“As páginas de um jornal morrem no mesmo dia em que nascem. E, no entanto, renascem no mesmo momento em que morrem. A cada volta que o mundo dá, o jornal cumpre o seu ciclo de vida. E leva a todos os seus leitores todas as informações que eles precisam para entender as voltas do mundo em toda a sua dimensão e grandeza. Esta é a história diária de um jornal. As páginas de um jornal são páginas de história. E não morrem jamais” .
(De Alcino Pedrosa, Homem do Norte que foi
jornalista em Lisboa e é escritor-historiador)
*
Posto isto, está dito e redito o que sempre que possível é
feito, através da colaboração ao jornal Semanário de Felgueiras, pela mão e
cabeça do autor deste blogue – como, desta feita, acontece com mais um artigo,
sob título:
Apontamentos memoriais
Para quem nasceu e viveu, pelo menos, por volta dos anos
médios do século XX, esses foram tempos de modo vincado na vivência
comunitária. Sendo temporadas de marcas musicais, alastramento da rádio,
expansão da televisão e consciencialização de situações políticas e morais,
quase que num abrir de olhos ao mundo que rodeava o meio ambiente. Como também
foi surgindo por Felgueiras, no horizonte da pacata região cuja população se
juntava mais na anual Feira de Maio, ia monte acima à festividade do São Pedro
e na Peregrinação de Agosto, já que a feira semanal apenas em meio dia das
segundas-feiras dava melhor para gente madrugadora ou pessoas sem obrigações de
trabalho normal.
Ora esses tempos tiveram realmente um timbre deveras
marcante na evolução regional, sendo épocas em que se começou a ouvir falar de
características locais antes pouco abonadas, de lado a apologias dos antigos
pronunciamentos de sovelas e outros apodos, quais apelidos popularizados por
certas zonas do concelho. Desaparecida imagem da pérgula central e restando o
cruzeiro da independência, na sede do concelho. Até à existência de algumas
modas eventualmente passageiras que deixaram memórias, como foi a realidade do
Staminé que fez história, na evolução de anteriores épocas em que o Café Jardim
e anexo espaço da Pensão Albano, mais o Belém e ainda o Popular, faziam parte
quase emblemática do carisma felgueirense, mais tarde juntando outras salas de
convívio popularizado, em tempo de mulheres ainda não irem ao café nem ao
futebol e entre homens se falar mais de bola, na era de Sabú, Barnabé, Mamede,
Pimenta, Zé Carlos, Mário, Rodas, Caiçara e outros que povoaram os
encantamentos da criançada nos recreios das escolas, na sequência dos jogos no
campo onde se entrava em alta portada coberta por telheiro. Enquanto na feira
se podiam comprar panfletos com letras rimadas a cantar os ases da bola do
Felgueiras, mais romances heroicos de soldados que andavam na guerra da África
(colonial) e até aviadores com rotas assinaladas no ar que ia além dos nossos
horizontes.
Foi pois entre partículas do tempo, assim, que se amassou
muito pão que ia saciando a curiosidade, também. Dando para ter feito crescer
gente que fez evoluir esta terra, entre factos que não deverão cair no
esquecimento. Ao jeito como antigamente havia trocas de cromos que despertavam
conhecimentos, podendo e devendo hoje isso servir como manual de memórias, qual
consciencialização histórica de que houve todo um percurso passado antes da
chegada ao presente. Sobremaneira como tem de se entender quão era interessante
conhecer tudo e qualquer coisa respeitante ao universo felgueirense e hoje
quase tudo se dilui no que é universal.
Faz agora, em finais deste mês de novembro, a significativa
conta de 20 anos da publicação dum livro do autor com conteúdo historiográfico
do concelho, na parte inicial abarcando o todo concelhio e no desenvolvimento
algo direcionado a parcelas mais conhecidas do próprio, embora sempre com todo
o concelho subjacente, incluindo alguns casos daqueles idos anos românticos – o
“Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, patrocinado pelo
Semanário de Felgueiras. Volume que muito esperou por publicação, tendo estado
na gaveta anos a fio, após longos anos de elaboração, à falta de apoios
oficiais, metendo pelo meio certas peripécias da cultura municipal dessa época.
Até que finalmente viu a luz do dia graças à visão felgueirista do Dr. Manuel
Faria. Tomo cronista, esse, resultante de trabalho voluntário então tornado
possível, entre gravações computorizadas com escritos a mostrar como eram e
foram tempos fixes das máquinas de escrever, através de cujas fitas se escreveu
e imprimiu ao mesmo tempo… Tal as letras batiam no papel, em encontro teclado
com história a ressurgir.
ARMANDO PINTO
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))
Nenhum comentário:
Postar um comentário