Espaço de atividade literária pública e memória cronista

domingo, 4 de setembro de 2016

Máquinas duma Vida em Fotos


Costuma-se dizer que recordar é viver. Mesmo sem ser mesmo assim, pois nem todos vivem da mesma forma e feitio, é certo que as fotos ajudam a fazer recordar, pelo menos. Em cujo universo de recordações constam as próprias máquinas que captaram essas imagens – como no caso das que, como tal, também se podem guardar, como recordação. Conforme as que usamos ao longo da vida, máquinas fotográficas analógicas (de modelos mecânicos, as antigas), agora já substituídas por uma pequena digital.

Pode pois, naturalmente, esta pequena coleção particular ser enfim uma forma de como se guardou uma vida em fotos…

Armando Pinto

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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Recordação Histórica sobre Votos Oficiais de Pesar por João Sarmento Pimentel


Na sequência do anterior artigo –  neste blogue "Longra Histórico-Literária"  sobre o nosso amigo (e correspondente do autor) ”Senhor Capitão da Torre”, como ao tempo era conhecido nesta região felgueirense e entre amigos como “João da Torre”, acrescentamos algo mais, em relevo à sua importância a nível nacional. Quanto a João Maria Ferreira Sarmento Pimentel, que participou como Cadete na implantação da República em 1910 e já como Capitão restaurou a República em 1919, ao comandar o golpe que derrotou a Monarquia do Norte, no Porto, onde depois também fez parte da tentativa de Fevereiro de 1927, até que teve de se radicar no Brasil, como exilado político. Mais tarde, já após o 25 de Abril de 1974, reabilitado como General.

Para o efeito, intercalado com ilustrações de recortes de notícia (do Jornal de Notícias de 15-10-1987). transcreve-se aqui, qual honrosa memória, o que foi publicado no Diário da República em 1987, a 17 de Outubro seguinte:

I Série - Número 11 Sábado, 17 de Outubro de 1987
DIÁRIO da Assembleia da República
V LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (1987-1988)
REUNIÃO PLENÁRIA DE 16 DE OUTUBRO DE 1987
Presidente: Exmo. Sr. Vítor Pereira Crespo
Secretários: Exmos. Srs.
Daniel Abílio Ferreira Bastos
José Carlos Pinto Basto da Mota Torres
Cláudio José dos Santos Percheiro
SUMÁRIO
O Sr. Presidente declarou aberta a sessão às 10 horas e 20 minutos.
Antes da ordem do dia. - Deu-se conta dos diplomas entrados na Mesa.
Foi aprovado um voto de pesar, apresentado pelo PS, pelo falecimento do general Sarmento Pimentel, após o que usaram da palavra os Srs. Deputados Sottomayor Cárdia (PS), Pedro Campilho (PSD), Maia Nunes de Almeida (PCP) e Vasco da Gama Fernandes (PRD).

« Srs. Deputados, vai ser lido um voto de pesar pelo falecimento do general Sarmento Pimentel, apresentado ontem na Mesa pelo Grupo Parlamentar do PS.

Foi lido. É o seguinte:

Voto de pesar
Faleceu o general Sarmento Pimentel, figura insigne de cidadão e de lutador indómito na defesa dos valores da liberdade e da democracia em Portugal. Com ele desaparece um dos últimos revolucionários da Rotunda, um homem que, através do seu exemplo de amor à Pátria e à liberdade, marcaria gerações de resistentes à ditadura.
Sarmento Pimentel bater-se-ia na Flandres, integrado no corpo expedicionário português, e enfrentaria com brio e coragem todas as tentativas restauracionistas, defendendo a República de armas na mão.
Depois da instauração da ditadura, participaria ainda na revolução do 3 de Fevereiro, conhecendo depois a amargura de um longo exílio no Brasil, sem nunca ter demonstrado uma hesitação, um desfalecimento, na defesa dos seus ideais de justiça e liberdade. Seria o 25 de Abril libertador que o faria rever a sua pátria e que lhe faria público testemunho do agradecimento dos Portugueses pelo estoicismo e pelo mérito da sua luta de tantos anos.
Sarmento Pimentel seria então promovido a general e, posteriormente, agraciado com a Ordem da Liberdade. Mas Sarmento Pimentel não foi apenas um grande lutador antifascista, foi igualmente o homem de cultura, fundador da Seara Nova e escritor de talento.
Faleceu um grande português cujo exemplo de cidadania e de coragem a Assembleia da República, uma vez mais, sublinha, manifestando aqui o seu sentido pesar à família e prestando o seu preito de homenagem à sua memória.

Srs. Deputados, vamos votar este voto.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade, registando-se a ausência do CDS.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Sottomayor Cárdia.

O Sr. Sottomayor Cárdia (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Extinguir-se longe da Pátria, ao cabo de quase ininterrupta ausência de seis décadas, aos 98 anos de idade e em perfeita lucidez, e ser orgulhosamente recordado e comovidamente enaltecido por várias gerações de amigos e de amigos de amigos - não é verdadeiramente morrer. Admitamos, todavia, que é. Quando um amigo morre, é nossa obrigação ressuscitá-lo - gritou José Gomes Ferreira. Ressuscitar João Sarmento Pimentel constitui dever que muitos de nós pode cumprir com aliciante facilidade. Mais do que dizer-lhe um adeus, que talvez se moldasse mal à sua personalidade, o que ora fazemos é iniciar a comemoração do centenário do nascimento do combatente e intelectual ou, com maior precisão, do herói e do escritor.
A vida de Sarmento Pimentel pertence à história da República e da liberdade em Portugal. Interveniente no 5 de Outubro de 1910, comportou-se como um jovem generoso, que, à semelhança de todos os companheiros, nada pediu e nada obteve em troca senão os abraços dos amigos. Oficial ao serviço de uma política de autonominação das colónias africanas e combatente no Sul de Angola e nos campos da Flandres, na guerra de 1914-1918, foi um profissional corajoso e um português de bem com a sua consciência. Comandante das tropas que restauraram a República no Porto em 13 de Fevereiro de 1919, afirmou-se como um protagonista da história capaz de se bater de armas na mão pelas convicções políticas que apaixonadamente viveu. Militar destacado, revolucionário vitorioso e republicano muito conhecido, passou, aos trinta e poucos anos, à situação de licença ilimitada, no posto de capitão, por se considerar mais útil na actividade empresarial do que na profissão que escolhera e em que triunfara. Eis certamente alguém com autoridade para propor que se aliviasse o Orçamento do Estado desse «cancro roedor», «pagando bem aos que podem servir a causa da Pátria na força armada e pondo noutros serviços públicos ou particulares os que nela são bocas inúteis» (Seara Nova, n.º 29), e para se insurgir contra a politização das Forças Armadas. Eis alguém comprovadamente qualificado para reclamar que o Exército fosse colocado ao serviço do ensino elementar dos sargentos e praças e para preconizar que não fosse licenciado do serviço militar quem não soubesse ou não tivesse aprendido a ler, escrever e manejar a aritmética (Seara Nova, n.º 36). Efemeramente passou pelos corredores do Poder, na qualidade de chefe de gabinete do ministro Ezequiel de Campos, que, em 1924, tentou lançar os alicerces de uma reforma agrária.
Afastado da carreira militar, Sarmento Pimentel regressou à vida das armas para acompanhar Jaime Cortesão, Jaime de Morais e José Domingues dos Santos na responsabilidade pela proclamação revolucionária de 3 de Fevereiro de 1927. Por puro espírito de solidariedade com os correlegionários e quase sem esperança no êxito da tentativa.
A sua acção no Brasil como figura tutelar dos democratas portugueses exilados e como conspirador activo tem sido unanimemente reconhecida e enaltecida por quem a viveu e disso se encontra prova bastante, por exemplo, na correspondência trocada nesses anos com outro grande conspirador, o filósofo António Sérgio, exilado em Paris. Foi na cabeça, no coração e na vontade de homens destes que, quase meio século antes, nasceu o 25 de Abril de 1974.
No exílio brasileiro Pimentel confirmou os seus ideais de justiça e solidariedade, aderindo mais tarde à ASP e subsequentemente ao PS. Nunca esmoreceu na denúncia do «fradalhão de Santa Comba», como se habituou a chamar-lhe. Esse que «ensanguentou as colónias gastando», como disse Sarmento Pimentel, «milhões e mandou prender, deportar e assassinar os que contestavam a vigarice da sua sabedoria política, do seu génio financeiro e da sua hipócrita humildade» (Portugal Socialista, de 24 de Outubro de 1984).
As palavras transcritas poderão hoje ferir um certo entendimento da elegância política. Mas a dureza metafórica do epíteto exprime um temperamento literário que é outra face de uma íntegra personalidade moral, de uma persistente força da natureza, de uma indomável individualidade cívica. É do falar claro de gente assim que podemos colher alguma credível lição prática de salutar individualismo. Homem de cultura, membro de um dos primeiros elencos directivos da Seara Nova, em 1924, Sarmento Pimentel tornou-se, com o rodar dos anos, uma singularíssima figura literária, como se comprova nas Memórias do Capitão (1963) e no longo diálogo com Norberto Lopes publicado em 1976 sob a epígrafe Sarmento Pimentel ou Uma Geração Traída. Quem sou eu para falar do escritor Sarmento Pimentel! Permiti-me por isso que vos recorde Vitorino Nemésio. Depois de classificar as Memórias como «obra-prima do género em Portugal e no Brasil», Nemésio sublinha o «apego de Sarmento Pimentel à terra e à grei nortenhas» e escreve textualmente: «O mundo dos seus antepassados transmontanos ata-se maravilhosamente ao de Camilo. Não é vivido com menos força evocativa.» E Jorge de Sena afirma que: «Eu tenho para mim que estas Memórias hão-de ser tidas -quando apenas ficar delas a beleza estética e moral das suas páginas - por uma das obras raras da literatura portuguesa; e que se houver no futuro um gosto da viril franqueza que não exclua sensibilidade fina e discreta, e se voltar a haver, por sobre as divergências de opinião e de crença, qualquer coisa que se pareça com educação cívica, trechos delas serão lidos nas escolas, como exemplos de integridade, destemor e apaixonada dedicação pela Pátria e pela Vida.»
Anos volvidos, Jorge de Sena completou a sua avaliação da figura de Sarmento Pimentel: «É das mais nobres e íntegras personalidades que na vida me tem sido dado conhecer» (Diário Popular, de 1 de Agosto de 1974).
Não tive a felicidade de privar com Sarmento Pimentel, mas nunca esquecerei a terrível juventude do homem que conheci aos 86 anos nem as horas que uma tarde passámos num restaurante médio da Avenida de Roma e a variedade de coisas de que me falou nesses tempos tão próximos e tão distantes do imediato pós-Abril.
Alguém, por brincadeira, perguntou um dia a Sarmento Pimentel como era possível um aristocrata, de tal modo cioso da estirpe dos avoengos, ter-se convertido em tão estrénuo republicano. «Ora essa», terá respondido, «já havia Pimentéis antes de haver reis de Portugal. A nossa terra já era, na verdade, habitada por um povo valente e frontal antes de a república portucalense e lusitana se haver organizado como monarquia independente.»
Terá acaso sido também um dos sentidos da diversidade de homenagens que o Estado Português lhe prestou após Abril, a derradeira das quais foi a visita que em sua casa de São Paulo lhe fez o Presidente Mário Soares quando há poucos meses visitou oficialmente o Brasil.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Também para uma declaração de voto tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Campilho.

O Sr. Pedro Campilho (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PSD não podia deixar de expressar o seu mais profundo pesar pela morte do comandante João Sarmento Pimentel (como gostava de ser tratado).
Trata-se de uma grande figura da nossa história; a sua morte é uma irremediável perda para o País.
Como oficial do Exército, pela sua actuação, sempre brilhante e dedicada, desde as campanhas de África, onde ganhou a sua Torre e Espada, à cidade do Porto, onde, em 1919, defendia a República da mesma denominada forma como, em 1910, por ela tinha lutado na Rotunda.
Como político defendeu empenhadamente os ideais democráticos que o levaram ao exílio.
Logo em 1927 participou na conspiração contra o regime implantado em 1926.
Em 1931 instalou-se na Galiza, para entrar na conspiração republicana para o derrube da ditadura.
Em toda a sua determinação em prol da restauração da democracia em Portugal voltou com enorme alegria ao País em 1974, sendo disso testemunho todas as suas intervenções.
Quis, porém, o destino que voltasse ao que chamava o seu «exílio voluntário». Quais as razões que a isso o moveram? Talvez um dia as venhamos a conhecer.
Mas de um seu sentimento profundo não tenhamos dúvidas: o comandante Sarmento Pimentel foi um feroz defensor da democracia, tanto como implacável inimigo de qualquer ditadura.
O seu valor como escritor dizem-no os seus escritos na Seara Nova; revelam-no as suas magníficas Memórias.
Jorge de Sena, entre outras afirmações, fez aquela que já aqui foi referida pelo Sr. Deputado Sottomayor Cárdia, mas que entendo não ser de mais repetir: «Eu tenho para mim que estas Memórias hão-de ser tidas - quando apenas ficar delas a beleza estética e moral das suas páginas - por uma das obras raras da literatura portuguesa; e que se houver no futuro um gosto da viril franqueza que não exclua sensibilidade fina e discreta, e se voltar a haver, por sobre as divergências de opinião e de crença, qualquer coisa que se pareça com educação cívica, trechos delas serão lidos nas escolas, como exemplos de integridade, destemor e apaixonada dedicação pela Pátria e pela Vida.»
Como homem de família, «o nosso clã», como gostava de repetidamente referir, lega exemplo inesquecível, pela verticalidade constantemente assumida e pelas atitudes tomadas e repetidas, dignas do grande homem que foi em toda a profunda dimensão da sua rica personalidade.
Tudo isto digo-o com enorme respeito, fruto de uma prolongada amizade, vivida quase dia a dia, como testemunhos que considero inesquecíveis e em muito ultrapassavam os laços familiares que nos uniam.
Não podemos, no entanto, terminar sem apresentar ao Partido Socialista, partido de que se considerava militante, os nossos mais sentidos votos de pesar.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Maia Nunes de Almeida.

O Sr. Maia Nunes de Almeida (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do PCP associa-se sentidamente ao voto de pesar apresentado pelo Grupo Parlamentar do PS pelo falecimento do general Sarmento Pimentel, figura ilustre da primeira República e destacado militante pela liberdade.
O voto hoje aprovado assume um significado muito particular: a Assembleia da República decidiu assim prestar justa homenagem a esta grande figura de republicano e democrata.
Herói republicano da Rotunda, exilou-se no final dos anos 20, escapando à perseguição contra ele movida pelo regime ditatorial implantado em 28 de Maio de 1926.
Em 1919, durante o movimento militar que proclamou a monarquia no Porto, Sarmento Pimentel, na altura capitão, está à frente das forças que restauraram a República naquela cidade. Em 1927, e inconformado com a ditadura militar, participa num golpe de Estado que facassa, sendo demitido das Forças Armadas e obrigado a exilar-se com a família no Brasil. Homem de cultura, foi director e colaborador da revista Seara Nova.
Depois do 25 de Abril, devido ao papel que desempenhou em diferentes combates contra o regime fascista que oprimia o povo português, Sarmento Pimentel foi integrado no exército pelo Conselho da Revolução, tendo sido promovido sucessivamente a coronel e a general e condecorado com a Ordem da Liberdade.
O general Sarmento Pimentel deixa o seu nome ligado à luta pela liberdade, pela democracia, enfim, ao 25 de Abril.
Com o voto aprovado fica marcada na história da Assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses a figura insigne deste grande homem que foi o general Sarmento Pimentel.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Vasco da Gama Fernandes.

O Sr. Vasco da Gama Fernandes (PRD): - Sr. Presidente, como é a primeira vez que uso da palavra nesta sessão legislativa, dirijo a V. Ex.ª os meus cumprimentos afectuosos e a toda a Câmara os protestos da minha alta consideração.
Talvez seja o único aqui dos presentes - e digo «talvez», porque não tenho a certeza - que conviveu com Sarmento Pimentel.
Conheci-o em 1958, no seu exílio no Brasil; mais tarde tive vários contactos com ele em Portugal, quando ele vinha em romagem de homenagem à República nos célebres jantares de Alenquer, e tive um ou outro encontro com ele, verdadeiramente acidental, durante o meu exílio em Espanha.
Não conheci até hoje, Sr. Presidente e Srs. Deputados, alguém a quem se pudesse aplicar esta expressão: «Sarmento Pimentel era dos homens que tinha a República no coração e a inteligência na própria pele.»
Era um republicano jovem que foi para a Rotunda e já mais tarde, em 7 de Fevereiro, bateu-se bravamente no Porto, acabando por emigrar. Porém, antes disso, tomou parte na reimplantação da República no Porto, após a incursão monárquica de Paiva Couceiro, até que acabou, em virtude das circunstâncias, por ter de procurar o exílio, primeiro em França e depois no Brasil.
Do Brasil sei eu da sua vigília constante. Dava-me notícias dela sempre que podia, através das formas clandestinas com que estas coisas chegavam a Portugal durante o tempo de Salazar. Sabia, perfeitamente, da sua vigília constante a favor das liberdades públicas, no protesto veemente, viril e constante - repito - contra os malefícios da ditadura. Foi solidário, fraternalmente solidário, com os seus camaradas exilados; ajudou-os em todas as vicissitudes.
Sarmento Pimentel foi um autêntico homem na extensão que se pode dar à palavra «homem». Suponho que nenhum dos senhores aqui presentes estará mais comovido do que eu ao curvar-se muito sentidamente ante a memória desse grande português.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, o Sr. Deputado Corregedor da Fonseca e a Sr.ª Deputada Maria Santos informaram a Mesa de que apresentarão uma declaração de voto por escrito.»


ARMANDO PINTO
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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

“João da Torre”, o Comandante Sarmento Pimentel – Um dos Cadetes da Rotunda do 5 de Outubro de 1910, principal herói da derrota da Monarquia do Norte em 1919 e popularmente conhecido como “Capitão sem medo"


No dia 17 de setembro, à noite, vai ter lugar um encontro no Ateneu Comercial do Porto para falar sobre João Sarmento Pimentel, famoso Capitão que foi considerado sem medo por ter conseguido derrotar a Monarquia do Norte, motivo porque foi agraciado com a Espada de Honra da cidade do Porto e condecorado com a comenda da Torre e Espada da nação. Até que mais tarde foi figura de proa na luta contra o regime do Estado Novo. Tendo sido injustiçado pela propaganda do mesmo antigo regime político, nomeadamente com a propagação popular inventada contra a sua figura, só após o 25 de Abril foi um pouco reabilitado com promoção ao posto de General e reconhecimento público através de condecoração com a Ordem da Liberdade.  

O referido encontro versará em torno da figura do mesmo autor das “Memórias do Capitão”, em género de tertúlia de conferencistas interessados no tema, além de estudiosos e admiradores desse quase lendário personagem da história pátria. Estando em marcha inerente reunião de trabalhos para futura publicação num chamado Projeto «Sarmento Pimentel».

Na linha dessa louvável memorização, recordamos o famoso Capitão João Sarmento Pimentel com colocação de imagens digitalizadas das páginas que lhe dedicamos também no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997. Sendo o Capitão-General João Sarmento Pimentel um dos nomes toponímicos da região felgueirense, como entretanto está homenageado com nome de ruas, quer na cidade de Felgueiras como na freguesia de Rande, no concelho de Felgueiras. Na afetividade à sua proveniência familiar e residência, sendo tratado por João da Torre, como o próprio referiu nas suas Memórias, pelo conhecimento popular relacionado à sua casa-mãe  onde vivia nesta região.

Além do que foi descrito sobre o mesmo João Pimentel nos capítulos em que ficou historiada a ligação da família da Torre com a própria freguesia e região, mais na história da Casa da Torre, bem como na crónica sentimental sobre a "Menina de Rande" Guilhermina Mendonça e na biografia do irmão Francisco, o aviador que efetuou a primeira travessia aérea de Portugal à Índia, ficou então sobre o simpático João Sarmento Pimentel algo assim conforme se deixou fluir em cinco páginas a ele dedicadas no "Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras":


Armando Pinto

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sábado, 13 de agosto de 2016

Extrato duma crónica sintomática…


Em tempo de crise de valores, corrupção política e monetária, com olhares interesseiros e vis conseqências de tais caráterísticas atuais e recentes… 

Eis uma crónica que se respiga do Semanário de Felgueiras, edição de 12 de Agosto de 2016, em sua parte mais chamativa à realidade…

- Moral da história? Algo terá de ter consequências…!!! Seja olhando aos culpados desses tempos, José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas e Miguel Relvas, como aos atuais da geringonça António Costa, Jerónimo de Sousa, Catarina Martins, Mortágua, etc. a nível nacional, até aos QUE A NÍVEL CONCELHIO E LOCAL FICARÃO PARA SEMPRE ASSOCIADOS A ESTA FANTOCHADA… SE CONTINUAR ASSIM.

a)

Armando Pinto

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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Artigo no Semanário de Felgueiras – em tempo tradicional de férias ("Guerra em paz")


Guerra em paz

Com o tempo de verão na sua plenitude, como que a refletir atmosfera dos dias de muito sol, há ambiente sem nuvens de predisposição estival, à maneira da boa disposição tomar conta do ânimo envolvente. Estando-se em período de férias para muita gente, metendo fase de algum descanso ou lazer turístico, como convidam as temperaturas quentes. Sendo época que noutros tempos dava para se andar aos grilos, notados pela própria sinfonia refrescante, enquanto hoje há quem ande à procura de “pokémons”, numa moda mais virtual de jogo em voga para apreciadores.

Nessa ambiência de descontração, contando ser temporada de passeios e visitas, lembra o caso também haver quem possa passar por estes lados nossos, ao jeito como se visita monumentos e museus por outros sítios, se por cá também houver o que ver, para quem não se agarrar demasiado aos meios virtuais, entenda-se. Saltando à ideia quão interessante seria haver um museu público na cidade sede do concelho, para melhor oferta aos visitantes e que, além de conter o usual quanto a artefactos, servisse sobretudo de garante do património conjunto. Ultrapassando o que existe (sabendo-se da existência de locais particulares e especialmente do museu do Assento, este não só longe do centro urbano mas também sem um delineamento historiador do que respeita ao território, mais personalidades salientes e factos memorandos), ou seja, que diga respeito a tudo e todos.

Vem isto a propósito, ainda que não pareça, de se estar em período comemorativo da 1ª Grande Guerra Mundial, cujo início ocorreu precisamente no ano da chegada do antigo comboio a terras de Felgueiras, em 1914 recorde-se, e levou às trincheiras da Flandres até 1918 também mancebos felgueirenses incorporados no Corpo Expedicionário Português. Decorrendo então o centenário da I Guerra Mundial, período propício a pelo menos lembrar não só os mortos mas igualmente os intervenientes que sobreviveram, nessa participação mártir em que estiveram jovens conterrâneos daquele tempo. Pois esses (que deviam ser enumerados até em lista historiadora, num estudo dos muitos que deviam ficar em letra de forma), todos eles, seriam alguns dos nossos patrícios merecedores de homenagem, não tanto com medalhas a título póstumo, mas com algo físico que faça perdurar pela memória coletiva o seu sacrifício, em representação afinal da população que por cá ficou e deu seguimento à felgaridade através das gerações seguintes. Vindo a talhe reparar na falta de um museu municipal onde figurem essas e outras ocorrências, de modo a honrar os nossos antepassados.

Resulta então esta lembrança, e daí a pertinência, de um destes dias ter chegado ao conhecimento do autor destas linhas o facto da destruição dumas quantas fotografias coevas, que deixadas ao sol e à chuva, como se diz, por desleixo de descendentes, se desfizeram pelo efeito do tempo das fisionomias de rapazes que viveram nesta região, fardados com os uniformes de cotim e capacetes de soldados dos tempos de La Lys. Fotos essas, retratando pessoas desta zona que estiveram nesse conflito internacional desenrolado nos campos de batalha em solo europeu, testemunhavam em películas impressas tal período sofrido da história pátria. Entre exemplares merecedores de chegarem ao conhecimento dos vindouros. O que leva a imaginar que poderia haver forma de oficialmente prover uma recolha de documentação ainda existente, em diversos géneros de suporte, para criação dum fundo histórico, por exemplo, e extensivamente isso ficar à vista pública pelos tempos fora.

Não fazendo disto uma guerra, mas para descanso de consciência, fica a ideia para paz da memória.

ARMANDO PINTO

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quarta-feira, 27 de julho de 2016

O famoso Padre Sena, amigo de Camilo, nas memórias felgueirenses - a propósito de Conferência de D. Manuel Clemente, em Felgueiras


Entre realizações que de vez em quando também acontecem em Felgueiras, vai ocorrer por estes dias, mais preciosamente a 29 de julho, uma sessão evocativa aberta ao público em geral, na «Casa das Artes» da Cidade de Felgueiras, onde o Sr D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa e anterior Bispo do Porto, proferirá uma conferência intitulada «Padre Sena Freitas, uma grande figura da Igreja que também esteve em Felgueiras».

Convirá referir que, ao lado dos seus contemporâneos, Antero de Quental e Teófilo Braga, o Padre Sena Freitas foi um notável açoriano que muito marcou a vida cultural portuguesa da segunda metade do século XIX, tendo estado nos anos setenta dessa centúria em Felgueiras, onde foi professor no Colégio de Santa Quitéria, da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo.

Apesar de autor de uma vasta e multifacetada obra, abrangendo as áreas da teologia, da filosofia, da pedagogia, da literatura e crítica literárias, do jornalismo, da política e da parenética, obra representativa da sua preocupação de fazer dialogar a fé com a cultura dos seus contemporâneos, Sena Freitas permanece ainda hoje um dos expoentes da cultura portuguesa e brasileira dos finais do século XIX e princípios do século XX mais deficitariamente estudados e necessitados de revisitação crítica.

Como, enquanto investigador e académico, o Senhor D. Manuel Clemente tem dedicado uma continuada, arguta e especial atenção à história da sociedade portuguesa dessa época e ao papel da Igreja nesse quadro, nele saindo particularmente valorizada a figura de Sena Freitas, esta conferência, pelos reconhecidos méritos científicos do orador e pelo interesse e candência da temática, constituirá uma excelente oportunidade de reflexão sobre o «Portugal Contemporâneo» de Oitocentos e inícios do Século XX, oportunidade para a qual exortamos os nossos concidadãos.

Esta louvável ocorrência será uma iniciativa dentro de um ciclo de conferências do Círculo Cultural Abel Tavares, que conta com os apoios do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Felgueiras e da Paróquia de Santa Marinha da Pedreira.

A propósito, recorde-se o que há já alguns anos o autor e gestor deste blogue publicou, numa das habituais crónicas historiadoras no jornal Semanário de Felgueiras (ao início de Outubro de 2004) sobre o tema, em

Padre Sena Freitas
e o antigo Colégio de Santa Quitéria

À memória colectiva de uma terra, como Felgueiras, seduz sempre, para lá dos naturais filhos e fastos dignos de registo, toda e qualquer ligação de personagens importantes, mesmo de outras paragens, que por estes sítios calcorrearam na sua peregrinação terrena. É o caso de um vulto saliente da cultura pátria, como foi o Padre Sena Freitas, escritor de renome e pedagogo, que em tempos que há muito já lá vão passou por Felgueiras e aqui viveu em função do magistério exercido.

O Padre Sena Freitas era, no que vem a talhe, um nome que diz algo na cronologia existencial do antigo Colégio de Santa Quitéria, que existiu ao lado do Santuário ali erecto. Ora, esse estabelecimento de ensino foi um marco inolvidável do passado do Monte de Santa Quitéria e extensivamente na região de Felgueiras e concelhos limítrofes.

Recuando em enquadramento, no referido local, sobranceiro à sede concelhia de Felgueiras, houve então esse pólo de ensino onde foram alunos alguns jovens do passado que se tornaram personagens de âmbito nacional e local, como o Padre Américo Aguiar, conhecido fundador da Obra da Rua e da Casa do Gaiato, o Conselheiro Dr. António Barbosa Mendonça e seu irmão Juiz Conselheiro Dr. Alexandre Mendonça, o General João Sarmento Pimentel, Dr. Luís Gonzaga Fonseca Moreira, Padres Luís e António Castelo Branco, Dr. José de Barros Carneiro, Manuel Bragança, Padre Bráulio Guimarães, etc. E entre o quadro docente figuraram, além do fundador P.e Álvares de Moura, nomes como, por exemplo, um famoso cientista de sua graça Padre João Ernesto Shmitz, o histórico Reitor do Santuário Padre Henrique Machado, assim como leccionou no dito colégio, também, o Padre José Joaquim de Sena Freitas.

As qualidades formativas daquele Mestre Padre exerceram grande influência à época, através de seu espírito culto, tal qual foi autor de apreciada obra literária, mas passou mais à História por via da sua forte amizade com o grande escritor Camilo Castelo Branco, com o qual se relacionou intimamente. Havendo recebido do eloquente romancista elogios escritos, tais que vêm na obra sobre a revolta da Maria da Fonte. Tendo mesmo o Padre Sena Freitas tentado aproximá-lo mais da prática cristã, como teve alguma interferência na resolução do casamento religioso de Camilo, depois da sua vida passada com Ana Plácido, embora o papel principal nesse enlace haja pertencido ao famoso orador sacro Cónego Alves Mendes, um pregador que, por sinal, era também frequentador dos púlpitos desta região (como ficou referência de um sermão na festa paroquial de Rande, na transição para o século XX, segundo as “Memórias do Capitão” de João Sarmento Pimentel). À cerimónia nupcial do grande literato, porém, não esteve presente o Padre Sena Freitas por na ocasião se encontrar no Brasil, à frente de colégio que fundara em S. Paulo (conf. P.e Alexandrino Brochado, na VII Colectânea de Textos de Autores do Vale do Sousa, edição da C. M. Paredes).

Pois o Padre Sena Freitas, no seu multifacetado périplo mundano, foi um dos Mestres do Colégio de Santa Quitéria, como se lhe referiu o Padre Casimiro José Vieira, ao que consta nos seus “Apontamentos para a História da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte “ (de que, aquele Padre Casimiro, foi um dos cabeças desse movimento de milícias, após o qual também viveu em Felgueiras, tendo sido um dos principais impulsionadores pioneiros da estrada original de acesso ao Monte de Santa Quitéria).

Oriundo dos Açores, onde nasceu na ilha de S. Miguel, em Ponta Delgada, a 27 de Julho de 1840, filho de um historiógrafo e arqueólogo, Sena Freitas foi condiscípulo de Antero de Quental e conviveu com homens de letras como Castilho, teve apreciada produção literária e ficou conhecido por polemista de garra. Tornado clérigo, empreendeu um percurso que o levou a tornar-se Lazarista, professando na Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo, depois de concluir o Curso Teológico no Seminário de S. Lázaro, em França. Seguiu depois rumo ao Brasil, havendo ensinado e missionado por aquelas terras da América do Sul até regressar a Portugal. Veio em 1873 para Felgueiras, nomeado professor de Filosofia e Línguas no Colégio de Santa Quitéria, mantendo-se no Monte das Maravilhas cerca de um ano, para mais tarde ali voltar em 1877. Tendo em 1878, no intuito de contribuir «para a difusão da cultura religiosa», ainda fundado o órgão de comunicação “Progresso Catholico”. Depois, foi em 1895 eleito Deputado da Nação, pelo círculo do distrito do Porto, na lista do Partido do Centro Católico do Distrito do Porto. Posteriormente, por mais que uma vez saiu da sua Congregação e foi readmitido, voltou igualmente ao Brasil e retornou, foi nomeado Cónego da Sé de Lisboa, andou pelo Oriente, foi exímio escritor e acabou por se radicar finalmente no Brasil, onde faleceu a 21 de Dezembro de 1913. 

De sua produção literária pode anotar-se os principais títulos: “O Morto Imortal”, ed. em 1883, “No Presbitério e no Templo”, em 2 volumes, 1884, “Autópsia da Velhice do Padre Eterno”, 1886, “Perfil de Camilo Castelo Branco”, 1888, “Observações Críticas e Descrições de Viagens”, 1891, “Lutas da Pena”, 2 vol. 1901-1902, “Por água e terra”, 1903, “A Palavra do Semeador”, 3 vol. 1905/07, “Ao veio do tempo”, 1908, “Stambul”, 1909, “Historicidade da Existência Humana de Jesus”, 1910.

Escrevia sua autobiografia quando morreu. Desaparecido da terra, sem ter passado às letras suas recordações, nunca foi esquecido contudo, merecendo estudos analíticos de importantes cérebros como Antero de Figueiredo, Dinis da Luz, Augusto Ferreira, Padre Moreira das Neves, João Anglin, entre outros que, ao logo dos tempos, lhe dedicaram páginas apreciativas ao temperamento que o fez passar pela vida com notoriedade. Ele que, no que nos toca mais, foi um Pensador que, afinal, ficou associado ao passado humanista Felgueirense.

 ARMANDO PINTO


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sexta-feira, 22 de julho de 2016

Memórias personalizadas à Volta… de afeições – em artigo no SF.


Está quase a ser dada a largada para mais uma Volta a Portugal, a popular corrida de bicicletas que percorre o país de cima a baixo e para os lados, não por todo o lado, por tal não ser possível no limite dos dias em que acontece, mas em parte do território, enquanto desperta atenção de boa parte do povo que segue os acontecimentos públicos. Com gente inrteressada e entusiasta em diversos pontos do país, incluindo Felgueiras. E, dentro dessa proximidade, calha desta vez fazer alusão a algo relacionado, na colaboração normal ao jornal Semanário de Felgueiras.

Disso, que narra de forma mais resumida (por ser em artigo de jornal) uma recordação que em tempos desenvolvemos noutro local, deixamos correr a descrição que anda…

Às voltas da Volta…!

Estamos a chegar ao tempo da Volta a Portugal em bicicleta, no desporto ciclista que este ano detém grandes atenções derivado ao reaparecimento de dois grandes clubes de tradições nacionais. Voltando às estradas todo o colorido e entusiasmo que transportam nos pedais os ciclistas, até diante dos olhos da assistência que acorre às bermas das estradas. Apesar de no nosso caso a prova-rainha do ciclismo português não passar este ano por estes sítios felgueirenses, onde em tempos houve pergaminhos de bom material.

Fazendo ténue travagem no tempo, recuamos a memórias de tempos em que o ciclismo teve impacto na nossa terra, pelos idos anos cinquentas e sessentas do século XX, desde as andanças do felgueirense Artur Coelho com a camisola amarela, por diversas vezes, até ao entusiasmo gerado com a presença de outros conterrâneos na Volta, como foi com Joaquim Luís Costa e Albino Mendes, por exemplo. Mas também com outras cambiantes…

= Os Felgueirenses Artur Coelho, Joaquim Costa e Albino Mendes, que "fizeram" a Volta a Portugal nas equipas do FC Porto e do Académico, respetivamente como se vê pelas camisolas. Artur Coelho desde 1955 até 1961, Joaquim Costa em 1961 e 1962, e Albino Mendes em 1964 =

Então, chegado o pino do Verão, quando os dias se tornam calorentos na pachorra estival, por norma é tempo de Volta a Portugal em bicicleta, passando o país a ser percorrido pela prova ciclista que se tornou conhecida e apreciada, saindo o povo às estradas para ver passar os corredores, naquela correria que por estes dias tem espaço nos meios de comunicação social. Sendo em época veraneante a popular Volta um corolário da temporada desportiva, enquanto o futebol não volta. E estando-se então neste coincidente período, a memória pessoal recua a tempos de esplendor dessas corridas. Qual passarinho batendo asas e levando-nos a tempos de outrora, sem sairmos da frente do teclado em que damos largas a estas memorizações. Vindo a calhar recordar um caso personalizado, mas propício. Sobre um tio que era um caso à parte nessas coisas, apaixonado pelas corridas de ciclismo. Um tio com quem sempre mantive uma proximidade interessante, acabando por sempre vir à baila o tema do ciclismo, comigo, um dos seus sobrinhos mais novos, em conversas que andavam para trás e para a frente, sem muito saírem do mesmo, que era ele recordar o Fernando Moreira, o seu grande ídolo de todos os tempos, e puxar pelo que eu sabia, interessado por tudo o que fosse assunto desportivo… do clube que também nos unia. Mesmo sem eu ser desse tempo, de antigamente, como ele dizia, mas por aqui quem recorda estas facetas gostar de andar a par de tudo, para não jurar nada falso.

Fernando Moreira era o grande ciclista que em finais da década dos anos quarenta encantava o país, havendo em 1948 vencido a Volta a Portugal, com uma perna às costas, no dizer do meu tio. E só não ganhara mais Voltas por azares, nuns casos, e noutros por ausência, devido a ter corrido pelo estrangeiro, no Brasil e Marrocos, especialmente, por esses tempos. Mas vencera ainda algumas clássicas e outras provas do calendário do ciclismo português. E esse meu tio idolatrava o Fernando Moreira sem nunca o ter visto de perto e julgo que nem de muito longe, ao certo. Ele era um acérrimo admirador desse corredor que apaixonava multidões, nesses tempos de outrora e como tal era figura pública que gerava entusiasmo por todos os lados. Contando meu tio peripécias que ouvira sobre ele e pelo que andava em romances de cordel, duns panfletos que em tempos antigos se vendiam nas feiras. Nutrindo aquele meu tio uma grande simpatia por esse nome sagrado, como entusiasta de suas façanhas. À maneira do que hoje se considera no conceito de fã, aportuguesando o inglesismo fan, admirador do Fernando Moreira como era aquele meu tio.

Pois com ele, era sempre o Fernando Moreira isto e o Fernando Moreira mais aquilo, apesar dele ter deixado de correr há muito, já nesse tempo. Mas, mesmo assim, quando passavam corridas de bicicletas por aqui, à nossa porta ou perto, onde víssemos, ele, que não faltava nunca e postando-se à minha beira, incentivava os corredores gritando pelo Fernando Moreira… como se esse fosse um grito de guerra, seu talismã.

ARMANDO PINTO

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