Espaço de atividade literária pública e memória cronista

segunda-feira, 24 de março de 2014

Histórica Efeméride da Longra, na Agenda Cultural Felgueirense


Perfaz este ano, no próximo mês de Maio, a data centenária da inauguração da chegada do comboio à Longra.

Tão histórica efeméride, da primeira entrada do comboio em terras de Felgueiras, com efeito, ocorre no próximo dia 10 do mês das flores e dos amores. Sendo então, como tal, oportunidade de se reviver in loco como o povo se juntou a festejar a chegada do comboio à estação da Longra, logo a seguir à ponte, no lugar que, por isso, desde esse tempo passou a ser conhecido pelo nome de lugar da estação…

Pois esse evento está já devidamente incluído na Agenda de 2014 do Município de Felgueiras, entretanto já publicada, e da interessante ocorrência se regista a lembrança, para a qual o autor teve a honra de ceder algumas fotos, das imagens constantes do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, editado em 1997 (no qual está historiada, com um capítulo próprio, a existência dessa linha férrea que teve estação na ao tempo povoação da Longra e na então vila de Felgueiras), recorde-se; bem como gravuras dessa época ainda integrantes noutro livro, da “Elevação da Longra a Vila”, publicado em 2003.


Armando Pinto

sábado, 22 de março de 2014

Curiosidades - Usos e costumes de outros tempos: o papel de louceiro e as "limpezas da Páscoa"


Em tempos de deitar mão a tudo o que fosse possível, sem grandes despesas mas com bom gosto, devido às condições de vida da generalidade das pessoas em eras recuadas, também, houve, entre diversas maneiras populares, o uso de papel decorativo para embelezar o ambiente doméstico.

Tal derivava da necessidade de forrar prateleiras e ao mesmo tempo decorar essas e outras estantes de uso caseiro. Sendo normalmente coladas tiras de papel recortado, para o efeito, quer cortado de modo rendilhado, em casa, por processos pessoais, através de páginas de jornal, então de grande formato, ou embrulho com cores garridas, ou ainda por meio de papel apropriado, comprado com esse fim.


Porque vulgarmente era colocado nas prateleiras dos louceiros, de guarda da louça da cozinha e limpezas, móveis esses normalmente suspensos nas paredes, para que a bicharada lhes não chegasse, o referido padrão de papel decorativo era vulgarmente chamado por papel de louceiro – conforme se pode vislumbrar dois exemplos parcelares, nas imagens aqui colocadas.  Constando esses papeis alvo entre as curiosidades narradas num dos contos do livro “Sorrisos de Pensamento”, na descrição da Loja da Ramadinha da Longra… como se pode rever no separador da barra lateral direita deste blogue.

Esses resguardos de papel, como estavam sujeitos aos efeitos da fumarada do ar das cozinhas e mesmo pelas rodas de conversa nos serões de fumadores, entre familiares e amigos, eram anualmente mudados, sendo habitualmente substituídos por novos aquando das limpezas da Páscoa – quando, para receção festiva ao Compasso Pascal, se aproveitava para arejar e limpar as casas, na chegada da Primavera.

Armando Pinto

sábado, 8 de março de 2014

Tributo a um antigo Ás da bola felgueirense – em mais um artigo evocativo no Semanário de Felgueiras.


A vida sempre tem de continuar, mas tem também momentos de reflexão e consequentemente proporciona ocasiões de tributação valorizável, quanto a homenagear algo ou alguém que de alguma forma fez parte da vida que conhecemos e partilhamos.

Nesse prisma, de valorização da memória coletiva, prestamos desta feita uma homenagem pública através de mais uma das normais crónicas no Semanário de Felgueiras. De cuja mensagem para aqui se transporta o que transmitimos no respetivo artigo, do qual postamos a coluna impressa no jornal, à página 10 da edição desta sexta-feira dia 7 de Março.

(CLICAR sobre o recorte digitalizado, para ampliar)

Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos seguidamente o texto original:

Barnabé: antigo guarda-redes do panteão memorial felgueirense


Na azáfama da vida vão surgindo, por vezes, dias que são noite, no vislumbre de quão curto e passageiro é o trajeto que percorremos neste mundo. Sobretudo em lembrar como toda a nossa vivência é ligeira, no sentido da relativa brevidade, olhando-se para trás e vendo que muitas de nossas referências vão desaparecendo, na voragem dos tempos. Ora, como no inverno os dias pequenos provocam certa nostalgia e acabrunhamento, também o entardecer da vida desencadeia certo abatimento, no diferente modo de ver as coisas. Tal o que sentimos sempre que desaparecem pessoas que estimamos e admiramos, além naturalmente de entes queridos e amigos, também daqueles personagens que em momentos da vida vimos com idealismo e admiração, como figuras públicas afinal.

Pois um destes dias desapareceu do número dos vivos mais um senhor conhecido da comunidade felgueirense, entre mais naturalmente, no caso por quanto representou em determinada época para a chamada mística felgueirista, como elemento importante que foi nos tempos da implantação clubista do futebol em Felgueiras. Sabendo-se como o desporto-rei sempre foi importante veículo de promoção e desenvolvimento local, bem como elo especial de unidade bairrista. Tendo falecido recentemente o Barnabé, famoso guarda-redes de antigos tempos do futebol associativo em Felgueiras, de quando os jogos da bola começaram a despertar maior interesse e paixão e a gerar afluência de multidões. Um nome entre mais referenciais num felgueirismo sem parangonas na comunicação nacional, mas com direito a uma verdadeira recordação, quão mentalmente seja o panteão da memória felgueirense.


Com efeito, Barnabé expirou na quinta-feira dia 20 deste mês de Fevereiro, depressa se espalhando a notícia de sua morte. Não tanto pelo nome afixado nos avisos necrológicos, mas pelo cognome com que ficou conhecido. Ficando a saber-se que falecera António Joaquim da Costa, como era o verdadeiro nome completo desse senhor mais conhecido por Barnabé. Desaparecido do número dos vivos aos 78 anos, num dia pardacento de Fevereiro, em que, como diz um ditote popular, sendo pela época de S. Matias, as noites são iguais aos dias. E a notícia tocou em quem o conheceu, sobretudo por ter sido precisamente figura pública em seus tempos áureos de guardião da camisola nº 1 do F C Felgueiras. A pontos de seu nome ter andado em cantilenas que ficaram no ouvido, como, era o autor desta lembrança ainda menino e moço, por inícios da década de sessenta, e entre atentos e interessados adeptos felgueirenses se cantava, em momentos vitoriosos da equipa do Felgueiras: “O Barnabé defende a bola / Ele não tem medo / De sujar a camisola…”!


Barnabé jogou em tempos da primeira conquista regional do antigo Felgueiras, alinhando então ao lado de nomes que fizeram história entre os simpatizantes do histórico Felgueiras, como Pimenta, Sabú, Mamede, Mendes, Roda, Cardoso, Augusto, etc. Havendo depois passado a representar o Lixa, numa transferência de grande impacto pela rivalidade existente. Passou ele então a ser cobrador na empresa de camionetas da Lixa, numa feição simpática que faz lembrar ainda essa antiga função, da cobrança através de bilhetes que cortava e entregava aos passageiros, a troco de pagamento logo guardado na sacola de couro pendente a tiracolo. Como nos recordamos de o ver no trajeto da carreira para Caíde, parando sempre na Longra para colocar os sacos do correio no tejadilho, com uma vista nesses volumes de serapilheira e outra nos moços que num ápice se agarravam à escada articulada das traseiras de tais ronceiros veículos. Ficando ele, mesmo assim, ligado às recordações felgueiristas por ter jogado pelas cores lixenses na finalíssima que, em 1965, levou à primeira subida de divisão do F C Felgueiras.

Parece que foi ontem, mas já passaram muitos anos. Os catraios desses tempos tinham o Barnabé como alguém fora do comum, enquanto jogador do Felgueiras, por defender bem aquela baliza grande que víamos no campo da Rebela. Mais tarde conhecemo-lo melhor, em interessantes contactos pessoais, quando o sr. Barnabé ia à Casa do Povo da Longra assistir aos ensaios e espetáculos do Rancho criado pelo autor destas linhas, porque um dos seus netos fez parte do plantel folclórico dos primeiros passos desse agrupamento. E, tal qual diante dum quadro ou imagem, qual recordação, só não se compreende o que não se sente, como bem sentimos consideração devida a esse antigo ídolo das assistências entusiastas às tardes de bola em Felgueiras, in illo tempore.

Armando Pinto

terça-feira, 4 de março de 2014

Carnaval / 2014: Corso Carnavalesco da Longra


Numa amena tarde chuvosa, do  inverno que não tem querido largar o ambiente desta zona sousã, decorreu em tons festivos e semblantes animados o tradicional Corso Carnavalesco Longrino, numa organização que primou pela continuidade de tal louvável realização, dentro dos moldes já usuais, mas sempre interessantes e apelativos. 

Pese as contrariedades meteorológicas, cujos efeitos afastaram algum público, teve contudo assinalável afluência o cortejo decorrido na tarde deste dia de Carnaval, na Longra, perante número condigno de participantes que quiseram, mais uma vez, correr o entrudo.

Melhor que muito fraseado, mais, aqui ficam algumas imagens a descrever visualmente esta ocorrência que faz parte dos bons hábitos anuais da região.


(CLICAR sobre as fotos )

© AP –  C/ direitos e créditos: blogue “Longra Histórico-Literária”
Armando Pinto

sábado, 1 de março de 2014

Recordações - Largo da Longra e tradições associadas...

( © Direitos reservados, com créditos ao autor e obra. )

Terra de tradições, que sempre pulsou em volta do central Largo da Longra, a antiga povoação e atual vila da Longra é pólo cultural e confluência de atenções, com direitos históricos - conforme reza a história, atestada na literatura historiadora da região.

A.P.

= Foto do arquivo do autor, incluída no livro "Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras", publicado em 1997. Cujo original, presentemente, está emoldurado em quadro do escritório-gabinete doméstico do autor. =

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

"Figurança de Cartaz" do Carnaval Felgueirense


Aí está o Carnaval - prestes a chegar mais uma vez o tradicional Entrudo. Em cujas festanças há alguns locais do concelho de Felgueiras onde se costuma dar maior relevo ao dia e sua envolvência, com especial destaque para a Longra.

A Longra, ainda enquanto povoação, já há muitos anos que habituou o povo a ver sair à rua desfiles de caretas. E há 18 anos que tem realização dum cortejo devidamente organizado, com carros alegóricos e diversos figurantes de todos os modos e feitios: O tradicional Corso Longrino, cuja organização inicialmente foi da lavra de elementos então da Associação Casa do Povo e, a partir que a Longra foi elevada a vila, passou a ficar a cargo dos órgãos autárquicos da região. Havendo este ano continuidade, na décima oitava edição do Corso Carnavalesco da Longra. Sempre a ser figura de cartaz do Carnaval em terras de Felgueiras, como quem diz a fazer boa figura, a meter um bom figuraço e a resultar em grande figurança. 

Assim, como tal, o Semanário de Felgueiras, na edição mais recente, dá enfoque ao tema.


(CLICAR sobre a imagem / recorte digitalizado - para AMPLIAR e ler)
Armando Pinto

N. B. : A propósito, recorde-se (clicando nos links)

in


e (entre outros artigos de anos anteriores, também)


A.P.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma senhora cegonha... In memoriam de D. Maria Parteira (1920-2014) – em mais uma crónica no Semanário de Felgueiras


Há marcas do passado que nos estão sempre presentes. Como, entre algumas das vezes em que tal sucede, se nos deparou por estes dias, ao saber do desaparecimento duma pessoa que conhecemos desde criança, na Longra; e, com quem, mais tarde, até chegamos a partilhar o local de trabalho, no Centro de Saúde da Longra – ela sempre como enfermeira-parteira e aqui o autor já como funcionário administrativo, na secretaria do Posto Médico originário da Casa do Povo da Longra.


Sobre ela, a D. Maria, a propósito da notícia do seu falecimento, há uma semana, fizemos um artigo para publicação no jornal felgueirense em que colaboramos, de modo a dedicar-lhe uma mensagem de apreço e admiração, como sentimos, na verdade.

Então, desse artigo, publicado na edição desta sexta-feira, dia 14, colocamos aqui o extrato do mesmo, através de recorte digitalizado da publicação in Semanário de Felgueiras:

(CLICAR sobre o recorte, para ampliar)

Para possibilidade de melhor acesso à leitura, seguidamente colocamos o texto original:

Uma senhora cegonha... In memoriam de D. Maria Parteira (1920-2014)

Estava alinhavado já um artigo, dos que aqui vamos colocando a dar espaço evocativo sobre motivos da identidade local e memória coletiva, quando recebemos notícia do falecimento duma pessoa ainda lembrada do ambiente felgueirense de outras eras - uma senhora que em tempos idos ajudou a trazer ao mundo muitas vidas felgueirenses, enquanto os nascimentos eram em casa das jovens mães. Logo mentalmente voltamos atenções para fazer memória dessa antiga figura pública da sociedade de épocas remotas. Tal o que sempre recordamos da muito conhecida "D. Maria Parteira", como era normalmente reconhecida essa senhora enfermeira-parteira que, oriunda da parte norte da Beira Litoral, veio muito jovem para Felgueiras e por estas bandas se arreigou e fixou residência, durante muitos anos, até sua aposentação. Merecendo, por fim, como ficou, ser referenciada no livro da história da região, estando seu nome também, ao correr da narrativa historiadora, nas páginas do nosso "Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras".

Foi casada com o sr. Luís Lopes Martins Teixeira, que trabalhou, também durante muitos anos, na Ferfor da Serrinha; e teve quatro filhos: José Carlos, Maria Emília, Alexandre Luís e Delfim Manuel, legando apego telúrico a todos, como mulher especial na sua geração e uma pessoa fortemente marcante.


"A sua memória ficará nos nossos corações" - foi com este epitáfio que a família se despediu de sua Matriarca, natural de Souto, Vila da Feira, onde nasceu a 5 de Abril de 1920. Com efeito, D. Maria Martins de Andrade, como era o nome completo dessa senhora sempre estimada por todos que a conheceram, faleceu na passada sexta-feira, dia 7 deste Fevereiro tristonho, com quase 94 anos, na sua casa em Miramar, junto ao mar da costa territorial de Gaia, para onde se remetera em merecido descanso da labuta, depois que terminou sua carreira profissional. Havendo sido enfermeira-parteira com ação relevante em grande parte do território felgueirense, onde prestou assistência a beneficiárias de diversas áreas do concelho, quando era ainda novidade o mister de auxílio nos partos segundo normas clínicas. Chegada que foi a esta zona do interior nortenho em temporada ainda de cuidados prestados por senhoras habilidosas, de mezinhas caseiras e modos tradicionais. 

Demandara então Felgueiras nos alvores dos marcantes anos 60, vinculada à Casa do Povo da Longra, e entremeando serviço público também como professora regente na escola primária da Longra; e, mais tarde, ainda pertenceu aos quadros do Posto Médico da mesma Casa do Povo e sucessor Centro de Saúde da Longra, até aos anos 80, num longo percurso laboral e ligação local. Viveu sucessivamente em Cimalhas na Longra, depois na Casa de Minhoure em Varziela e posteriormente na sua casa da Sé, no Unhão. Tendo, de permeio, integrado algumas atividades extensivas, como foi o caso de ter andado no Grupo Cénico da Casa do Povo da Longra, representando papéis como atriz no palco de teatro da mesma instituição longrina. Tornando-se parte integrante do modus vivendi da mesma zona em que tão bem se soube inserir, apreciadora do bucolismo regional e particularidades dos sítios que se lhe passaram a ser familiares. Conforme ditava sua convivência, senhora que era de fina sensibilidade e vasta cultura, a pontos de saber apreciar nas famílias amigas e conhecidas, bem como nas casas das parturientes surgidas, quer qualquer particularidade, como por exemplo a reza diária do terço, assim como as preocupações com os ente queridos que em massa seguiam para a guerra no ultramar, mais doenças e outras maleitas da prole, tal qual usos e costumes que poderiam ter seu interesse, bem como se inteirava de tudo o que a rodeava no meio ambiente. Percorrendo toda a região no seu Citroen, um típico salta-pocinhas coevo ao tempo. Sem andar no mundo por ver os outros, mas vincando sua chancela, ao jeito de querer seguir e acompanhar tudo o que viu nascer e desenvolver-se. Acabando por representar, para as gerações que sempre a conheceram, como que uma idealização perdurável, qual, figurativamente, uma boa senhora cegonha, à imagem do que as crianças seguiam nos livros de historinhas infantis... levando no bico grandes sonhos e sensações de tempos imemoriais, dum mundo a perdurar ternamente nos arcanos da memória.

Armando Pinto