Espaço de atividade literária pública e memória cronista

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Lembrança do mais recente nevão caído na região...


Foi a 9 de Janeiro de 2009, numa manhã fria e surpreendente - já passaram nove anos, entretanto - quando caiu a mais recente grande camada de neve, como por aqui se diz, num inesquecível grande nevão a cobrir de branco a Longra... nesta área de Felgueiras e zona interior nortenha de Sousa e Tâmega. Prolongando-se pelo mesmo dia, uma sexta-feira, tal atração de flocos brancos surgidos do ar, vulgo farrapos, quais folhas esvoaçantes, que desde o alto celeste vieram em catadupa cobrir o solo e toda a natureza, transformando o ambiente assim colorido por um espesso manto de neve, de “folerca” - como por esta zona se costuma dizer popularmente (em corruptela popularucha de folheca).


Sendo como foi uma raridade e como tal é por vezes motivo de lembrança, nunca é demasiado relembrar essa ocorrência, pela alteração à monotonia verificada em ocasiões dessas.

Tal cenário até nos fez recordar poeticamente o poema "Balada da neve", de Augusto Gil...

«Fui ver. A neve caía
 do azul cinzento do céu,
 branca e leve, branca e fria…
 Há quanto tempo a não via!
 E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
 Pôs tudo da cor do linho.
 Passa gente e, quando passa,
 os passos imprime e traça
 na brancura do caminho…»

... Habituados à geada invernosa, nas áreas baixas da área, nesta zona ribeirinha do rio Sousa, todos os sentidos tiveram então, dessa vez, uma camada de neve a compor o panorama ambiental. Num facto pouco habitual, como só acontece com grandes intervalos de tempo, de permeio, mediando de muitos em muitos anos, normalmente. Tanto que desde aí ainda não voltou a ter repetição, por enquanto. 

Recordando esse dia e a visão pouco comum, relembramos aqui o facto através de algumas imagens do álbum pessoal...



© Armando Pinto

sábado, 6 de janeiro de 2018

Janeiras e Reisadas



Estamos em tempo do tradicional canto popular das Janeiras, na entoação visitante às casas de gente conhecida e entre amigos, através de grupos formados de diversas maneiras e feitios. Incluindo desde há anos as andanças de agrupamentos organizados, como Ranchos e formações tendentes à angariação de verbas. Com acrescento de recriação folclórica, embora nem sempre condizente à realidade, visto antigamente ser gente do povo que costumava andar a cantar nesse fito das visitas de casa e casa, não se entendendo por isso como aparecem trajes domingueiros  e de pessoas ricas em tal coreografia revivalista, atualmente.

Olhando a toda a envolvência relacionada, na pertinência da época, recordamos aqui um dos textos em tempos já publicados num artigo pessoal no Semanário de Felgueiras e de permeio também vindo a público noutra publicação:


Cantares de Janeiras e Reis

Começando pelo princípio do ano, debruçamo-nos de início, ainda que levemente, sobre os tão antigos cantares de Janeiras e Reis.

Passados os festejos natalícios, comido o bacalhau e as batatas da consoada, com a árvore decorativa a representar como que uma réstia do antigo cepo que ardia nos adros das igrejas em noite de missa do galo, e com a passagem de ano, tempo de beijar comunitariamente ainda os pés do Menino no fim das missas, chega a vez das Janeiras e complementares cantares dos Reis. Costume de influência importante noutras eras, teve formas variadas conforme as terras, por esse país fora, e também no nosso ambiente concelhio. Maneira essa de convívio que mais não é que um velho uso, deveras misturado num apego religioso revestido com sabor popular, vulgo pagão.

Segundo estudiosos eminentes da matéria, do que fomos lendo algures e anotando há longo tempo, essas reuniões de grupos de amigos, familiares e vizinhos, que iam às portas uns dos outros entoar as “boas entradas”, é uma usança derivada das “Saturnais”, festas clássicas celebradas pelo povo romano e romanizado em honra de Saturno, festividade relacionada com os segredos da crença popular comum à agricultura. Folganças aquelas realizadas por alturas das calendas de Janeiro e com a particularidade de que durante tal período desapareciam as distinções sociais.

Na antiguidade, conforme ainda algo que chegou transmitido através de alguns estudos historiadores, reuniam-se ranchos de gente, formando grupos de cada lugar ou famílias, os quais a partir da noite de ano novo percorriam as casas das pessoas mais gradas a desejar-lhes as boas festas, juntando-se por fim todos os da mesma freguesia num local tradicional, normalmente no adro ou proximidade da igreja paroquial, acabando ao calor do que restara do tronco da fogueira de natal a cantarem, ora ao desafio ou todos juntos.

A respetiva campanha, conforme a definição mais conhecida, é efetivamente uma tradicional manifestação de cultura popular de origem pagã, consistindo em reunião de grupos de pessoas que, no início de Janeiro, percorrem uma região, à noite, cantando pelas casas, ao som de instrumentos tradicionais de música, e desejando às pessoas conhecidas e amigas um feliz novo ano, por via de quadras de sabor popular. Tal como as Janeiras são “cantigas de boas-festas por ocasião do Ano Novo”. A propósito de Janeiro ser o primeiro mês do ano, sendo assim chamado em honra do deus Jano (de janua = porta, entrada). Uma outra ideia relacionada, pois Jano era como que um porteiro celestial, e, consequentemente, qual deus das portas, que as abria e fechava, esperando-se a sua proteção na partida e no regresso. Tido assim por um deus dos começos, Jano era invocado para afastar das casas os espíritos funestos. Fundamentando-se, por isso, que esta manifestação tem origem em cultos pagãos, que o cristianismo não conseguiu apagar e se foram transmitindo de geração em geração. Por extensão, a versão religiosa cristianizada das Janeiras é o cantar dos Reis, desde 6 de Janeiro.

Com o decurso dos tempos surgiram transformações desse hábito, das Janeiras e Reis, por via de que resultaram particularidades diversas. Passou a associar-se cambiante de convívio mais restrito, com esse canto noturno de porta em porta, dando vivas às pessoas das casas visitadas, a ser recompensado por meio de qualquer espécie alimentar, sendo depois essa angariação repartida por todos os participantes em folguedo final conjunto.

A partir da noite de Reis, depois da ceia tradicional, que nalgumas freguesias do concelho de Felgueiras, pelo menos, metia arroz de feijão branco acompanhado de rodelas de paio, começavam então as "Reizadas", seguindo o mesmo ritual, apenas com adaptação da letra entoada ao som dos instrumentos musicais mais acotiados.

Sendo estes cantos efetuados por grupos de mulheres e homens adultos, acompanhados por rapazes e raparigas jovens e por vezes também por crianças, em anos não muito distantes passaram a ser levados a efeito mais por jovens e crianças, com o fito de receberem donativos, conhecidos por “esmola”.

Tal tradição tem sido preservada nos tempos mais recentes, sobretudo, pelos Ranchos Folclóricos e outros grupos institucionais, com o propósito de angariação de receitas para a sua sobrevivência, em vista à manutenção anual associativa, ou por comissões e agrupamentos organizados como recolha de fundos para qualquer iniciativa de interesse público.

ARMANDO PINTO
~~ * ~~
Ora, à chegada do final da quadra natalícia, qual expirar da época festiva do Natal já passado e entrada no Ano Novo entretanto iniciado, depara-se no calendário anual a terminação dos Reis, na atualidade do dia dedicado ao tema dos Reis Magos – que, como visitantes últimos ao Menino Jesus, no seguimento da estrela de Belém, dão azo à ocasião tradicional do desfazer do presépio.

Assim, em plena época do canto das Janeiras, ancestral costume que a partir deste período dos Reis dão lugar às "Reisadas", estando-se já no fim de semana de guardar as decorações natalícias, passamos à normal vivência anual. Vislumbrando-se no horizonte uma linha de anseios natural. Como tal desejamos que se realizem os mais lindos e justos desejos comuns, entre nós, os que nos revemos nos mesmos anelos íntegros!

A. P.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Feliz Ano de 2018: Um bom ano, mais, de felicidade e estima sentimental !


Há quem diga que o amor é uma ilusão, mas não… para mim não. Do amor de meus pais nasci eu e sem o amor de meus antepassados não existiria nada do que mais me enternece. O  meu amor sempre foi e será real, é verdadeiro e pleno, tanto que deu vida a meu casal de rebentos e originou ter a família que felizmente tenho. O amor pela minha terra, também, faz com que me sinta eternamente ligado a esta minha região, onde nasci e vivo, para onde caminham passos e atenções de toda a gente que gosta de mim e quer estar à minha beira. O amor pelas existências que me aquecem o sangue e fazem fluir ao coração algo de seiva azul, também, é quantia importante que corre nas veias, em resposta ao amor à vida, quão vale a pena viver. Tal como o amor pelas coisas belas e por ver a vida com olhos de ver, faz que tenha dias de escrever, e haja a quem isso diga alguma coisa. Assim, passado mais um ano, nos anos de vida já vividos, como na vida de pessoas da nossa vida e coisas que fazem parte da história de nosso ser e nossas pessoas, qual minha família, amigos sinceros, gente que admiro e a quem sinto afetividade, desejo mais um Bom Ano, em tudo e a todos que se englobam nisso tudo e mais que revejo em Amor. De uma ponta à outra da linha amorosa, de janeiro a janeiro, tal como tudo descende do amor primeiro…!

Armando Pinto

sábado, 23 de dezembro de 2017

Feliz Natal !


A toda a gente amiga, desde seguidores deste blogue, entusiastas dos mesmos motivos e assuntos, amigos pessoais, visitadores do espaço e todos quantos gostam de conhecer com proveito o que aqui é escrito, publicado, ilustrado e partilhado, o autor do blogue deseja Felizes Festas Natalícias, na vivência dum Natal à medida dos sonhos e amplitude familiar tão forte na presente quadra de ano.  

Grande Abraço de júbilo natalício

Armando Pinto

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Vamos ao presépio - Coro da Igreja da Sª da Lapa - célebre cântico natalício da autoria do Padre Luís Rodrigues, felgueirense famoso e antigo reitor da Lapa do Porto


À chegada do Natal, em mais uma quadra da sublime Natividade de Jesus, na lapa de Belém, sempre lembra na musicalidade da época o célebre cântico do felgueirense Padre Luís Rodrigues, "Vamos ao Presépio": 

VAMOS AO PRESÉPIO


( L. Rodrigues )
1. Já se ouvem cantos no céu, / são os anjos a rezar,
rezemos também com eles, / de mãos postas e a cantar.
Vamos ao presépio, vamos a Belém:
louvar o Menino que salvar-nos vem.
2. “Glória a Deus e a paz na terra!” / Como é lindo este cantar,
no Natal do Deus-Menino / que, do Céu, nos vem salvar.
3. Nasceu. E os anjos já cantam / na lapinha de Belém
vão adorá-Lo pastores: / vamos com eles também.
4. Como nasceu pobrezinho / O meu divino Senhor!
Umas palhas, por esmola… / Não há pobreza maior!
5. Mas, quanto mais pobrezinho / mais eu vos quero, amor meu:
porque sois pobre na terra, / somos nós ricos no Céu!
6. Nunca ninguém foi tão pobre, / como vós, ó meu Jesus:
em Belém, nem um bercinho; / na morte, os braços da cruz!
7. Quem tivesse um berço d’ oiro, / ó Jesus, para vos dar!
Vinde, entrai em nosso peito, / vinde nele repousar.
8. Ó meu Menino-Jesus, / sem vós, não somos ninguém:
sede o Rei das nossas almas / para todo sempre. Amen.
Feliz Natal para todos nós !!!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

"Menino Natal" em Artigo de cariz natalício no Semanário de Felgueiras


Aproximando-se o Natal, festa da família com seu sortilégio de sempre, naturalmente pisca nas luzinhas das lembranças um manancial de tonalidades que coloriram sonhos e dão razão ao ciclo da vida. Vindo então a propósito evocar temas relacionados, ao passar no papel umas apropriadas regras. Como, mais uma vez, se procura transmitir da ideia e experiência pessoal, em mais um artigo no Semanário de Felgueiras, na respetiva edição de sexta-feira dia 15 de dezembro. Cuja crónica publicada. aqui se reproduz:


Menino Natal

Chegada a época natalícia cintila a figura do Pai Natal, embora pudesse ser Avô Natal pela imagem e meiguice à descendência, sendo as crianças a reinar na inocência associada. Desde tempos que lá vão, na distância vislumbrada pela memória de quem viveu décadas atrás, quando o fascínio do Natal era muito mais relacionado à imagem do Menino Jesus, incluindo em tal magia as prendas serem ligadas com a figura da chamada Santa Infância. Algo que na evolução dos tempos, contendo elementos provindos da massificação comercial, derivou na sequência do Pai Natal mediatizado, sem contudo ser perdida totalmente a afeição pelo que une à ternura infantil.

Com efeito, em eras passadas as prendas recebidas no Natal pelas crianças eram atribuídas como ofertas do Menino Jesus. Tal como eram conhecidas, embora não fossem em tamanha proporção e importância como passou depois a acontecer. Tanto que só em famílias mais abastadas apareciam prendas vistosas no sapatinho, conforme a tradição, enquanto em famílias médias os petizes já ficavam felizes com qualquer coisa, e em muitas casas nem isso acontecia. Sendo os presentes tidos pela imaginação infantil, ditada na mensagem dos adultos, como havendo sido trazidos pelo Menino Jesus. Tal como na idade infante aqui do autor destas linhas, em que em nossa casa ao longo de alguns anos foi constituído o presépio familiar com imagens de barro, recebidas aos poucos, ano a ano, nas ofertas aos membros pequenos da família. Sabendo por isso, eu, por exemplo, quais eram os meus “brinquedos” que figuravam sobre o musgo acastelado em lugar de apreço em nosso remanso familiar. E com muito gosto, depois, mostrava aos amigos (havendo costume da criançada visitar os presépios existentes pelas casas, uns dos outros, fosse qual fosse o tamanho e vista majestática dessa espécie de encosta figurativa, diferente mas com parecenças com a cascata sanjoanina que víamos no tempo quente)…

Verdade de então e agora, o Natal naturalmente é muito associado ao sentimento infantil e como tal terá mais entusiasmo latente em casas onde haja crianças. Bem que, como se costuma dizer, tem ligação de lembrança com criança, no fogo que crepita das lareiras pelo fascínio das prendas natalícias. Pessoalmente, no percurso da idade, enquanto menino e moço ficou um rasto delicioso pelo Natal passado com olhos nas figurações do presépio doméstico, mailas imagens de barro recebidas para ir completando o acervo familiar, e depois, já com novidade de embrulhos de prendas junto ao presépio e anexa árvore, foi mesmo um encanto a atração do Natal pelo entusiasmo dos filhos e agora no enlevo dos netos. Sendo todos do domínio caseiro nos sentimentos da quadra, desde os mais velhos ao mais novo, o pequerrucho que logo à sua vinda o irmão me disse, virando-se para mim enquanto lhe punha a mão, que se não podia estragar – como que fosse um brinquedo mais terno que tudo o mais…

Ora, como não é preciso estar sempre a dizer de quem se gosta, porque isso se sente, igualmente do Natal nem é necessário afirmar nada, mas para quem sempre teve apreço pelo Natal, Natal é Natal, como algo de quem se gosta, para a vida toda. Sem ir contra nada com estas rememorações, do sucedido com alterações e evoluções do género, mesmo porque como se costuma dizer coisas há que primeiro se estranham e depois entranham, em sinal interessante. Tal como as batatas de Natal na respetiva noite têm outro sabor, no deslumbrante aconchego da festa da família.

É pois no sentido do carinho que esta época é propícia. Emergindo a criança que continua. Lembrando tempos e pessoas queridas, depois que o nosso mundo foi rodando, tendo o Natal ainda outra sensação, mais, intimamente até parecendo por efeito do descascar das cebolas para acompanhamento às batatas da noite de consoada, vindo alguma água aos olhos do pensamento.

ARMANDO PINTO
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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Já se vêm animações de Natal... caseiro!


Como no cântico do Padre Luís Rodrigues, célebre felgueirense mestre de música sacra, “já se ouvem cantos no céu “… na veneração do encanto natalício. Estando “feito” já o presépio familiar.


Agora é esperar pela reunião da família em mais um Natal. E que seja um Bom Natal, para todos nós!

Armando Pinto

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