Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Artigo no SF sobre progresso felgueirense em trilhos e à roda de bicicletas



No balanceamento do ciclismo, como que sentindo aragem veloz da corrida de bicicletas, a aferição de músculos, destreza e arte sobre pedais ressalta em descrição pelas letras, pela narrativa tendente à valorização do que, sobre isso, merece memorização.

Foi assim a ideia de mais um artigo sobre o ciclismo que desperta entusiasmo, desta vez na junção do interesse sobre valimento local, procurando elevar a tradição ciclista felgueirense a um lugar de destaque no pódio desse desporto tão popular.

Eis então o artigo escrito para o jornal Semanário de Felgueiras, por ocasião da aproximação da etapa que se inicia sábado na cidade de Felgueiras e publicado de véspera, sexta-feira – do qual se junta o texto correspondente, ilustrado com imagem da coluna respetiva, da edição do SF de 10 de agosto:


Refrescadela Rúbea

É useiro dizer-se que não se deve falar a quente, na expressão de acontecer com o ânimo em ebulição, mas com o calor da época não haverá volta a dar, no caso. Tal tem sido interessante Felgueiras andar por estes dias em lugar de destaque: Quer com a possibilidade de, assim como há mais de um século nossos antepassados ouviram o silvo do comboio, também as gerações atuais e futuras poderem beneficiar da passagem duma linha férrea no concelho; bem como com a estada da Volta a Portugal em bicicleta advém algum repor de atenções nacionais ao rincão do pão de ló.

Ora, de tanto se falar, contando o tempo instável que se ia verificando, o calor apareceu mesmo. Enquanto a temperatura elevada provoca bagas de suor natural, também o ardor da atualidade foi despertando opiniões. Algo que faz bem ao desenvolvimento, por deixar de haver monotonia e acomodação. Para depois, ao jeito como se aplaude o esforço dos ciclistas, se apreciar devidamente o que possa advir.

Chegada a presença do ciclismo, na atualidade do início da mítica etapa Felgueiras-Mondim, rumo ao alto do Monte Farinha, aplauso merece na memória coletiva o facto de Felgueiras ter tido noutros tempos um natural do concelho que foi saliente ciclista, o famoso Artur Coelho. Um autêntico ás do pedal, entre heróis da estrada, que por diversas vezes foi primeiro classificado e camisola amarela da Volta, além de internacionalmente ter vencido em 1957 a clássica prova 9 de Julho de São Paulo, no Brasil, e ter sido segundo na clássica francesa Paris-Evreux, atingindo ponto alto como integrante da seleção nacional que participou na Volta a Espanha de 1957 e 1958. Tendo em Portugal sido conhecido por “papa etapas”, tantas as corridas que venceu. E se então era assim a correr pelo país e pelo mundo além, em Felgueiras já antes era apreciado o seu manejo sobre a bicicleta. Tanto que ficou na transmissão popular sua destreza de na juventude ter sido vezeiro a fazer em marcha atrás a ingreme subida de Santa Quitéria.

Pois Artur Coelho, natural de Felgueiras, onde residiu nos Carvalhinhos até à juventude, tendo dado nas vistas em provas populares, por esses tempos de inícios da década de cinquenta foi para o FC Porto através de conhecimento dado pelo também felgueirense Adriano Castro, da Longra, ao tempo com contactos no clube das Antas. Havendo mais tarde Coelho passado a residir em Vizela, para cuja vila das termas seu pai se mudara com sua garagem de bicicletas, ramo de negócio familiar que era ganha pão do agregado e durante muito tempo teve em Felgueiras ao lado da antiga tasca do pilo, como era chamada e deu origem ao nome da velha fonte ali vizinha. E com a camisola do FC Porto, Artur Coelho participou na Volta a Portugal entre 1955 a 1961. Com sucessivos êxitos (já enumerados aqui e noutras publicações, em anteriores oportunidades), a pontos de ser incluído em álbuns de histórias aos quadradinhos, sobre a Volta a Portugal, como grande interveniente na maior corrida desportiva do país. Com suor e esforço. Como naturalmente refrescadelas de água que tão bem sabia quando calhava a vencer o calor e progredindo estrada além. Entre os melhores no pelotão da corrida em seu tempo.

Pois bem: Antigamente era costume por esta região “refrescar” as casas, como popularmente se dizia, com uma caiadela, à maneira de recuperação e conservação progressiva, através de pintura com cal. Ao passo que, tal como o nome de Felgueiras deriva de em tempos remotos ter predominado muita felga por estes sítios, quão eram os terrenos cobertos de fetos de cor rúbea, também na duração dos tempos as existências subjacentes foram tomando tonalidades associadas. E assim volta a ser tempo dum refrescar de mentalidade, na possível tendência de progresso. No rubor dos anseios.

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Obs. : As imagens fotográficas e a gravura desenhada reportam a Artur Coelho: Em cima a vencer uma etapa da Volta a Portugal; depois (de camisola do FC Porto com dístico Portugal) a ser vitoriado pela colónia portuguesa no triunfo da Clássica 9 de Julho/Volta de S. Paulo, no Brasil; e ainda um quadro do álbum de banda desenhada "Heróis da Estrada".

Aditamento:
A propósito de Artur Coelho, recorde-se um dos artigos anteriormente publicados, como se pode rever (clicando no link), em

ARMANDO PINTO
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