A 13 de Fevereiro, a Monarquia acabou como começara: por um
golpe militar no Porto. O seu chefe foi o Capitão João Sarmento Pimentel.
Apesar de doente com gripe, a pneumónica que nesse tempo grassou pelo país (sendo
entretanto informado pelo irmão de toda a situação e idealizado entretanto o
que havia a fazer, com seu irmão Francisco Sarmento Pimentel a comandar uma
das alas das forças armadas apoiantes), aproveitou a saída da cidade de Paiva Couceiro
e da maioria das tropas, para invadir o Quartel do Carmo e restaurar a
República, à frente da Guarda Real, que voltou a ser a Guarda Republicana. Estava
então restabelecida a ordem republicana, derrotada que foi a Monarquia do
Norte. No Porto correu entretanto em mãos dos ardinas um desenho com imagem do Capitão
João Sarmento Pimentel, estampa que foi vendida publicamente a tostão (moeda da época) entre a
população, enquanto a cidade portucalense, por iniciativa de cidadãos e ação das entidades
representativas, ofereceu a espada de honra da cidade do Porto ao Capitão
Sarmento Pimentel.
Esteve assim Felgueiras em mais um momento histórico da
grei, sendo o mais novo dos Pimenteis, Francisco Sarmento Pimentel, natural do concelho de Felgueiras. Bem como o mais velho em Felgueiras passou praticamente sua mocidade, oriundo da família da Casa da Torre de Rande, tendo até sido aluno do antigo Colégio de Santa Quitéria
= À esquerda o Capitão João Sarmento Pimentel. À direita seu irmão, o felgueirense Francisco Sarmento Pimentel, então Tenente que fora nomeado pelo presidente Sidónio Pais para o aquartelamento do Porto... (e passados anos, já como Piloto-Aviador, foi autor da 1ª Travessia Aérea de Portugal à Índia).
= Estampa com que os cidadãos do Porto homenagearam o seu
herói, Sarmento Pimentel, após o derrube da Monarquia do Quarteirão, como
também se chamou o regime monárquico reimplantado em 1919, por só ter durado 25
dias. A estampa foi vendida com os jornais, anunciada aos quatro ventos através de pregões dos ardinas ("O Capitão Sarmento Pimentel a tostão, para acabar"!). Ao lado a bandeira portuguesa que
foi de Sarmento Pimentel, usada na ocasião da vitória das forças republicanas no Porto, e que mais tarde esteve “presa” na PIDE durante o seu exílio político durante o Estado Novo (bandeira que faz parte do património da
Associação 25 de Abril, guardada em Lisboa na respetiva sede. Onde esteve na Exposição de homenagem ali prestada a Sarmento Pimentel de 18 a 28 de abril de 2017)
100 Anos da Revolta do 13 de fevereiro de 1919 que defendeu
a República, na derrota da Monarquia do Norte, em que foram protagonistas os
irmãos Sarmento Pimentel.
Estava-se em 1919. Anos depois da implantação da República
em Portugal, a 5 de Outubro de 1910, os apoiantes do anterior regime monárquico
conseguiam restabelecer episodicamente um regime monárquico no Norte do país,
em 1918, ficando algum tempo a nação dividida.
Assim sendo, a Monarquia não acabara completamente a 5 de
Outubro de 1910, mas regressava numa tentativa de revivalismo, sem que o rei
tenha voltado, mas com Paiva Couceiro e outros militares que o queriam de volta
a conseguirem reinar entre 19 de Janeiro e 13 de Fevereiro de 1919 – no Norte.
Em Lisboa e no Sul, a revolta liderada por Couceiro não vingou. Perfaz agora, a
13 de fevereiro, mais um aniversário, desta vez mais precisamente o CENTENÁRIO sobre o fim de tal episódio da Monarquia
do Norte, que primou pelo caricato – tal como os republicanos, os monárquicos
não se entendiam entre si. Mesmo doente, com gripe pneumónica (vulgo
"espanhola"), o "Capitão de Cavalaria" Sarmento Pimentel acabou
por restaurar a República.
Com efeito, em finais de 1918 e princípios de 1919, voltara
a haver parcialmente Monarquia em Portugal. Não em todo o País, mas no Porto e,
a partir daí, por quase todo o Norte do País. A restauração, também tentada em
Lisboa, a 22 de Janeiro, falhou no Sul. A Monarquia de 1919 ficou assim a ser a
‘Monarquia do Norte’, existindo acima de Aveiro e Viseu, uma espécie de
ressurreição tardia do original Condado Portucalense. Na Europa, a I Guerra
Mundial acabara havia dois meses e começava a conferência de paz de Versalhes.
A situação do País era tremenda. Faltavam abastecimentos, o Estado estava
arruinado, corriam muitos boatos, e a epidemia de gripe matava milhares de
pessoas. No Porto estabeleceu-se uma Junta Governativa do Reino de Portugal,
presidida pelo célebre capitão Henrique da Paiva Couceiro. Por quase todo o
Minho e Trás-os-Montes voltou a haver bandeiras azuis-e-brancas da monarquia. A Junta do
Porto restaurou a antiga moeda (o real, através de carimbo nas notas de escudo
em circulação), e a Guarda Nacional Republicana foi batizada Guarda Real. Mas o
rei não regressou a Portugal e o fracasso da restauração em Lisboa desanimou
muita gente. Tudo acabou a 13 de Fevereiro, precisamente onde começara: no Porto,
com um contra-golpe militar.
Efetivamente, a 13 de Fevereiro, a Monarquia acabou como começara: por um
golpe militar no Porto. O seu chefe foi o capitão João Sarmento Pimentel.
Apesar de doente com o surto de gripe pneumónica que grassou no país, ao tempo,
aproveitou a saída de Couceiro e da maioria das tropas para restaurar a
República, pondo-se à frente da Guarda Real, que voltou a ser a Guarda Republicana. Após isso, dias depois, a 19
de Fevereiro, os últimos combatentes da Monarquia deixaram Trás-os-Montes em
direção à Galiza.
Como ilustração descritiva e visual desse acontecimento
histórico, que teve o Capitão João Maria Ferreira Sarmento Pimentel como protagonista
principal, secundado pelo então Tenente Francisco Sarmento Pimentel, seu irmão mais novo, trazemos a este espaço de memória histórica alguns trechos
relacionados, através duma página da "História do Porto", cidade onde
se passou tal heroicidade pela Pátria, da lavra de “João da Torre” (então ainda
jovem que, além da vivência em Felgueiras de seus tempos de “sangue na guelra”,
a espaços com sua vida de aquartelamento militar, residia normalmente no Porto,
ao tempo) e também páginas da “História de Portugal” dirigida por João Medina,
com transcrições das “Memórias do Capitão”.
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Como complemento, respigamos recortes da imprensa de há 50 anos, através de recordação visual do que foi publicado no jornal A Capital a 13 de fevereiro de 1969...
Extensivamente, vindo a talhe, acrescente-se:
O célebre "Comandante" João Sarmento Pimentel,
como figura pública de âmbito nacional e personagem famoso do ambiente local,
sendo protagonista de episódios transmitidos na difusão popular de seu tempo,
foi em certa medida herói e vítima dos acontecimentos do 5 de Outubro de 1910 (em que esteve presente como um dos Cadetes da Rotunda). Tendo recaído sobre si
diversas lendas e invenções popularizadas, quer pelo modo desse tempo de se
contar na voz do povo o que era ouvido e transmitido oralmente, quer pelo que
convinha a quem porventura não gostava de suas posições e não comungava dos mesmos
ideais políticos, quer por outros motivos de índole diversa.
A propósito de tudo isso, deitamos olhos ao que sobre ele vem escrito na História de Portugal,dirigida por João Medina, como parte da coleção composta por XV volumes, editada em 1993. Onde, em texto de Jacinto Baptista, no volume XI, desde a página 153 à 158, é narrado algo relacionado com isso e mais, sobre tal personagem heróico na memória da Grei.
Assim sendo, colocamos aqui as correspondentes páginas, em
recortes digitalizados para facilitar melhor leitura, da "História de Portugal", capítulo
Seara Nova ou a República Criticada, edição Ediclube, de 1993.
Armando Pinto
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