Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 25 de março de 2016

Feliz Páscoa !


Páscoa é vitória da vida, na renovação da natureza, sobre a morte, como desaparecimento físico. Valendo assim a pena investir no bem comum, ao que deve dizer respeito à comunidade, fazer bem ao que é de todos, vivenciar pelo que nos une.

Neste contexto, como tudo o que se recorda e se procura fazer pela preservação da memória coletiva, no sentido do bem comum, ficam aqui desejos desta vitória que é vivermos a Páscoa.

Feliz Páscoa a todos os amigos leitores, comentadores e visitantes deste espaço informático e companheiros deste lugar de confraternização virtual.


ARMANDO PINTO

quinta-feira, 24 de março de 2016

Rememoração de Aleluia Pascal em artigo no Semanário de Felgueiras


Ao toque do simbolismo respeitante à quadra da Páscoa, tilintando nos sentidos, qual ressoo da campainha do imaginário, mais algumas particularidades relacionadas com esta festividade pascal constam do artigo jornalístico que tem lugar na edição desta semana do Semanário de Felgueiras. De cujo trabalho literário se partilha aqui o respetivo texto original, junto com ilustração da coluna publicada.



Toque Pascal

A Páscoa está aí. No esplendor do tempo ambiental de renovação da natureza. Em época celebrativa dos acontecimentos pascais, por associação de proximidade ao equinócio da Primavera e mistura de tradições. Numa linha seguidora da antiga páscoa judaica, comemorativa da libertação do povo de Israel; e na era moderna como marca da ressurreição de Cristo, segundo o que ficou resolvido no concílio de Niceia.

Costuma-se assinalar festivamente o caso dos nascimentos, como se verifica na celebração dos aniversários natalícios, enquanto a morte merece recolhimento contrito, sobretudo. Porém, embora a comemoração pascal derive da morte de Cristo, tem apoteose na Ressurreição, na fé cristã de que Jesus ressuscitou, celebrando-se a vitória da vida sobre a morte. Rejubilando o panorama da vivência normal, no simbolismo do dia de Aleluia, como tal.

É assim que na sua essência a Páscoa continua presente e a ser sentida, apesar de deveras diluída na evolução da vida atual. Mantendo-se ainda no interior norte do país, pelo menos, como é na região felgueirense, certos resquícios dos antigos costumes da quadra em apreço. Nomeadamente como época de reunião familiar e retorno episódico de membros das comunidades locais, à espera do Compasso, onde ainda existe e resiste essa visita pascal.

Passada a semana santa, enquanto o ambiente sente efeitos deste tempo de transição e o inverno está quase a dar lugar à temperatura primaveril, chega o domingo de Páscoa. Engalanada a natureza, quão também revigorado o ar anímico, há algo especial no dia, sob visão do Compasso, saído da igreja ao toque festivo do sino paroquial, acompanhado da campainha, a sineta anunciadora do andamento do grupo que traz a cruz às casas, numa mensagem de glorificação dos valores em que se revê a própria comunidade. Cuja atmosfera ambiental de quando em vez é alertada pelo estoirar de foguetes, assinalando a chegada do Senhor a casas de pessoas devotas desse hábito, bem como a dar sinal de intervalo do almoço festivo, até ao encerramento. Como manda ainda a tradição, porque não é todos os dias que se pode festejar algo assim: aleluia!
Se no Natal as casas são decoradas com árvores natalícias, mais usualmente, e também ainda pelos mais tradicionais presépios, já na Páscoa são menos mas existentes os exemplos de colocação de cruzes decoradas a dar toque apropriado ao cenário doméstico. Assim como antigamente era costume colocar um oratório pequeno com cena da paixão, em mesa coberta por alba toalha de linho, na sala de recebimento do Compasso. Mesmo, como que em associação, na arte popular havia bonecos de barro a representar quadros do Compasso, que por vezes eram metidos entre as figuras do presépio, no Natal, junto com músicos de filarmónicas e outras peças rústicas, também com lugar misturado nas cascatas sanjoaninas.

Se fossemos mais aos arcanos da memória comum buscar lembranças antigas, contava-se um rosário de recordações das épocas antepassadas, de como era vivida a tradição dessa caminhada da cruz paroquial enfeitada, qual festa comunitária em que se convertia a vivência coletiva. Sendo de lembrar que tempos houve, nos inícios da segunda década do século XX (como é da história local, verificando nas coleções da imprensa felgueirense daquele tempo, por exemplo), em que o Compasso esteve em risco de não se realizar, por motivos políticos, valendo então a posição de certos párocos e a vontade popular, para que não tivesse desaparecido. Ao passo que nos tempos recentes se vai mantendo já com muitas modificações, na perseverança física.

Passaram entretanto mais de dois milénios desde que houve conhecimento que Cristo ressuscitou. Numa transmissão oral então difundida e chegada viva a nossos tempos. Melhor talvez que se fosse hoje, pois na atualidade porventura poderia ser por meio de notícias nem sempre credíveis, lançadas por órgãos de comunicação de vasto alcance, cuidando mais do mediatismo e peso das audiências. Enquanto na época bastou ser através de pessoas simples, mas fiáveis, a quem foi anunciado o acontecimento, passado depois aos apóstolos e seguidores, pela voz popular, mais rolos de pergaminho da época, com que chegaram informações daquele tempo.

Armando Pinto

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sexta-feira, 18 de março de 2016

Um artigo doce no S F – alusivo ao Pão de Ló Felgueirense de Margaride


Felgueiras celebra o típico pão de ló com o anual festival alusivo, em fim de semana dos Ramos. Com a companhia de outras representações de mais variantes doceiras do género e com nomes similares.

Por simbiose, porque o doce nunca amargou, sendo Felgueiras terra de tão famoso doce tradicional, como zona portuguesa do pão de ló mais conhecido, e porque o leve pão de ló não engorda (apenas podendo engordar quem o come, se abusar muito, gulosamente!), cairá bem, no caso à barriga da leitura, mais uma alusão sobre esse doce típico, desta feita.

Vem assim a propósito passar um naco de prosa descritiva sobre o tema decorrente, na oportunidade de partilha de mais um artigo do autor destas linhas, também.

Na rota da tradicional colaboração na imprensa felgueirense, com apontamentos de temática relacionada com a memória coletiva, há já cerca de vinte anos no Semanário de Felgueiras (e depois de anteriores dez no Notícias de Felgueiras, entremeando com algumas episódicas passagens com textozitos do género por outros periódicos concelhios), mais um artigo segue a mesma linha desta vez, na pertinência atual do certame promocional do pão de ló, que vai ter lugar este fim de semana, trazendo mais atenções até Felgueiras.


Desse pequeno trabalho juntamos aqui, por conseguinte, o respetivo texto, junto com imagem da coluna publicista, do que vem a público na edição do Semanário de Felgueiras desta sexta-feira anterior ao fim de semana dos Ramos e chegada à semana de entrada na quadra pascal.

Felgueiras: Terra do Pão de Ló

Diz-nos a Bíblia que na terra prometida corria leite e mel. Tanto como o povo protegido de Deus foi alimentado com o maná caído dos céus durante o êxodo, na travessia do deserto. Relacionando à crónica após os acontecimentos que levaram ao fim da escravidão do povo de Israel, derivando das pragas que não atingiram as casas cujas portas tinham o símbolo pintado com o sangue do cordeiro, até à caminhada seguidora do bastão de Moisés. Advindo a comemoração pascal do cordeiro e naturalmente certas relações com o pão, tal a tradição do folar da Páscoa e até as roscas, de pão de regueifa, das típicas ofertas aos afilhados, em tempos de outrora pelo menos.

Vem a talhe, então, associar-se também alguma relação com o facto do pão de ló ser típico da Páscoa, como rosca de pão leve e sobretudo doce, no tal sentido bíblico do leite e mel, embora no caso com ovos, farinha e açúcar, mais o que o torna particular em Felgueiras. Pois, como até é reconhecido, Felgueiras é terra mátria do genuíno pão de ló, em seu nexo de pão leve e de massa fofa, conforme exprimem os compêndios antigos.

Calha assim a propósito a festa dedicada ao pão de ló, através do festival respetivo, este ano em sétima edição, cujo certame desde alguns anos decorre no espaço do beneditino Mosteiro de Pombeiro, em pleno domingo de Ramos tradicional da entrega da lembrança respetiva dos afilhados aos padrinhos.

Rico como é o percurso também do povo felgueirense, apesar do pão de ló, como outras iguarias da vida, não ser um maná para toda a gente, Felgueiras também se associa ao mel, ou não houvesse abelhas no brasão municipal felgariano. Aliás já Estrabão e Argote, historiadores de eras antigas, contaram «coisas deliciosas aqui do nosso Entre Douro e Minho» (como alude uma pequena reportagem de turismo especial do antigo jornal O Comércio do Porto, numa edição de 1979, sob título de “Felgueiras A Pátria do genuíno pão de ló”).

Sem recuar tanto no tempo, por naturalmente a doçaria típica não ter feito parte dos hábitos dos Calaicos, nem tão pouco dos tempos da Romanização e mesmo do antigo território ainda coberto de fetos que deu o termo à felgaria, de que resultou o nome Felgueiras, basta evocar a época do romantismo clássico, quando o pão de ló de Margaride passou a ir à mesa da realeza e teve reconhecimento régio. Perpassando pelos tempos adiante como um produto nacional característico da época pascal. Embora, tal como se diz que o Natal pode ser sempre quando quisermos, também o pão de ló apetece sempre e se prolongue a apetência por onde houver possibilidades de ocasião.

Esta especialidade doceira é assim um elemento identificativo de Felgueiras. Com a virtude de transportar o nome do concelho, sabendo-se que há outras variedades de pão de ló em diversas regiões, mas logo se associando a Felgueiras a proveniência do padrão doceiro de tal propriedade. Sendo o original pão de ló, como está referido no Dicionário Português de 1873 (por Frei Domingos Vieira), «massa de farinha, ovos e açúcar, que fica muito fofa depois de ir ao forno onde se coze, e talvez se torra, ao de cima, para ficar com mais dureza».

Assim, de tona pouco dura, como se sente ao cortar mesmo à mão, mas de duração efetiva, pois que o tradicional dura mais (em melhor conservação), o pão de ló, levemente seco e macio ao degustar, coroa bem a mesa da Páscoa, na receção ao Compasso pascal, também usual por esta região onde corre o sabor laboral dos intentos felgueirenses.

Armando Pinto

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quinta-feira, 10 de março de 2016

Uma década de saudade - no 10º aniversário do falecimento de Joaquim Pinto, da Longra !


O tempo voa e o pensamento ainda esvoaça mais. Como se nos depara neste dia a recordação e saudade. Passados dez anos da morte de meu pai, efeméride que hoje não podemos deixar de evocar, como tal.



Faz-nos falta a sua presença e companhia amiga, tudo o que tínhamos com ele. Mesmo nas perguntas que lhe fazíamos constantemente, a indagar o que nos lembrava de esclarecer, por exemplo. Algo que hoje nos lembra sempre que há qualquer assunto que não chegamos a ter de tempos idos, de sua época ou temporadas antepassadas, do que chegara conhecimento pela tradição oral. E histórias de família, mais conselhos de experiência de vida.


O meu pai, Joaquim Pinto, autor da sirene da Metalúrgica da Longra e Premio da Associação Industrial Portuense, único felgueirense aliás com esse reconhecimento entre operários da indústria concelhia, era figura pública da região, como eu me orgulhava de apreciar vendo como era apreciado entre conterrâneos e pessoas conhecidas, sendo então um daqueles antigos personagens locais que foram referências da memória coletiva.


Faleceu a 10 de Março de 2006, com 89 anos, meses antes de completar noventa. Perfaz agora dez anos desde esse dia, em que esteve sempre em nossos pensamentos. Como, entretanto, houve aqui algumas oportunidades de o evocar (e se pode relembrar, clicando sobre os links seguintes:)

e

Em memória de quanto representou a sua existência, juntamos algumas recordações pessoais, desde documentação, a fotografias de sua ligação fabril e outras (que inclusive estão descritas no capítulo da história da indústria na Longra, dentro do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”), passando por fotos de motores iniciais e maquinaria para fábricas da Longra, até à mensagem que foi lida na sua missa fúnebre, e poses familiares, sem necessidade de mais legendas pelo que exprimem.


O meu pai foi sempre o meu herói. Como sempre pensei: - Não há pai como o meu Pai!

Armando Pinto
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quinta-feira, 3 de março de 2016

Máquina de escrever antiga – do início datilografado do livro “Memorial Histórico…”


Diz-se que quem conheceu bem momentos de antigos artefactos, viveu época interessante e dentro dessas possibilidades foi feliz. Sendo uma realidade que quem aprendeu a ler e escrever em lousas e cadernos (além dos livros de letras "com macaquinhos"...) teve uma aprendizagem mais firme que a dos tempos vindouros, qual era de forte ligação à informática e aparelhos audiofónicos. Sendo por isso, hoje em dia, já de curiosidade jurássica a vista por antigos apetrechos de ferramentas da escrita, no caso, como eram e são as antigas máquinas de escrever.

Nesse sentido registamos aqui, neste espaço de memorização, a primeira máquina de escrever pessoal do autor destas linhas, ainda de datilografia mecanizada. Onde, depois de alinhada a obra em forma manuscrita, ao longo de muitos anos, começou depois a ser datilografado o livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”. Uma máquina de dura batedela de teclas, pois tinha de se bater com força nas teclas para as letras ficarem bem visíveis no papel, através da fita química (com impressão por meio dos chamados químicos, a preto para escrita normal, e vermelha para outros pormenores), que corria de um lado para outro, desenrolando dos carretos respetivos.

Paralelamente, esse labor do livro, anos mais tarde, foi continuado por meio de outra mais moderna, então já uma máquina eletrónica, com fita corretora e cassete de impressão, até ter acabado a ser passado em texto formatado de computador, por fim. Num percurso que começou sensivelmente em meados dos anos setentas e, no que reporta ao caso referido, passou pelos oitentas na escrita à máquina manual; até mais tarde ter tido ordenação em máquina eletrónica pelos inícios dos anos 90, e, depois de tratamento de texto em computador, teve finalmente publicação em Novembro de 1997.


Dessa máquina antiga, como ilustração, junta-se aqui imagens de vista geral da máquina e de pormenores da maquinaria e dos seus rolos da fita.


As máquinas de escrever foram um equipamento de escritório padrão entre finais do século XIX até finais do século XX, começando a cair em desuso a partir de inícios da década de oitenta. Sendo esta máquina, em apreço, de teclado "HCESAR", conforme as primeiras letras do correr das teclas, como exemplar das máquinas antigas manuais (não elétricas), que são algo raras já por há muito terem deixado de ser feitas. O que leva que hoje em dia sejam apreciadas para decoração, também, entre artigos de recordação. Tal como sucede com esta máquina que durante muitos anos esteve na Longra, no escritório domiciliário do autor... e, entretanto, ofereci a pessoa de que gosto muito, para ficar onde sei que será sempre estimada…

Armando Pinto

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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Padrão de Felgueiras – artigo historiador no S. F.


Numa abordagem historiadora, buscando estudo a reportar às origens de casos identificativos, da memória coletiva felgueirense, mais um artigo daqui do autor foi pousar ao jornal Semanário de Felgueiras, de quanto se voa nestas loas, dentro da colaboração habitual com assuntos respeitantes a Felgueiras. Onde muitas coisas que se vêm todos os dias, do que está à vista de todos e existências com que nos cruzamos, nem sempre são bem do conhecimento público nas suas facetas cronológicas e razões de significado. Como é o caso do cruzeiro do jardim fronteiro ao edifício da Câmara Municipal. Na lógica e diferenciação do seu tempo. Distinto como é de outros, sem confusão possível com o vizinho cruzeiro do adro da igreja paroquial de Margaride, dali bem próximo, mas de cariz sobretudo religioso e de matriz comunitária-paroquial. Havendo assim dois cruzeiros na mesma cidade de Felgueiras, contudo de particularidades distintas, com o municipal a ser icónico padrão concelhio.

Esse, com efeito, é o mote que desta vez veio a propósito. Pois que ainda recentemente, numa conversa através do “chat” do facebook, ou seja nas mensagens privadas dessa rede social, foi feita uma pergunta sobre esse cruzeiro, também conhecido por padrão, como é de facto. Então referi que haveria de escrever sobre isso na minha colaboração ao Semanário de Felgueiras. Entretanto, como outros temas apareceram com mais atualidade e se foram intrometendo, só agora pude escrever reportando a este motivo.

Assim sendo, como o prometido é devido, abeiramo-nos do mesmo padrão, com ideia de tratar do caso em sentido estudioso. Embora num tratamento breve, como é num artigo jornalístico em espaço de opinião. Artigo esse que vem então publicado na edição desta semana do SF. De cuja crónica para aqui transpomos o texto respetivo. Ilustrando ainda a descrição com fotos intercaladas do mesmo padrão de cruz cimeira, com vistas algo diferentes conforme os estados floridos do ambiente.

Cruzeiro-Padrão da Independência em Felgueiras

De tempos a tempos há temporadas assinaláveis, comemorando algo ou classificando motivações. Restando depois, por norma, marcos edificados de alusão perene a tais acontecimentos. Como, sem rebuscar muito no tempo, ainda lembra a edificação de pequenas capelas e nichos, com dedicação a Nossa Senhora do Rosário ou da Conceição, existentes em diversas terras da região, de construção próxima à passagem das comemorações do Ano Mariano, em 1985, e em associação extensiva ainda ao período comemorativo dos 350 anos da Padroeira de Portugal, em 1996. Assim como alguns outros pequenos monumentos respeitantes à proximidade dos denominados Anos Santos, como já ocorreu igualmente no início da década dos anos 2000. Também foi assim bons anos antes, aquando da construção dos chamados Cruzeiros da Independência, que tiveram ereção à época comemorativa do tricentenário da proclamação da Padroeira de Portugal e da Restauração da Nacionalidade.

Pois foi assim que nasceu o cruzeiro-padrão de Felgueiras, ereto no jardim central da sede do concelho de Felgueiras. Tal como outros cruzeiros espalhados pelo concelho e por diversas zonas, normalmente de características religiosas-paroquiais, enquanto o de Felgueiras em moldes mais emblemáticos, puxa a um carácter simbólico de feição monumental.


Ora, os Cruzeiros, nos primórdios da organização territorial das paróquias e derivadas freguesias, foram implantados como sinal de jurisdição paroquial, em substituição dos pelourinhos das antigas freguesias. Com a erosão dos tempos, destruídos ou transformados muitos dos originais, houve então em 1940 essa campanha nacional de implantação de novos, em movimento liderado pelo Padre Moreira das Neves (da diocese do Porto, mas que se radicou em Lisboa, ao serviço da comunicação social de inspiração cristã), sendo a iniciativa baseada numa ideia de cruzeiros da independência com a divisa “Uma Cruz basta para dizer na História quem é Portugal”, em vista à comemoração da proclamação da Padroeira de Portugal. Aproveitando então para tal iniciativa patriótica o espírito de respeito do povo português perante os padrões de fé existentes por todo o país. E apelidando-os de Cruzeiro da Independência na pertinência do triplo centenário da Restauração da Nacionalidade, que passava então, junto com um conjunto de comemorações patrióticas e ações públicas de propaganda por todo o país. Dessa imensa organização de âmbito nacional resultou que fossem criadas localmente as chamadas “Comissões das Comemorações Centenárias” que diligenciaram a construção desses “Cruzeiros da Independência” na centralidade das localidades portuguesas. Muitos novos cruzeiros foram colocados pelo território português. Uns com a colaboração das Câmaras Municipais e outros por iniciativa de comissões organizadas. Em cuja sequência se deu em Felgueiras o movimento atinente a esse desiderato, que decorria ainda em finais de 1940, como se pode ler numa nota noticiosa inserta no jornal Notícias de Felgueiras de nove de Novembro de 1940, referindo existência duma «Comissão encarregada de obter fundos para o Cruzeiro da Independência, a erigir nesta vila…». Que altaneiro, é marco concelhio no coração nobre da atual cidade de Felgueiras.

O Cruzeiro da Independência felgueirense, em formato de padrão, colocado no jardim da Praça da República, «foi feito com pedra do monte de S. Torcato, (sendo) obra de bom desenho e bom gosto, riscado por António de Azevedo. No capitel da coluna oitavada (forma alusiva aos oito séculos da Nação, ao tempo) figuram oito brasões dos dois tipos afonsinos, alternados (um só com as quinas e o outro com cruz branca). Serve-lhe de remate uma cruz ornada com esferas.»

ARMANDO PINTO
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Crónica no Semanário de Felgueiras: À laia do tempo...


A habitual crónica do autor (deste blogue também) no jornal Semanário de Felgueiras, normalmente focando temas de carácter felgueirense ou pelo menos regional e culturalmente local, desta feita versa sobre o tempo ambiental do meio, atendendo ao que foi e é - conforme publicação na edição de sexta-feira, na página 2 do SF:

À laia do tempo…

Ainda não chegaram a estas paragens as andorinhas, nem outras aves de arribação, na presença de tempo por ora pouco agradável e ambiente de menor encanto. Faltando vir manhãs de Primavera, com um ressurgir de vida ao acordar, e encanto de soalheiras tardes dos dias de renovação da natureza. Mas assomam entretanto, já, outros passarinhos, arribando até cá mais aves trazendo também encantos e desencantos de alma na renovação da vida e desenvolvimento social. Pousando na diversidade, qual passarinho da recordação empoleirado num galho de lembranças, como que a trazer sentimentos revigorados, com retaguarda relacionada com aspirações de desenvolvimento.


Não é tarde nem é cedo, como se diz, para determos ideia de reminiscência, na altura de transição do ambiente natural, enquanto o Inverno não acaba nem a Primavera chega, quando o ambiente social está quase às avessas, com a crise que teima continuar. Passada a época de Carnaval, quando já a folia carnavalesca nem é como antigamente, na linha da descaracterização derivada de fusões contra natura e derivadas ocorrências de tais uniões. Entrando de seguida temporada quaresmal rigorosa, à medida da cor roxa própria da quadra, vindo então a talhe lembrar algo relacionado com outros tempos e modos. Não tanto porque quando é assim qualquer coisa serve, para o efeito, mas porque calha para lembrar a preceito.

Ora, o Carnaval já foi, voando pelo ar como confetes e serpentinas atiradas, entretanto, despido que vai o tempo de roupagem de fantasias. Pois, por ter passado já, traz memórias de outro passado, quando as passeatas de carnaval eram feitas por pessoas individualmente ou em grupos ocasionais, em desfiles de outros tempos, que saíam à rua, mascarados com suas caretas, mais roupas velhas e fora de regra, passeando-se diante dos conterrâneos, conhecidos e assistentes, sem se darem a reconhecer, nem qualquer outra intenção, quantas vezes com figurações engraçadas ou provocantes, na linha que no carnaval ninguém leva a mal. Mas sem tropelias. Até por fim ser queimado o entrudo, junto com peças fora de uso, em fogueira popular. Junto com leitura de testamento normalmente teatral, no verdadeiro termo público.

Não é necessário ir muito ao fundo da arca de lembranças, quanto a fazer uma descrição profunda, por tudo isso estar bem na memória de qualquer pessoa, conforme a época de cada qual. Nem agora se torna preciso apontar o que tem sido mais recente, por estar bem presente em todos os que assistimos ao desfile do tempo atual. Não de um corso carnavalesco qualquer, mas do trajeto que ocorre nos tempos que correm, agora. Podendo dizer-se que qualquer semelhança com a realidade não é simples coincidência, apenas pura existência.

Armando Pinto
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