Espaço de atividade literária pública e memória cronista

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Curiosidades felgueirenses: Um cogumelo grande... em terra de “centrieiros”!


Felgueiras não costuma ser terra de ocorrências muito fora do normal, mas também não é sítio onde não tenha passado Cristo, como se costuma dizer. Embora não haja já ninguém vivo desde esse tempo, obviamente, para dizer se Cristo terá ou não andado por estas bandas; mas pelo menos sabe-se que andou pela região ocidental ibérica o apóstolo que evangelizou a Península, S. Tiago Maior, como é sabido pelas relações com a devoção que ficou. Isto para exprimir que, ainda que não seja local de confluências como é o Entroncamento, por exemplo, enquanto terra de fenómenos na gíria popular, a região felgueirense tem seu papel de área onde alguma coisa vai acontecendo.

Contudo, como diz o povo que cada terra tem seu uso e cada roca seu fuso, inclusive sendo esta região uma zona de antigas tradições do ciclo do linho entre outras usanças acotiadas, também a respetiva área tem algumas particularidades, sobretudo em nomes populares. Como, por exemplo, estando-se no Outono, vem à ideia um caso da época, no facto dos cogumelos serem conhecidos popularmente por "centrieiros". Sendo comum dizer-se que alguém que se posiciona de modo hirto, a manter-se de pé, é como um centrieiro. O que pode levar à interpretação de ser forte, resistente, como de aguentar-se firme, ao jeito como os cogumelos germinam em condições agrestes, por solos humificados, crescendo entre vegetação até ficarem escondidos como que defensivamente.  


Posto isto, além de tudo o mais, sabendo-se que, entre outras potencialidades locais, o solo produtivo de Felgueiras é fértil em produtos agrícolas, como em espécies hortícolas, mais até na vinha, etc. também surgem outras curiosidades vegetais. Como os chamados cogumelos comestíveis que, ainda que não muito vulgares, aparecem em sítios húmidos de zonas florestais ou terrenos incultos. Surgindo mais usualmente os chamados bravios, esses em qualquer sítio, sendo impróprios para consumo, mas também os outros, mais raramente. E então de vez em quando, os bons, até aparecem em tamanho maior, como num caso que chegou por estes dias ao conhecimento do autor. Ocorrência essa que aqui e agora se testemunha, mostrando um cogumelo de grandes proporções e em tamanho alargado por ramificações derivadas, colhido em terra felgueirense – “apanhado” pelo sr. Armindo Marques, de Varziela – quase à entrada da cidade de Felgueiras, mais precisamente na área de limites fronteiriços de Varziela com Várzea e Margaride, ou seja já dentro dos limites da cidade sede do concelho.


Se Felgueiras é terra que nos dias que correm se vai distinguindo por novas produções, como os Kiwis e os espargos verdes, além de continuar a ter especialidade do vinho verde e ser pátria do genuíno Pão de ló e capital do calçado, como dizem os slogans públicos (embora no tema dos sapatos seja a meias com S. João da Madeira), porque não haver alguma atenção para outras eventualidades, tal a possibilidade de haver melhor procura e cuidado ao assunto dos cogumelos – que em tempo de Outono costumam chamar até atenções para algumas terras do interior nortenho?!

Havendo sítios onde são conhecidos por míscaros, na mesma como noutros lados são níscaros, os prosaicamente chamados cogumelos silvestres, são em Felgueiras, no interior do distrito do Porto, também chamados de centrieiros. Podendo-se dizer, na associação de firmeza, de quem aguenta, suportando em bom porte, ser Felgueiras uma Terra de Centrieiros!

Armando Pinto
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domingo, 3 de dezembro de 2017

Cenário Turístico de Felgueiras em 1979…


Na proximidade do Natal de boa vontade que costuma reinar nos espíritos nestas ocasiões, damos por esta via mais alguns lampejos de curiosidades relacionadas com reportagens escritas de outras eras. Fazendo piscar as luzes da memória por uma reportagem inserta no antigo diário nacional O Comércio do Porto. Em cuja edição de 28 de Setembro de 1979 ficaram impressas algumas notas sobre Felgueiras, expressamente na página sobre Turismo desse jornal então muito lido no país. Com a particularidade de conter imagem do original fontenário do mosteiro de Pombeiro, o chafariz com respetivo lago que havia desaparecido entretanto (diz-se que vendido para Castelo de Paiva e do qual já em 2015 foi construída uma réplica, depois colocada no antigo pátio do claustro). Imagem que tempos depois chegou também a ser publicada no antigo Boletim Municipal, já na década de oitenta. Dando para deduzir que, segundo a imagem, a reprodução terá ficado algo diferente do original.


Assim, tudo e mais alguma coisa terá sempre algum interesse, na verdade, por quanto se pode descortinar em simples curiosidades impressas.


Para o caso extrai-se algumas imagens de recortes jornalísticos, embora sem abarcar toda a página devido ao tamanho da mesma – visto nesse tempo os jornais serem ainda em formato tabloide, muito grande, o que não dá jeito nenhum na digitalização em scâner normal, ou seja no digitalizador pequeno de uso caseiro…


ARMANDO PINTO

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sábado, 2 de dezembro de 2017

Uma Panorâmica Felgueirense de 1961...


Na perspetiva que os jornais não morrem, pelo menos totalmente, mesmo depois de deixarem de aparecer a público, deitando os olhos a um exemplar antigo da imprensa local podemos ficar com uma imagem descritiva de antiga feição concelhia e visão da cabeça do concelho, ao tempo, por meio dum jornal que entretanto desapareceu. Tal o exemplo do que os jornais transmitem. Conforme se pode rever num número do antigo e já extinto O Jornal de Felgueiras. Através do qual, por um artigo não assinado (e assim obviamente se desconhecendo o autor, que não devia ser totalmente conhecedor de Felgueiras pela atribuição dum mosteiro dum concelho vizinho  pois o de Travanca é de Amarante  e esquecer na industria concelhia a então importante Metalúrgica da Longra) ficamos com uma "Panorâmica de Felgueiras" ao correr do ano de 1961: 


Armando Pinto

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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

"Apontamentos memoriais" no Semanário de Felgueiras


“As páginas de um jornal morrem no mesmo dia em que nascem. E, no entanto, renascem no mesmo momento em que morrem. A cada volta que o mundo dá, o jornal cumpre o seu ciclo de vida. E leva a todos os seus leitores todas as informações que eles precisam para entender as voltas do mundo em toda a sua dimensão e grandeza. Esta é a história diária de um jornal. As páginas de um jornal são páginas de história. E não morrem jamais” .

(De Alcino Pedrosa, Homem do Norte que foi jornalista em Lisboa e é escritor-historiador)

*
Posto isto, está dito e redito o que sempre que possível é feito, através da colaboração ao jornal Semanário de Felgueiras, pela mão e cabeça do autor deste blogue – como, desta feita, acontece com mais um artigo, sob título:

Apontamentos memoriais

Para quem nasceu e viveu, pelo menos, por volta dos anos médios do século XX, esses foram tempos de modo vincado na vivência comunitária. Sendo temporadas de marcas musicais, alastramento da rádio, expansão da televisão e consciencialização de situações políticas e morais, quase que num abrir de olhos ao mundo que rodeava o meio ambiente. Como também foi surgindo por Felgueiras, no horizonte da pacata região cuja população se juntava mais na anual Feira de Maio, ia monte acima à festividade do São Pedro e na Peregrinação de Agosto, já que a feira semanal apenas em meio dia das segundas-feiras dava melhor para gente madrugadora ou pessoas sem obrigações de trabalho normal.

Ora esses tempos tiveram realmente um timbre deveras marcante na evolução regional, sendo épocas em que se começou a ouvir falar de características locais antes pouco abonadas, de lado a apologias dos antigos pronunciamentos de sovelas e outros apodos, quais apelidos popularizados por certas zonas do concelho. Desaparecida imagem da pérgula central e restando o cruzeiro da independência, na sede do concelho. Até à existência de algumas modas eventualmente passageiras que deixaram memórias, como foi a realidade do Staminé que fez história, na evolução de anteriores épocas em que o Café Jardim e anexo espaço da Pensão Albano, mais o Belém e ainda o Popular, faziam parte quase emblemática do carisma felgueirense, mais tarde juntando outras salas de convívio popularizado, em tempo de mulheres ainda não irem ao café nem ao futebol e entre homens se falar mais de bola, na era de Sabú, Barnabé, Mamede, Pimenta, Zé Carlos, Mário, Rodas, Caiçara e outros que povoaram os encantamentos da criançada nos recreios das escolas, na sequência dos jogos no campo onde se entrava em alta portada coberta por telheiro. Enquanto na feira se podiam comprar panfletos com letras rimadas a cantar os ases da bola do Felgueiras, mais romances heroicos de soldados que andavam na guerra da África (colonial) e até aviadores com rotas assinaladas no ar que ia além dos nossos horizontes.

Foi pois entre partículas do tempo, assim, que se amassou muito pão que ia saciando a curiosidade, também. Dando para ter feito crescer gente que fez evoluir esta terra, entre factos que não deverão cair no esquecimento. Ao jeito como antigamente havia trocas de cromos que despertavam conhecimentos, podendo e devendo hoje isso servir como manual de memórias, qual consciencialização histórica de que houve todo um percurso passado antes da chegada ao presente. Sobremaneira como tem de se entender quão era interessante conhecer tudo e qualquer coisa respeitante ao universo felgueirense e hoje quase tudo se dilui no que é universal.

Faz agora, em finais deste mês de novembro, a significativa conta de 20 anos da publicação dum livro do autor com conteúdo historiográfico do concelho, na parte inicial abarcando o todo concelhio e no desenvolvimento algo direcionado a parcelas mais conhecidas do próprio, embora sempre com todo o concelho subjacente, incluindo alguns casos daqueles idos anos românticos – o “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, patrocinado pelo Semanário de Felgueiras. Volume que muito esperou por publicação, tendo estado na gaveta anos a fio, após longos anos de elaboração, à falta de apoios oficiais, metendo pelo meio certas peripécias da cultura municipal dessa época. Até que finalmente viu a luz do dia graças à visão felgueirista do Dr. Manuel Faria. Tomo cronista, esse, resultante de trabalho voluntário então tornado possível, entre gravações computorizadas com escritos a mostrar como eram e foram tempos fixes das máquinas de escrever, através de cujas fitas se escreveu e imprimiu ao mesmo tempo… Tal as letras batiam no papel, em encontro teclado com história a ressurgir.

ARMANDO PINTO
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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Imagens de recordação: a apresentação do livro Memorial Histórico em fotos


Há muito, muito tempo, foi assim... como se pode rever nalgumas imagens do álbum de recordações, onde cabem fotos com muita história. Tal o que se pode ainda recordar da apresentação do livro em apreço, cujo lançamento teve lugar no já distante período de finais de Novembro de 1997.


Armando Pinto
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terça-feira, 21 de novembro de 2017

20.º Aniversário da apresentação pública do "MEMORIAL HISTÓRICO DE RANDE E ALFOZES DE FELGUEIRAS"


Como quem guarda uma recordação, numa foto trazida num bolso de dentro bem junto ao peito, na carteira ou porta-documentos para se não estragar, também guardo na imagem do tempo a materialização de algo que batalhou cá dentro longo tempo, e por fim chegada à luz da realidade num dia de Novembro de há 20 anos. Havendo sido então, a 21 de Novembro de 1997, que foi publicamente apresentado o livro da história da região sul do concelho de Felgueiras e dos antigos Alfozes de Felgueiras, as circunscrições administrativas de tempos remotos da nossa Felgaridade.

Assim sendo, faz neste dia 21 de novembro de 2017 a conta de 20 anos que foi publicado esse volume, há muito esgotado, e que custou a conseguir publicar, depois de longos anos de preparação e escrita (primeiro manuscrita, como era mais usual ao tempo, e depois já texto datilografado), acrescida falta de viabilidade publicista, à míngua de apoios oficiais de quem de direito, ao tempo… sabendo-se que era livro de edição cara, muito onerosa.  Até que por meio de patrocínio do Semanário de Felgueiras, graças ao sentimento felgueirense e felgueirista do Dr. Manuel Faria, foi tornado possível ser realidade.


Já colaborava então com algumas notícias e sobretudo crónicas no jornal mais regular de Felgueiras. E continuei, permanecendo na equipa, através de artigos, normalmente sobre temas da memória felgueirense. É uma honra ser colaborador do jornal Semanário de Felgueiras há já 21 anos (feitos entretanto, também).

Antes e depois, da edição desse meu livro maior, houve autores de fora da terra e não só que tiveram incentivos e apoios de diferentes executivos da Câmara Municipal de Felgueiras. Mas isso é outra história. Cá por nós continuamos a trabalhar a memorização, procurando historiar o que merece ser preservado na memória coletiva.

Passados estes anos, com a paz de espírito que a realização desse anseio possibilitou há já 20 anos, registamos o facto, que jamais será esquecido. Assim como não é por qualquer distração que aqui aparecem os nomes do mesmo mês de forma diferente, escrevedo o mês como se escrevia então em finais do século XX e se escreve atualmente no século XXI.

A História também tem sua história.


= Reportagem da sesessão de lançamento, no "Semanário de Felgueiras" da semana seguinte.

Reportagem no "Jornal de Barrosas"

= Entrevista n´ "O Sovela"

Armando Pinto
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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Falecimento do Padre Valdemar Alves Pinto – um felgueirense ilustre


Faleceu o Padre Valdemar Alves Pinto, sacerdote com assinalável percurso na Diocese do Porto. Um ilustre felgueirense, natural da paróquia da Pedreira, que a nível conterrâneo era algo desconhecido, dando ideia de ser pessoa discreta, contrastando com seu currículo. Embora tenha também contribuído para o caso da ligação local, o facto de (no pouco tempo que estava por terras da baixa do sul felgueirense) ainda ter vivido em Varziela, onde passava temporadas e inclusive costumava rezar missa na igreja velha, como é mais conhecida a respetiva igreja paroquial (em contraste à capela eclesial de Pedra Maria).

Segundo nota informativa da página informática da Diocese Portucalense, «o Pe. Valdemar Alves Pinto ordenou-se em 20 de Dezembro de 1953 na Catedral do Porto, em celebração solene presidida por D. António Ferreira Gomes. Foi, durante cerca de 10 anos, professor no Seminário de Vilar; 19 anos no Centro Diocesano e Nacional das Vocações; 14 anos na Missão Diocesana; 32 anos como professor no Colégio Alemão e, desde 1961, o maior ideólogo e impulsionador dos Cursilhos de Cristandade, "onde gostosamente tenho dado a melhor colaboração de que sou capaz". De 1979 a 2011 foi Reitor da Igreja dos Clérigos, sendo seu Reitor Emérito até à data de hoje.

As exéquias solenes celebram-se no dia 21 de novembro, às 11h30, na Igreja dos Clérigos. Preside o Senhor D. António Taipa, Administrador Diocesano. Posteriormente seguirá para a Igreja Paroquial da Pedreira, Felgueiras, sua terra natal, onde haverá uma celebração às 15h. Será sepultado no cemitério local.»

Armando Pinto

Nota: Com agrado registamos um testemunho enviado para aqui, ao autor desta página, sobre a figura do mesmo felgueirense Padre Valdemar, narrado na primeira pessoa pelo Dr. Joaquim Luís Mendes Gomes:

« O Padre Valdemar Alves Pinto
Morreu. Deus o receba na Sua glória. 
Conheci-o um padre jovem. Veio, desde a freguesia da Pedreira, habitar na minha aldeia com sua Mãe.
Ali passava as férias.
Eu, miúdo, lhe ajudava à missa, em cada dia, na igreja velha.
Retribuia-me o serviço com sua simpatia. Gostava de puxar por mim e ria-se muito.
Eu, já nessa altura, tinha a ideia de ir para o seminário. Onde ele era professor.
Cá para mim, pensava, vou ter ali um grande amigo.
De facto, passados uns quatro anos, eu estava a ingressar no seminário de Vilar no Porto.
Primeiro, tive-o só como prefeito, nos longos salões de estudo.
Dois anos mais tarde, como meu professor de português.
Um brilhante e dinâmico professor.
Suas aulas eram um verdadeiro espectáculo de sapiência.
Escalpelizava ali, como um verdadeiro mestre, cada um dos nossos escritores.
Lia-nos trechos de compêndio e, uma característica muito pessoal que marcou muitas gerações, era a sua habilidade e culto pela declamação de poemas.
Todos tínhamos de subir ao palco a declamar um poema que nós escolhêssemos, perante todos os colegas.
Muitos declamadores se tornaram bons oradores de púlpito.
Outra característica terrível e invariável, eram as redacções semanais. Dava-nos um tema da sua lavra e, às quartas feiras recolhia as nossas redacções.
Faziam um molho.
Na segunda-feira seguinte, vinha a esperada e ansiada leitura das classificações em - desde o óptimo, Bom mais, Bom menos, Suficiente... até ao negativo...
Eram uma dor de cabeça constante.
Todos ficamos marcados por este mestre. Eu que o diga...
Tomei conhecimento hoje, ao começar o dia aqui em Berlim, pelo mágico facebook...
Foi um baque...Teria uns 87 anos mais ou menos.
Peço a Deus que o receba em sua morada.
A minha grata e sentida homenagem de seu aluno.
Berlim, 21 de Novembro de 2017 9h
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