Pelos caminhos do apreço aos valores felgueirenses e procurando
desenvolver sempre temas dignos de merecimento conterrâneo, desta feita
colaboramos no jornal concelhio Semanário de Felgueiras com mais um texto
alusivo à junção da memória coletiva com a atualidade local.
Assim, para os efeitos devidos, aqui deixamos, mais uma vez,
uma partilha da regular colaboração no SF, agora com o texto saído na edição de sexta-feira, dia 24 de Outubro, em sua página 12, através de imagem
da coluna respetiva; e, de seguida, para leitura facilitada, transcrevemos o texto original,
ilustrado com uma foto referente a uma das épocas relatadas.
Felgueiras sempre!
Na vida humana ou institucional, percorrida por uma pessoa ou uma instituição, há naturalmente factos mais marcantes, em diversos e diferenciados aspetos. Chegando sempre ao ponto de encontro dos afetos e recordações, porque conta muito haver memória, em sinal de valer a pena, quanto representa tal existência.
Vem ao pensamento esta ideia na atualidade da consolidação do Futebol Clube de Felgueiras, após a fusão recente dos dois clubes desportivo-futebolísticos com nome Felgueiras. Tendo passado o clube unificado a ter uma equipa A e outra B, com as mesmas cores e distintivo, a jogar em divisões diferentes, perante o carácter do futebol sénior ao nível competitivo de categoria superior e também da formação, respetivamente, em boa solução encontrada. E assim houve finalmente união do futebol felgueirense, inscrito presentemente como F C Felgueiras 1932, em homenagem ao nome tradicional e extensivamente ao ano da histórica fundação inicial, mas normalmente referido por F C Felgueiras, na unificação popular. Tanto o que se alcança na percepção pública, do que chega ao adepto comum.
Volta, deste modo, o clube felgueirista a ser de todo o universo rúbeo, por assim dizer, além de unir o passado ao presente, em ideia de futuro. Inclusivamente despertando algumas reminiscências de lembranças guardadas em recantos do baú de memórias, na ligação renovada ao clube das eras de afetos dos bons velhos tempos. Querendo-se com isto dizer, e assim desejando, que a antiga afeição pelo clube retorne, a pontos de termos o mesmo como Felgueiras de sempre.
Ora, nesta atmosfera envolvente, tendo por base a identidade do clube que noutros tempos era um elo comum de unidade felgueirense, retemos lembranças, assim, dum tempo de horas boas dos inícios da ascensão clubista. Associando, em lugar recôndito de nossa cabeça, aqueles tempos em que todo o povo se entusiasmava com a evolução da nossa equipa, quer sob ambiente poeirento ou vislumbre lamacento, conforme fizesse sol ou chuva, no terreno saibrado do campo Dr. Machado de Matos. E todos, pelo concelho, sabiam ou pelo menos conheciam de nome, que no Felgueiras jogavam Sabú, Pimenta, Mamede, Rodas, Mário, Cardoso, Mendes, Monteiro, Zé Maria, Pacheco, Estebainha, Zé Carlos e mais desse tempo, daqueles rapazes que entusiasmavam multidões que iam em magotes pela reta da Marfel até à Rebela, para verem e apoiarem, naquele recinto rodeado de arvoredo, a equipa de que todos gostavam e com que se identificavam. Tudo e todos em sintonia, dando largas a um entusiasmo resultante dos pontapés na bola chegada às redes das balizas, como ideia de evasão especial, em torno dum emblema coletivo. Havendo até adeptos especiais, como, por exemplo, uma senhora que, ao lado do marido, seguia o Felgueiras por quase todo o lado (a quem ainda havemos de dedicar uma crónica evocativa)…
Nesses tempos, quando o Felgueiras assumia já liderança rumo à primeira subida de divisão alcançada, à época de forte afirmação local do clube, recordamo-nos de ter sido sensivelmente pela temporada do aparecimento duma canção de grande sucesso luso-brasileiro. Chegavam cá, vindos do outro lado do Atlântico e aportando até a estas paragens, do interior nortenho português, os acordes da nova vaga brasileira, da chamada bossa nova. Ouvia-se e eram trauteadas melodiosas cantigas de Robertos Carlos, Martinha, Erasmo e Ronnie Von, entre outros da jovem guarda, movimento artístico e cultural brasileiro destacável. Sendo período em que o calhambeque era cantado, apitando pi-pi nos bailes de garagem da juventude que também ouvia os Beatles, mas sobretudo Roberto Carlos mandava, entoando, tudo para o inferno (“… e quero que me aqueça neste inverno / e que tudo o mais, vá pró inferno”). Ficou desde então no ouvido essa associação, de maneira que sempre ficamos a ligar tal recordação, porque os do tempo do Sabú, como depois Caiçara e mais tarde Costa Leite, Adão, Freitas, Carvalho e Cª, com suas jogadas, defesas e golos mandavam os adversários pró inferno, como antes, a meio e no fim dos jogos, se ouvia nos altifalantes do campo do Felgueiras, entre o ritual que fazia parte da festa da bola, quanto preenchia domingos de terna memória.
ARMANDO PINTO
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