Decorre por estes dias outonais em Felgueiras mais uma feira
relacionada com a romanização, que por sítios felgueirenses deixou algumas
réstias. Sem contudo haver relação direta com o estilo românico, posterior, que
na região teve e tem pendor na atual rota turístico-promocional.
Com efeito, esta área geográfica sentiu através dos tempos
as transformações do noroeste minhoto-duriense e viveu também os momentos
comuns à grei nacional. Para se não recuar em demasia no tempo, mas avançando
cronologicamente numa resenha histórica de visão ampla pela longa existência,
pode adiantar-se que após os diversos estádios de povoamento com estadas de
diferenciados povos, de que perdurou com maior ênfase sobretudo a génese
lusitana e as marcas da romanização, foram porém os Godos que influência mais
marcante tiveram na consolidação da identidade profunda, como se comprova pelas
réstias toponímicas deixadas, em toponímia geográfica, nos nomes das terras,
através das raízes genealógicas dos antepassados destes sítios. São paradigma
no caso os topónimos de origem germânica derivados dos primeiros colonos
definitivos, fidalgos godos romanizados, que legaram seus nomes às quintas
originárias dos primitivos povoados, as “villas” rústicas florescentes da
exploração do território, de cujas denominações na evolução através do tempo
resultaram nomes de lugares e sucessoras freguesias. Entre o que se nota desse
rasto, em variedade de referências provindas de antigas villas romano-godas,
que deram origem a nomes próprios de freguesias.
Há depois, entre testemunhos de tempos remotos, a existência
da estação arqueológica do Monte do Senhor dos Perdidos, ainda rudimentarmente
explorada e entretanto abandonada; tal como o que está soterrado no alto de
Cimalhas, na Longra, entre a fronteira de Sernande com Rande e Varziela (cujas
escavações, de antigo povoado da Cimalha, tiveram lugar no início do séc. XXI
derivado à construção de novos acessos viários, onde se descortinaram vestígios
dum antigo caminho divisório das paróquias e foram encontradas parcelas de
cerâmica, contudo o resto depois ficou enterrado); como há ainda algo da antiga
cidade de Eufrásia em pequenos vestígios de ruínas, em Sendim, com restos de
velha villa romana. Existem também pequenos tratos de caminhos romanos em
Caramos, Pombeiro e Vila Fria; e uma calçada medieva, numa parte de caminho
lajeado medieval, na Calçada de Rande; em todos estes casos de antigo
itinerário do Caminho de Santiago para Compostela, que teve assim passagens
pelo concelho de Felgueiras. De relembrar ainda a antiga existência de estátua
de um guerreiro Lusitano em S. Jorge de Ribavizela. Outros marcos do passado
representam diversas casas senhoriais dispersas pelo território concelhio,
solares antigos sucedâneos de antanhas villas romanas e ancestrais fortalezas,
de que se salientam a Casa de Sergude, em Sendim, a Casa de Simães, em Moure, a
Casa de Rande e Casa da Torre, em Rande, a Casa do Coto, em Varziela, a Casa de
Junfe, no Unhão, a Casa da Porta, na Pedreira, a Casa do Mosquete, em Lordelo,
etc.
E as igrejas românicas, como a de Lordelo (em ruínas,
atualmente em vias de preservação da parte resistente), a de Vila Verde
(recuperada); e as que restaram sempre eretas, com traços originais desse
estilo na região, ou seja as de Unhão, Sousa, Borba de Godim, Airães e Santão;
além do pequeno templo de Padroso contendo escassos restos das características
do românico rústico, mais a igreja mosteiral de Pombeiro; são exemplares
arquitetónicos apenas suplantados em antiguidade por dólmens existentes na
Refontoura e em Regilde, mais vestígios de Castros, como os de Caramos e
Lagares; por entre apreciável número de valores patrimoniais. E, entre outros
possíveis exemplares, algumas construções religiosas como o santuário do Bom
Jesus de Barrosas, o Calvário e Capela do Encontro em Caramos e, especialmente,
o santuário de Santa Quitéria.
Quanto ao que toca ao tema presente, sobre a romanização,
anterior, da civilização romana ficaram por estes lados vestígios, desde
epígrafes votivas, como há casos no concelho (e são referidos, por exemplo, em
Sá-Vila Fria, registados na revista Portugália em 1908 e no livro Felgerias
Rubeas, pelo Dr. Eduardo Freitas) e o facto das moedas e outras peças
aparecidas nos Perdidos em 1979, como atestado da razão estratégica derivada de
por esta região haver passado a via romana de Braga a Caladuno. Sendo esta de
grande importância económica para o povo da região, nesse tempo.
ARMANDO PINTO
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