Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sábado, 22 de agosto de 2015

Mais recordações da Longra...


Eis um tinteiro antigo, dos tempos de escrita à pena, mas também para recarregar as canetas de tinta permanente, que foi do escritório da fábrica da Longra, dos inícios de sua laboração no Largo da Longra.

Como é da história memorial da região, a indústria metalúrgica da Longra começara precisamente no Largo, no princípio dos anos de 1920, estando as instalações fabris, no célebre barracão, ao correr da estrada até à carvalha da Longra. E no extremo do Largo estava a parte dos escritórios, na casa de pedra ainda ali existente, embora em estado há muito a necessitar de recuperação.  

Pois este tinteiro, que possuímos como recordação paterna, patente na secretária do atual escritório doméstico, foi oferecido a meu pai pelo "patrão" sr. Américo Martins, aquando da mudança de instalaões da Metalúrgica para a reta da Arrancada e consequente instalação de toda a parte electrica e criação da sirene da fábrica...
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Armando Pinto

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Recordações da Longra…


Quão diz um velho rifão popular, de que “Recordar é viver”... tem certo sabor memorial relembrar-se alguns factos marcantes da vivência respeitante a uma comunidade, como no caso da nossa. A propósito de se recordar a antiga existência de futebol associativo na Longra, com o extinto mas histórico F C da Longra que disputou o campeonato do futebol amador da Associação de Futebol do Porto, tendo inclusive sido campeão numa época – como está registado e ilustrado no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”.


Dessas eras, para não deixar morrer a memória, rememoramos agora "O Longra", como era conhecido o clube, dessas eras, que já então englobava jogadores, dirigentes e espetadores das diversas terras da área geográfica hoje tida por Vila da Longra. Trazendo aqui à lembrança uma publicação alusiva, de quando o Longra teve lugar na página “Bolas Fora” do antigo jornal diário “O Comércio do Porto”, em sua edição de 29 de Outubro de 1991, à página 24, na secção de Desporto.


Armando Pinto

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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Crónica no SF sobre Nossa Senhora das Vitórias


O jornal Semanário de Felgueiras tem para publicação mais um nosso artigo, desta feita sobre a tradicional ligação da Lixa à sua histórica padroeira, mais derivados vínculos - cuja coluna em princípio deverá ter publicação no jornal desta semana.

Dessa crónica juntamos aqui o respetivo texto original para leitura, por este meio. 

Nossa Senhora das Vitórias

Na atmosfera dos dias de hoje, como brisa corredia em horas de calor, haverá sempre uma espécie de propriedade, na teologia das coisas. No sentido de coisa própria, com ênfase de existência.

É assim que se nos revela o significado das nossas coisas, como se costuma dizer, englobando sentimento de rincão pátrio, apego ao que identifica a terra mátria. Tal como a nossa terra tem individualidade no carisma do genuíno pão de ló, em comparação com um bolinhol ou pão de ló húmido de outras zonas geográficas; bem como tem um gosto especial o Pão Podre tradicional das tendas de nossas romarias, de massa apaladada com mel e canela, em contraste ao limão do chamado doce da Teixeira. Etc e tal… E temos ainda um singular exemplo, como é o caso de Nossa Senhora das Vitórias, que desde tempos imemoriais se venera na Lixa e faz parte da simbologia lixense. Diferenciada de outras, a padroeira da grande festa da Lixa, mas que, com alguma curiosidade, irradia hossanas. Tanto que, com o mesmo nome, chegou ao Brasil, onde até há a Senhora das Vitórias padroeira dum grande clube desportivo.

Com alguma água na boca, da curiosidade da descrição e perante esta realidade, vamos por partes. Quando se está em período apropriado, pela respetiva afetividade à pertença conterrânea. Por quanto Nª Sª das Vitórias está quase a ter sua festa na Lixa, por estes tempos próximos, ao virar do mês de Agosto para Setembro. Num período propício de regresso às raízes.

Segundo narram crónicas coevas, o priorado de Nª Sª das Vitórias está relacionado à guerra civil portuguesa do século XIX, mais precisamente com a última batalha entre os dois irmãos régios, D. Pedro e D. Miguel, oriundos da geração fugida às invasões francesas. Cuja peleja se travou nos arredores da Lixa, pelos contornos do Ladário, nos princípios de Abril de 1834. Conforme rezam narrativas da época, aludindo ao facto: As tropas Miguelistas, comandadas pelo General Torres, vinham de Guimarães a caminho de Amarante e foram surpreendidas no monte do Ladário pelas forças de D. Pedro, comandadas pelo Brigadeiro José Cardoso. Embora bastante reforçados com militares de diversas terras, os Miguelistas foram derrotados, refugiando-se em Amarante. No monte fronteiro ao Ladário havia uma capelinha dedicada a Nª Sª Aparecida. Ora, então D. Pedro, atribuindo essa sua vitória e todo o consequente triunfo bélico a Nossa Senhora, mandou substituir a imagem da Sª Aparecida por outra, a que por conseguinte apelidou de Nª Sª das Vitórias, estabelecendo que se celebrasse todos os anos uma festa em sua honra. Passando, com o decorrer do tempo, a ser tradição a realização dessa festividade próxima à feira das uvas, que já acontecia ao tempo, ficando assim também como feirão do aparecimento das cebolas, por ocasião do primeiro fim de semana de Setembro. Sendo esta a festa-mor da Lixa, desde esses tempos.

Enquanto isso, mais tarde, pelos anos vinte do século XX, a Senhora das Vitórias passou também a ser a padroeira dum grande clube brasileiro representante da comunidade portuguesa, o Vasco da Gama. Com efeito, no Brasil, Nª Sª das Vitórias é a padroeira oficial do Clube de Regatas Vasco da Gama, de fortes conexões com a cultura portuguesa. E, segundo descreve uma crónica oficial do mesmo clube, ali «a devoção por Nª Sª das Vitórias foi iniciada no período em que o cruzmaltino conquistou seus primeiros triunfos no futebol. Em 1923, após conquistarem o primeiro Campeonato Carioca da 1ª divisão, os jogadores receberam, das mãos de Carlito Rocha, cordões com medalhas da padroeira. Alguns anos mais tarde, movido por sua devoção à mesma santa, um associado do clube presenteou os jogadores com uma imagem da padroeira, que foi colocada na portaria.» Acontecendo que um histórico dirigente desses tempos, o tesoureiro da direção Alberto Baltazar Portela era natural do concelho de Felgueiras, chegando até a ser benemérito da escola primária da Longra (onde costumava ser homenageado sempre que vinha de visita à terra natal) e teve seu nome atribuído ao campo de basquetebol da Longra, existente pelos anos trinta e quarenta…Conf. consta no livro "Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras".

Podendo ou não haver uma relação direta entre tais casos, o certo é que a imagem viscaína da sua padroeira tem diversas semelhanças com a da Lixa, sendo esta portuguesa venerada em terra felgueirense desde era antiga, com ancoragem na capital da Vera Cruz à chegada dos anos 20, do século XX. Havendo nas suas instalações desportivas, na zona do estádio São Januário, uma capela dedicada à mesma protetora do famoso clube de grande história futebolística – cuja construção contou com contribuição de alguns clubes portugueses, com realce para FC Porto, Benfica e Sporting, que mandaram caixas com terras de seus recintos… em associação simbólica.

ARMANDO PINTO

terça-feira, 28 de julho de 2015

Um Longrino-Felgueirense Campeão Nacional – notícia in S.F.!


Tal como alude o título, noticiou o Semanário de Felgueiras esta honrosa nota informativa, na edição de sexta-feira dia 24 deste Julho corrente. Da qual se regista aqui, no âmbito histórico e pelo prisma do apreço conterrâneo, esta interessante obtenção do respetivo pódio de campeão nacional de veteranos, na especialidade de corrida de 5000 metros de pista ao ar livre, em atletismo, por parte de um amigo familiar e concidadão felgueirense de Longra-Rande.

Armando Pinto

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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Adereços relacionados com S. Tiago de Rande – Felgueiras


Decorre este fim de semana a festa paroquial de Rande, em honra do padroeiro S. Tiago Maior. Com solenidade dedicada ao santo Apóstolo da Península Ibérica e sobretudo tradicional festividade outrora de ligação forte à comunidade, mas, pese a crise dos tempos recentes e atuais, ainda com alguma afetividade local.


A propósito destra atualidade, juntamos um vislumbre por alguns artefactos de identidade regional, integrantes das coleções do autor, entre material guardado de relação com anteriores edições da mesma festa de Rande, do concelho de Felgueiras.


Armando Pinto
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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Médicos de renome com ligações felgueirenses


A propósito da existência de médicos célebres com raízes de naturalidade ou afinidade a Felgueiras, recordamos aqui e agora dois artigos que há anos escrevemos e foram publicados no jornal Semanário de Felgueiras, subordinados a temas indicados nos respetivos títulos:

Duas Datas de Dois Factos Memoriais

1855 foi ano de alcance deveras significativo, entre outras ocorrências, de duas datas com relevância para a memória Felgueirense.

Se há efemérides dignas de ser referidas e nunca esquecidas, pelo seu significado simbólico, será esse o caso da data da criação da Comarca de Felgueiras, ou seja, de quando o nosso Concelho atingiu a plenitude da sua composição. Mas não só, também há ocasiões merecedoras de evocação, de serviço à recordação de pessoas e factos, vindo a propósito referir que neste mesmo ano houve igual contagem desde o nascimento do eminente médico psiquiatra Prof. Dr. António de Sousa Magalhães Lemos, distinto Felgueirense.

Ora, durante o mesmo ano, efectivamente, perfez-se a materialização daquela elevação histórica de Felgueiras a Comarca, acontecimento ocorrido em 1855, por decreto de 24 de Outubro. Assim como se passou, em 18 de Agosto, o nascimento daquele grande vulto Felgueirense que foi o Dr. Magalhães Lemos, nascido em Felgueiras.

Indo por partes, e começando pelo relevo simbólico institucional: Foi, pois, a criação da Comarca um facto da maior importância à afirmação concelhia de Felgueiras. (... E passamos adiante, por este tema não vir ao caso, agora, tratando apenas dos médicos.)

Quanto ao segundo tema em foco, é naturalmente aprazível relembrar a natalidade de Magalhães Lemos, personagem cuja naturalidade Felgueirense é patente em estar perpetuado com um busto na fisionomia central da sede do concelho. Nascido em Felgueiras, na freguesia de Margaride, dentro da Casa do Curral, sua memória irradia ainda maior amplitude na actual função de sua casa, transformada em estabelecimento de ensino, onde está instalada a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras, tal o funcionamento desde 1999 desempenhado pelo edifício que lhe acolheu o berço natal. Para lá de esse nome ser entre nós algo familiar aos sentidos, por constar da toponímia numa rua da cidade e ainda ter um monumento no jardim do centro de Felgueiras, convirá mencionar, embora numa resenha breve sobre sua prestigiada folha curricular, que o Dr. Magalhães Lemos se distinguiu no domínio da Neurologia e Psiquiatria. Tendo, depois de cursar na Escola Médico-Cirúrgica do Porto (onde obteve o doutoramento com tese “A Região Psicomotriz”), também estudado e trabalhado em Paris com Charcot e Magnan, dois cérebros da ciência neurológica internacional. Depois, a partir de 1911, desempenhou os cargos de professor de Neurologia na Universidade Livre do Porto e director do Hospital Conde Ferreira. Desenvolveu então sua obra principal, escrita em 1912: Curso de Psiquiatria. Mais tarde regeu a cadeira de Psiquiatria na Faculdade de Medicina do Porto (que, então, funcionava junto ao Hospital de Santo António, onde depois esteve a Faculdade de Letras e mais tarde o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – pois apenas em 1959, em dia de festa do santo patrono da cidade, passou para o Hospital Escolar de São João). Tendo, Magalhães Lemos, ainda durante sua intensa actividade, integrado o Conselho Médico-Legal e o corpo docente do Instituto de Medicina Legal em Psiquiatria Forense. Foi também sócio de mérito da Academia de Ciências de Lisboa, da Sociedade de Ciências Médicas, do Instituto de Coimbra, sócio da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e sócio correspondente de diversas sociedades científicas estrangeiras. Teve autoria de uma vasta bibliografia no campo científico da sua acção. Como recebeu condecoração do grau de Oficial de Instrução Pública de França e foi feito Cavaleiro da Legião de Honra.

Considerado autoridade na área da ciência psíquica, teve a honra de ser homenageado, em vida, com descerramento de um busto no salão nobre da Faculdade de Medicina do Porto, aquando se sessão aí realizada em sua homenagem, corria o ano de 1925, presidida pelo então titular da pasta ministerial da Instrução Pública. Desse acto foi publicado um livro de 100 páginas, editado em 1927 pela Empresa Industrial Gráfica, do Porto. Tendo, posteriormente, o Dr. Magalhães Lemos publicado um livro referente a uma dissertação, de “Elogio histórico do Dr. Zeferino Falcão”, em 1929. Em homenagem póstuma, aquando do seu passamento, o “Nobel” Dr. Egas Moniz (1874-1955) dedicou-lhe um elogio escrito, “Professor Magalhães Lemos”, in separata de Lisboa Médica. Após o seu falecimento, ocorrido em 1931, recebeu o Dr. Magalhães Lemos homenagem solene da Misericórdia de Felgueiras, tal qual colocação de retrato no salão da Associação dos Bombeiros Voluntários, de que foi benfeitor e sócio honorário. Anos volvidos, teve mais devido reconhecimento de Felgueiras, com erecção de pedestal público. E, também a título póstumo, no Porto houve atribuição do nome do Dr. Magalhães Lemos a um importante estabelecimento hospitalar psiquiátrico.

Muitos anos depois, continuou a merecer atenções estudiosas, como se nota em alguns exemplos, tal o que escreveu o Dr. Barahoma Fernandes (1907-1992) com escrito de sessão solene em homenagem ao Dr. Magalhães Lemos (pelo seu Centenário), in separata de Anais Portugueses de Psiquiatria, em 1955 e O Médico em 1956, tendo o mesmo especialista também publicado em 1956, in sep. Portugal Médico, uma “Relação da neurologia com a psiquiatria na obra de Magalhães Lemos”. Entretanto, também o Dr. Elísio de Moura (1877-1977), se exprimiu literariamente, em alusivo trabalho “Prof. Magalhães Lemos”, datado de Coimbra em 1971.

Como disse o Dr. José Leal de Faria, na sessão solene da referida homenagem prestada pelos Bombeiros de Felgueiras, «as terras só são grandes, consideradas e conhecidas, quando as qualidades dos seus filhos as inculcam e tornam notáveis».

Dois Vultos da Medicina

Há tempos, ao pousar os olhos em notícias de área distrital, deparamo-nos com dois importantes nomes de ligação Felgueirense, no quadro de honra de uma prestigiada instituição portuense. Tratando-se do percurso histórico do Instituto Superior de Serviço Social do Porto, criado em 1956, no âmbito dos Movimentos de Acção Católica da Diocese do Porto, que presentemente confere formação de bases científicas.

Ora, tendo estado essa actual cooperativa de ensino superior a comemorar então, em 2006, o cinquentenário de fundação da respectiva inicial Associação, veio a público na ocasião algo do seu historial. Tomando-se assim conhecimento, à distância, que no quadro docente desse Instituto, passaram desde 1956 também, entre outros, o Prof. Dr. Fernando Sarmento Pimentel das Neves, em Psicologia e Psicopatologia, como o Prof. Dr. Abel Sampaio Tavares, em Medicina Social.

Estes dois eminentes Vultos da Medicina, com efeito, transportam em seu rasto curricular fortes afinidades e raízes de Felgueiras. Tendo o Dr. Fernando Pimentel das Neves nascido em Rande, embora ficasse registado como natural do Porto, acabando por ser sepultado no cemitério paroquial de S. Tiago de Rande, no jazigo de família da sua Casa da Torre (solar da linhagem de sua mãe e dos famosos João e Francisco Sarmento Pimentel, seus tios). Enquanto o Dr. Abel Tavares (pai), sendo oriundo do Minho, assentou domicílio sazonal em pleno Douro Litoral, na Casa do Souto, da freguesia da Pedreira, concelho de Felgueiras, onde, dividindo com permanência no Porto, passava também temporadas no remanso da verde paisagem Felgueirense, em fase de jubilação da sua prestigiada carreira médico-científica. Mantendo-se então integrado na terra de laços familiares e conjugais, como no caso de participação social que entretanto teve na Cooperativa Agrícola de Felgueiras, onde desempenhou durante alguns anos o cargo de Presidente da Assembleia Geral.

Pois os referidos personagens ilustres do meio, fazem assim parte da honrosa galeria de médicos integrantes na memória Felgueirense, desde o célebre Prof. Dr. Magalhães Lemos, passando por um vasto conjunto de figuras, seja como clínicos, investigadores e professores, naturais ou residentes do concelho, além de tantos que também desempenharam funções e exercem medicina dentro do mesmo território Felgariano. Não sendo possível uma enumeração exaustiva, até para evitar omissão involuntária de quaisquer nomes.

Cingindo-nos, por conseguinte, aos referenciados, será de vincar que, entre uma ampla folha de serviços como a sua, alguns factos merecem ser registados.

Faz parte da História Médica Portuense, por exemplo, que o Dr. Fernando José Sarmento Pimentel das Neves incluiu o Conselho Regional da Ordem dos Médicos de 1950 a 55, fez parte da organização de Cursos de Aperfeiçoamento, como aconteceu por exemplo com o de 1952, em que Pimentel das Neves esteve no grupo representante do Hospital Conde Ferreira, como nos respectivos mandatos iniciados em 1956 e 1959 integrou o Conselho Disciplinar Regional do Porto. Sendo de recordar o que se fixou no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, que o Psiquiatra Dr. Fernando Pimentel das Neves (n. 1918 - f. 1973) foi Director do Hospital Magalhães Lemos e do Conde Ferreira, havendo ocupado o cargo de Director dos Serviços de Psiquiatria da Região Norte e de Delegado do Instituto de Assistência Psiquiátrica da Zona Norte, bem como de Director do Centro de Saúde Mental do Porto. Publicou diversos trabalhos sobre Psiquiatria, incluídos nos Anais de Psiquiatria, n’O Médico e Actas do Congresso Mundial de Psiquiatria, além de conter artigos noutras prestigiadas publicações técnicas de medicina e da sua especialidade, tal como colaborou também na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Tendo casado em Rande, na sua terra e paróquia de implantação da casa-mãe da tradicional família, repousou depois, para sempre, também em chão Felgueirense, no campo santo da mesma freguesia.

Desenvolvendo um percurso com etapas contemporâneas, o Prof. Dr. Abel José Sampaio da Costa Tavares (n. 1920) constituiu também o Conselho Disciplinar Regional do Porto, eleito em 1959. Consta entre os «anatomistas de carreira» do Laboratório de Cirurgia Experimental do Prof. Hernâni Monteiro (conf. “História da Medicina Portuguesa no Século XX”). Depois de outros desempenhos salientes, mais tarde esteve incluído no núcleo organizador das Bodas de Prata da Ordem dos Médicos, no Conselho Regional do Porto, integrado em comissão que em 1963 realizou importante programa, com saliência para uma Exposição de Artistas Médicos. Incluiu igualmente os Corpos Gerentes de 1971/73 da mesma Secção Regional da sua Ordem, como Delegado à Assembleia Geral. Tendo ainda sido Director do jornal A Ordem, de vinculação diocesana, tem colaboração n’ O Tripeiro, com artigos de articulação historiadora, além de uma vasta produção literário-monográfica. Deste famoso Catedrático, consta seu nome na Base Nacional de Dados Bibliográficos com mais duma centena de publicações, de que é autor e co-autor, desde obras de cariz médico, de investigação, intervenções em congressos, relatórios, estudos culturais, biografias e homenagens a médicos ilustres – cujo conteúdo não podemos aprofundar, por só conhecermos os títulos, nalguns casos mesmo sintomáticos, como “Um retrato com meio século: comentários e saudades”, de 1994.


Armando Pinto

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Artigo no Semanário de Felgueiras, sobre alguns pontos de cultura felgueirense


Na linha da colaboração normal ao jornal mais regular de Felgueiras e no seguimento da crónica ilustrada aqui publicada anteriormente, ainda há dias, eis o prometido artigo em que serviu de mote o cortejo dos tabuleiros de Tomar e estensivamente o das flores de Felgueiras, com algumas adições apropriadas ao tema.

Disso, como ilustração, juntamos recorte da respetiva coluna publicada na edição desta sexta-feira 17 de Julho, à página 2, do Semanário de Felgueiras. E de seguida o texto original, para leitura.

Cultura de Atração e Impacto

Mau grado a crise social que se sente e passando sobre a correspondente escassez de valorização cultural, ainda vai havendo alguma cultura de valores por este país fora, nomeadamente na preservação de algumas tradicionais organizações. Quanto se passa em muitos lados do retângulo português, em cujo mapa Felgueiras tem algum relevo.

Ora, dando colorido aos semblantes crispados pelos tempos atuais, entre diversas realizações festivas de impacto, existem alguns cortejos deveras interessantes. Quanto ainda num destes dias nos entrou pelos olhos dentro o singular cortejo dos tabuleiros de Tomar. Conforme muita gente viu pessoalmente e muitos presenciaram em imagens difundidas por vários canais televisivos nacionais. Em cujas reportagens, assinalando esse mar de flores alinhadas entre pães, em cestos muito bem elaborados, houve uma referência ouvida a relembrar alguma aproximação do cortejo das flores de Felgueiras, apesar das diferenças de desfile e sua apresentação.

Vem assim a propósito a apreciação que estes factos merecem, apesar do estado atual em que se vive.

Verifica-se nos tempos recentes, com efeito, algum retrocesso na vida social, bem patente no sentimento público de tudo estar a andar para trás. Quase numa sequência de erros políticos e colapsos económicos sentidos pela população. Cujo recuo, afinal, tem levado à retoma de antigas valências, pois, como há muito diz a sabedoria popular, quando não há pão até migalhas vão.

Perante isso, após atropelos geradores de revés, como aconteceu com a extinção de freguesias e imposição de uniões ficcionadas, sem diminuição de custos mas aumento de pecúlios, nota-se um evidente afastamento de muita gente diante de realizações e manifestações de cariz local e regional, mesmo desinteresse bairrista, na falta do que dava alma à coisa pública. Enquanto, por outro lado, há autarcas, desconhecedores das extensões territoriais que representam agora, a deixar correr a água, embora com fontanários secos, em aspetos singelos, para não se ir muito além nas constatações.

Nesses comenos, entre causas e efeitos, sente-se acuidade na salvaguarda do que ainda existe, num ponto de vista revitalizador, quanto a possível recuperação telúrica. Vindo à tona a necessidade de mais vir a ser feito e pelo menos se manter o que existe, no fortalecimento de imagens de marca capazes de arrastar e fazer puxar a situação para uma unidade sentida.

Vem então à baila quão importantes são os casos de motivação, querendo dizer algo capaz de provocar atração a uma causa, como no sentido dos interesses duma entidade, seja instituição ou localidade. Qual o caso do referido cortejo das flores que ainda há pouco voltou a colocar Felgueiras no mapa. Merecendo assim uma reflexão, num paralelismo possível ao muito mais antigo e famoso cortejo de Tomar, que leva à cidade do Nabão uma imensidão de visitantes, quer excursionistas nacionais e turistas estrangeiros. Faltando porém em Felgueiras uma dose promocional mais atenta e precisa, como se vê em Tomar, desde um simples símbolo alusivo numa das rotundas de entrada, até uma decoração apropriada no edifício dos paços do concelho e ruas da cidade, além da promoção noticiosa evidente que chega a todo o lado; mas ganhando no respeito pelos romeiros, em transportes de deslocação colocados (entre a cidade de Felgueiras e o alto de Santa Quitéria, local principal da festa do concelho), já que em Tomar, ainda recentemente, frise-se, os forasteiros foram obrigados a longa caminhada desde o aparcamento de autocarros até aos locais de passagem do cortejo. 

Portugal é país de tradições persistentes e Felgueiras felizmente mantém algumas. Devendo isso assim merecer sempre atenção, por quanto tudo ganha melhor visibilidade e apreço diante de factos provocadores de impacto, qual atração que a vida ganha em haver cor e diversão na diferença da normalidade.

Armando Pinto

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