Por estes dias esteve presente, no quotidiano de quem tem
filhos e netos nas escolas, sobretudo, as greves de professores e funcionários dos
estabelecimentos públicos de ensino. A dar algumas folgas às crianças e jovens,
quão mais se fez sentir, fora o resto que pode ou não resultar. Ora, essa
realidade atual fez disparar algumas recordações de antigamente, remontando
mais ao tempo da escola primária, quando nós, alunos da escola em tempos idos, estávamos
à espera de ver se a nossa professora não aparecia, mas por motivos mais a ver com o que era
usual por esses tempos, nas idas eras da escolaridade de antigamente.
Pois então, para quem andou na escola pelos anos das décadas de cinquenta e sessenta, pelo menos, sabe-se que na escola primária desses tempos o ambiente era tudo menos atrativo, sendo uma obrigação algo desoladora. A pontos que os alunos, fossem bons ou não, geralmente levavam pela mesma medida, como se diz. E normalmente “levavam”, como se dizia de apanharem os chamados bolos nas mãos, de reguadas, além de canadas, com canas na cabeça, quando não de outros modos, de qualquer forma, ou nuns dias ou noutros, numas situações ou noutras. E quem ia ao quadro, como se dizia de ir à frente e ficar em pé junto ao quadro de ardósia, cravado na parede, e correspondendo ao chamamento ter de fazer com o giz à frente de toda a gente os problemas (contas de aritmética – pois ainda se não falava nem era conhecida a palavra matemática!) ou responder a perguntas orais, por exemplo, era certo e sabido que se levava que contar de qualquer jeito. Como ainda todos lembramos e se pode contar. Assim sendo não admira que por norma ninguém gostasse do tempo que se passava na escola. No meu caso eu gostava das perguntas de história e das redações que se faziam e cópias por textos de português. Além de desenho (tendo ficado na memória o caso da professora ter querido que eu fizesse os desenhos nas provas de todos os colegas, no exame final da Quarta, como se fazia a decorar o cimo de cada folha em provas oficiais...). Mas não gostava das contas e quanto ao resto, durante o tempo normal, pouco ficou nas boas memórias, fora as brincadeiras no recreio, especialmente a jogar à bola. E logo pela manhã, quando se chegava à escola, enquanto se esperava pela chegada da professora, havia certo nervosismo miudinho perante o que se podia esperar. Daí que enquanto a professora não chegava havia ansiedade, mas depois logo que se sabia que não vinha era um alívio. Mas, ao invés, quando chegava era uma desilusão. Então quando se ouvia alguém a dizer “dentro”, para todos entrarem… Mas, claro que dependendo de certas ”coisas”. Como durante a minha 1.ª Classe, com a D. Candidinha, era e foi um regalo. Então eu gostei bem de ir e estar na escola. Mas depois, a partir da 2ª Classe, eu e todos, com a professora que se seguiu na sala de aula dos rapazes (que foi a realidade que conheci melhor, naturalmente…) já foi diferente. Recordo-me que quando ela demorava mais um pouco, íamos até ao Largo da Longra, porque ela vinha de cima do lado da vila de Felgueiras, e não tirávamos os olhos desses lados, na esperança dela não aparecer…
Obviamente que também ficaram boas ou ao menos curiosas memórias. Como ainda no
encontro de amigos, recentemente efetuado, houve oportunidade de recordar. Tendo
um lembrado uma palavra que a D. Fernanda dizia aos alunos mais velhos, os da
4.ª Classe, quando eu e colegas da mesma igualha ainda estávamos na 2.ª e olhávamos
os outros com os olhos dessas idades. Assim como todos ficamos a olhar uns para
os outros quando ela, enquanto se enervava, começou a chamar a alguns de “imbecis”…
coisa que nunca tínhamos ouvido e nem sabíamos o que ela queria dizer, qual o seu significado.
Pudera, ainda nem tínhamos dicionário…!
Outros tempos. Que não voltam, mas também não esquecem.
Armando Pinto
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