Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

A propósito do dia de lembrar os bens culturais da Igreja – notícia mui antiga da capela da Casa da Torre, em Santiago de Rande. E extensiva memória das Alminhas da Renda…

Entre diversas datas marcadas com diversos fins, sobretudo de lembranças, homenagens e dedicatórias, há também o Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja, no âmbito do Património Religioso, quanto ao sentido respetivo de Identidades e Lugares.

Assinalado desde 2011, o Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja é comemorado a 18 de outubro, dia de São Lucas, padroeiro dos artistas, e visa promover a reflexão e a partilha do trabalho desenvolvido no contexto das dioceses portuguesas. Sendo então uma boa ocasião de lembrar tudo o que seja relacionado.

Assim sendo, calha a preceito lembrar uma notícia antiga sobre uma capela particular existente na paróquia de S. Tiago de Rande, com ligações à comunidade da freguesia de Rande, nesta parte do concelho de Felgueiras. Ao tempo referida documentalmente como “Santiago de Rande”. Sendo essa uma interessante notícia que remete ao conhecimento da dita capela, na Casa da Torre, já em pleno século XVIII, quanto a uma ocorrência respeitante ao ano de 1747. Dando razão ao que se nota da data que se vê atualmente sobre a padieira da porta da mesma capela, que é adossada à casa, do lado esquerdo da sua frontaria, notando-se que o inicialmente esculpido 7 foi alterado para 8, referente às obras de remodelação ali acontecidas no século XIX seguinte. Como aliás está registado e descrito no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado há já quase 25 anos, em 1997.

Casos estes evocados apenas pela relação afetiva a todo o seu significado. Sendo embora a Casa da Torre propriedade privada, ao tempo do referido documento tendo por proprietário o Capitão-mor António Teixeira Passos, e depois, com o decorrer do tempo e sucessões, ficado a ser da linha da família Sarmento Pimentel, cujo ramo familiar entrou ali pela ligação à linhagem de D. Francisca Carolina Teixeira de Sousa da Cunha Peixoto Castelo Branco, que herdara a casa de seu primo Manuel Joaquim Teixeira de Sousa, ela que descendia também dos Cunhas Coelhos de Sergude, e depois casou com o fidalgo transmontano João Maria Ferreira Sarmento de Morais Pimentel. Casa assim dos seus descendentes, sendo onde nasceu o piloto-aviador Francisco Sarmento Pimentel, que quando Tenente da Aviação efetuou a 1ª Travessia Aérea de Portugal à índia, e por fim teve a patente de Coronel-Piloto Aviador. A casa-mãe de toda a mesma família Sarmento Pimentel, famosa pelo antigo Capitão João Sarmento Pimentel que foi um dos heróis do 5 de outubro de 1910, bem como comandante do golpe da derrota da Monarquia do Norte em 1919 (e mais tarde, depois de longo exílio político no Brasil, por ser oposicionista do regime do Estado Novo de Portugal Salazarista, foi após o 25 de abril de 1974 reabilitado como General). Solar atualmente da família Sarmento Pimentel com cabeças familiares da Eng.ª Teresa Isabel e seu irmão Dr. João Pedro.

Ora, em 1747 foi então, pelo proprietário do solar e quinta da Casa da Torre, requerido ao Arcebispado de Braga, a que pertencia ao tempo a região em termos diocesanos, a devida licença para instalação de um confessionário na dita capela da Torre. Sendo essa provisão a favor do Capitão-mor António Teixeira Passos, fidalgo influente na região. O mesmo que por essa época havia mandado erigir um nicho de Alminhas, perto da igreja paroquial e junto à casa de recolha das rendas e foros do pároco (esta já descrita no Tombo de Rande, lavrado a escrito em 1743), capelinha votiva aquela que por associação ficou conhecida por Alminhas da Renda – conforme está descrito nas Memórias Paroquiais de 1758, referindo ser essa edificação de afinidade com a Confraria das Almas, então existente na mesma paróquia, e da qual o mesmo capitão-mor António Teixeira Passos era igualmente importante membro. 

Tudo documentação que está guardada no Arquivo Distrital de Braga, de onde se pesquisou o inerente material para a referida obra histórico-literária, e da qual agora se recorda este pormenor noticioso de tal informe antigo.

Armando Pinto

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