha para a continuidade da enraizada festividade do São Pedro, secular festa
do concelho desde longos tempos no monte de Santa Quitéria, onde existiu a
ermida dedicada ao patriarca da Igreja… damos desta feita uns relances por alguns dos
testemunhos histórico-literários atinentes ao caso, em aspeto afetivo que vem de longe. Entre afinidades enlaçadas ao sabor mítico do pão de ló da receita felgariana.
Assim sendo, numa
olhadela ao Minho Pitoresco, obra de José Augusto Vieira, coloca-se o olhar da tradição
no capítulo sobre Felgueiras, onde, nesse volume publicado em 1886 (quando a região de Felgueiras ainda pertencia à província do Minho) se pode ler algo que ganhou foros na tendência
felgueirense.
Também dessa festividade que atraía gente "até de muito distante" ao monte da Santa, a antiga festa do terreiro de Santa Quitéria era noticiada na imprensa concelhia, como, volvidos anos, foi então relatada no Jornal de Felgueiras a 15 de Junho de 1912...
... bem como também n' O Jornal de Felgueiras de 20 de junho de 1914
Passando à festa paroquial de Margaride, o Corpo de Deus (que também tem tradição noutras freguesias, sobretudo na paróquia do Unhão), retemos uma nota noticiosa respeitante à festividade religiosa da sede do concelho, conforme publicação no jornal Semana de Felgueiras de 13 de junho de 1897:
Dando vez nas atenções Felgueirenses à Feira de Maio, iniciada em 1901 por iniciativa do Sindicato Agrícola, com aderência da Câmara Municipal e agentes do comércio local, essa foi norteada como grande festa do centro urbano, perante realização na então vila-sede do concelho. Criada na sequência de atividades
associativas do setor agrícola, de que resultara anteriormente a criação de um
sindicato e o surgimento do próprio jornal Semana de Felgueiras, como porta-voz informativo
dos interesses dessa área extensiva à vida local. Num intuito alastrado a
procurar uma maior intensidade dos laços de união histórica. Ou seja para ficar "o São Pedro" no alto de Santa Quitéria e "o Maio" na baixa do centro da então vila de Felgueiras.
Com efeito, foi então criada essa mescla de feira festiva
por deliberação camarária de Março de 1901, ao tempo também denominada por
feira franca e de periodicidade anual, desde logo ficando assente, como era
originalmente, que se devia realizar todos os anos no primeiro dia do mês de
Maio. Sendo sugerida oficialmente por representantes do sindicato agrícola,
teve apoio de comerciantes do concelho, os quais propuseram que a então feira
anual de gado cavalar, com lugar a 28 de Junho dentro do programa das festas do
concelho, passasse a ser uma realização independente, no centro da vila sede do concelho, e com fins de mais vasto
alcance: pois, além das trocas e vendas de todas as espécies de gado, passou a
incluir a generalidade das ofertas constantes do mercado normal de produtos,
com laivos de festa e arraial por meio de concursos para o gado em exposição,
mais atribuição de prémios para os melhores cavalos, melhor junta de bois e
melhor touro. Ao que em anos seguintes foram acrescidas outras valências, como
em 1902 foi inserido no cartaz um aliciante popular através dum despique de
cantigas ao desafio, sendo instituído um prémio para o melhor par de cantores
repentistas da feira. Enquanto, desde esses primeiros tempos, era presença
tradicional a Banda do Aniceto a dar toque filarmónico, tão apreciada pelo povo
que era a música de banda. E em caso como esse, já que a Feira de Maio depressa
ganhou contornos de acontecimento anual; de tal forma que extravasou fama para
lá do horizonte regional, chegando a fazer com que acorressem a Felgueiras
nessa ocasião muitos feirantes de Trás-os-Montes e das Beiras, como deu conta
uma reportagem inserta na revista Ilustração Portuguesa, publicação de grande
impacto à época.
Passados esses tempos, manteve-se no decurso de longas
décadas, na sede concelhia, essa assim ultra centenária e anual Feira de Maio,
em Felgueiras. Com lugar no primeiro domingo e seguinte segunda-feira desse
mês. «Importante feira» essa que, segundo registava a referida histórica
revista “Ilustração Portugueza”, em sua edição de 2 de Junho de 1919, se
realizava «no largo fronteiro» (ao antigo edifício da Câmara Municipal, depois
casa do Tribunal). Transformada em certame de enraizado cunho expositor de
gado, através de concursos pecuários de criadores agrícolas e competição
alargada a corridas de cavalos, além de outros números de lazer. Sabendo-se,
conforme referia o jornal Notícias de Felgueiras, anos mais tarde, que constava
no rol um desfile etnográfico chamado Cortejo das Lavradeiras; tal como, em
diversos anos, incluiu mesmo provas populares de ciclismo.
Desse certame concelhio registamos uma noticia de 1944 inserta no jornal Notícias de Felgueiras, em sua edição de 11 de Maio desse ano.
Por fim, como no fim o evangelho coloca primazia, eleva-se doce recordação duma ocorrência respeitante ao afamado pão de ló, segundo notícia difundidada ao tempo no Semana de Felgueiras de 24 de dezembro de 1904 – em época natalícia, quando o doce felgueirense sempre dividiu toalhas, também, com a tradicional doçaria da época:
Armando Pinto
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