Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Na atualidade do Coronavírus -- a Pneumónica de 1918 na região de Felgueiras... e na História de Portugal (Artigo no Semanário de Felgueiras)


Surgido este ano em Portugal o Coronavírus, que tanto está a alterar a vida das pessoas, apareceu este malfadado vírus passados perto de 102 anos depois dum anterior surto com rasto deixado na vida antepassada, como foi a Pneumónica, popularmente chamada de gripe espanhola, dizimadora de número assinalável da população portuguesa nos ínícios do século XX, entre 1918 e 1919. Algo nefasto, a pontos de ter alterado o panorama e mesmo a história, como pode voltar a suceder com o inesperado assaltante da saúde. O que leva a que este tema venha à ideia, por associação, servindo de mote à crónica que desta vez foi escrita para publicação no espaço da colaboração habitual do autor no jornal Semanário de Felgueiras. 


Desse artigo, publicado na edição do SF de 10 de abril (que por ser feriado de sexta-feira santa, chegou mais cedo ao público, de véspera), junta-se aqui o texto e imagens da respetiva coluna:

Pneumónica de 1918/1919 na História

Não no sentido dos ciclos em que a história parece repetir-se, mas pelo que casos da atualidade podem fazer lembrar acontecimentos de outrora, o atual surto do Coronavírus que se abate pelo mundo, começado na China em 2019 e alastrado a todo o globo por 2020 dentro, traz à ideia alguma associação do COVID-19 com a memória da chamada Pneumónica, então popularmente conhecida por gripe espanhola, que se abateu sobre Portugal em 1918. Uma das grandes epidemias da História, com muitas vidas ceifadas.

Tal autêntica pandemia do século XX «chegou a Portugal em maio de 1918. A primeira zona afetada foi o Alentejo aquando do regresso de trabalhadores sazonais vindos de Espanha. Foi o primeiro surto no país…» Depois em Gaia rebentou um novo surto, rapidamente espalhado pela cidade do Porto e pelo norte do país. Perante a proximidade a estas regiões, a epidemia chegou também aos concelhos do Vale do Sousa e no Outono estava a fazer-se sentir já com casos de infeção no concelho de Felgueiras.

As condições existentes à época eram diferentes de agora. Tendo uma das medidas levadas a cabo nessa época tido repercussões na paisagem regional, visto as casas, que eram maioritariamente erguidas em pedra rústica, terem sido caiadas de branco. Pois, olhando à contaminação, as autoridades civis da região, seguindo exemplos de uns lados para outros, foram aprovando um conjunto de medidas para conter o avanço da pandemia. Entre cujas decisões foi estabelecido mandar proceder à desinfeção e ao branqueamento dos edifícios municipais, devendo obrigar-se os particulares a procederem de igual modo, assim como foi estabelecido que se desinfetasse amiudadas vezes as cadeias, bem como as retretes públicas. Apesar dessas e outras medidas, a epidemia grassou com bastante intensidade, embora sem demasiados casos terminais nos concelhos da região sousã. Tendo tido maior repercussão por exemplo no concelho de Amarante (sobressaído aí o desaparecimento do pintor Amadeu Sousa Cardoso, entre acontecimentos que levaram a famosa enfermeira Ana Guedes a criar na área de Vila Meã um sanatório, como refúgio de assistência em sua casa de família, onde instalou doentes). Pois então tudo isso levou a que o Presidente da República, à época, viesse inteirar-se da situação presencialmente. E, como agora não se sabe as repercussões que acabará por haver, na ocasião houve algumas…

Ora o Presidente, Sidónio Pais, nomeara o então capitão João Sarmento Pimentel para comandante do esquadrão de Cavalaria da Guarda Republicana do Porto, de modo a ter alguém de confiança na tão importante unidade militar do Carmo, perante a instabilidade político-social que o país passava. Tendo surgido pouco depois a gripe pneumónica. Conta o protagonista, que como é sabido era da família da Casa da Torre, de Rande (como ficou narrado no livro de Norberto Lopes “Sarmento Pimentel ou uma geração traída”): 
«Quando alastrou a epidemia, ele (o Presidente) foi a Amarante. Eu estava em Felgueiras, porque ia com frequência à Torre. E o presidente da Câmara Municipal pediu-me que o acompanhasse na recepção que desejavam dispensar ao Presidente da República. O homem andava a visitar os hospitais para tomar conhecimento da extensão do desastre e de algum modo confortar os doentes…Foi lá (em Amarante) que se deram os (maiores) casos da broncopneumonia.» Em virtude desses contactos, o próprio capitão foi vítima da doença, ficando então acamado. Nesse interregno deu-se no Porto o levantamento de Paiva Couceiro que restaurou o anterior regime, instaurando a chamada Monarquia do Norte. Sendo presos os republicanos mais temidos pelo novo sistema, ficou a salvo o comandante do Carmo por estar internado no Hospital Militar. E (resumindo), informado por seu irmão Francisco e mais oficiais do que se passava, logo que pôde o capitão dirigiu-se ao quartel, apoiado pelo mano felgueirense, e de surpresa, a 13 de Fevereiro de 1919, pôs fim a esse reino da Traulitânia. E assim, a pneumónica, além de tudo o mais, também teve influência na vida e na história do país.

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A propósito, como enquadramento, relembre-se algo do que pelo autor foi escrito aquando da homenagem que a Associação 25 de Abril prestou ao “Capitão-General” João Sarmento Pimentel, quanto ao 13 de Fevereiro de 1919:


A 13 de Fevereiro, a Monarquia acabou como começara: por um golpe militar no Porto. O seu chefe foi o Capitão João Sarmento Pimentel. Apesar de doente com gripe, a pneumónica que nesse tempo grassou pelo país (sendo entretanto informado pelo irmão de toda a situação e idealizado entretanto o que havia a fazer, com seu irmão Francisco Sarmento Pimentel a comandar uma das alas das forças armadas apoiantes), aproveitou a saída da cidade de Paiva Couceiro e da maioria das tropas, para invadir o Quartel do Carmo e restaurar a República, à frente da Guarda Real, que voltou a ser a Guarda Republicana. Estava então restabelecida a ordem republicana, derrotada que foi a Monarquia do Norte. No Porto correu entretanto em mãos dos ardinas um desenho com imagem do Capitão João Sarmento Pimentel, estampa que foi vendida publicamente a tostão (moeda da época) entre a população, enquanto a cidade portucalense, por iniciativa de cidadãos e ação das entidades representativas, ofereceu a espada de honra da cidade do Porto ao Capitão Sarmento Pimentel.

Esteve assim Felgueiras em mais um momento histórico da grei, sendo o mais novo dos Pimenteis, Francisco Sarmento Pimentel,  natural do concelho de Felgueiras. Bem como o mais velho em Felgueiras passou praticamente sua mocidade, oriundo da família da Casa da Torre de Rande, tendo até sido aluno do antigo Colégio de Santa Quitéria

= À esquerda o Capitão João Sarmento Pimentel. À direita seu irmão, o felgueirense Francisco Sarmento Pimentel, então Tenente que fora nomeado pelo presidente Sidónio Pais para o aquartelamento do Porto... (e passados anos, já como Piloto-Aviador, foi autor da 1ª Travessia Aérea de Portugal à Índia).

= Estampa com que os cidadãos do Porto homenagearam o seu herói, Sarmento Pimentel, após o derrube da Monarquia do Quarteirão, como também se chamou o regime monárquico reimplantado em 1919, por só ter durado 25 dias. A estampa foi vendida com os jornais, anunciada aos quatro ventos através de pregões dos ardinas ("O Capitão Sarmento Pimentel a tostão, para acabar"!).  Ao lado a bandeira portuguesa que foi de Sarmento Pimentel, usada na ocasião da vitória das forças republicanas no Porto, e que mais tarde esteve “presa” na PIDE durante o seu exílio político durante o Estado Novo (bandeira que faz parte do património da Associação 25 de Abril, guardada em Lisboa na respetiva sede. Onde esteve na Exposição de homenagem ali prestada a Sarmento Pimentel de 18 a 28 de abril de 2017) 


Armando Pinto
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quarta-feira, 8 de abril de 2020

Imagens da Semana Santa de outrora, à vista duma revista antiga de Lisboa…


Ainda temos na cabeça imagens da Semana Santa e seguida apoteótica Páscoa, aqui pelas nossas bandas, recuando anos, a tempos que há muito lá vão. Mas mais recuado ainda é ver a Páscoa como ficou registada numa revista de Lisboa no início do século XX.


Assim, deitando olhos e demais sentidos ao que ficou impresso na revista Ilustração Portuguesa de Março de 1904, ganha-se uma noção cronológica. Podendo ter-se ideia de como ao tempo era vista esta quadra no imaginário de quem escrevia desde Lisboa, colocando o alto Minho como paradigma da Páscoa de aldeia.


Ora como esses eram tempos em que até no folclore ficou cantado no tradicional vira minhoto “Meninas, vamos ao vira / Ai, que o vira é coisa boa! /Eu já vi dançar o vira / Ai, às meninas de Lisboa… Havia essa ligação de contrastes. Podendo assim pensar-se que, no caso, quem diz alto Minho dirá Entre Minho e Douro e toda esta região verdejante de afinidades.


Ficam então aqui alguns recortes elucidativos, mais a crónica inteira de duas págunas, sobre a Semana Santa e Páscoa de inícios do século vinte (com alusões de origens mais antigas), conforme ficou na Ilustração Portuguesa.


Armando Pinto
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terça-feira, 7 de abril de 2020

Bibliografia (do autor) atualizada - em 2020


Obras publicadas:

- Livro (volume monográfico) «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras»; publicado em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo Semanário de Felgueiras.
- Livro «Associação Casa do Povo da Longra – 60 Anos ao Serviço do Povo» (alusivo ao respetivo sexagenário, contendo a História da instituição - Abril de 1999). Edição da Casa do Povo da Longra.
- Livro (de contos realistas) «Sorrisos de Pensamento – Colectânea de Lembranças Dispersas»; publicado em Outubro de 2001. Edição do autor.
- Livro (alusivo da) «Elevação da Longra a Vila» - Julho de 2003. Edição do autor.
- Livro (cronista do) «Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à Comissão Fabriqueira paroquial, destinando receita a reverter para obras na igreja). Edição do autor.
- Livro «Padre Luís Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa» – Na passagem de 25 anos de seu falecimento; publicado em Novembro de 2004. Edição do autor.
- Livro «S. Jorge de Várzea-História e Devoção», publicado em Abril de 2006. Edição da Paróquia de Várzea.
- Livro «Futebol de Felgueiras – Nas Fintas do Tempo» (sobre Relance Histórico do F. C. Felgueiras e Panorâmica Memorial do Futebol Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do Clube Académico de Felgueiras) – Edição do autor, pub. Setembro de 2007.
- Livro "Destino de Menino" - dedicado ao 1º neto - Dezembro de 2012, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro "Luís Gonçalves: Amanuense - Engenheiro da Casa das Torres", edição patrocinada pela fábrica IMO da Longra - biografia de homenagem ao Arquiteto do palacete das Torres, de Felgueiras - Janeiro de 2014.
- Livro "História de Coração" - dedicado ao 2º neto - Novembro de 2015, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro “Torrente Escrita – em Contagem Pessoal”, ao género autobiográfico – Dezembro de 2016 - edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente (apenas para partilha familiar).
- Livro “História dum Brinquedo que não se pode estragar”, dedicado ao 3º neto - em Fevereiro de 2019, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro “Luís de Sousa Gonçalves O SENHOR SOUSA DA IMO”, edição patrocinada pelo IESF-Instituto de Estudos Superiores de Fafe – biografia de homenagem ao fundador da fábrica de metalurgia IMO da Longra – novembro de 2019.
- Livro "Ciclistas de Felgueiras", publicado em Janeiro de 2020, através da editora Bubok Publishing, A. L. , e apresentado publicamente em Março seguinte. Edição do autor. Sobre os cicilstas naturais de Felgueiras que correram ao mais alto nível desportivo, tendo participado na Volta a Portugal em bicicleta e no caso do mais famoso também em importantes provas no estrangeiro. 


E
Livros oficiais (alusivos a realizações de eventos), entretanto também publicados:

- «1ª Mostra Filatélica e Exposição Museológico-Postal da Casa do Povo da Longra» (relativa a Semana Cultural de abrangência comemorativa do centenário do aviador Francisco Sarmento Pimentel e octogenário do Correio da Longra - Julho de 1995).
- "FREGUESIA de RANDE (S. Tiago) e POVOAÇÃO da LONGRA - Rande" - Coordenação geral e autoria de alguns textos - Publicação patrocinada pela Junta de Freguesia de Rande, a reverter para obras da igreja paroquial de Rande - Março de 1996.
- «1º Festival Nacional de Folclore “Longra/97”» (englobando partes historiadoras e galeria diretiva da Associação Casa do Povo da Longra - Maio de 1997).
- «2º Festival de Folclore do Rancho da Casa do Povo da Longra» (contendo Lendas e Narrações das freguesias da área da instituição - Setembro de 1998).
- «3º Festival de Folclore da Longra – Memória etnográfica do sul Felgueirense e afinidades concelhias» (Julho de 1999).
- «4º Festival de Folclore da Longra – Celebração Folclórica do sul Felgueirense» (Julho de 2000).
- «Evocações da Festa Paroquial de S. Tiago de Rande» (Julho de 2000 - de promoção à festa desse ano, por solicitação (e edição) da respetiva comissão organizadora, traçando panorâmica das festas antigas.)
- «Rancho da Casa do Povo da Longra-Sete anos depois... em idade de razões» (Maio de 2001 – livro comemorativo do 7º aniversário do mesmo agrupamento e também alusivo ao 5º Festival de Folclore da Longra, de Julho seguinte – incluindo texto de fundo narrativo do “Conto de um Rancho Amoroso”, sobre a história do grupo em questão.)
- «6.º Festival do Rancho da Casa do Povo da Longra – Desfile de Oito Anos de Vida» (Junho de 2002).
- «7.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Danças Mil em Nove Anos de Folclore» (Junho de 2003).
- «Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra – Sete Anos na Arte de Talma Associativa» (Outubro de 2003 – Livro historiador do respetivo agrupamento, em tempo do seu sétimo aniversário). A pedido (e edição) do Grupo de Teatro da CP Longra
- «8.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Alcance duma Década Etno-partilhada» (Junho de 2004).
- «9.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Comunhão de Tradição Associativa» (Junho de 2005).


Mais participação em revistas de teor local e clubístico...


Assim como (além de colaboração em jornais, ao longo de muitos anos, em episódicas participações em jornais diversos e mais regularmente quer no jornal O Porto entre 1974 a 1980, no Mensageiro da Longra em 1978, no Notícias de Felgueiras enre 1985 a 1995 e no Semanário de Felgueiras desde 1996 até à atualidade), ainda, algumas participações em livros literários e publicações diversas …


ARMANDO PINTO
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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Cruz Pascal à porta!


Assim como em tempos remotos na campanha dos cruzeiros foi tomado como lema que uma cruz basta para dizer na história… também agora, numa interessante campanha de cruzes à porta a assinalar a Páscoa em tempo de quarentena, basta uma cruz como marca correspondente ao período que passa.  

Se outrora houve a campanha dos cruzeiros da independência, a assinalar a dedicação da Pátria Portuguesa a Nossa Senhora da Conceição dentro do período da Restauração e consequente Independência da nação, de que então se comemorava três séculos quando foram erigidos novos cruzeiros paroquiais substitutos de antigos pelourinhos... desta feita, de modo mais restrito e contido, obviamente, tem lugar a interessante iniciativa de se colocar uma cruz em lugar visível das casas a balizar a comunhão comunitária do espírito Pascal.

Pois então, como este ano, devido à pandemia do Coronavírus e derivado confinamento das famílias nos respetivos domicílios, toda a gente está e fica em casa, no intuito de evitar a expansão transmissiva do vírus, e por conseguinte deixando de se poder realizar os cerimoniais tradicionais da quadra, as famílias católicas de Portugal estão convidadas a colocar uma Cruz à porta de casa, como forma de assinalar a Semana Santa e a Páscoa, nesta fase de isolamento social. Sendo ideia de em cada família se fazer uma cruz, adornada se possível e colocá-la à porta de casa, onde normalmente entra o Compasso Pascal em anos normais. Cruz essa que até ao domingo de Ramos será decorada com ramos de oliveira e no dia de Páscoa com flores, em sinal de cada período. Assim como outros possíveis adereços relacionados.

A iniciativa, partilhada inicialmente entre amigos das redes sociais e depois divulgada pelos sacerdotes das paróquias como sugestão de se viver este tempo de forma diferente, está pois em marcha. Sendo mesmo acrescentado como explicação pela agência Ecclesia: “Na prática temos de ganhar consciência, neste rebuliço do trabalho em casa, nesta fase de isolamento, perdemos o foco do que é essencial e isto é recentrar na Semana Santa”.

Como também foi divulgado pelo pároco da comunidade da região a que pertencemos:

- «Dadas as circunstâncias, este ano não poderemos celebrar a Semana Santa e a Páscoa em comunidade paroquial.
Tem circulado nas redes sociais uma proposta que acho interessante para marcarmos esta Semana com tanto significado para nós cristãos.
A proposta é: no próximo Domingo, Domingo de Ramos, todos colocarmos uma cruz na porta de nossa casa (varanda, portão ou outro sítio visível), que aí permanecerá toda a Semana Santa. No Domingo de Páscoa enfeitamos essa cruz com flores, assinalando, desta forma, a alegria da Ressurreição de Cristo.»

Assim sendo, está já feita e colocada a cruz cá de casa, à chegada do fim-de-semana dos Ramos. Depois, a seu tempo, haverá simbolismo de Aleluia, naturalmente.


Armando Pinto

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Primavera enganada



Todos os anos o mês de Abril começa com o considerado dia dos enganos. Pelo menos na nossa era, pois em tempos remotos isso terá começado quando houve alteração no ano civil do antigo calendário. Quando o ano começava a 21 de Março, ou seja com o equinócio da Primavera, ocorrendo na ocasião festividades extensíveis até 1 de Abril. Assim, com a adoção de nova contagem anual, mediante o calendário gregoriano, transferido que foi o Ano Novo para o dia da circuncisão de Jesus, no 1º de Janeiro, a data anterior transformou-se em ano falso, ou seja dia de presentes fingidos. Como tal, porque se manteve alguma confusão na cabeça das pessoas, o antigo início do calendário passou a ser visto como dia de engano para os que não assimilaram logo os novos hábitos, pelo que na evolução temporal ficou a simbolizar data de mentiras, derivando costumes de brincadeiras propositadas.

Pois então, no tema do 1º de Abril, do Dia dos Enganos, desde remotos tempos que há costume de se pregar partidas e mentiras brincalhonas nesta data da fase revigorante do ano, ao nível do povo ou até no aspeto mediático, sobretudo por via da comunicação social, de onde partiram famosas mentiras que induziram engraçados logros em muita gente, agora com menor impacto por sobreaviso escaldado.

Ora, este ano, com a pandemia que está a alterar a vida das pessoas, não parece ser só este mesmo dia a enganar alguém, ou tudo e todos, porque com toda a gente confinada ao recolhimento caseiro é um tempo algo inédito de coisas completamente desconhecidas. Porém, como é dito num célebre poema, aparece isto em tempo primaveril mas a Primavera como não sabia nem sabe continua a rejuvenescer a natureza, enquanto o pessoal fica em casa, na esperança de não deixar alastrar a doentia fase do Coronavírus, à espera de melhores dias.

Surge este malfadado vírus passados cerca de 102 anos depois duma anterior virologia que deixou marcas na vida antepassada, como foi com a Pneumónica, a chamada gripe espanhola que grassou em 1918. Algo nefasto que tanto alterou o panorama e mesmo a história, como pode voltar a suceder. Tema que bem poderá dar para uma crónica a desenvolver, também, por exemplo nalgum espaço de colaboração publicista.  

Entretanto, no próprio dia e seguintes tempos, a Primavera está enganada mesmo e até a Páscoa deve passar como se não fosse em tempo Pascal. Até que, como também se diz, depois dos tempos virão outros tempos.

Armando Pinto

terça-feira, 31 de março de 2020

Alguns dados e curiosidades sobre parcelas de Felgueiras em “Dicionário de Artistas e Artífices do Norte de Portugal"


Entre livros recentes a fazer alguma memória da região nortenha de tempos idos, há desde 2008 um volume intitulado "Dicionário de Artistas e Artífices do Norte de Portugal", coordenado por Natália Marinho Ferreira-Alves, cujo trabalho apresenta um levantamento exaustivo quanto possível de diversos artistas que exerceram a sua atividade no Norte de Portugal entre os séculos XII e XX. Sobremaneira incidindo em artistas de arte religiosa, naturalmente atendendo ao que ainda há de registos paroquiais.

Obviamente o conteúdo apresenta material conforme os livros a que os colaboradores desse trabalho tiveram acesso. Visto, no caso do concelho de Felgueiras, serem poucas as paróquias anotadas. Sabendo-se que se de algumas paróquias livros houve a irem para arquivos públicos, de outras alguns ficaram em casas particulares ou pelo menos em casas paroquiais. O que se entende bem, pois no caso conhecido do autor destas linhas de agora, por exemplo, aquando da inicial pesquisa para o livro "Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras" (publicado em 1997) havia pelos anos 70 (e tal...) alguns livros de registos antigos na Residência Paroquial de Rande, dos quais alguns anos depois já não se viram em nova consulta, pelos inícios dos anos 80.

De todo o modo este livro, com o feixe de notas apresentado, possibilita algumas notícias de outrora e dá conhecimento da antiguidade de algumas igrejas, e nem tanto de outras. Bem como conhecimento de alguns artistas e artífices que laboraram nas construções ou reconstruções dos referenciados templos paroquiais, embora faltando alguns nomes, como lembra não constar um, Joaquim Luís, que mereceu figurar na toponímia da então vila e atual cidade de Felgueiras, como grande mestre construtor da Casa do Pão de Ló e de obras de alargamento da igreja de Margaride, por exemplo, dos que vêm na tradição conhecida.

Passando à enumeração, do que se lê nesse livro, indicamos os nomes com relevância na arte de Felgueiras, quer pela naturalidade ou participação. Indicando-se nas obras naturalmente apenas os respeitantes ao concelho de Felgueiras e nos itens (sados biográficos, tipo, formação, aprendizagem, encomendador e obras) apenas o que consta em cada caso.

Eis então – da Obra de Coordenação de NATÁLIA MARINHO FERREIRA-ALVES, sob título “Dicionário de Artistas e Artífices do Norte de Portugal”, Edição CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, em 2008:

(por ordem alfabética a partir dos apelidos/sobrenomes)

BARROS, Joaquim José de
Dados Biográficos: de Guimarães
Encomendador: Pároco de São Vicente de Sousa, Felgueiras
Obras: Douramento e pintura do retábulo-mor e painéis do forro da capela-mor da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras (1693-1694).

CARNEIRO, Clemente
Dados Biográficos: Natural da freguesia da Lixa. Residia na Rua do Loureiro, Porto (1690). Filho de João Gonçalves e de Catarina Caneira.
Tipo: Aprendiz de ensamblador
Aprendizagem: Oficina do mestre ensamblador Manuel Francisco

CORREIA, João
Dados Biográficos: Vila Cova da Lixa, Felgueiras
Tipo: Mestre ensamblador
Encomendador: Confraria do Santíssimo Sacramento de Borba de Godim, Felgueiras.
Obras: Tribuna da capela-mor da Igreja matriz de Borba de Godim, Felgueiras (1742)

COSTA, António da
Dados Biográficos: Guimarães
Tipo: Imaginário
Formação: Aprendizagem
Encomendador: Pároco de São Vicente de Sousa, Felgueiras.
Obras: Talha, douramento e pintura da tribuna do retábulo-mor, novos painéis e imagem de São Vicente da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras (cerca de 1703)

COUROS, João Carneiro de
Dados Biográficos: Do Moinho de S. Domingos, Porto.
Tipo: Oficial de ensamblador
Encomendador: Manuel Ferreira, mercador da Lixa, Felgueiras.
Obras: Grades da capela-mor da Igreja matriz de Vila Cova da Lixa, Felgueiras (1680).

FARIA, António
Dados Biográficos: Airães, Felgueiras.
Tipo: Mestre imaginário
Encomendador: Pároco de São Pedro de Torrados, Felgueiras.
Obras: Retábulo-mor da Igreja matriz de Torrados, Felgueiras e arcaz da Igreja matriz de Revinhade, Felgueiras (1719).

FIGUEIREDO, Manuel Ferreira de
Dados Biográficos: Rua Cimo de Vila, Arrifana de Sousa (Penafiel).
Encomendador: Prior do Mosteiro de Caramos, Felgueiras;
Obras: retábulo-mor da igreja do Mosteiro de Caramos, Felgueiras (1692).

FRANCISCO
Dados Biográficos: Guimarães
Tipo: Pintor
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Pintura na igreja matriz de Sousa, Felgueiras (1693-1694).

FREITAS, Manuel de
Dados Biográficos: Guimarães
Tipo: Pintor
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Douramento e pintura do retábulo-mor e painéis do forro da capela-mor da igreja matriz de Sousa, Felgueiras (1693-1694).

COELHO, Constantino de Almeida
Dados Biográficos: Bouça da Pia, Varziela, Felgueiras, 26 anos de idade.
Tipo: Pintor

GOMES, Pedro Machado
Dados Biográficos: Referenciado em Guimarães
Tipo: Mestre pintor
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Douramento e pintura do retábulo-mor e painéis do forro da capela-mor da igreja de Sousa, Felgueiras (1693-1694).

LEITE, Custódio
Tipo: Dourador
Encomendador: Paróquia de Friande, Felgueiras.
Obras: Retábulo-mor da igreja matriz de Friande, Felgueiras (1686-1688).

LUÍS, António
Dados Biográficos: Natural da vila de Felgueiras. Referido em 1849
Tipo: Mestre pedreiro

LUÍS, Manuel
Tipo: Mestre pedreiro
Encomendador: Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras.
Obras: Obras do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1600).

MACHADO, Manuel
Dados Biográficos: Residia na freguesia de Rande, Felgueiras.
Tipo: Imaginário; Entalhador marceneiro
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Grades de madeira para a igreja matriz de Sousa, Felgueiras (1698).

MACHADO, Manuel
Dados Biográficos: Residia no lugar de Pinheiro, S. Miguel de Varziela, Felgueiras.
Tipo: Mestre imaginário
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Torrados, Felgueiras.
Obras: Retábulo-mor da igreja matriz de Torrados, e arcaz da (anexa) igreja matriz de Revinhade, Felgueiras (1719).

MARQUES, António
Dados Biográficos: Natural da Cruz de Pedra, Braga.
Tipo: Mestre entalhador
Encomendador: Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras.
Obras: Mudança da caixa de órgão, grades e outras obras na igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1743)

MELO, António Manuel de
Dados Biográficos: Era assistente no lugar de São Mamede, freguesia de Alentém, (ao tempo do) concelho de Unhão (atual concelho de Lousada). Referido em 1788

MONTEIRO, Bento Luís
Dados Biográficos: do lugar do Assento, freguesia de São João de Sernande, concelho de Unhão (atualmente Felgueiras).
Tipo: Ensamblador

PEREIRA, Paulo
Dados Biográficos: Guimarães
Tipo: Pintor
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Pintura na igreja matriz de Sousa, Felgueiras (1693-1694).

SAMPAIO, Francisco de
Dados Biográficos: Residente em Travassos, Santa Maria de Landim, termo de Barcelos, atualmente Vila Nova de Famalicão.
Tipo: Mestre entalhador
Encomendador: Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras.
Obras: Retábulos colaterais da igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1733).

SAMPAIO, José de
Dados Biográficos: Residente em Travassos, Santa Maria de Landim, termo de Barcelos, atualmente Vila Nova de Famalicão.
Tipo: Mestre entalhador
Encomendador: Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras.
Obras: Retábulos colaterais da igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1733).

SILVA, Domingos Luís da
Dados Biográficos: Guimarães
Tipo: Pintor
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Talha, douramento e pintura da tribuna do retábulo-mor, novos painéis e imagem de São Vicente da igreja matriz de Sousa, Felgueiras (c. 1703).

SILVA, Luís Manuel da
Dados Biográficos: Braga
Tipo: Mestre entalhador
Encomendador: Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras.
Obras: Forro das capelas laterais da igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1764-1769).

SILVEIRA, Manuel Leão da
Dados Biográficos: Referenciado em Felgueiras
Tipo: Pintor
Encomendador: Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras.
Obras: Pintura do painel de São João batizando Cristo, na capelinha onde está a pia batismal, no lado da Epístola, da igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1726).

TAPIA, Justo
Dados Biográficos: Guimarães
Tipo: Pintor
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Douramento e pintura do retábulo-mor e painéis do forro da capela-mor da igreja matriz de Sousa, Felgueiras (1693-1694).

VELOSO, José Pereira
Dados Biográficos: Rua de Chãos de Baixo, Braga.
Tipo: Mestre entalhador
Obras: Retábulo-mor da igreja matriz de Vila Fria, Felgueiras (1765).

VIEIRA, Manuel
Dados Biográficos: Torrados, Felgueiras.
Tipo: Imaginário
Encomendador: Pároco da Igreja matriz de Sousa, Felgueiras.
Obras: Talha, douramento e pintura da tribuna do retábulo-mor, novos painéis e imagem de São Vicente da igreja matriz de Sousa, Felgueiras (c. 1703).

VILAÇA, Frei José de Santo António Ferreira
Dados Biográficos: Natural de Braga. Em 23 de Outubro de 1764 residia em Braga, no Mosteiro de Tibães. Entre 1770 e 1792 sabe-se que residiu no Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras.
Tipo: Arquiteto; entalhador; escultor; riscador.
Encomendador: Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras
Obras: arquitetura, talha, ensamblagem e aquisição de ouro para o Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1767-1770); retábulo-mor da Igreja do Mosteiro de Santa Maria de
Pombeiro, Felgueiras (1770-1773); talha, escultura, ensamblagem, douramento e estuque do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1770-1773); retábulos das capelas laterais da Igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, Felgueiras (1777).

A. P. 

sexta-feira, 27 de março de 2020

Número de “Atualidade / Vive Felgueiras”: Edição de Março 2020 do atual Boletim Municipal de Felgueiras


Com o título “Atualidade” no chamado cabeçalho, e mais em baixo sub-título “Vive Felgueiras!”, chegou-nos um destes dias às mãos e naturalmente aos olhos, após entrado na caixa do correio cá de casa, o Boletim Municipal que atualmente tem esse nome. Em cuja série este é o número 2, com data de Março 2020.

Boletim Informativo da Câmara Municipal de Felgueiras, este, que procura abarcar a cronologia de realizações de 2019 e parte já acontecida de 2020, dando seguimento ao nº 1 saído com data de Dezembro 2018.

O atual Boletim Informativo da CMF, “Atualidade”, é pois continuador de anteriores versões do Boletim Municipal, iniciado em 1982, e que em contagem decrescente de 2012 a 2017 teve 11 números como “Felgueiras + Informa”; em 2011 teve 1 número como “Felgueiras + Positiva”; de 2006 a 2009 teve 19 números como “felgueiras município com futuro”; e assim sucessivamente, revendo para trás, como “Boletim Municipal Felgueiras” e “Felgueiras Municipal” teve 41 números de 1989 até 2006 (assim numerados sequencialmente); além de pelo meio ter havido alguns números especiais dedicados a eventos; bem como antes como “Informação Municipal” e “Boletim Informativo” teve 13 números entre 1986 a 1989 (incluindo um nº 0 e 12 numerados); e no princípio com o original título de “Boletim Municipal", iniciado em Janeiro de 1982, teve 8 números até Dezembro de 1985.


Com este conjunto entretanto publicado ao longo dos correspondentes 38 anos, sensivelmente, forma-se uma interessante coleção de documentação historicamente informativa, dentro do que ao tempo e em cada época foi ali incluído. Como tal, é de apreciar essa matéria publicada, sendo de anotar que conviria também incluir as ocorrências de todas as áreas, verificando-se haver pouco espaço dedicado a eventos culturais ocorridos na Biblioteca Municipal, por exemplo, comparativamente a eventos festivos realizados noutros locais. Senão daqui a anos haverá ideia que na Biblioteca pouca coisa aconteceu, olhando-se ao que fica registado nesta espécie de anais do Boletim Municipal. Devendo haver maior interligação de setores, para o efeito. Porque tudo o que aconteceu e ocorre também foi e será realidade e tem sua relevância.


Como dizia o cronista régio Fernão Lopes quanto a dever narrar na direita estrada, no caminho da verdade e objetividade, estes boletins registam assim a crónica das realizações verificadas em ações e espaços municipais, ao longo dos tempos da política autárquica na democracia local, a bem de Felgueiras e dos Felgueirenses.

Armando Pinto
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